Pediram-me para responder a estas duas perguntas: O que significa benzer? O que significa abençoar? Começo com o verbo “abençoar”, ou com o substantivo “bênção”: e percebo, antes de tudo, que o termo “bênção”, na Bíblia, sintetiza toda a história da salvação. De fato, toda a história de Israel é a história da bênção prometida a Abraão (Gênesis 12,3) e dada ao mundo por Jesus, “fruto bendito” do “seio bendito” de Maria (Lucas, 1,42). Aliás, essa bênção, já começa com a criação, como lemos em Gênesis 1,28: “E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos’ (…)”. Por outro lado, o pecado desencadeia a “maldição” sobre “a serpente” (3,14-15) e sobre o solo (3,17).
Depois do dilúvio, uma nova bênção, dá-se a humanidade: poder e fecundidade (9,1).
Mas, a partir de Abraão, a bênção é de um tipo novo, pois nela aparece o desígnio de Deus de abençoar “todas as nações da terra” (Gênesis, 12,3).
Uma fase importante, na qual se manifesta de maneira significativa a bênção de Deus, é a aliança com o povo de Israel. E a fidelidade a essa aliança é a garantia das bênçãos de Deus (Deuteronômio 28,1-14).
Deus é bondoso
Deus abençoa e, ao mesmo tempo, é abençoado, porque os fiéis reconhecem que Deus é bom e providente. A oração dos salmos com frequência é um exemplo disso. “Seja bendito Javé! Ele fez por mim maravilhas de amor” (Salmo 31,22). “Bendiga a Javé, ó minha alma, e todo o meu ser ao seu nome santo! Bendiga a Javé, ó minha alma, e não esqueça nenhum dos seus benefícios” (Salmo 103,1-2).
Muito significativo, a esse respeito, é o cântico de Zacarias, no dia da circuncisão do filho João Batista. Esse cântico é repetido todos os dias na Liturgia das horas: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo” (Lucas 1,68).
Mas a bênção acontece também de homem para homem, como quando Melquisedeque abençoa Abraão (Gênesis 14,18-19), ou Isaac abençoa Jacó (Gênesis 27,27).
E, por que não pensar nas bênçãos de Jesus? Ele abençoa as crianças (Marcos 10,16) e seus discípulos (Lucas 24,50). Antes de partir o pão nas multiplicações dos pães (Marcos 6,42; 8,7) e na última ceia (14,22), ele pronunciou, conforme o costume judaico, uma fórmula de bênção, isto é, glorificou a Deus por causa do pão. Ensinou a seus discípulos a responder com uma bênção, às maldições dos seus inimigos (Lucas 6,28), descreveu a eterna felicidade dos justos como a bênção definitiva dada pelo Pai (Mateus 25,34). O mesmo Jesus foi abençoado pelos piedosos judeus (Marcos 11,9-10).
Rito de bênção
E hoje a Igreja abençoa, e até com ritual de bênção. Pense, por exemplo, na bênção das casas ou dos objetos de devoção. E, como não lembrar o belo costume, que ainda vigora em alguns lugares, dos filhos pedirem a bênção dos pais, quando estão saindo de casa! Os pais respondem ao pedido de bênção dos filhos invocando a Deus: “Deus te abençoe, meu filho!”.
Se olharmos para a etimologia, quer dizer, a origem da palavra, na língua latina os termos “benedicere” (benzer, abençoar) e benedictio (bênção), significam “dizer bem”, “palavra benevolente”. Nesse sentido, a “bênção de Deus” sobre nós, corresponde a uma “palavra criadora” de bem. Em outros termos, Deus, com a sua poderosa palavra, cria o bem na nossa vida. E, quando nós bendizemos a Deus, reconhecemos o bem que Ele nos fez e nos faz. Quando nós abençoamos os outros, pedimos a Deus que derrame o bem sobre eles.
Acreditamos que, quem está mais perto de Deus, pode interceder por nós. Eis por que nós nos aproximamos dessas pessoas pedindo a bênção. Às vezes, poderia haver até uma superstição: motivo pelo qual “benzer”, ou “benzedeiro”, teria outro significado. Nos dicionários da língua portuguesa o termo “benzedeiro” chega a ter, entre outras acepções, também tem a de “bruxo”, ou de “feiticeiro”. Por isso, vale a pena seguir o conselho do apóstolo Paulo: “Examinem tudo e fiquem com o que é bom” (1 Tessalonicenses 5,21).
Que Deus, na sua misericórdia, abençoe todos nós!
Fonte: Canção Nova