O trânsito como cenário de santificação

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O caminho da santidade exige de nós o amor a Deus sobre todas as coisas e o amor ao próximo, esses são os maiores mandamentos [1]. Conscientes da presença de Deus em nossa vida e do amor ao próximo, o exercício das virtudes cristãs se torna – teoricamente – mais fácil. Teoricamente porque existem cenários mais favoráveis para que sejamos fiéis às virtudes cristãs e aos outros, como o trânsito, que parece despertar o pior de cada um. E são nessas oportunidades que encontramos a verdadeira missão: ser sal da terra e luz do mundo [2]. Então, o convite é para exercitarmos o amor ao próximo, num cenário como o trânsito, em que parece reinar a imprudência e o egoísmo.

Deveria ser muito simples: todos dirigem com segurança e atentos às leis de trânsito, de forma a fluir o tráfego com tranquilidade e todos chegarem seguros aos seus destinos. Mas, em uma frota de 111.899.817 veículos no Brasil, registrados pelo Ministério da Infraestrutura, em fevereiro de 2022, é praticamente impossível evitar os atos de egoísmo que atrapalham o fluxo. É preciso que um só motorista esteja acima do limite de velocidade para colocar em risco a harmonia e a segurança. Só em fevereiro de 2022 foram registradas 434.954 infrações por transitar em 20% acima da velocidade permitida. Foram registradas também, em fevereiro de 2022, o número de 12.661 infrações por transitar em locais não permitidos, ou seja, pessoas que simplesmente não deveriam estar onde estavam.

Como transformar o acúmulo de estresse e egoísmo em um cenário de santificação?

Algumas ações dos motoristas, de tão simples, se tornam ainda mais irritantes. Todos já se depararam com motoristas fazendo curvas sem indicar com a seta, ou até mesmo seguindo em linha reta com a seta ligada, por quarteirões. A seta é um indicador de mudança de direção e da consequente diminuição da velocidade. Não cumprir com essa norma indica indiferença a todos os demais motoristas ao seu redor, em um puro ato de egoísmo. Ainda, há infrações como estacionar em local proibido, ultrapassar os sinais vermelhos e, mais grave, dirigir embriagado. A negligência e a imprudência do motorista podem efetivamente destruir a vida de alguém. Mas como transformar esse acúmulo de estresse e egoísmo em um cenário de santificação?

O amor ao próximo é uma escolha. Jesus nos convidou para sermos perfeitos como o Pai é perfeito [3] e, uma vez aceito esse convite, é preciso esforço para superar a imperfeita natureza humana. O exercício de amor ao próximo deve ser uma escolha constante, e o melhor cenário para isso é aquele em que parece não haver oportunidade para o amor. Por isso, antes de tudo, tenha paciência no trânsito. O estresse, que vai se acumulando, deve ser confortado pela fé na presença de Deus. O ódio que surge, diante de tanta imprudência, precisa nos lembrar da misericórdia, pois não cabe a nós a punição do mal motorista. O melhor começo é não ser o motorista imprudente, então, tenha cuidado, atenção e paciência. Em seguida, é preciso se dispor a evitar os acidentes e não incitar a violência com xingamentos. Esse é o desafio diante daqueles que realmente se mostram egoístas e imprudentes.

Erros acontecem!

O próximo passo é ser gentil com quem, simplesmente, errou. Quero dizer para não partir do pressuposto de que todo motorista está sendo folgado ou egoísta. Uma cidade desconhecida, uma alteração na sinalização do local ou até mesmo uma distração boba podem levar o motorista ao erro. Estar na faixa errada e não conseguir fazer a conversão, ser confundido pelo GPS, se sentir pressionado pela pressa do outro são exemplos que comumente levam o motorista ao erro. Portanto, deixe espaço para que o motorista na faixa errada faça a curva que ele precisa, pare e espere o motorista que faz uma baliza para estacionar, mantenha a distância e não pressione o carro adiante. Parecem dicas bobas, mas que bom seria se todos pudessem segui-las! E fique atento à buzina: há uma grande diferença entre buzinar para alertar o outro e “enfiar a mão da buzina”, que soa como uma manifestação de raiva.

Caridade, misericórdia e gentileza

A paciência, a calma e a serenidade do comportamento constituem um cartão de identidade para os cristãos que, efetivamente, se comprometeram a praticar boas obras e seguir o caminho da santidade. Retribuir o egoísmo com caridade; a raiva com misericórdia; o insulto com gentileza são desafios árduos que exigem a prática constante. Sendo o trânsito um cenário de todos esses males, é ali que surge a oportunidade de ser sal da terra e de luz do mundo, de fazer diferente. Eu não espero que todos os motoristas gentis sejam católicos, mas eu gostaria muito que todos os católicos fossem motoristas gentis. Que a fé em Deus e o amor ao próximo sejam sempre os pilares de nossas ações, independentemente do cenário. Que assim seja!

CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Mt 22, 34-40); [2] (Mt 5, 13-16); [3] (Mt 5, 48).

REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA. Frota de Veículos – 2022. Atualizado em 23/03/2022 12h51.
MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA. Quantidade de Infrações (Notificação de Penalidade). Atualizado em 23/03/2022 18h20.

Canção Nova

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