Quarta-feira é dia de Audiência Geral no Vaticano. Cerca de 20 mil fiéis participaram na Praça São Pedro do encontro semanal com o Pontífice.

Nesta quarta-feira (31/10), o Papa Francisco completou a catequese sobre o sexto mandamento, “não cometer adultério”, evidenciando que o amor fiel de Cristo é a luz para viver a beleza da afetividade humana. O amor se manifesta na fidelidade, no acolhimento e na misericórdia.

Revolução

Este mandamento, recordou o Papa, refere-se explicitamente à fidelidade matrimonial. Francisco definiu como “revolucionário” o trecho da Carta de São Paulo aos Efésios lido no início da Audiência, em que o Apóstolo afirma que o marido deve amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja. Levando em consideração a antropologia da época, disse o Papa, “é uma revolução. Talvez, naquele tempo, é a coisa mais revolucionária dita sobre o matrimônio”.

Por isso, é importante refletir profundamente sobre o significado de esponsal, estando ciente, porém, de que o mandamento da fidelidade é destinado a todos os batizados, não só aos casados.

Amar é descentralizar

De fato, o caminho do amadurecimento humano é o próprio percurso do amor, que vai desde o receber cuidados até a capacidade de oferecer cuidados; de receber a vida à capacidade de dar a vida. Tornar-se adultos significa viver a atitude esponsal, ou seja, capaz de doar-se sem medida aos outros.

O infiel, portanto, é uma pessoa imatura, que interpreta as situações com base no próprio bem-estar. “Para se casar, não basta celebrar o matrimônio!”, recordou o Papa. É preciso fazer um caminho do eu ao nós. De pensar sozinho, a pensar a dois. A viver sozinho, a viver a dois. Descentralizar é uma atitude esponsal.

Por isso, acrescentou Francisco, “toda vocação cristã é esponsal”, pois é fruto do laço de amor com Cristo mediante o qual fomos regenerados. O sacerdote é chamado a servir a comunidade com todo o afeto e a sabedoria que o Senhor doa.

A Igreja não necessita de aspirantes ao papel de sacerdotes, “é melhor que fiquem em casa”, mas homens cujo coração é tocado pelo Espírito Santo com um amor sem reservas para a Esposa de Cristo. No sacerdócio, se ama o povo de Deus com toda a paternidade, ternura e a força de um esposo e de um pai. O mesmo vale para quem é chamado a viver a virgindade consagrada.

O corpo não é um instrumento de prazer

“O corpo humano não é um instrumento de prazer, mas o local da nossa chamada ao amor, e no amor autêntico não há espaço para a luxúria e para a sua superficialidade. Os homens e as mulheres merecem mais!”

O Papa concluiu recordando que o sexto mandamento, mesmo em sua forma negativa – não cometer adultério – nos oriente à nossa chamada originária, isto é, ao amor esponsal pleno e fiel, que Jesus Cristo nos revelou e doou.

Dia de Finados

Ao final da Audiência, o Papa recordou a celebração do Dia de Finados. “Que o testemunho de fé dos que nos precederam reforce em nós a certeza de que Deus acompanha cada um no caminho da vida, jamais abandona alguém a si mesmo, e quer que todos sejamos santos, assim como Ele é santo.”

Radio Vaticano

Um convite a ser “cristãos de verdade”, cristãos que “não têm medo de sujar as mãos, as vestes, quando se fazem próximos do outro. Foi o que disse Francisco na homilia da Missa celebrada na manhã de segunda-feira (08/10) na capela da Casa Santa Marta.

Inspirando-se no Evangelho de Lucas, o Pontífice refletiu sobre os “seis personagens” da parábola narrada por Jesus ao doutor da Lei que, para colocá-lo “à prova”, lhe pergunta: “Quem é meu próximo?”. E cita os assaltantes, o ferido, o sacerdote, o levita, o Samaritano e o dono da pensão.

Não ir além, mas parar e ter compaixão

Os assaltantes que espancaram o homem, deixando-o quase morto; o sacerdote que, quando viu o ferido, “seguiu adiante”, sem levar em consideração a própria missão, pensando somente na iminente “hora da Missa”. Assim fez também o levita, “homem de cultura da Lei”.

Francisco exortou a refletir precisamente sobre o “seguir adiante”, um conceito que – afirma – “deve entrar hoje no nosso coração”. O Papa observou que se trata de dois “funcionários” que “coerentes” com suas funções, disseram: “não cabe a mim” socorrer o ferido. Ao invés, quem “não segue adiante” é o Samaritano, “que era um pecador, um excomungado do povo de Israel”: o “mais pecador – destacou o Papa – sentiu compaixão”. Talvez, era “um comerciante que estava em viagem para negócios”, e mesmo assim:

Não olhou o relógio, não pensou no sangue. “Chegou perto dele, desceu do burro, fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas”. Sujou as mãos, sujou as vestes. “Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão”, todo sujo… de sangue… E assim tinha que chegar. “E cuidou dele”. Não disse: “Mas eu o deixo aqui, chamem os médicos que venham. Eu vou embora, fiz minha parte”. Não. “Cuidou dele”, como dizendo: “Agora você é meu, não por posse, mas para servir”. Ele não era um funcionário, era um homem com coração, um homem com o coração aberto.

Abertos às surpresas de Deus

O Pontífice falou sobre o dono da pensão que “ficou estupefato” ao ver um “estrangeiro”, um “pagão, porque não era do povo de Israel”, que parou para socorrer o homem, pagando “duas moedas de prata” e prometendo que quando voltasse pagaria o que tivesse sido gasto a mais. A dúvida de não receber o devido insinuou-se no dono da pensão, acrescentou o Papa, “a dúvida em relação a uma pessoa que vive um testemunho, uma pessoa aberta às surpresas de Deus”, como o Samaritano.

Os dois não eram funcionários. “Você é cristão? Você é cristã? Sim, vou à missa aos domingos e procuro fazer o que é justo, menos fofocar, porque eu gosto de fofocar, mas o resto eu faço bem”. Você é aberto? Você é aberto às surpresas de Deus ou é um cristão funcionário, fechado? “Eu faço isso, vou à missa ao domingo, comungo, me confesso uma vez por ano, faço isso, faço aquilo. Cumpro as obrigações”. Estes são cristãos funcionários, que não são abertos às surpresas de Deus, que sabem muito de Deus, mas não encontram Deus. Aqueles que nunca se surpreendem diante de um testemunho. Pelo contrário: são incapazes de testemunhar.

Jesus e sua Igreja

O Papa exortou a todos, “leigos e pastores”, a se perguntar se somos cristãos abertos ao que o Senhor nos dá “todos os dias”, “às surpresas de Deus que muitas vezes, como o Samaritano, nos colocam em dificuldade”, ou se somos cristãos funcionários, fazendo o que devemos, sentindo-nos “em ordem” e sendo forçados às mesmas regras. Alguns teólogos antigos, recordou Francisco, diziam que nesta passagem está contido “todo o Evangelho”.

Cada um de nós é o homem ali ferido, e o Samaritano é Jesus. Ele curou nossas feridas. Fez-se próximo. Cuidou de nós. Pagou por nós. Ele disse à sua Igreja: “Se precisar de mais, você paga, pois eu voltarei e pagarei”. Pensem bem: nesta passagem há todo o Evangelho.

Terceiro dia da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Enquanto se realizam os trabalhos da quarta Congregação sinodal, na manhã desta sexta-feira (05/10), vamos fazer uma resenha sobre as intervenções da tarde de ontem, ou seja, a terceira Congregação.

Durante esta Assembleia, a atenção dos Padres sinodais concentrou-se sobre a primeira parte do “Instrumentum Laboris” – o Documento preparatório do Sínodo – dedicada ao tema da “escuta”, sobre o qual foram feitas vinte intervenções, seguidas de um debate livre.

“Os jovens não devem ser objeto, mas sujeito da proclamação do Evangelho”: eis a esperança dos Padres sinodais. A ideia é de um renovado protagonismo missionário na Igreja, em campo social e político, para que as novas gerações sejam fermento e luz do mundo, artífices da paz e da civilização do amor.

A Igreja, casa e mãe dos jovens

“A Igreja é chamada a ser mãe e lar, empatia e escuta, voz dos que não tem voz, especialmente para os que se encontram em situações difíceis, pedras descartadas que, graças ao anúncio da Boa Nova, podem se tornar “pedras angulares” na construção de um mundo melhor”. Este pensamento, que ecoou na Sala sinodal, foi dirigido, de modo especial, às crianças ex-soldados e às que pertencem a famílias problemáticas ou afetadas por vícios, desemprego, corrupção, tráfico humano; como também, aos muitos imigrantes, obrigados a deixarem seu país de origem, em busca de uma vida melhor, mas que acabam perdendo suas raízes, se distanciando da fé e não desenvolvendo seus talentos pessoais.

Manter o entusiasmo juvenil

O consumismo no Ocidente – observaram os Padres sinodais – corre o risco de apagar o entusiasmo da juventude, que, muitas vezes, é desorientada, sem ideais e sem fé, também por causa das novas ideologias, como os extravios e o liberalismo exagerado.

É preciso falar, com coragem, sobre a beleza da proposta cristã sobre a sexualidade, sem tabus: prestar atenção aos que, hoje, não conseguem viver a castidade durante o noivado. É o que destacam alguns Padres sinodais, que admitem: a maior parte das comunidades paroquiais não consegue perceber as expectativas dos jovens, que, muitas vezes, se afastam da Igreja após a Crisma.

Por isso, há urgente necessidade de uma pastoral renovada, capaz de ouvir e transmitir o olhar amoroso de Jesus, como também de se expressar com uma linguagem jovem, além daquela digital.

Os Jovens e a confiança na Igreja

“Os jovens – observam os Bispos sinodais – ajudam os adultos a se situar no presente e esperam da Igreja um sinal profético de comunhão, em um mundo dilacerado. Eles são o coração missionário da Igreja”. Neste sentido, lançaram a proposta de instituir um Pontifício Conselho especialmente para eles.

Os participantes nos trabalhos sinodais recordaram também “o pedido de uma renovação espiritual”, que emergiu dos questionários preparatórios do Sínodo. É preciso ajudar os futuros adultos a reconquistar a confiança nos sacerdotes, sobretudo em um momento em que a sua credibilidade é colocada à dura provação por causa dos escândalos de abusos sexuais. A este respeito, foi expresso o desejo de que o Sínodo possa fornecer respostas pastorais adequadas e concretas.

Viver a liturgia e a oração nas pegadas dos santos
Por fim, durante as intervenções sinodais, foi realçada a importância de relançar a Catequese e a Liturgia, que, junto com a devoção popular, salvaguardaram a fé de muitos cristãos, em contextos de perseguição.

Neste sentido, para não ceder à tentação do ativismo, é preciso ainda falar aos jovens sobre a importância da oração. Mas, por sua parte, é essencial que também a Igreja reze pelos jovens e pela sua vocação.

Com efeito, os jovens anseiam pela dimensão do silêncio e da contemplação, mas, quando não a encontram na Igreja, procuram em outros lugares.

Segundo os Padres sinodais, a Igreja deve dar maior assistência e acompanhamento espiritual aos jovens, colocando em evidência os valores eternos, que levam à verdadeira felicidade, mediante uma proposta evangélica, segundo seu período de maturação. Neste sentido, os muitos Santos, que enriquecem a história da Igreja, podem servir de exemplo de grande atualidade. (Paolo Ondarza)

Radio Vaticano

Nesta segunda-feira, 1º de outubro, o Papa Francisco recebeu os participantes do IV Seminário de Ética na gestão de Serviços de Saúde organizado pela Pontifícia Academia para a Vida, que contou com a presença de Dom Alberto Bochatey, Bispo Auxiliar de La Plata e presidente da Comissão de Saúde da Conferência Episcopal Argentina e do senhor Cristian Mazza, presidente da Fundação “Consenso Salud”.

Papa Francisco falou aos presentes que embora estejamos em uma época marcada pela crise econômica que leva a muitas dificuldades no atendimento dos pacientes desde o desenvolvimento da ciência médica ao acesso à terapias e remédios. “O cuidados dos nossos irmãos abre nosso coração para acolher um dom maravilhoso”. Neste contexto Francisco propõe três palavras para reflexão: milagre, cuidado e confiança.

Milagre: valorizando a dignidade do ser humano

Os responsáveis pelas instituições dirão que é impossível fazer milagres para manter os custos-benefícios… “Sem dúvida – disse o Papa – um milagre não é fazer o impossível, o milagre é encontrar no doente, no desamparado que temos diante de nós, um irmão. Somos chamados a reconhecer no doente o receptor das prestações de imenso valor de sua dignidade como ser humano, como filho de Deus”. O Papa esclarece que por si só não “desata todos os nós”, mas criará disposição para desatá-los na medida de nossas possibilidades levando a uma mudança  interior e de mentalidade em nós mesmos e na sociedade.

A consciência de valorizar a dignidade do ser humano “permite que sejam criadas estruturas legislativas, econômicas e médicas necessárias para enfrentar os problemas irão surgindo”.

Francisco observou que “o princípio inspirador deste trabalho deve ser absolutamente a busca do bem. E este bem não é um ideal abstrato, mas uma pessoa concreta, um rosto, que muitas vezes sofre”. Em seguida o Papa disse aos participantes: “Sejam valentes e generosos nas intenções, planos, projetos e no uso dos meios econômicos e técnicos-científicos”.

Cuidado: para o doente se sentir amado

Sobre este ponto o Papa disse que cuidar dos doentes não é simplesmente a aplicação asséptica de medicamentos ou terapias apropriadas, mas especificou que o verbo latim “curare” quer dizer atender, preocupar-se, cuidar, ser responsável pelo outro, pelo irmão.

“Este cuidado deve ter maior intensidade nos cuidados paliativos”, por atravessarmos neste momento uma forte tendência à legalização da eutanásia, sabemos o quanto é importante um acompanhamento sereno e participativo. “Quando o paciente terminal – diz o Papa – sente-se amado, respeitado e aceito, a sombra negativa da eutanásia desaparece ou é quase inexistente, pois o valor do seu ser se mede pela sua capacidade de dar e receber amor e não pela sua produtividade”.

Confiança: relação baseada na responsabilidade e lealdade

A terceira palavra no contexto de cuidados dos enfermos é confiança que pode ser distinguida em vários âmbitos. Antes de tudo, a confiança do próprio doente em si mesmo, na possibilidade de se curar que garante boa parte do êxito da terapia. Em seguida o Papa refere-se aos trabalhadores: “É importante para o trabalhador da área de saúde poder realizar suas funções em um clima de serenidade, estando ciente de que está fazendo o certo, o humanamente possível em função dos recursos disponíveis”.

“Não há dúvida de que se colocar nas mãos de uma pessoa, principalmente quando a vida está em jogo, é muito difícil, a relação com o médico ou o enfermeiro sempre se baseou na responsabilidade e na lealdade”. Francisco alerta aos riscos de que a burocracia e a complexidade do sistema de saúde altere a estreita relação paciente/médicos e enfermeiros e possa se tornar um simples “termos do contrato”, interrompendo desta maneira esta confiança.

O Papa conclui dizendo que “temos que lutar para manter íntegro este vínculo de profunda humanidade, pois nenhuma instituição assistencial pode por si substituir-se ao coração humano”.

“ Portanto a relação com o doente exige respeito em sua autonomia e grande disponibilidade, atenção, compreensão, cumplicidade e diálogo, para ser expressão de um compromisso assumido como serviço ”

 

O Papa Francisco dirigiu uma Mensagem aos católicos chineses e a todos os fiéis depois da divulgação do Acordo provisório entre a Santa Sé e a China.

O longo texto, de 11 páginas, é marcado por expressões que demonstram a solicitude pastoral do Pontífice para com os fiéis e o povo chinês em geral.

“Num momento tão significativo para a vida da Igreja e através desta breve Mensagem, antes de mais nada desejo assegurar que vos tenho diariamente presente nas minhas orações e partilhar convosco os sentimentos que moram no meu coração”, escreve o Papa.

Acordo

A mensagem procura explicar o significado do Acordo, mas não só, expressa as esperanças do Papa para o futuro da Igreja na China.

O documento assinado dias atrás, afirma Francisco, é fruto do longo e complexo diálogo institucional da Santa Sé com as Autoridades governamentais chinesas, iniciado já por São João Paulo II e continuado pelo Papa Bento XVI.

A finalidade é sustentar e promover o anúncio do Evangelho, alcançar e conservar a unidade plena e visível da Comunidade católica na China.

A fé muda a história

Para isso, o Pontífice pede ato de confiança aos fiéis, superando os momentos inevitáveis de perplexidade.

“Se Abraão tivesse pretendido condições sociais e políticas ideais antes de sair da sua terra, talvez nunca tivesse partido. Mas não! (…) Portanto, não foram as mudanças históricas que lhe permitiram confiar em Deus, mas foi a sua fé pura que provocou uma mudança na história.”

Clandestinidade

Para dar este novo passo, a primeira questão a enfrentar era as nomeações episcopais, que fez surgir o fenômeno da clandestinidade na Igreja presente na China.

O Papa relata que desde o início do seu pontificado recebeu “sinais e testemunhos concretos” de fiéis e bispos que manifestavam “o desejo sincero de viver a sua fé em plena comunhão com a Igreja universal e com o Sucessor de Pedro”.

“Por isso, depois de ter examinado atentamente cada uma das situações pessoais e escutado diversos pareceres, refleti e rezei muito procurando o verdadeiro bem da Igreja na China. Por fim, decidi conceder a reconciliação aos restantes sete Bispos «oficiais» ordenados sem Mandato Pontifício e, tendo removido todas as relativas sanções canônicas, readmiti-los na plena comunhão eclesial.

Artífices de reconciliação

Francisco então convida todos os católicos chineses a fazerem-se artífices de reconciliação. Assim, é possível dar início a um percurso inédito, que ajudará a curar as feridas do passado, restabelecer a plena comunhão de todos os católicos chineses e abrir uma fase de colaboração mais fraterna, para assumir com renovado empenho a missão do anúncio do Evangelho.

O Acordo Provisório, explica ainda o Papa, apesar de se limitar a alguns aspectos da vida da Igreja, pode contribuir para escrever esta página nova da Igreja Católica na China. Pela primeira vez, este Acordo introduz elementos estáveis de colaboração entre as Autoridades do Estado e a Sé Apostólica, com a esperança de garantir bons Pastores à comunidade católica.

Á Igreja chinesa, cabe o papel de procurar, juntos, bons candidatos para o serviço episcopal. “Na realidade, não se trata de nomear funcionários para a gestão das questões religiosas, mas ter verdadeiros Pastores segundo o coração de Jesus”.

O Acordo é um instrumento, esclarece ainda o Papa, e por si só não poderá resolver todos os problemas existentes.
Por isso, no plano pastoral, a comunidade católica na China é chamada a estar unida. “Todos os cristãos, sem distinção, realizem gestos de reconciliação e comunhão.”

No plano civil e político, os católicos chineses são chamados a ser bons cidadãos, que amem plenamente a pátria e sirvam o seu país com empenho e honestidade, sem se eximir de proferir uma “palavra crítica” quando necessária.

Caridade pastoral

Aos Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas, Francisco pede que a caridade pastoral seja a bússola do ministério. “Superemos os contrastes do passado, a busca da afirmação de interesses pessoais e cuidemos dos fiéis.”

De modo especial o Papa se dirige aos jovens, por ocasião do Sínodo dos Jovens. Francisco pede colaboração, entusiasmo, sem medo de levar a todos a alegria do Evangelho.

O Pontífice faz um pedido também a todos os fiéis no mundo inteiro. “Temos uma tarefa importante: acompanhar com oração fervorosa e amizade fraterna os nossos irmãos e irmãs na China. Com efeito, devem sentir que, no caminho que se abre diante deles neste momento, não estão sozinhos.

Diálogo árduo, mas fascinante

Por fim, uma menção às autoridades chinesas: “Renovo o convite a continuarem, com confiança, coragem e clarividência, o diálogo iniciado há algum tempo. Desejo assegurar que a Santa Sé continuará a trabalhar com sinceridade para crescer numa amizade autêntica com o povo chinês”.

Para Francisco, é preciso “aprender um novo estilo de colaboração simples e diária entre as Autoridades locais e as Autoridades eclesiásticas”, definindo este diálogo árduo, mas ao mesmo tempo fascinante.

A Igreja na China não é alheia à história do país nem pede privilégio algum, esclarece o Papa: a sua finalidade no diálogo com as Autoridade civis é “alcançar uma relação tecida de respeito recíproco e de profundo conhecimento”.

A mensagem se conclui com uma oração a Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, implorando do Senhor o dom da paz.

Radio Vaticano

A Igreja luterana Kaarli, na capital da Estônia, foi a sede do segundo compromisso do Papa Francisco: o encontro ecumênico com os jovens.

Antes de proferir seu discurso, o Pontífice ouviu o testemunho de três jovens e saudou os representantes das diversas confissões cristãs presentes no país.

Estes encontros, disse o Papa, tornam realidade o sonho de Jesus na Última Ceia: “Que todos sejam um só (…) para que o mundo creia” (Jo 17, 21).

Sínodo sobre os jovens

Francisco dedicou ampla parte do seu pronunciamento para falar da relação dos jovens com os adultos, marcada muitas vezes pela falta de diálogo e de confiança. O Papa citou o Sínodo sobre a juventude, que tem início semana que vem, para mencionar algumas questões que emergiram na consultação preliminar.

Entre elas, os jovens pedem acompanhamento e compreensão, sem julgamentos por parte dos membros das Igrejas.

“ Aqui, hoje, quero lhes dizer que desejamos chorar com vocês se estiverem chorando, acompanhar com os nossos aplausos e nossos sorrisos as suas alegrias, ajudá-los a viver o seguimento do Senhor. ”

Muitos jovens, porém, nada pedem à Igreja, pois não a consideram um interlocutor significativo na sua existência. Outros se indignam diante dos escândalos econômicos e sexuais contra os quais não veem uma clara condenação.

“Queremos dar-lhes resposta, queremos ser – como vocês mesmos dizem – uma ‘comunidade transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa, acessível, alegre e interativa’”, garantiu o Papa.

Vida com sabor de Espírito Santo

Ao vê-los assim reunidos a cantar, acrescentou Francisco, “uno-me à voz de Jesus, porque vocês, apesar da nossa falta de testemunho, continuam descobrimendo Jesus dentro de nossas comunidades. Onde está Jesus, a vida tem sempre sabor de Espírito Santo. Aqui, hoje, vocês são a atualização daquela maravilha de Jesus”.

Jesus continua a ser o motivo para estarmos aqui, recordou o Papa. “Sabemos que não há alívio maior do que deixar Jesus carregar as nossas opressões.” Citando uma cantora famosa da Estônia, que dizia que o “amor está morto”, Francisco afirmou que os cristãos têm uma palavra a dizer, algo para anunciar, com poucas palavras e muitos gestos.

Deus está conosco

“Estamos unidos pela fé em Jesus, e Ele espera que O levemos a todos os jovens que perderam o sentido da sua vida. Acolhamos juntos a novidade de que o próprio Deus traz Deus à nossa vida; uma novidade que incessantemente nos impele a partir, para ir aonde se encontra a humanidade mais ferida. Mas nunca iremos sozinhos: Deus vem conosco; Ele não tem medo das periferias.”

“O amor não está morto”, disse por fim o Papa; ele nos chama e nos envia para que a nossa vida cristã não seja um museu de recordações.

Radio Vaticano

O segundo compromisso do Papa Francisco na Letônia, nesta segunda-feira (24/09), foi a oração ecumênica na Catedral evangélica luterana de Santa Maria, em Riga, que há mais de 800 anos hospeda a vida cristã dessa cidade.

Francisco manifestou alegria de estar “nesta terra que se caracteriza por realizar um caminho de respeito, colaboração e amizade entre as diferentes Igrejas cristãs, que conseguiram gerar unidade mantendo a riqueza e a singularidade próprias de cada uma. Atrevo-me a dizer que é um «ecumenismo vivo», sendo uma das caraterísticas peculiares da Letônia. É, sem dúvida alguma, um motivo de esperança e ação de graças”.

A casa-catedral

A “casa-catedral”, assim chamada pelo Papa, é una “testemunha fiel de muitos irmãos nossos que dela se aproximaram para adorar, rezar e sustentar a esperança em tempos de tribulação e encontrar coragem para enfrentar períodos cheios de injustiça e sofrimento”.

“Hoje, hospeda-nos para que o Espírito Santo continue tecendo artesanalmente laços de comunhão entre nós e, assim, faça também de nós artesãos de unidade no meio do nosso povo, para que as nossas diferenças não se tornem divisões.”

“ Deixemos que o Espírito Santo nos revista com as armas do diálogo, da compreensão, da busca do respeito mútuo e da fraternidade. ”

O Pontífice enfatizou que “nesta catedral, encontra-se um dos órgãos mais antigos da Europa e que, no momento da sua inauguração, era o maior do mundo. Podemos imaginar como acompanhou a vida, a criatividade, a imaginação e a piedade de todos aqueles que se deixavam envolver por sua melodia”.

“Foi instrumento de Deus e dos homens, para elevar o olhar e o coração. Hoje é um emblema desta cidade e desta catedral. Para o «residente» neste lugar, representa mais do que um órgão monumental, faz parte da sua vida, da sua tradição, da sua identidade; ao passo que, para o turista, é naturalmente um objeto artístico a ser conhecido e fotografado.”

“E este é um perigo que se corre sempre: passar de residentes a turistas, fazendo daquilo que nos identifica um objeto do passado, uma atração turística e de museu que recorda os feitos de outrora, de alto valor histórico, mas que deixou de fazer vibrar o coração de quantos o escutam.”

A seguir, o Papa acrescentou:

“ Com a fé, pode acontecer exatamente a mesma coisa. Podemos deixar de nos sentir cristãos residentes, para nos tornarmos turistas. ”

“Mais, é possível afirmar que toda a nossa tradição cristã pode sofrer a mesma sorte: acabar reduzida a um objeto do passado que, fechado dentro das paredes das nossas igrejas, deixa de produzir uma melodia capaz de mover e inspirar a vida e o coração daqueles que a ouvem. Porém, como afirma o evangelho que ouvimos, a nossa fé não é para ficar oculta, mas para se dar a conhecer fazendo-a ressoar nos diferentes setores da sociedade, a fim de que todos possam contemplar a sua beleza e ser iluminados com a sua luz.”

A música do Evangelho

Papa Francisco, “se a música do Evangelho deixar de ser executada na nossa vida e se transformar numa bela partitura do passado, já não conseguirá romper as monotonias asfixiadoras que impedem de animar a esperança, tornando estéreis todos os nossos esforços”.

“Se a música do Evangelho parar de vibrar em nossas entranhas, perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança, a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no facto de nos sabermos sempre perdoados-enviados.”

“Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia, teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher, independentemente da sua proveniência, encerrando-nos no «meu» e esquecendo-nos do «nosso»: a casa comum que a todos nos diz respeito.”

“Se a música do Evangelho deixar de soar, teremos perdido os sons que hão de levar a nossa vida ao céu, entrincheirando-nos num dos piores males do nosso tempo: a solidão e o isolamento.”

“ A doença que surge em quem não possui qualquer laço, e que se pode encontrar também nos idosos abandonados ao seu destino, bem como nos jovens sem pontos de referência nem oportunidades de futuro. ”

Ecumenismo na cruz do sofrimento 

As palavras, Pai, «que todos sejam um (…) para que o mundo creia», continuam a ressoar intensamente no meio de nós, graças a Deus.

Imersos nesta oração de Jesus, “encontramos a única estrada possível para todo o ecumenismo na cruz do sofrimento de tantos jovens, idosos e crianças, frequentemente expostos à exploração, ao absurdo, à falta de oportunidades e à solidão. Enquanto fixa o olhar no Pai e em nós, seus irmãos, Jesus não cessa de implorar: que todos sejam um”.

“Hoje, a missão continua a pedir-nos e a solicitar de nós a unidade; é a missão que nos exige que paremos de olhar as feridas do passado e acabemos com todas as atitudes autorreferenciais para nos centrarmos na oração do Mestre. A missão pede para que a música do Evangelho não cesse de soar em nossas praças.

Viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade

Segundo o Papa, “alguns podem chegar a dizer: são tempos difíceis e complexos, estes que estamos vivendo. Outros podem chegar a pensar que, em nossas sociedades, os cristãos têm cada vez menos margem de ação e influência devido a inúmeros fatores, como, por exemplo, o secularismo ou as lógicas individualistas”.

“Isto não pode levar a uma atitude de fechamento, de defesa, nem de resignação.”

“ Não podemos deixar de reconhecer que certamente os tempos não são fáceis, sobretudo para muitos dos nossos irmãos que hoje vivem na sua carne o exílio e até o martírio por causa da fé. ”

“Mas o seu testemunho nos leva a descobrir que o Senhor continua nos chamando, convidando-nos a viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade.”

“Se Cristo nos considerou dignos de viver nestes tempos, nesta hora – a única que temos –, não podemos nos deixar vencer pelo medo nem deixar que ele passe sem a assumir com a alegria da fidelidade.

“ O Senhor nos dará a força para fazer de cada tempo, de cada momento, de cada situação uma oportunidade de comunhão e reconciliação com o Pai e com os irmãos, especialmente com aqueles que hoje são considerados inferiores ou matéria de descarte. ”

Unidade em chave missionária

O Papa frisou que a unidade “a que o Senhor nos chama, é uma unidade sempre em chave missionária, que nos pede para sair e alcançar o coração do nosso povo e das culturas, a sociedade pós-moderna em que vivemos «onde são concebidas as novas histórias e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os núcleos mais profundos da alma das cidades»”.

“Conseguiremos realizar esta missão ecumênica, se nos deixarmos impregnar pelo Espírito de Cristo que é capaz de «romper também os esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreender-nos com a sua constante criatividade divina.”

“Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual»”, concluiu o Papa.

É preciso tomar cuidado para não perder os valores da alegria e da esperança

Quero lhe falar de uma história real. Trata-se da vida de um jovem que, aos 25 anos de idade, não tinha mais nenhuma perspectiva, não conseguia ver esperança em sua vida, era só um vazio existencial.

Os dias foram passando e o desespero aumentava no coração dele, por não avistar uma saída. A entrada para o mercado de trabalho lhe parecia muito difícil sem faculdade e sem currículo. Quem o contrataria e quanto ganharia? Pois quem ganha bem é quem tem um excelente currículo e uma boa formação acadêmica, pensava este jovem. Casar-se e formar família também era complexo, já que não conseguia dirigir sua própria vida. Então, não conseguia mirar uma vida de fidelidade a partir de uma única mulher. Outro ponto se tornava mais distante ainda: ter filhos e dar a eles uma educação moral e cristã.

Situações que resultavam numa conclusão: sem perspectiva profissional e sem perspectiva de ser bom esposo e bom pai. Além desses fatos, tinha jogado fora todas as oportunidades que estiveram em suas mãos, uma delas a carreira profissional de jogador de futebol de salão. O mais complicado para este jovem era achar que não tinha mais jeito de dar a volta por cima, não existia esperança em sair do caos.

Alegria e esperança

Não sei a sua idade nem quais são as suas perdas, mas sei de uma coisa: em meio a uma situação de desesperança, é hora de tomar cuidado para não perder os valores da alegria e da esperança.

Há uma música que diz: “Reconhece a queda e não desanima; levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Jovem, é preciso reconhecer a queda, reconhecer a perda, reconhecer-se pequeno, mas não desanimar. É preciso ter consciência de que para levantar e dar a volta por cima é preciso o auxílio do Alto, do Céu. Levante a cabeça, acredite, é possível começar um tempo novo! Levantar-se sem Deus é arriscado e levantar-se com Ele é humildade.

“A alegria do coração é a vida da pessoa, tesouro inesgotável de santidade, a alegria da pessoa prolonga-lhe a vida. Tem compreensão contigo mesmo e consola teu coração; afugenta para longe de ti a tristeza. A tristeza matou a muitos e não traz proveito algum.” (Eclo 30,23-25).

Essa passagem bíblica nos apresenta um valor que deve ser cultivado: a alegria. Jovem, não deixe que nenhuma perda lhe roube a alegria. Somente a perda de Jesus é que deve nos questionar, pois Ele diz: “sem mim, nada podeis fazer”. Viver a vida sem Cristo é perder a esperança de dias melhores.

Jesus é o seu amigo e está junto de você nestes momentos tão difíceis. Ele é o único que não pode se fazer presente na sua lista de perdas. “Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15). O lindo desafio para este dia é virar a folha e começar a escrever um tempo novo. Coloque, no início dessa folha, “Jesus é meu amigo” e isso me basta para dar a volta por cima.

Este jovem, hoje, tem 49 anos de idade, é casado há 20 anos e tem três filhos. Este jovem sou eu, Cleto Coelho. Hoje, sou “semeador de alegria e esperança” e aprendiz em descobrir valor em meio às perdas. Não me canso de repetir: “Com Deus tem jeito!”

Canção Nova

A liturgia nos fala hoje da chamada de Mateus, o publicano, escolhido por Deus e instituído apóstolo segundo o seu desenho de misericórdia. O Papa destaca três expressões na missa matutina na Casa Santa Marta: desenho de misericórdia, escolher, instituir.

Mateus era um corrupto “porque traia a pátria por dinheiro”. Um traidor do seu povo: o pior”. Alguém pode dizer que Jesus “não tem bom gosto para escolher as pessoas”, observou o Papa, e parece que realmente não tem, porque além de Mateus escolheu muitos outros pegando-os “do lugar mais desprezado”. Foi assim com a Samaritana e muitos outros pecadores e os fez apóstolos.

E depois, na vida da Igreja, muitos cristãos, muitos santos que foram escolhidos do mais raso … escolhidos do mais raso. Esta consciência de que nós cristãos deveríamos ter – de onde fui escolhido, de onde fui escolhida para ser cristão – deve durar toda a vida, permanecer ali e ter a memória dos nossos pecados, a memória que o Senhor teve misericórdia dos meus pecados e me escolheu para ser cristão, para ser apóstolo.”

Mateus não esqueceu suas origens

Depois, o Papa descreve a reação de Mateus à chamada do Senhor: não se vestiu de luxo, não começou a dizer aos outros: eu sou o príncipe dos Apóstolos, aqui eu comando. “Não! Trabalhou toda a vida pelo Evangelho.”

Quando o Apóstolo esquece as suas origens e começa a fazer carreira, se afasta do Senhor e se torna um funcionário; que trabalha muito bem, mas não é Apóstolo. Será incapaz de transmitir Jesus; será um organizador de planos pastorais, de tantas coisas; mas, no final, um negociante. Um negociante do Reino de Deus, porque esquece de onde foi escolhido.

Por isso, prosseguiu Francisco, é importante a memória das nossas origens: “Esta memória deve acompanhar a vida do Apóstolo e de todo cristão”.

A nós falta a generosidade

Ao invés de olhar para si mesmo, porém, nós somos levados a olhar os outros, seus pecados e a falar mal deles. Um costume que envenena. É melhor falar mal de si próprio, sugeriu o Papa, e recordar de onde o Senhor nos escolheu, trazendo-nos até aqui.

O Senhor, acrescentou o Pontífice, quando escolhe, escolhe para algo maior.

“Ser cristão é algo grande, belo. Somos nós que nos afastamos e ficamos na metade do caminho”. A nós falta a generosidade e negociamos com o Senhor, mas Ele nos espera.
Diante da chamada, Mateus renuncia ao seu amor, ao dinheiro, para seguir Jesus. E convidou os amigos do seu grupo para almoçar com ele para festejar o Mestre. Assim, àquela mesa se sentava “o que havia de pior naquele tempo. E Jesus estava com eles”.

O escândalo dos doutores da Lei

Os doutores da Lei se escandalizaram. Chamaram os discípulos e disseram: “Mas como é possível que seu Mestre faça isso, com essas pessoas? Mas, se torna impuro!”: comer com um impuro é se contaminar com a impureza, não é mais puro. E Jesus toma a palavra e diz esta terceira expressão: “Vão aprender o que significa ‘Quero misericórdia e não sacrifício”. A misericórdia de Deus procura todo mundo, perdoa a todos. Pede somente que diga: “Sim, ajude-me”. Só isso.

Para quem se escandaliza, Jesus responde que não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes e: “Quero misericórdia e não sacrifício”.

“Entender a misericórdia do Senhor – conclui Francisco – é um mistério; mas o maior mistério, o mais belo, é o coração de Deus. Se quiser realmente chegar ao coração de Deus, siga o caminho da misericórdia, e se deixe tratar com misericórdia”.

Radio Vaticano

Peçamos a Jesus para proteger sempre “com a sua misericórdia e o seu perdão” a nossa Igreja, “que como mãe é santa, mas cheia de filhos pecadores como nós”.

Esta foi a oração feita pelo Papa Francisco na missa matutina celebrada, nesta quinta-feira (20/09), na Casa Santa Marta, refletindo sobre a Primeira Leitura extraída da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios e sobre o Evangelho de Lucas, centrado nas palavras de Jesus: “Os seus pecados estão perdoados porque mostrou muito amor”.

Jesus olha o pequeno gesto de amor

O Pontífice enquadra imediatamente “três grupos de pessoas” nas leituras de hoje: Jesus e seus discípulos; Paulo e a mulher, daquelas cujo destino, recorda Francisco, era o de ser “ser visitada em segredo”, até mesmos pelos “fariseus”, ou “ser apedrejada”; e os doutores da Lei.

O Papa evidencia como a mulher se mostra “com amor, com muito amor a Jesus”, não escondendo “ser pecadora”. O mesmo acontece com Paulo, que afirma: “Com efeito, transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu por nossos pecados.”

Os dois procuravam Deus “com amor, mas um amor pela metade”. Paulo “pensava que o amor fosse uma lei e tinha o coração fechado para a revelação de Jesus Cristo: perseguia dos cristãos, mas pelo zelo da lei, por isso era um amor imaturo”.

A mulher buscava o amor, o “pequeno amor”. Os fariseus comentavam, mas Jesus explicou:

“Os pecados que ela cometeu foram perdoados porque ela mostrou muito amor”. “Mas, amar como? Esses não sabem amar”. Procuram o amor e Jesus, falando deles, diz: uma vez disse que eles nos precederão no Reino dos Céus. “Mas que escândalo…”, dizem os fariseus, “mas essas pessoas”! Jesus olha o pequeno gesto de amor, o pequeno gesto de boa vontade, pega esse gesto e o leva adiante. Esta é a misericórdia de Jesus: sempre perdoa e sempre recebe.

O “escândalo” dos hipócritas

No que diz respeito aos “doutores da lei”, Francisco nota que “têm uma atitude que somente os hipócritas usam com frequência: se escandalizam”. E dizem:

“Mas olha, que escândalo! Não se pode viver assim! Perdemos os valores… Agora todos têm o direito de entrar na igreja, inclusive os divorciados, todos. Mas onde estamos?” O escândalo dos hipócritas. Este é o diálogo entre o amor grande que perdoa tudo, de Jesus, o amor “pela metade” de Paulo e desta senhora, e também o nosso, que é um amor incompleto porque nenhum de nós é santo canonizado. Digamos a verdade. E a hipocrisia: a hipocrisia dos “justos”, dos “puros”, daqueles que se creem salvos pelos próprios méritos externos.

Na história, a Igreja perseguida pelos hipócritas

Jesus afirma que essas pessoas exteriormente mostram “tudo belo” – fala de “sepulcros polidos” – mas dentro têm “podridão”.

E a Igreja, quando caminha na história, é perseguida pelos hipócritas: hipócritas por dentro e por fora. O diabo não tem relação com os pecadores arrependidos, porque olham para Deus e dizem: “Senhor, sou pecador, ajuda-me”. E o diabo é impotente, mas é forte com os hipócritas. É forte, e os usa para destruir, destruir as pessoas, destruir a sociedade, destruir a Igreja. A força do diabo é a hipocrisia, porque ele é mentiroso: se mostra como príncipe poderoso, belíssimo, e por trás é um assassino. Três grupos de pessoas – não nos esqueçamos – : Jesus, que perdoa, recebe, é misericordioso, palavras muitas vezes esquecida quando falamos mal dos outros. Pensem nisso: devemos ser misericordiosos, como Jesus, e não condenar os outros. Jesus no centro. Paulo, pecador, perseguidor, mas com um amor “pela metade. Esta senhora, pecadora, também ela com um amor “incompleto”. E Jesus perdoa os dois. E encontram o verdadeiro amor: Jesus. Os hipócritas, que são incapazes de encontrar o amor porque têm o coração fechado.

Radio Vaticano

Nunca insultar os pais! “Poderemos começar a honrar nossos pais com a liberdade de filhos adultos e com misericordiosa acolhida de seus limites”, “quando descobrirmos que o verdadeiro enigma não é mais “por que?”, mas “por quem?”” aconteceu isto ou aquilo que forjou a minha vida.

“Honrar pai e mãe”. O quarto mandamento foi o tema da catequese do Papa na Audiência Geral desta quarta-feira, 19, ao dar continuidade a sua série de reflexões sobre o Decálogo. Francisco pediu para nunca insultarmos os pais. Do Brasil estava presente um grupo do Colégio Santo Inácio, de Fortaleza.

O sentido de “honrar”

Francisco começou explicando aos 13 mil presentes na Praça São Pedro, numa quarta-feira com tempo instável na Cidade Eterna, o sentido desta “honra”, que em hebraico indica a glória, o valor, a consistência de uma realidade. Portanto, “honrar” significa reconhecer este valor.

Se “honrar a Deus nas Escrituras quer dizer reconhecer a sua realidade, considerar a sua presença”, dando a Ele “seu justo lugar na existência”, honrar pai e mãe quer dizer então “reconhecer a sua importância também com atos concretos, que exprimem dedicação, afeto, cuidado”, mas não só.

“Honra o teu pai e a tua mãe, como te ordenou o Senhor, para que se prolonguem os teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus”. O quarto mandamento – explica o Papa – “contém um êxito”, ou seja, “honrar os pais leva a uma vida longa e feliz”.

Feridas da infância

De fato, “a palavra “felicidade” no Decálogo aparece somente ligada à relação com os pais”. E essa sabedoria milenar declara o que as ciências humanas conseguiram elaborar somente há pouco mais de um século, isto é,  que as marcas da infância marcam toda a vida:

“Muitas vezes pode ser fácil entender se alguém cresceu em um ambiente saudável e equilibrado. Mas da mesma forma perceber se uma pessoa vem de experiências de abandono ou de violência. A nossa infância é um pouco como uma tinta indelével, se expressa nos gostos, nos modos de ser, mesmo que alguns tentem esconder as feridas de próprias origens”.

Reconhecimento por quem nos colocou no mundo

Francisco chama a atenção, que o quarto mandamento não fala da bondade dos pais, nem pede a eles que sejam perfeitos, mas, “fala de um ato dos filhos, independente dos méritos dos genitores, e diz uma coisa extraordinária e libertadora”:

“Mesmo que nem todos os pais sejam bons e nem todas as infâncias sejam serenas, todos os filhos podem ser felizes, porque a realização de uma vida plena e feliz depende do justo reconhecimento para com aqueles que nos colocaram no mundo”.

“ A realização de uma vida plena e feliz depende do justo reconhecimento para com aqueles que nos colocaram no mundo ”

Exemplo do Santos

O Papa ressalta o quanto este quarto mandamento “pode ser construtivo para tantos jovens que vem de histórias de dor e para todos aqueles que sofreram em sua juventude. Muitos santos – e muitos cristãos – depois de uma infância dolorosa viveram uma vida luminosa, porque, graças a Jesus Cristo, se reconciliaram com a vida:

“Pensemos ao hoje Beato, mas no próximo mês Santo Sulprizio, aquele jovem napolitano que há 19 anos acabou sua vida reconciliado com tantas dores, com tantas coisas, porque seu coração era sereno e jamais havia renegado seus pais. Pensemos em São Camilo de Lellis, que de uma infância desordenada construiu uma vida de amor e serviço; mas pensemos Santa Josefina Bakhita, crescida em uma escravidão horrível; ou ao abençoado Carlo Gnocchi, órfão e pobre; e ao próprio São João Paulo II, marcado pela perda da mãe em tenra idade”.

O homem, qualquer que seja a sua história, “recebe deste mandamento a orientação que conduz a Cristo”, em quem se manifesta de fato “o Pai verdadeiro, que nos oferece renascer do alto”.

“Os enigmas de nossas vidas se iluminam quando se descobre que Deus desde sempre nos preparou a vida como seus filhos, onde cada ato é uma missão dele recebida.”

Feridas como potencialidades

As nossas feridas – observou o Santo Padre – iniciam a ser “potencialidades” quando, por graça, descobrimos que o verdadeiro enigma não é mais “por que?”, mas “por quem?”” me aconteceu isto, explicando:

Em vista de qual obra Deus me forjou através da minha história? Aqui tudo se inverte, tudo se torna precioso, tudo se torna construtivo. Então podemos começar a honrar nossos pais com a liberdade de filhos adultos e com misericordiosa acolhida de seus limites”.

“ Em vista de qual obra Deus me forjou através da minha história? ”

Jamais insultar pai e mãe

“Honrar os pais – exortou o Papa.  Nos deram a vida”. E fez um pedido:

“Se você se afastou dos seus pais, mah, faça um esforço e volte, volte para eles. Talvez sejam idosos. Deram a vida a você. E depois, entre nós existe este costume de dizer coisas feias, mesmo palavrões. Por favor. Nunca, nunca, nunca insultar os outros, os pais dos outros. Nunca! Nunca se insulta a mãe, nunca insultar o pai. Nunca! Nunca! Tomem esta decisão interior. A partir de hoje nunca insultarei a mãe ou o pai de quem quer que seja. Nos deram a vida. Nunca devem ser insultados”.

Mas essa vida maravilhosa, disse o Papa Francisco ao concluir, nos é oferta, não imposta. Renascer em Cristo é uma graça a ser acolhida livremente e é o tesouro de nosso Batismo, no qual, por obra do Espírito Santo, um só é o Pai nosso, aquele de céu”.

Radio Vaticano

Os perigos que podemos encontrar

Como vimos no artigo anterior, o Papa Francisco, em seu documento Gaudete et Exsultate, que trata sobre o chamado à santidade, apresenta ao povo de Deus um código de conduta. Francisco, com sua maneira direta,  simples e prática de ensinar, orienta a cada um em particular para que tenham atitudes que o torne santo.

O objetivo do documento é fazer que cada pessoa possa refletir no seu interior o chamado universal à santidade, com os riscos, desafios e oportunidades, tudo isso em meio à cotidianidade dos afazeres de uma vida normal, e que o mundo não nos ausenta (Cf. n. 2).

Neste artigo, que é o segundo em que estamos tratando sobre o chamado de todo homem à santidade, iremos notar os dois inimigos citados pelo Papa Francisco que atrapalham o homem de atingir a vocação universal. No referido documento “Alegrai-vos e exultai”, o Papa Francisco aponta duas heresias ou, por assim dizer, erros que podem levar um descaminho no processo de santidade, ou o que ele mesmo disse: “falsificações da santidade”. Falsificações que são verdadeiros inimigos nesse caminho à santidade. Estes erros são: o gnosticismo e o pelagianismo. Essas duas formas de pensar o cristianismo são oriundas dos primeiros séculos da Igreja, porém, atualizam-se de maneira inconsciente nos dias de hoje.

O risco do gnosticismo e do pelagianismo

O Sumo Pontífice alerta para o que o gnosticismo e o pelagianismo, de maneira ampla, dão origem “a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente” (n. 35). Acontece uma elevação exagerada do homem, a realização do homemaconteceria tão somente no aqui e no agora.

Para compreender melhor o que o Papa esclarece no documento a respeito desses dois erros, analisemos ambos e vejamos o que realizam no homem e suas consequências, para isso primeiramente exploremos o gnosticismo.

O gnosticismo carece de uma fé fechada no subjetivismo, levando o homem a uma prisão na própria razão ou nos sentimentos. O gnóstico não é capaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros. Acontece assim, um desencarnar do mistério, eles preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo”. (Cf. n. 37). Essa ideologia quer domesticar o mistério de Deus e da sua graça, assim como fazem na vida dos outros. Contudo, Francisco, orienta que quando nos deixamos guiar mais pelo Espírito do que pelos raciocínios, nós encontraremos o Senhor em cada vida humana.

Quando o Papa explora o pelagianismo, ele afirma que os pelagianos tiraram o lugar que a inteligência e a graça ocupavam no mistério e colocaram a vontade. Mas uma vontade sem humildade, surgia aí uma prepotência da vontade, uma espécie de “tudo é possível” pela vontade (Cf. 49). Atualmente, existem cristãos que buscam a justificação pelas próprias forças, no que se pode chamar de adoração da vontade, da própria capacidade, caindo em um egocentrismo, sem nenhum aspecto verdadeiro de amor (Cf. 57).

As virtudes teologais como antídoto

Com a sabedoria de quem governa a Igreja, o Papa Francisco deixa a saída para os erros do gnosticismo e do pelagianismo. Ele apresenta para o povo de Deus uma hierarquia das virtudes, levando-nos a buscar o essencial. A precedência está nas virtudes teologais (Fé, Esperança e Amor), que trazem Deus como objeto e motivo. E o centro de tudo é a caridade. Francisco apresenta a passagem que está em Romanos 13,8.10: “Quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei […] Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.” (Cf. n. 60).

Deixemos que o Espírito Santo nos conduza para águas mais profundas no conhecimento de nós mesmos e na imagem de Deus em nós. Que possamos manifestar o amor pleno e verdadeiro pelos que mais precisam, pelos preferidos de Deus, nunca perdendo de vista a fé, a esperança e a caridade. Se nos munirmos com essas virtudes, estaremos nos protegendo de cairmos em erros e ainda estaremos protegendo os nossos irmãos que trilham o mesmo caminho que nós à santidade.

Quem não ama não chega a conhecer a Deus, pois Deus é amor. (1 Jo 4,8).

Canção Nova

No final da manhã desta quinta-feira (13), o Papa Francisco recebeu em audiência cerca de 150 novos bispos que participam do curso promovido pela Congregação para os Bispos que termina hoje.

Na Sala do Consistório, no Vaticano, o Papa Francisco começou seu discurso saudando os novos Pastores da Igreja “com o toque de Cristo, Evangelho de Deus que aquece o coração, reabre os ouvidos e solta os lábios para a alegria que não falha e não desaparece, porque nunca é comprada ou merecida, pelo contrário, é pura graça!”.

Ao relembrar o presente precioso de Deus que receberam ao entrar no ministério episcopal, Francisco disse que quase “por acaso” encontraram “o tesouro da vida”. E, então, abordou o tema da santidade, “a tarefa mais urgente” para os Pastores:

“Vocês não são resultado de um escrutínio meramente humano, mas de uma escolha do Alto. Por isso, de vocês se exige não uma dedicação intermitente, uma fidelidade em fases alternadas, uma obediência seletiva, mas vocês são chamados a se consumar noite e dia.”]

Igreja precisa responder ao Povo de Deus

Papa Francisco observou a necessidade de ficar sempre vigilante “quando a luz desaparece” ou quando surgem as tentações; ser fiel inclusive quando, no calor do dia, diminuem “as forças da perseverança”. Isso tudo porque, segundo o Pontífice, o povo de Deus tem o direito de encontrar “nos lábios, no coração e na vida” dos bispos a mensagem tão esperada oferecida pela “paternidade de Deus”.

“A Igreja não é nossa, mas é de Deus! Ele veio antes de nós e estará depois de nós! O destino da Igreja, do pequeno rebanho, é vitoriosamente escondido na cruz do Filho de Deus. Os nossos nomes estão esculpidos no seu coração; a nossa sorte está nas suas mãos”, afirmou o Santo Padre. E acrescentou: “Cristo seja a alegria de vocês, o Evangelho seja o nutrimento”, principalmente diante das famílias que frequentam as paróquias.

“ Lá, onde nos corações há a frágil, mas indestrutível certeza que a verdade prevalece, que amar não é vão, que o perdão tem o poder de mudar e de reconciliar, que a unidade vence sempre a divisão, que a coragem de esquecer si próprio para o bem do outro é mais satisfatório do que a primazia intangível do eu. ”

Um ministério perseverante diante das próprias comunidades dos bispos, onde “o bem normalmente não faz barulho, não é tema dos blogs e não aparece nas primeiras páginas”. Um bem que precisa crescer mesmo perante as novas realidades do individualismo e indiferença que bloqueiam os pontos de referência do Povo de Deus: “inclusive as suas feridas nos pertencem”, recordou o Papa.

A missão de distribuir o vinho novo aos fiéis

“Este é o objetivo da Igreja: distribuir no mundo este vinho novo que é Cristo. Nada pode nos desviar dessa missão. Temos necessidade contínua de odres novos (Mc 2,22), e tudo aquilo que fazemos não é nunca suficiente para nos tornar dignos do vinho novo que são chamados a conter e a distribuir. Mas, justamente por isso, os recipientes saibam que sem o vinho novo serão, de qualquer forma, jarros de pedra fria, capazes de recordar a falta, mas não de doar a totalidade. Nada os distraia dessa meta: doar a totalidade!”

Papa Francisco, então, enfatizou que a santidade – consciente – não deve ser fruto do isolamento. Aconselhou que os bispos acolham a Igreja, como “esposa para amar, virgem para proteger, mãe para fazer fecunda”; num terreno que precisa “ser fértil para a semente do Verbo e jamais pisado por javalis” (Sal 80,14).

“Não serve a contabilidade das nossas virtudes, nem um programa de levantamentos, uma academia de esforços pessoais ou uma dieta que se renova de uma segunda-feira a outra, como se a santidade fosse resultado somente da vontade. A fonte da santidade é a graça de nos encostarmos na alegria do Evangelho e deixar que seja ela a invadir a nossa vida, de modo que não se poderá mais viver diversamente.”

“Não se envergonhem da carne das suas Igrejas”

O Papa Francisco finalizou seu discurso alertando os bispos para que se perguntem o que podem fazer para tornar mais santa a Igreja, sem “apontar o dedo nos outros, produzir bodes expiatórios”, mas trabalhando juntos e em comunhão.

“Por isso, insisto para que não se envergonhem da carne das suas Igrejas. Entrem em diálogo com os seus questionamentos. Peço uma atenção especial ao clero e aos seminários. Não podemos responder aos desafios que temos em relação a eles sem atualizar os nossos processos de seleção, acompanhamento, análise. Mas as nossas respostas serão privadas de futuro se não alcançarão a profundeza espiritual que, não em poucos casos, permitiu fraquezas escandalosas.”

Três cursos para bispos em Roma

O curso para os novos bispos, que teve como tema “Servidores da alegria do Evangelho”, é um dos três de atualização que estão sendo realizados nestes dias em Roma, além daquele para quem completou 10 anos de episcopado e de outro para 74 pastores dos Territórios de Missão – promovido pela Congregação para a Evangelização dos Povos. O curso da Congregação para os Bispos acontece a cada seis meses.

Radio Vaticano

O Papa Francisco deixou o Vaticano na manhã desta quinta-feira (21/06) para uma peregrinação ecumênica a Genebra.

Depois de uma hora e 40 minutos de voo, o Pontífice chegou à cidade suíça por volta das 10h, onde foi recebido pelo Presidente da Confederação Helvécia, Alain Berset, no aeroporto internacional da cidade para uma breve cerimônia de boas-vindas e um encontro privado.

Na sequência, o Papa se transferiu de carro até o Centro Ecumênico do Conselho Mundial de Igrejas, pois justamente este é o motivo dessa peregrinação: celebrar os 70 anos desta instituição, criada depois da II Guerra Mundial.

Mais de 500 milhões de fiéis

O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é a maior organização mundial do movimento ecuménico, com o mais alto número de membros: são 345 comunidades cristãs de mais de 110 países, com exceção da Igreja Católica, e compreende reformados, luteranos, anglicanos metodistas, batistas, ortodoxos e outras Igrejas. Representa mais de 500 milhões de fiéis em todo o mundo, cuja sede é Genebra.

No Centro Ecumênico do CMI, realizou-se uma oração comum, com a participação de cerca de 230 pessoas – ocasião em que o Pontífice pronunciou o primeiro discurso do dia.

Caminhar segundo o Espírito

Inspirado na leitura extraída da Carta aos Gálatas, Francisco propôs uma reflexão sobre a expressão “Caminhar segundo o Espírito” .

“Caminhar segundo o Espírito é rejeitar o mundanismo. É escolher a lógica do serviço e avançar no perdão. É inserir-se na história com o passo de Deus: não com o passo ribombante da prevaricação, mas com o passo cadenciado por «uma única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gal 5, 14).”

No decurso da história, afirmou o Papa, as divisões entre cristãos deram-se porque na raiz, na vida das comunidades, se infiltrou uma mentalidade mundana: primeiro cultivavam-se os próprios interesses e só depois os de Jesus Cristo. A direção seguida era a da carne, não a do Espírito.

“Mas o movimento ecumênico, para o qual tanto contribuiu o Conselho Ecumênico das Igrejas, surgiu por graça do Espírito Santo”, recordou o Papa.

Ser do Senhor

É preciso escolher ser de Jesus antes que de Apolo ou de Cefas, antepor o ser de Cristo ao fato de ser «judeu ou grego», ser do Senhor antes que de direita ou de esquerda, escolher em nome do Evangelho o irmão antes que a si mesmo.

A resposta aos passos vacilantes, prosseguiu o Papa, é sempre a mesma: caminhar segundo o Espírito, purificando o coração do mal, escolhendo com obstinação o caminho do Evangelho e recusando os atalhos do mundo.

“Depois de tantos anos de empenho ecumênico, neste septuagésimo aniversário do Conselho, peçamos ao Espírito que revigore o nosso passo. (…) Que as distâncias não sejam desculpas! É possível, já agora, caminhar segundo o Espírito. Rezar, evangelizar, servir juntos: isto é possível. Caminhar juntos, rezar juntos, trabalhar juntos: eis a nossa estrada-mestra.”

Unidade

Esta estrada tem uma meta concreta: a unidade. A estrada oposta, a da divisão, leva a guerras e destruições. “O Senhor pede-nos unidade; o mundo, dilacerado por demasiadas divisões que afetam sobretudo os mais fracos, invoca unidade.”

Francisco conclui seu discurso definindo-se um “peregrino em busca de unidade e de paz”. “Agradeço a Deus porque aqui encontrei irmãos e irmãs já a caminho. Que a Cruz nos sirva de orientação, porque lá, em Jesus, foram abatidos os muros de separação e foi vencida toda a inimizade: lá compreendemos que, apesar de todas as nossas fraquezas, nada poderá jamais separar-nos do seu amor.

Radio Vaticano

No dia em que a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Papa Francisco iniciou a sua homilia na Casa Santa Marta afirmando que se poderia dizer que hoje é a festa do amor de Deus.

“Não somos nós que amamos Deus, mas é Ele que “nos amou por primeiro, Ele é o primeiro a amar”, disse o Papa. Uma verdade que os profetas explicavam com o símbolo da flor de amêndoa, o primeiro a florescer na primavera. “Deus é assim: sempre por primeiro. Ele nos espera por primeiro, nos ama por primeiro, nos ajuda por primeiro”.

Mas não é fácil entender o amor de Deus. De fato, Paulo, na segunda Leitura do dia, fala de ‘impenetráveis riquezas de Cristo’, de um mistério escondido.

É um amor que não se pode entender. Um amor de Cristo que supera todo conhecimento. Supera tudo. Tão grande é o amor de Deus. E um poeta dizia que era como “o mar, sem margens, sem fundo …”: mas um mar sem limites. E este é o amor que nós devemos entender, o amor que nós recebemos.

Na história da salvação, o Senhor nos revelou o seu amor, “foi um grande pedagogo”, disse o Papa e, relendo as palavras do profeta Oséias, explica que não o revelou através da potência: “Não. Vamos ouvir: ‘Eu ensinei meu povo a dar os primeiros passos, tomei-o em meus braços, eu cuidava dele’. Tomar nos braços, próximo: como um pai”.

Deus, como manifesta o amor? Com as grandes coisas? Não: se rebaixa, se rebaixa, se rebaixa com esses gestos de ternura, de bondade. Faz-se pequeno. Aproxima-Se. E com esta proximidade, com este rebaixamento, Ele nos faz entender a grandeza do amor. O grande deve ser entendido por meio do pequeno.

Por último, Deus envia o seu Filho, mas “o envia em carne” e o Filho “humilhou a si mesmo” até a morte. Este é o mistério do amor de Deus: a grandeza maior expressa na menor das pequenezas. Para Francisco, assim se pode entender também o percurso cristão.

Quando Jesus nos quer ensinar como deve ser a atitude cristã, nos diz poucas coisas, nos faz ver aquele famoso protocolo sobre o qual todos nós seremos julgados (Mateus 25). E o que diz? Não diz: “Eu creio que Deus seja assim. Entendi o amor de Deus”. Não, não… Eu fiz o amor de Deus em pequenas coisas. Dei de comer ao faminto, dei de beber ao sedento, visitei o doente, o detento. As obras de misericórdia são justamente a estrada do amor que Jesus nos ensina em continuidade com este amor de Deus, grande! Com este amor sem limites, que se aniquilou, se humilhou em Jesus Cristo; e nós devemos expressá-lo assim.

Portanto, concluiu o Papa, não são necessários grandes discursos sobre o amor, mas homens e mulheres “que saibam fazer essas pequenas coisas por Jesus, para o Pai”. As obras de misericórdia “são a continuidade deste amor, que se rebaixa, chega a nós e nós o levamos avante”.

Radio Vaticano

CRÉDITO FOTO: VATICAN NEWS

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Cerca de 20 mil fiéis participaram esta manhã de quarta-feira (02/05) da Audiência Geral na Praça S. Pedro.

Em sua catequese, o Papa Francisco deu continuidade ao ciclo sobre o Batismo, falando dos ritos centrais deste sacramento.

Simbolismo da água

Começando pela água, o Pontífice explicou que se trata de um elemento purificador, matriz de vida e de bem estar, mas a sua falta ou o excesso pode ser também causa de morte. Por isso, possui um grande simbolismo na Bíblia para falar das intervenções de Deus, como por exemplo as águas do dilúvio, a passagem pelas águas do Mar Vermelho ou o sangue e água que correram do lado de Cristo crucificado.

Mas a água não tem o poder de curar, mas sim a ação do Espírito Santo no Batismo, tornando-se o instrumento que permite a quem recebe este sacramento ser sepultado com Cristo e, com Ele, ressuscitar para uma vida imortal.

Deus une, o diabo divide

Após a santificação da água, quem se prepara para receber o sacramento deve renunciar a Satanás e fazer a sua profissão de fé.

“O diabo divide. Deus une sempre num só povo. Não é possível aderir a Cristo colocando condições. De algumas pessoas dizemos que se dão bem com Deus e com o diabo. Isso não é possível”, disse o Papa. “Ou você está bem com Deus ou com o diabo. Por isso a renúncia e o ato de fé vão juntos.”

Renunciar e crer

A resposta às perguntas: “Renunciam a Santanás, a todas as suas obras e a todas as suas seduções?” – é formulada na primeira pessoa do singular: “Renuncio”.

E ao mesmo modo é professada a fé da Igreja, dizendo: “Creio”. “É a base do Batismo”, acrescentou Francisco. É uma escolha responsável, que exige ser traduzida em gestos concretos de confiança em Deus, de luta contra o pecado e de esforço, contando com a graça de Deus, para configurar a própria vida aos ensinamentos de Jesus.

O Pontífice então concluiu:

“Queridos irmãos e irmãs, quando molhamos a mão na água benta e fazemos o sinal do Cruz, pensemos com alegria e gratidão ao Batismo que recebemos, e renovamos o nosso ‘Amém’, per viver imergidos no amor da Santíssima Trindade.”

Radio Vaticano

CRÉDITO FOTO: VATICAN NEWS

Saber discernir entre as curiosidades boas e as curiosidades más e abrir o coração ao Espírito Santo que dá certeza. Estas são as duas exortações que o Papa Francisco abordou na homilia da missa na Casa Santa Marta nesta segunda-feira (30/04) , a partir do Evangelho de hoje (Jo 14, 21-26). De fato, no Evangelho há um diálogo entre Jesus e os discípulos, que o Papa define como “diálogo entre as curiosidades e a certeza”.

Na homilia o Papa explica a diferença entre as curiosidades boas e as más, porque “a nossa vida está cheia de curiosidades”. Como exemplo de curiosidade boa, refere-se às crianças quando estão na chamada “idade do por quê”. Elas perguntam, por quê, quando estão crescendo, percebem coisas que não entendem, estão procurando uma explicação. Essa é uma boa curiosidade, porque serve para crescer e “ter mais autonomia” e é também uma “curiosidade contemplativa”, porque “as crianças vêem, contemplam, não entendem e perguntam”.

“As fofocas” são, ao invés, uma curiosidade não boa, “patrimônio de mulheres e homens”, mesmo que alguém afirme que os homens são “mais fofoqueiros do que as mulheres”. A curiosidade má consiste em querer “cheirar a vida dos outros” – explica o papa – em “tentar ir a lugares que acabam sujando outras pessoas”, em fazer entender coisas que você não tem o direito de conhecer. Este tipo de curiosidade má “nos acompanha por toda a vida: é uma tentação que sempre teremos”: é a advertência do Papa.

Não ter medo, mas ter cuidado: “isso eu não pergunto, isso eu não olho, isso eu não quero”. E tantas curiosidades, por exemplo, no mundo virtual, com os celulares e coisas do gênero … As crianças vão ali e ficam curiosas para ver; e encontram ali muitas coisas ruins. Não há disciplina nessa curiosidade. Devemos ajudar as crianças a viver neste mundo, para que o desejo de conhecer não seja o desejo de ser curiosa, e acabem prisioneiras dessa curiosidade.

A curiosidade dos Apóstolos no Evangelho, porém, é boa: eles querem saber o que acorrerá, e Jesus responde dando certezas, “nunca engana”, prometendo a eles o Espírito Santo que – afirma – “ensinará tudo a vocês e recordará tudo o que eu lhes disse”.

A certeza nos dará o Espírito Santo na vida. O Espírito Santo não vem com um pacote de certezas e você aceita. Não. Na medida em que caminhamos na vida e pedimos ao Espírito Santo, abrindo o coração, ele nos dá a certeza para aquele momento, a resposta para aquele momento. O Espírito Santo é o companheiro, companheiro de caminho do cristão.

De fato, o Espírito Santo “recorda as palavras do Senhor iluminando-as” e este diálogo à mesa com os Apóstolos, que é “um diálogo entre curiosidade humana e certezas”, termina precisamente com esta referência ao Espírito Santo, “companheiro da memória”, que “conduz aonde há a felicidade fixa, que não se move”. Francisco exorta, portanto, a ir aonde há a verdadeira alegria com o Espírito Santo, que ajuda a não cometer erros:

Peçamos ao Senhor duas coisas hoje: primeiro, de nos purificar ao aceitar as curiosidades – há curiosidades boas e não tão boas – e saber discernir: não, isso eu não devo ver, isso eu não devo ver, isso não devo perguntar. E segunda graça: abrir o coração ao Espírito Santo, porque ele é a certeza, nos dá a certeza, como companheiro de caminho, das coisas que Jesus nos ensinou, e nos faz recordar tudo.

 

Radio Vaticano

FOTO: Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (ANSA) / VATICAN NEWS

Jesus nos ensina o amor com a Eucaristia; nos ensina o serviço com o lava-pés; e nos diz que um servo jamais está acima do seu senhor. Estes três elementos são o fundamento da Igreja. Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de quinta-feira (26/04) na capela da Casa Santa Marta. O Pontífice comentou o Evangelho do dia, no qual João refere as palavras de Jesus depois do lava-pés.

Na Última Ceia, explicou o Papa, Jesus se despede dos discípulos com um discurso longo e belo e “faz dois gestos que são instituições”. Dois gestos para os discípulos e para a Igreja que virá, “que são o fundamento, por assim dizer, da sua doutrina”. Jesus “dá de comer o seu corpo e de beber o seu sangue”, isto é, institui a Eucaristia, e faz o lava-pés. “Desses gestos nascem os dois mandamentos – explicou Francisco – que farão crescer a Igreja se formos fiéis”.

Amor sem limites

O primeiro é o mandamento do amor: não somente “amar o próximo como a si mesmo”, mas um passo a mais: “amar o próximo como eu os amei”.

“ O amor sem limites. Sem isto, a Igreja não vai para frente, a Igreja não respira. Sem o amor, não cresce, se transforma numa instituição vazia, de aparências, de gestos sem fecundidade. Ir ao seu corpo: Jesus diz como devemos amar, até o fim. ”

Depois, o segundo novo mandamento, que nasce do lava-pés: “servir uns aos outros”, lavar os pés uns aos outros, como eu os lavei. Dois novos mandamentos e uma única advertência: “vocês podem servir, mas enviados por mim. Não estão acima de mim.

Humildade simples e verdadeira

De fato, Jesus esclarece: o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou”. Assim é a humildade simples e verdadeira, não a humildade fingida.

A consciência de que Ele é maior do que todos nós, e nós somos servos, e não podemos ultrapassar Jesus, não podemos usar Jesus. Ele é o Senhor, não nós. Este é o testamento do Senhor. Ele se dá de comer e beber e nos diz: amem-se assim. Lava os pés e nos diz: sirvam assim, mas estejam atentos, um servo jamais é maior que aquele que o enviou, do senhor. São palavras e gestos contundentes: é o fundamento da Igreja. Se formos avante com essas três coisas, nunca vamos errar.

Os mártires e os muitos santos, prosseguiu o Papa, foram avante assim: “com esta consciência de ser servos”.

Subordinação

E depois Jesus insere outra advertência: “Eu conheço aqueles que escolhi” e diz: “Mas sei que um de vocês me trairá”. Por isso, Francisco conclui convidando todos, num momento de silêncio, a deixar-se olhar pelo Senhor:

“ É deixar que o olhar de Jesus entre em mim. Sentiremos tantas coisas: sentiremos amor, sentiremos talvez nada… ficaremos bloqueados ali, sentiremos vergonha. Mas deixar sempre que o olhar de Jesus venha. O mesmo olhar com o qual olhava, naquela noite, os seus na ceia. Senhor conhece, sabe tudo. ”

Amor até o fim, finalizou o Papa, serviço, e “vamos usar uma palavra um pouco militar, mas que é útil: subordinação, isto é, Ele é o maior, eu sou servo, ninguém pode passar na sua frente”.

Radio Vaticano

FOTO: VATICAN NEWS / Papa Francisco  (ANSA)

Na história do homem “sempre haverá resistência ao Espírito Santo”, oposições às novidades e às “mudanças”. Na homilia da missa celebrada em Santa Marta, o Papa Francisco reflete sobre a liturgia de hoje, detendo-se sobre as diferentes atitudes que o homem adota diante das novidades do Senhor, que “sempre vem ao nosso encontro com algo novo” e “original”.

Os prisioneiros de ideias

No Evangelho de João, o fechamento dos doutores da lei é bem focalizado, atitude que então se torna “rigidez”. São homens capazes de se concentrar apenas em si mesmos, inertes à obra do Espírito Santo e insensíveis às novidades. O Pontífice enfatiza, em particular, a sua completa incapacidade de “discernir os sinais dos tempos”, sendo escravos de palavras e ideias.

“Eles voltam à mesma questão, eles são incapazes de sair daquele mundo fechado, eles são prisioneiros das ideias. Eles receberam a lei que era vida, mas eles a ‘destilaram’, eles a transformaram em ideologia e assim giram, giram e são incapazes de sair e qualquer novidade para eles é uma ameaça”.

A liberdade dos filhos de Deus

Muito diferente, no entanto, deveria ser o calibre dos filhos de Deus, que apesar de ter talvez uma reticência inicial são livres e capazes de colocar no centro o Espírito Santo. O exemplo dos primeiros discípulos, contado na Primeira leitura, destaca sua docilidade ao novo e a capacidade de semear a Palavra de Deus, mesmo fora do padrão usual de “sempre se fez assim”. Eles, observa Papa Bergoglio, “mantiveram-se dóceis ao Espírito Santo para fazer algo que fosse mais do que uma revolução”, “uma mudança forte”, e ao centro “estava o Espírito Santo: não a lei, o Espírito Santo” .

“E a Igreja era uma Igreja em movimento, uma Igreja que ia além de si mesma. Não era um grupo fechado de eleitos, uma Igreja missionária: na verdade, o equilíbrio da Igreja, por assim dizer, está precisamente na mobilidade, na fidelidade ao Espírito Santo. Alguns dizem que o equilíbrio da igreja se assemelha ao equilíbrio da bicicleta: está parada e vai bem quando está em movimento; se você a deixa parada, cai. Um bom exemplo”.

Oração e discernimento para encontrar o caminho

Fechamento e abertura: dois pólos opostos que descrevem como o homem pode reagir diante do sopro do Espírito Santo. O segundo, conclui o Papa Francisco, é precisamente “dos discípulos, dos apóstolos”: a resistência inicial não é apenas humana, mas é também “uma garantia de que não se deixam enganar por alguma coisa e depois com a oração e o discernimento encontram o caminho” “.

“Sempre haverá resistência ao Espírito Santo, sempre, sempre, até o fim do mundo. Que o Senhor nos conceda a graça para saber resistir ao que devemos resistir, ao que vem do maligno, ao que que nos tira a liberdade e saibamos nos abrir às novidades, mas somente àquelas que vêm de Deus, com o poder do Espírito Santo e nos conceda a graça de discernir os sinais dos tempos para tomar as decisões que deveremos tomar naquele momento”.

Radio Vaticano

CRÉDITO FOTO: VATICAN NEWS

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística, nesta sexta-feira (20/04), no Porto de Molfetta, na Puglia, no 25º aniversário de morte do Servo de Deus Dom Tonino Bello.

Em sua homilia, o Pontífice destacou dois elementos centrais para a vida cristã: o pão e a palavra.

“O pão é o alimento essencial para viver e Jesus no Evangelho se oferece a nós como Pão da vida e usa expressões fortes: comam a minha carne e bebam o meu sangue.”

“O que isso significa? Que para a nossa vida é essencial entrar em relação vital, pessoal com Ele. Carne e sangue.”

“ A Eucaristia é isto: não um rito bonito, mas a comunhão íntima, concreta, surpreendente que se possa imaginar com Deus: uma comunhão de amor tão real que toma a forma do comer. ”

“A vida cristã recomeça toda vez daqui, desta mesa, onde Deus nos sacia com amor. Sem Ele, Pão da vida, todo esforço na Igreja é em vão, como recordava Dom Tonino Bello: «As obras caritativas não bastam, se falta a caridade das obras. Se falta o amor do qual as obas começam, se falta a fonte, se falta o ponto de partida que é a Eucaristia, todo compromisso pastoral é apenas um cata-vento».”

“Dom Tonino foi um bispo servo, um pastor que se fez povo. Sonhava uma Igreja faminta de Jesus e intolerante a toda mundanidade, uma Igreja que «sabe decifrar o corpo de Cristo nos tabernáculos desconfortáveis da miséria, do sofrimento e da solidão». Ele dizia, «a Eucaristia não tolera o sedentarismo» e sem se levantar da mesa permanece «um sacramento incompleto».

“ Podemos nos perguntar: este Sacramento se realiza em mim? Concretamente: eu gosto apenas de ser servido à mesa pelo Senhor ou me levanto para servir como o Senhor? ”

“Doo na vida o que recebo na missa? Como Igreja poderíamos nos perguntar: depois de tantas comunhões, tornamo-nos pessoas de comunhão?”

O Papa frisou que “o Pão da vida, pão partido é também Pão de paz”. Dom Tonino dizia que «a paz não vem quando uma pessoa pega somente o seu pão e vai comê-lo sozinho. […] A paz é algo mais: é convivência». É «comer o pão junto com os outros, sem se separar, colocando-se à mesa entre pessoas diferentes, onde o outro é um rosto a ser descoberto, a ser contemplado e acariciado», pois os conflitos e todas as guerras «encontram raízes na dissolução dos rostos».

“ Podemos nos perguntar: este Sacramento se realiza em mim? Concretamente: eu gosto apenas de ser servido à mesa pelo Senhor ou me levanto para servir como o Senhor? ”

“Junto com o Pão, a Palavra”, disse Francisco. “O Evangelho apresenta discussões ásperas em torno das palavras de Jesus: ‘Como pode esse homem dar-nos a sua carne para comer?’ Existe um ar de derrota nestas palavras. Tantas palavras nossas se assemelham a estas: como o Evangelho pode resolver os problemas do mundo? Para que serve fazer o bem em meio a tanto mal? E assim caímos no erro daquelas pessoas, paralisadas ao discutir as palavras de Jesus, em vez de estarem prontas para acolher a mudança de vida por Ele pedida. Não entendiam que a Palavra de Jesus é para caminhar na vida, não para se sentar e falar daquilo que funciona ou não.”

“Dom Tonino, no Tempo da Páscoa, convidada a acolher esta novidade de vida, passando das palavras aos fatos. Por isso, exortava quem não tinha a coragem de mudar: «os especialistas da perplexidade. Os contábeis pedantes dos prós e contras».”

“ A Jesus não se responde segundo os cálculos ou as conveniências do momento, mas com o sim de toda a vida. Jesus não quer as nossas reflexões, mas a nossa conversão. ”

“Depois de ter encontrado o Ressuscitado é preciso sair, não obstante todos os problemas e incertezas. Em toda celebração eucarística nutrimo-nos do Pão da vida e da Palavra que salva. Vivemos o que celebramos. Como Dom Tonino seremos fontes de esperança, alegria e paz”, concluiu Francisco.

Radio Vaticano

CRÉDITO FOTO: VATICAN NEWS

O Papa Francisco deixou o Vaticano na manhã desta sexta-feira (20/4), para fazer uma Visita Pastoral à região da Puglia, no sul da Itália. Durante a sua breve viagem em território nacional, o Santo Padre esteve em Alessano, Diocese de Ugento, e em Molfetta, Diocese de Bari.

O objetivo desta sua primeira visita à Puglia é celebrar o 25° aniversário de morte de Dom Tonino Bello, cuja Causa de Beatificação está em andamento. Dom Antonino nasceu em Alessano, no dia 18 de março de 1935, e faleceu em Molfetta, em 20 de abril de 1993, onde desempenhou sua missão episcopal.

Na cidade de Alessano, o Papa visitou o túmulo do Servo de Deus, Dom Tonino, onde cumprimentou os seus familiares. A seguir, na praça diante do Cemitério, o Papa pronunciou seu discurso aos fiéis da localidade citando e refletindo sobre algumas palavras de agradecimento de Dom Tonino: “Obrigado, minha terra, pequena e pobre, que me fez nascer pobre, como você, mas, precisamente por isso, de você recebi a riqueza incomparável de entender os pobres e, hoje, poder servi-los”. A este respeito, Francisco disse:

“Entender os pobres foi para ele uma verdadeira riqueza. E com razão, pois os pobres são a riqueza da Igreja. O Evangelho, de fato, apresenta-nos, muitas vezes, uma vida incômoda, porque quem segue a Jesus ama os pobres e os humildes. Foi o que fez Dom Tonino: não buscou privilégios e uma vida cômoda, mas viveu ao lado dos pobres, sob o exemplo de Jesus que “era rico, mas se fez pobre”.

O Servo de Deus preocupava-se com a indiferença, com a falta de trabalho, e colocava, acima de tudo, a dignidade do homem. Ele semeava a paz, a melhor maneira de prevenir a violência e todo tipo de guerra; colocava-se a serviço dos mais necessitados e promovia a justiça social. E o Papa explicou:

“Queridos irmãos e irmãs, esta vocação de paz pertence à sua terra, a esta maravilhosa terra de fronteira “finis-terre”, que Dom Tonino chamava “terra-janela”, porque o Sul da Itália se abre ao Sul do mundo, onde os pobres são bem mais numerosos e os ricos mais ricos. De fato, vocês são uma “janela aberta” para a pobreza do mundo, mas também uma “janela de esperança”, para que o Mediterrâneo, bacia histórica de civilização, não seja palco de guerra, mas arca de paz acolhedora”.

Nesta terra, disse o Papa, desabrochou a vocação de Dom Tonino, que ele a chamava “evocação” de Deus, capaz de transformar nossas vidas frágeis. Vocação, para Dom Tonino, “é uma chamada a ser fiéis, não apenas devotos, mas verdadeiros apaixonados por Deus”. Com este desejo, o Servo de Deus recomendava aos seus sacerdotes e fiéis uma Igreja aberta para o mundo, não mundana. Aqui, Francisco ressaltou outra qualidade de Dom Tonino:

“O nome de Dom Tonino representa a sua salutar alergia pelos títulos e honras. Seu desejo era privar-se de qualquer coisa por Jesus, que se despojou totalmente na cruz; era livrar-se dos “sinais do poder” para dar espaço ao “poder dos sinais”. Dom Tonino exortava os fiéis a “serem contempla-ativos, ou seja, partir da contemplação para desembocar no dinamismo, na ação; deter-se diante do sacrário e partir para a missão evangélica”.

O Santo Padre concluiu seu discurso invocando a Mãe do Senhor, a fim de nos ajudar a ser sempre Igreja contemplativa, apaixonada por Deus e pelo homem. Por fim, convidou os presentes a imitar o Servo de Deus, Dom Tonino, deixando-nos guiar pelo seu jovem ardor cristão.

Radio Vaticano

FOTO: VATICAN NEWS

A Praça S. Pedro acolheu milhares de fiéis esta quarta-feira de tempo instável em Roma para a Audiência Geral.

Depois de fazer a alegria dos fiéis ao saudá-los de papamóvel, o Papa fez notar as flores presentes na Praça, símbolo da alegria, da “flor nova” que é Cristo, pois a Páscoa faz florescer “o Cristo Ressuscitado, a nossa justificação, a santidade da Igreja”. E pediu aos presentes que desejassem “Feliz Páscoa” ao “amado Papa Bento XVI”, que nos acompanha através da televisão.

Ritos finais

Em sua catequese, o Papa Francisco encerrou o ciclo que dedicou à Missa, falando dos ritos finais: a bênção concedida pelo sacerdote e a despedida do povo.

Assim como a missa tem início com o sinal da cruz, ela se conclui no nome da Trindade e se abre para o testemunho cristão.

“Os cristãos não vão à missa para cumprir um dever semanal e depois se esquecer. Vão à missa para participar da ressurreição do Senhor e depois viver mais como cristãos. Abre-se o testemunho cristão, para sermos mais cristãos.”

Saímos da igreja para “ir em paz” para levar a bênção de Deus para a nossa vida e as atividades cotidianas, destacou o Pontífice.

Língua comprida

“Se saímos da missa conversando, falando dos outros, com a língua comprida, significa que a missa não entrou no meu coração, porque não somos capazes de dar testemunho cristão. Devo sair melhor de como entrei, com mais vida, com mais força, com mais vontade de dar testemunho cristão.”

Da celebração à vida, portanto, cientes de que a Missa encontra cumprimento nas escolhas concretas de quem se deixa envolver em primeira pessoa nos mistérios de Cristo. “Não devemos nos esquecer que celebramos a Eucaristia para aprender a nos tornar homens e mulheres eucarísticos.”

Na prática, explicou o Papa, isso significa deixar agir Cristo nas nossas obras: que os seus pensamentos, sentimentos e escolhas sejam os nossos. Isso é santidade. São Paulo expressa bem este conceito quando diz: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Este é o testemunho cristão.

Sacrário

Já que a presença real de Cristo no Pão consagrado não termina com a Missa, a Eucaristia é conservada no sacrário para a Comunhão aos enfermos e para a adoração silenciosa do Senhor no Santíssimo Sacramento; o culto eucarístico fora da Missa, seja em forma privada, seja comunitária, nos ajuda a permanecer em Cristo.

“A missa é como o grão, que na vida cresce nas obras boas, nas atitudes que nos fazem parecer com Jesus. Os frutos da Missa, portanto, são destinados a amadurecer na vida de todos os dias”, acrescentou Francisco, recordando que a Eucaristia nos separa do pecado.

“Aproximar-se regularmente ao banquete eucarístico renova, fortifica e aprofunda o elo com a comunidade cristã à qual pertencemos, segundo o princípio que a Eucaristia faz a Igreja.”

Da carne de Cristo à carne dos irmãos

Por fim, participar da Eucaristia compromete junto aos demais, principalmente dos pobres, educando-nos a passar da carne de Cristo à carne dos irmãos, na qual ele espera ser reconhecido, servido, honrado e amado por nós.

“Agradeçamos ao Senhor pelo caminho de redescoberta da santa Missa que o Senhor nos doou e deixemo-nos atrair com fé renovada a este encontro real com Jesus morto e ressuscitado por nós. E que a nossa vida seja sempre florescida, como a Páscoa, com as flores da esperança, da fé, das obras boas, que nos possamos encontrar essa força na eucaristia. Boa Páscoa a todos.”

Radio Vaticano

FOTO: VATICAN NEWS / Papa no Regina Coeli desta Segunda-feira do Anjo 

O dia de hoje é um dia de festa a ser vivido habitualmente com a família. A segunda após a Páscoa é chamado “Segunda-feira do Anjo”, segundo uma tradição muito bonita que corresponde às fontes bíblicas da Ressurreição. Foi o que disse o Papa Francisco no Regina Caeli ao meio-dia, explicando o sentido e o significado desta segunda-feira após o domingo de Páscoa.

De fato, os Evangelho narram que, quando as mulheres foram ao Sepulcro, encontraram-no aberto. Elas temiam não poder entrar porque este estava fechado com uma grande pedra. Ao invés, estava aberto; e uma voz que vinha de dentro do sepulcro disse-lhes que Jesus não estava ali, mas ressuscitou, destacou o Papa.

Pela primeira vez foram pronunciadas as palavras “Ressuscitou”. Os evangelistas – prosseguiu o Santo Padre – nos referem que este primeiro anúncio foi dado pelos anjos, ou seja, mensageiros de Deus. Há um significado nesta presença angélica – prosseguiu Francisco: como a Encarnação do Verbo foi anunciada por um anjo, Gabriel, assim para anunciar pela primeira vez a Ressurreição não bastava uma palavra humana.

Era necessário um ser superior para comunicar uma realidade tão inédita, tão incrível, que talvez nenhum homem teria ousado pronunciá-la. Após este primeiro anúncio, a comunidade dos discípulos começou a repetir: “Verdadeiramente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão (Lc 24,34), mas o primeiro anúncio exigia uma inteligência superior à inteligência humana.

Explicitando ainda o sentido celebrativo desta segunda-feira, o Pontífice explicou:

“Após ter celebrado a Páscoa se sente a necessidade de reunir-se mais uma vez com os familiares e com os amigos para fazer festa. Porque a fraternidade é o fruto da Páscoa de Cristo que, com a sua morte e ressurreição, derrotou o pecado que separava o homem de Deus, de si mesmo e de seus irmãos.”

Jesus abateu o muro de divisão entre os homens e restabeleceu a paz, começando a tecer a rede de uma nova fraternidade. É muito importante neste nosso tempo redescobrir a fraternidade, assim como era vivida nas primeira comunidades cristãs, acrescentou.

“Não pode haver verdadeira comunhão e um compromisso em favor do bem comum e da justiça social sem a fraternidade e partilha. Sem partilha fraterna não se pode realizar uma autêntica comunidade eclesial ou civil: há somente um conjunto de indivíduos movidos pelos próprios interesses.”
A Páscoa de Cristo fez explodir no mundo a novidade do diálogo e da relação, novidade que para os cristãos se tornou uma responsabilidade. De fato Jesus disse: “Disso saberão que sois meus discípulos: se amarem uns aos outros” (Jo 13,35).

“Eis o motivo porque não podemos fechar-nos em nosso privado, em nosso grupo, mas somos chamados a ocupar-nos do bem comum, a cuidar dos irmãos, especialmente dos mais frágeis e marginalizados. Somente a fraternidade pode garantir uma paz duradoura, derrotar as pobrezas, superar as tensões e as guerras, extirpar a corrupção e a criminalidade.”

Que a fraternidade e a comunhão posam tornar-se nosso estilo de vida e alma de nossas relações, disse ainda Francisco, renovando seu apelo a fim de que as pessoas sequestradas ou injustamente privadas da liberdade sejam libertadas e possam voltar para suas casas.

Radio Vaticano

FOTO VIDEO VATICAN NEWS

O Papa Francisco abriu o Tríduo Pascal no Vaticano na manhã desta Quinta-feira Santa presidindo a Missa do Crisma. Os sacerdotes renovaram seu compromisso e os óleos dos Catecúmenos (usados nos batizados) e dos Enfermos (para a Unção dos doentes) foram abençoados e o óleo do Crisma (usado no sacramento do Crisma) consagrado.

Evangelizar estando sempre próximo do povo: assim como Jesus – narra o Evangelho de Lucas – o padre de hoje deve assumir este desafio e cumpri-lo. “Ser um pregador de estrada, um mensageiro de boas novas”: em sua homilia, o Papa sugeriu aos padres esta opção, que foi a de Deus:

“ A pedagogia da encarnação, da inculturação; não só nas culturas distantes, mas também na própria paróquia, na nova cultura dos jovens… ”

Estar ‘sempre ‘ e falar com todos

Como definir um padre como “próximo” das pessoas? Para Francisco, ele deve estar “sempre” perto e “falar com todos”: com os grandes, com os pequenos, com os pobres, com aqueles que não creem… assim como o Apóstolo Filipe, pregador de estrada, que ia de terra em terra, anunciando a Boa-Nova da Palavra, inundando as cidades de alegria.

“A proximidade é a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho, mas é também a chave da verdade”, ressaltou o Papa, lembrando que esta é também fidelidade e que não devemos cair na tentação de fazer ídolos com algumas verdades abstratas. Francisco improvisou e falou da ‘cultura do ajetivo’, um hábito ‘feio’…

“Porque a ‘verdade-ídolo’ se mimetiza, usa as palavras evangélicas como um vestido, mas não deixa que lhe toquem o coração. E, pior ainda, afasta as pessoas simples da proximidade sanadora da Palavra e dos Sacramentos de Jesus”.

O modelo da proximidade materna

E quem nos é mais próximo do que a “Mãe”? Segundo o Papa, podemos invocá-La como “Nossa Senhora da Proximidade”, que caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus, a fim de que ninguém se sinta excluído.

Francisco sugeriu para meditação três âmbitos de proximidade sacerdotal que podem ressoar com o mesmo tom materno de Maria no coração das pessoas com quem falamos: o âmbito do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.

Diálogo, confissão e pregação

No diálogo espiritual, o Papa mencionou modelo o encontro do Senhor com a Samaritana: que soube trazer à luz o pecado sem ensombrar a oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária.

A passagem da mulher adúltera foi o exemplo citado para a proximidade na Confissão: assim como Jesus, usar o tom da verdade-fiel, que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo do “não tornes a pecar” é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.

Por último, a proximidade do sacerdote no âmbito da pregação: “Quanto estamos próximos de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária?”. A resposta do Papa é:

“ Se te sentes longe de Deus, aproxima-te do seu povo, que te curará das ideologias que te entorpeceram o fervor. As pessoas simples te ensinarão a ver Jesus de outra maneira ”

E explicou que “o sacerdote vizinho, que caminha no meio do seu povo com proximidade e ternura de bom pastor (e, na sua pastoral, umas vezes vai à frente, outras vezes no meio e outras vezes ainda atrás), as pessoas não só o veem com muito apreço; mas vão mais além: sentem por ele qualquer coisa de especial, algo que só sente na presença de Jesus”.

A proximidade do ‘sim’

Dirigindo-se diretamente aos sacerdotes, Francisco elevou uma prece a Maria, “Nossa Senhora da Proximidade” pedindo que mantenha os sacerdotes unidos no tom, “para que, na diversidade das opiniões, se torne presente a sua proximidade materna, aquela que com o seu «sim» nos aproximou de Jesus para sempre”.

 

Radio Vaticano

FOTO Papa Francisco na prisão de Regina Caeli / VATICAN NEWS

Cárcere para Menores “Casal del Marmo”, Novo Pavilhão do Presídio de Rebibbia, Centro para requerentes de Asilo em Castelnuovo di Porto, Casa de Reclusão de Paliano, Prisão de Regina Caeli.

Também este ano a tradição se repete: o Papa celebra a Santa Missa em Coena Domini nos “Gólgotas modernos”, como os define o vice-coordenador da Pastoral Carcerária, Pe. Gianfranco Graziola. O local onde diariamente nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados:

Papa Francisco escolheu realizar novamente o “Lava-pés” num estabelecimento prisional, o de Regina Coeli em Roma. Aparentemente, pode parecer um simples ato que nestes últimos anos faz parte do calendário das celebrações litúrgicas da Semana Santa do Bispo de Roma.

Na realidade, a opção de Francisco continua incomodando e questionando os puritanos da liturgia que não veem com bons olhos este gesto que, em sua profundidade, questiona a liturgia espetáculo no qual infelizmente se transformaram muitas de nossas celebrações, reduzindo a própria mensagem evangélica a individualismo, sentimentalismo, ou como ele próprio frequentemente repete “mundanismo”.

E como não recordar outra opção de Francisco de dar a este momento celebrativo um caráter reservado, limitando ao essencial a presença dos meios de comunicação, reafirmando um princípio importante: o do encontro com a pessoa que, na sua sacralidade, precisa ser respeitada e valorizada.

Mas existe outra mensagem importante na gestualidade e nas opções de Francisco: a de atualizar e encarnar a mensagem evangélica nas realidades periféricas de nosso tempo, e entre elas aquelas que mais questionam, como o caso dos cárceres, os “Gólgotas” modernos, onde diariamente tantos nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados.

Indo a Regina Coeli, o Papa Francisco reafirma e confirma a identidade da Igreja e das comunidades cristãs: a de uma Igreja Samaritana, Cirenea e Verônica, capaz de parar diante do sofrimento da humanidade, de ajudar a carregar o peso da dor e de expressar sua ternura enxugando suas lágrimas e limpando seu rosto ensanguentado.

Ao mesmo tempo, ele anuncia e expressa uma Igreja viva, presente na história da humanidade capaz de manifestar e comunicar ao nosso tempo e à história a vida plena de Jesus Ressuscitado.

Feliz e Santa Páscoa.

FONTE: Radio Vaticano

FOTO VATICAN NEWS / Praça São Pedro na Audiência Geral 

O anúncio de que Cristo ressuscitou é o centro de nossa fé!

O Papa Francisco dedicou a catequese da Audiência Geral desta quarta-feira ao Tríduo Pascal, “para aprofundar um pouco” o que representam para nós, crentes, os dias “mais importantes do ano litúrgico”, que constituem “a memória celebrativa de um único grande mistério: a morte e a ressurreição do Senhor Jesus”.

O Papa começou perguntando aos 12 mil fiéis presentes na Praça São Pedro qual era a festa mais importante da nossa fé, a Páscoa ou o Natal?

E recordou, que até aos 15 anos, ele acreditava que fosse o Natal, “mas todos erramos”, pois é a Páscoa, “porque é a festa da nossa salvação, a festa do amor de Deus por nós, a festa, a celebração da sua morte e ressurreição”.

Tríduo Pascal

“O Tríduo – explicou o Pontífice – começa amanhã com a Missa da Ceia do Senhor e se concluirá com as vésperas do Domingo da Ressurreição, depois vem a “Pasquetta” para celebrar esta grande festa”, mas estes dias constituem a memória celebrativa de um grande único mistério: a morte e a ressurreição do Senhor Jesus.

Estes dias marcam as etapas fundamentais de nossa fé e da nossa vocação no mundo, e todos os cristãos são chamados a viver os três dias Santos como, por assim dizer, a “matriz” de sua vida pessoal e comunitária, como viveram os nossos irmãos judeus o êxodo do Egito.

Estes três dias, de fato –frisou o Papa – “repropõe ao povo cristão os grandes eventos da salvação operados por Cristo, e assim o projetam no horizonte de seu destino futuro e o fortalecem no seu compromisso de testemunha na história”.

O Canto da Sequência anuncia solenemente que “Cristo, nossa esperança, ressuscitou e nos precede na Galileia”. Aqui, Tríduo Pascal encontra seu ápice, disse Francisco, que explica:

“Ele contém não somente um anúncio de alegria e de esperança, mas também um apelo à responsabilidade e à missão. E não acaba com a “colomba” (especiaria pascal italiana, ndr), os ovos, as festas. Isto é bonito, é bonito porque é a festa de família, mas não fica nisto. Começa ali com o caminho à missão, ao anúncio: Cristo ressuscitou”.

E este anúncio, ao qual o Tríduo conduz preparando-nos para acolhê-lo, é o centro de nossa fé e da nossa esperança, é o cerne, é o anúncio, é o kerigma que continuamente evangeliza a Igreja e que esta, por sua vez, é convidada a evangelizar”.

Batismo

“O Cordeiro que foi imolado”. Assim São Paulo fala de Cristo, e com Ele “as coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo”. No Tríduo Pascal “a memória deste acontecimento fundamental se faz celebração plena de reconhecimento e, ao mesmo tempo, renova nos batizados o sentido de sua nova condição”:

“E por isto, no dia de Páscoa, desde o início se batizava as pessoas. Também na noite deste sábado eu batizarei aqui, em São Pedro, oito pessoas adultas que começam a vida cristã. E começa tudo: nasceram de novo”.

Cristo, o único que nos justifica

São Paulo também nos recorda que Cristo “foi entregue à morte por causa de nossas culpas e ressuscitou para nossa justificação”:

“O único, o único que nos justifica; o único que nos faz renascer de novo é Jesus Cristo. Nenhum outro. E por isto não se deve pagar nada, porque a justificação – o fazer-se justos – é gratuita. E esta é a grandeza do amor de Jesus: dá a vida gratuitamente para nos fazer santos, para nos renovar, para nos perdoar. E isto é o cerne deste Tríduo Pascal”.

No Tríduo Pascal é renovado nos batizados o sentido de sua nova condição, como diz São Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto”:

“Olhem para o alto. Olhar, olhar o horizonte, ampliar os horizontes: esta é a nossa fé, esta é a nossa justificação, este é o estado de graça”.

“Um cristão, se verdadeiramente deixa-se lavar por Cristo, se verdadeiramente deixa-se despojar por Ele do homem velho para caminhar em uma vida nova, mesmo permanecendo pecador – porque todos o somos – não pode ser corrupto: a justificação de Jesus nos salva da corrupção – somos pecadores, mas não corruptos -, não pode viver com a morte na alma e muito menos ser causa de morte”.

Falsos cristãos

O Papa então, diz que “deve dizer uma coisa triste e dolorosa”:

“Existem cristãos fingidos, aqueles que dizem “Jesus ressuscitou”, “eu fui justificado por Jesus”, estou na vida nova, mas vivo uma vida corrupta. E estes falsos cristãos acabarão mal. O cristão – repito, é pecador – todos o somos, eu sou. O corrupto finge ser uma pessoa honrada, mas no final, no seu coração existe a podridão. Jesus nos dá uma vida nova. O cristão não pode viver com a morte na alma e nem ser causa de morte.”

“Pensemos – para não ir muito longe – pensemos em casa, pensemos nos assim chamados “cristãos mafiosos”. Mas eles, de cristão, não têm nada. Dizem-se cristãos, mas levam a morte na alma, e aos outros. Rezemos por eles, para que o Senhor toque as suas almas”.

Lavar os olhos das crianças

O Papa recorda que em muitos países, no dia de Páscoa, quando tocam os sinos, as mães, as avós, lavam os olhos das crianças com água, com a água da vida, em um sinal para que possam ver as coisas de Jesus, as coisas novas.

“Deixemo-nos nesta Páscoa – foi o convite de Francisco – nos lavar a alma, nos lavar os olhos da alma, para ver as coisas belas, e fazer coisas belas. E isto é maravilhoso! Esta é justamente a Ressurreição de Jesus após a sua morte, que foi o preço para salvar todos nós”.

Presença da Virgem Maria

O Papa convida a nos dispormos a viver bem este Tríduo Santo já iminente “para estar sempre mais profundamente inseridos no mistério de Cristo, morto e ressuscitado por nós” e pede que a Virgem Maria nos acompanhe neste itinerário espiritual:

Ela, “que seguiu Jesus na sua paixão, ela estava lá, olhava, sofria, esteve presente e unida a Ele aos pés da cruz, mas não se envergonhava do filho. Uma mãe nunca se envergonha do filho. Estava lá, e recebeu em seu coração de mãe a imensa alegria da ressurreição. Que ela nos obtenha a graça de estarmos interiormente envolvidos pelas celebrações dos próximos dias, para que o nosso coração e a nossa vida sejam realmente transformados por elas”.

O Santo Padre conclui, desejando a todos “os mais cordiais votos de uma feliz e santa Páscoa, juntamente com as comunidades de vocês e os seus queridos”.

E dou um conselho a vocês, disse o Santo Padre concluir: ”Na manhã de Páscoa, levem as crianças até a torneira e lavem os olhos delas. Será um sinal de como ver Jesus Ressuscitado”

Radio Vaticano

FOTO: Via Sacra no Coliseu / VATICAN NEWS

Na Sexta-feira Santa, o Papa Francisco, os fiéis reunidos no Coliseu, e milhões de telespectadores conectados em todo o mundo reviverão a Paixão de Cristo ajudados pelas suas meditações nas 14 estações da Via Sacra: são jovens de 16 a 20 anos coordenados por Andrea Monda, professor de religião jornalista e escritor. Entramos na escola Albertelli de Roma e conversamos com quatro delas, quatro jovens que estão se preparando para a Universidade.

Nos textos da Via Sacra no Coliseu, a interioridade da juventude de hoje

Cecilia Nardini, que escreveu a meditação da sexta estação, “Verônica enxuga o rosto de Jesus”, nos diz que a mulher no Gólgota não presta atenção ao rosto deformado de Cristo, mas o ajuda, enquanto no mundo de hoje as aparências são o que nos fazem julgar uma pessoa. Sofia Russo, a colega que meditou sobre o encontro de Jesus com as mulheres, da oitava estação, conta que não gosta da falta de clareza que existe também entre “nós jovens, enquanto me chama a atenção – disse – como Jesus adverte as mulheres não para julgá-las, mas para trazê-las de volta ao caminho certo”.

Conversamos depois com Greta Giglio, que refletiu sobre a décima estação e sobre Jesus, que é despojado de suas vestes antes da crucificação. Em Jesus privado de tudo, até da roupa, – diz a jovem -, vejo as pessoas que vêm até nós, “muitas vezes privadas de suas casas e de todos os seus bens, e quando chegam aqui, também da dignidade”. Enfim, para Greta Sandri, que meditou sobre Jesus pregado na Cruz, a décima primeira estação, perguntamos o que ela teria feito se realmente estivesse em Jerusalém naquele dia. “Condicionada pela multidão – ela confidencia – acho que também eu o teria condenado, e depois me arrependeria. Talvez não teria a força para ver imediatamente a verdade”.

Na conclusão, falamos também com Andrea Monda, que coordenou o trabalho dos 15 autores, doze moços e três moças. “Eles estão sozinhos em um mundo que os bombardeia com mensagens e imagens – nos diz – e precisam de adultos críveis, que saibam escutá-los, mas também que lhes permitam de se exprimir”.

Radio Vaticano

Foto Ilustrativa: by Getty Images / pmmart

A Eucaristia é o ápice da vida cristã, pois é o memorial do sacrifício de amor de Jesus. Logo, o homem, que só encontra a sua realização em Deus, deve celebrar com todo amor e zelo esse memorial. Para isso, o ato penitencial colabora e faz com que ele reconheça quem realmente é: um filho que tem pecado e necessita do amor.

Missa: união com Cristo e perdão do pecado

O cristão, ao participar da Missa, comunga de duas mesas: da mesa da Palavra e da Eucarística. Mas, assim como antes de fazermos qualquer refeição lavamos as nossas mãos por motivos de higiene, o cristão também é chamado a “lavar as mãos” antes de participar desse banquete, e esse “lavar as mãos” é no sentido de pedir perdão pelos seus pecados no ato penitencial.

Há uma motivação do sacerdote que diz: “Preparemo-nos, pois, para celebrar dignamente esses santos mistérios, reconhecendo que somos pecadores”. Assim, quando o cristão reconhece que é pecador e pede perdão, ele lava a alma, celebrando com mais dignidade os mistérios do Senhor.

Na Missa, o cristão é convidado a se unir mais a Cristo e progredir na amizade com Ele. Ela não é destinada a perdoar os pecados, tampouco se deve confundi-la com o sacramento da reconciliação (Cf. CIC 1396). Na Missa, Deus perdoa os nossos pecados veniais. Não que Ele não seja capaz de perdoar os mortais, mas, como um pai que não dá tudo fácil para o filho, a fim de educá-lo para os verdadeiros valores, é preciso dirigirmo-nos ao Sacramento da Reconciliação. Pois a Igreja ensina que “quem está consciente de um pecado grave deve receber o Sacramento da Reconciliação antes de receber a comunhão (CIC 1386).

O pecado: venial e mortal

O pecado é uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego perverso a certos bens (Cf. CIC 1850). O pecado venial é aquele ato que não priva o homem da amizade total com Deus. Já o pecado mortal é o ato pelo qual o homem, com liberdade e advertência, rejeita Deus. Mas “Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do batismo, cometeram pecado grave e, com isso, perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça da justificação. Os padres da Igreja apresentam esse sacramento como a segunda tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça” (CIC 1446).

Sobre o pecado mortal, na Encíclica “O Esplendor da Verdade” do Santo João Paulo II é mencionado o seguinte: “Separar a opção fundamental dos comportamentos concretos, significa contradizer a integridade substancial ou a unidade pessoal do agente moral no seu corpo e a alma” (67). A partir disso, João Paulo II acrescenta que alguns teólogos dizem que “o pecado mortal, que separa o homem de Deus, verificar-se-ia somente na rejeição de Deus, feita a um nível da liberdade que não é identificável com um ato de escolha, nem alcançável com consciência reflexa. Neste sentido — acrescentam —, é difícil, pelos menos psicologicamente, aceitar o fato de que um cristão, que quer permanecer unido a Jesus Cristo e à Sua Igreja, possa cometer pecados mortais tão fácil e repetidamente, como indicaria, às vezes, a mesma matéria dos seus atos” (69).

O sentido do ato penitencial

O cristão é convidado a reconhecer sua pequenez, sua limitação, sua condição de pecador no ato penitencial da Missa. Assim, Deus pode vir ao seu encontro com Sua graça, pois o homem é chamado a ser filho da luz. Santo Agostinho afirma que “a confissão das más obras é o começo das boas obras, contribui para a verdade e consegues chegar à luz”.

Na Eucaristia, o homem é elevado a Deus e a comunhão com Ele e com os irmãos. A unidade do Corpo Místico vence todas as divisões humanas: “Todos vós, com efeito, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 27-28).

O homem participa da comunhão dos santos, ou seja, cada alma que se eleva a Deus dignifica o mundo, porque existe uma solidariedade humana misteriosa. Assim, também há a solidariedade do pecado. Por isso, escreve São João Paulo II: “A esta lei da elevação corresponde, infelizmente, a lei da descida, de tal modo que se pode falar de uma comunhão no pecado, em razão da qual uma alma que se rebaixa pelo pecado arrasta consigo a Igreja, e, de certa maneira, o mundo inteiro” (Reconciliação e Penitência, 16). Desta forma, todo ato pecaminoso repercute na sociedade, assim como todo ato caridoso edifica a Igreja e o mundo. Reconhecer-se pecador, no ato penitencial, já é um início para edificar um mundo melhor.

Não tenhamos medo

Existe ainda o rito da aspersão da água que substitui o rito penitencial, pois lembra a aliança batismal que se renova em cada Missa e recorda o nosso compromisso de batizados, acentuando nossa identidade de povo sacerdotal.

Enfim, sempre sujamos as mãos no decorrer da história com o pecado, mas que não tenhamos medo de lavar as nossas mãos, ou seja, nossa alma. Recorramos à Misericórdia de Deus, porque na Missa somos perdoados dos nossos pecados veniais e, especialmente no Sacramento da Reconciliação, somos perdoados de todos os pecados. Assim, participamos dignamente do Banquete que Ele preparou, desde sempre, para nós.

Canção Nova

FOTO: Policiais garantem a segurança de peregrinos na Praça S. Pedro /VATICAN NEWS

Com o início da Semana Santa, fica suspensa a celebração da missa matutina do Papa Francisco na capela da Casa Santa Marta.

O Pontífice retoma as homilias diárias na segunda-feira, 9 de abril.

Mas até o tríduo pascal, permanece invariável a agenda do Papa, inclusive com a Audiência Geral de quarta-feira.

Segurança Pública

Nesta segunda, Francisco concluiu sua série de audiências recebendo no Vaticano os agentes da Inspetoria de Segurança Pública junto ao Vaticano.

O Papa agradeceu os policiais e funcionários pelo trabalho e a assistência que prestam durante a celebração dos ritos litúrgicos na Praça S. Pedro, bem como por ocasião de suas visitas pastorais em Roma e fora da capital.

“ Graças a sua discreta e eficaz obra de vigilância, os peregrinos, que de todas as partes do mundo vêm visitar o túmulo do Apóstolo Pedro, têm a possibilidade de viver em tranquilidade esta importante experiência de fé. ”

Serenidade e ordem

O Vaticano, recordou o Papa, é meta não só de cristãos oriundos de todo o mundo, mas também de representantes de várias religiões, chefes de estado e altas personalidades eclesiásticas e civis. “Graças também a seu trabalho, esses encontros de diálogo podem se realizar num clima de serenidade e de ordem.

Por fim, Francisco dirigiu um pensamento especial aos familiares dos agentes de polícia e desejou a todos uma boa Páscoa.

Depois de conceder a sua bênção, o Papa improvisou algumas palavras para expressar mais uma vez a sua gratidão pelo trabalho de sacrifício dos policiais, e presentou a sede da Inspetoria com uma imagem de São José por representar a figura do “guardião” e, nesse sentido, muito similar à missão dos agentes.

Radio Vaticano

FOTO: Domingo de Ramos, celebração da Paixão do Senhor  / VATICAN NEWS

Neste Domingo de Ramos (25/03), o Papa presidiu missa na Praça São Pedro diante de dezenas de milhares de pessoas. Antes, no centro da Praça, junto ao obelisco, Francisco abençoou os ramos e as oliveiras. Foi feita a leitura do Evangelho de Marcos e no sagrado, a narração da Paixão de Cristo.

Jornada Mundial da Juventude

Grande parte dos fiéis eram jovens de Roma que aderiram à celebração diocesana da XXXIII Jornada Mundial da Juventude que teve o tema “Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus” (Lc 1,30).

Após a celebração da Eucaristia, antes da Benção Apostólica, foram entregues ao Papa as conclusões da Reunião pré-Sinodal realizada nesta semana no Vaticano em preparação ao Sínodo dos Bispos de outubro próximo sobre a Juventude.

Alegria e sofrimento

Em sua homilia, o Papa propôs uma reflexão evocando os sentimentos contrastantes de discípulos e fariseus quando Jesus entra em Jerusalém.

“Nesta celebração, parecem cruzar-se histórias de alegria e sofrimento, de erros e sucessos que fazem parte da nossa vida diária como discípulos, porque consegue revelar sentimentos e contradições que hoje em dia, com frequência, aparecem também em nós, homens e mulheres deste tempo: capazes de amar muito… mas também de odiar (e muito!); capazes de sacrifícios heroicos mas também de saber ‘lavar-se as mãos’ no momento oportuno; capazes de fidelidade, mas também de grandes abandonos e traições”.

Nesta narração evangélica fica evidente que a alegria suscitada em alguns por Jesus é motivo de incômodo e irritação para outros.

A alegria é a de tantos pecadores perdoados que reencontraram ousadia e esperança; e o desconforto é o daqueles que que se consideram justos e ‘fiéis’ à lei e aos preceitos rituais.

“ Como é difícil, para quem procura justificar-se e salvar-se a si mesmo, compreender a alegria e a festa da misericórdia de Deus! Como é difícil, para quantos confiam apenas nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros, poder compartilhar esta alegria! ”

O Papa lembrou o grito ‘Crucifica-O!’ emerso entre o povo: a voz de quem manipula a realidade criando uma versão favorável a si próprio e não tem problemas em ‘tramar’ os outros para ele mesmo se ver livre. O grito de quem não tem escrúpulos em procurar os meios para reforçar a sua posição e silenciar as vozes dissonantes”.

As intrigas da autossuficiência

É o grito de quem deseja defender a sua posição, desacreditando especialmente quem não se pode defender. É o grito produzido pelas ‘intrigas’ da autossuficiência, do orgulho e da soberba, que proclama sem problemas: “crucifica-O, crucifica-O!”.

“ É o grito que pretende cancelar a compaixão ”

Mas, ressaltou o Pontífice, perante todas estas vozes que gritam, o melhor antídoto é olhar a cruz de Cristo e deixar-se interpelar pelo seu último grito. Cristo morreu, gritando o seu amor por cada um de nós: por jovens e idosos, santos e pecadores, amor pelos do seu tempo e pelos do nosso tempo.

Alegria torna o jovem difícil de ser manipulado

No dia em que a Igreja, em cada diocese no mundo, celebra a sua Jornada da Juventude, o Papa se dirigiu diretamente aos jovens:

“Queridos jovens, a alegria que Jesus suscita em vós é, para alguns, motivo de irritação, porque um jovem alegre é difícil de manipular”.

“ Calar os jovens é uma tentação que sempre existiu ”

“Há muitas maneiras de tornar os jovens silenciosos e invisíveis; muitas maneiras de os anestesiar e adormecer para que não façam ‘barulho’, para que não se interroguem nem ponham em discussão. Há muitas maneiras de os fazer estar tranquilos, para que não se envolvam, e os seus sonhos percam altura tornando-se fantastiquices rasteiras, mesquinhas, tristes.

Neste Domingo de Ramos, em que celebramos o Dia Mundial da Juventude, faz-nos bem ouvir a resposta de Jesus aos fariseus de ontem e de todos os tempos: «Se eles se calarem, gritarão as pedras» (Lc 19, 40).

Não fiquem calados

“Cabe a vós não ficar calados. Se os outros calam, se nós, idosos e responsáveis – muitas vezes corruptos – silenciamos, se o mundo se cala e perde a alegria, pergunto-vos: vós gritareis? Por favor, decidi-vos antes que gritem as pedras…”.

Radio Vaticano

FOTO: Capela Redemptoris Mater, no Vaticano / VATICAN NEWS

O Pregador da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa OFM, propôs ao Papa Francisco e à Cúria reunidos na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, a quinta e última pregação da Quaresma, intitulada “Usemos as armas da luz – A pureza cristã”. Confira o texto na íntegra:

“A pureza cristã

Em nosso comentário à parênese da Carta aos Romanos, chegamos ao ponto em que se diz:

“A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites” (Rm 13, 12-14).

Santo Agostinho, nas Confissões, nos diz o lugar que esta passagem teve em sua conversão. Ele já havia alcançado uma quase completa adesão à fé; as suas objeções haviam sido aniquiladas uma após a outra e a voz de Deus se tornara cada vez mais urgente. Mas havia uma coisa que o detinha: o medo de não ser capaz de viver casto. Ele vivia, como sabemos, com uma mulher sem ser casado.

Estava no jardim da casa que o abrigava, nas garras dessa luta interior e com lágrimas nos olhos, quando, de uma casa próxima, ouviu uma voz, como um menino ou menina, que repetia: “Tolle, lege!, Pegue, leia; pegue, leia!”. Ele interpretou estas palavras como um convite de Deus e, tendo ao alcance das mãos o livro das Epístolas de São Paulo, abriu-o ao acaso, determinado a considerar como vontade de Deus a primeira frase em que seu olhar se fixasse.

A palavra em que seu olhar caiu foi, de fato, aquela da Carta aos Romanos que acabamos de mencionar. Uma luz de segurança brilhou dentro dele (lux securitatis), o que fez desaparecer toda a escuridão da incerteza. Ele sabia agora que, com a ajuda de Deus, poderia ser casto[1].

As coisas que o Apóstolo, naquela passagem, chama “obras das trevas” são as mesmas que em outros lugares define “desejos, ou obras, da carne” (cf. Rm 8,13; Gl 5,19) e as coisas que chama “armas da luz” são as mesmas que em outros lugares chama de “obras do Espírito”, ou “frutos do Espírito” (cf. Gl 5, 22). Entre essas obras da carne é enfatizada, com dois termos (koite e aselgeia), a devassidão sexual, à qual se opõe a arma da luz que é a pureza.

O Apóstolo não se ocupa, no presente contexto, em falar desse aspecto da vida cristã; mas da lista dos vícios, colocada no início da Carta (cf. Rm 1, 26ss), sabemos quão importante era isso para os seus olhos. São Paulo estabelece uma ligação muito estreita entre pureza e santidade e entre pureza e Espírito Santo:

“Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu o seu Espírito Santo.” (1 Ts 4, 3-8)

Por isso, procuremos reunir esta última “exortação” da palavra de Deus, aprofundando o fruto do Espírito que é a pureza.

1. As motivações cristãs da pureza

Na Carta aos Gálatas, São Paulo escreve: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl 5, 22). O termo grego original, que traduzimos com “autodomínio” é enkrateia e tem uma gama muito ampla de significados; pode-se exercer, de fato, o domínio de si no comer, no falar, no controle da ira, etc.

Aqui, porém, como nos demais, quase sempre no Novo Testamento, isso significa o domínio de si em uma esfera bem precisa da pessoa, ou seja, no âmbito da sexualidade. Deduzimos isso do fato de que, pouco acima, elencando as “obras da carne”, o Apóstolo chama porneia , ou seja, impureza, aquilo que se opõe ao domínio de si (é o mesmo termo do qual deriva “pornografia”!).

Nas traduções modernas da Bíblia, o termo porneia é traduzido ora como prostituição, ora como impureza, ora como fornicação ou adultério, e ora como outros vocábulos. A ideia de fundo, contida no termo é, todavia, aquela de “vender-se”, de alienar o próprio corpo, portanto, de prostituir-se (pernemi, em grego, significa “me vendo”).

Usando este termo para indicar quase todas as manifestações de desordem sexual, a Bíblia diz que todo pecado de impureza é, em certo sentido, um prostituir-se, um vender-se.

Os termos usados por São Paulo nos dizem, portanto, que são possíveis, com relação ao nosso próprio corpo e a própria sexualidade, duas atitudes opostas, uma atitude do Espírito e a outra obra da carne; uma, virtude e a outra vício.

A primeira atitude é conservar o controle de si e do próprio corpo; a segunda é, pelo contrário, vender ou alienar o próprio corpo, ou seja, dispor da sexualidade à vontade, para fins utilitaristas e diversos daqueles para os quais foi criada; um transformar o ato sexual em um ato venal, mesmo que o útil em questão não seja sempre constituído pelo dinheiro, como no caso da prostituição verdadeira e real, mas também pelo prazer egoísta como um fim em si mesmo.

Quando falamos da pureza e da impureza em simples listas de virtudes ou de vícios, sem aprofundar a matéria, a linguagem do Novo Testamento não é muito diferente da linguagem dos moralistas pagãos, por exemplo, dos Estoicos.

Até os moralistas pagãos exaltavam o domínio de si, mas somente em função da quietude interior, da impassividade (apatheia), do autodomínio; a pureza era governada, para eles, pelo princípio da “reta razão”.

Na realidade, porém, dentro desses velhos vocabulários pagãos, existe um conteúdo totalmente novo que brota, como sempre, do querigma. Isso já é visível em nosso texto, onde a devassidão é contraposta, de modo muito significativo, como seu contrário, do “revestir-se do Senhor Jesus Cristo”.

Os primeiros cristãos foram capazes de compreender este conteúdo novo, porque isso era objeto específico de catequese em outros contextos.

Vamos agora examinar uma dessas catequeses específicas sobre pureza, para descobrir o verdadeiro conteúdo e as verdadeiras motivações cristãs dessa virtude que derivam do evento pascal de Cristo. Trata-se do texto de 1 Cor 6, 12-20. Parece que os Coríntios – talvez deturpando uma frase do Apóstolo – alegassem o princípio: “tudo me é lícito”, para justificar também os pecados da impureza.

Na resposta do Apóstolo está contida uma motivação absolutamente nova da pureza que brota do mistério de Cristo. Não é lícito – diz ele – entregar-se à impureza (porneia), não é lícito vender-se, ou dispor de si à vontade, pelo simples fato de que nós não nos pertencemos mais, não somos nossos, mas de Cristo. Não se pode dispor do que não é nosso: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo […] e que não pertenceis a vós mesmos?” (1 Cor 6, 15.19).

A motivação pagã é, em certo sentido, invertida; o valor supremo a ser salvaguardado não é mais o domínio de si, mas o “não domínio de si”. “O corpo não é para a impureza, mas para o Senhor!” (1 Cor 6, 13): a motivação última da pureza é, portanto, que “Jesus é o Senhor!”. A pureza cristã, em outras palavras, não consiste tanto em estabelecer o domínio da razão sobre os instintos, mas em estabelecer o domínio de Cristo sobre toda a pessoa, razão e instintos.

Esta motivação cristológica da pureza torna-se mais convincente com aquilo que São Paulo acrescenta no mesmo texto: não somos apenas genericamente “de” Cristo, como sua propriedade ou sua coisa; nós somos o próprio corpo de Cristo, os seus membros! Isso torna tudo imensamente mais delicado, porque significa que, ao cometer a impureza, eu prostituo o corpo de Cristo, realizo uma espécie de sacrilégio odioso; uso da “violência” ao corpo do Filho de Deus. Diz o Apóstolo: “Tomarei então os membros de Cristo e torná-los-ei membros de uma prostituta?” (1 Cor 6, 15).

A esta motivação cristológica, acrescenta-se em seguida aquela pneumatológica, isto é, relativa ao Espírito Santo: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós?” (1 Cor 6, 19). Abusar do próprio corpo é, portanto, profanar o templo de Deus; mas se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá (cf. 1 Cor 3, 17). Cometer impureza é “entristecer o Espírito Santo de Deus” (cf. Ef 4, 30).

Juntamente com as motivações cristológicas e pneumatológicas, o Apóstolo também menciona uma motivação escatológica, que se refere ao destino final do homem: “Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará” (1 Cor 6, 14). O nosso corpo está destinado à ressurreição; está destinado a participar, um dia, na bem-aventurança e na glória da alma. A pureza cristã não se baseia no desprezo do corpo, mas, ao contrário, na grande estima de sua dignidade.

O Evangelho – diziam os Padres da Igreja ao combater os gnósticos – não prega a salvação “de” carne, mas a salvação “da” carne. Aqueles que consideram o corpo um “traje estrangeiro”, destinado a ser abandonado aqui, não possuem os motivos que o cristão tem para mantê-lo imaculado.

O Apóstolo conclui a sua catequese sobre a pureza com o convite apaixonado: “Glorificai, pois, Deus no vosso corpo” (1 Cor 6, 20). O corpo humano é, portanto, para a glória de Deus e expressa essa glória quando a pessoa vive a própria sexualidade e toda a sua corporeidade em obediência amorosa à vontade de Deus, que é como dizer: em obediência ao próprio sentido da sexualidade, à sua natureza intrínseca e originária que não é aquela de vender-se, mas aquela de doar-se.

Tal glorificação de Deus através do seu próprio corpo não exige necessariamente a renúncia ao exercício da própria sexualidade. No capítulo imediatamente seguinte, isto é, em 1 Cor 7, São Paulo explica, de fato, que tal glorificação de Deus é expressa de duas maneiras e em dois carismas diferentes: ou através do casamento, ou através da virgindade. Glorifica a Deus em seu corpo a virgem e o celibatário, mas também o glorifica quem se casa, desde que todos vivam as exigências do próprio estado.

2. Pureza, beleza e amor ao próximo

Na nova luz que emergiu do mistério pascal e ilustrada até agora por São Paulo, o ideal da pureza ocupa um lugar privilegiado em toda síntese da moral cristã do Novo Testamento. Não existe, podemos dizer, uma carta de São Paulo na qual ele não dedique um espaço, quando descreve a vida nova no Espírito (cf. por exemplo, Ef 4, 17-5, 33; Cl 3, 5 12).

Este requisito fundamental de pureza é especificado, de tempos em tempos, de acordo com os diferentes estados de vida dos cristãos. As epístolas pastorais mostram como a pureza deve ser configurada em jovens, mulheres, casais, idosos, viúvas, presbíteros e bispos; nos apresentam a pureza em suas várias faces de castidade, fidelidade conjugal, sobriedade, continência, virgindade, modéstia.

No seu conjunto, este aspecto da vida cristã determina o que o Novo Testamento – de modo especial, as Epístolas pastorais – chama de “beleza” ou o caráter “belo” da vocação cristã, que, fundindo-se com outra característica, a de bondade, forma o ideal único da “boa beleza”, ou da “bela bondade”, o que nos levou a falar, indiferentemente, tanto de obras boas como de obras belas.

A tradição cristã, chamando a pureza de “bela virtude”, recolheu esta visão bíblica, que expressa, apesar dos abusos e das ênfases muito unilaterais que também houve, algo de profundamente verdadeiro. A pureza, de fato, é beleza!

Essa pureza é um modo de vida, mais que uma única virtude. Tem uma gama de manifestações que vai além da esfera propriamente sexual. Há uma pureza do corpo, mas há também uma pureza do coração que evita não só os atos, mas também os desejos e os pensamentos “feios” (cf. Mt 5, 8.27-28).

Há também uma pureza da boca que consiste, negativamente, em abster-se de palavras obscenas, de vulgaridades e futilidades (cf Ef 5, 4; Cl 3, 8) e, positivamente, na sinceridade e retidão do falar, ou seja, no dizer: “sim, sim” e “não, não”, a imitação do Cordeiro imaculado “em cuja boca não se encontrou engano” (cf. 1 Pd 2, 22). Finalmente, há uma pureza ou claridade dos olhos e do olhar.

O olho – dizia Jesus – é a luz do corpo; se o olho é puro e claro, todo o corpo está na luz (cf. Mt 6, 22s; Lc 11, 34). São Paulo usa uma imagem muito sugestiva para indicar este novo estilo de vida: diz que os cristãos, nascidos pela Páscoa de Cristo, devem ser “fermento de pureza e de sinceridade” (cf. 1 Cor 5, 8). O termo usado aqui pelo Apóstolo – eilikrinéia – contém, por si só, a imagem de uma “transparência solar”. Em nosso próprio texto, ele fala da pureza como uma “arma da luz”.

Hoje em dia, tende-se a contrapor entre si os pecados contra a pureza e os pecados contra o próximo e tende-se a considerar verdadeiro pecado somente o que é feito contra o próximo; ironiza-se, às vezes, o culto excessivo concedido no passado à “bela virtude”.

Essa atitude, em parte, pode ser explicada; a moral havia enfatizado muito unilateralmente, no passado, os pecados da carne, até criar, por vezes, verdadeiras e reais neuroses, em detrimento aos deveres para com o próximo e em detrimento da própria virtude da pureza que foi, assim, empobrecida e reduzida a virtude quase somente negativa, a virtude de saber dizer não. Mas agora, porém, se passou ao excesso oposto e se tende a minimizar os pecados contra a pureza, privilegiando (muitas vezes somente de palavra) uma atenção ao próximo. O erro de fundo está no opor estas duas virtudes.

A palavra de Deus, longe de opor pureza e caridade, liga-as intimamente uma a outra. Basta ler a continuação da passagem da Primeira Carta aos Tessalonicenses que mencionei no início, para entender como as duas coisas são interdependentes entre si segundo o Apóstolo (cf. 1 Ts 4, 3-12). O propósito único da pureza e da caridade é ser capaz de levar uma vida “cheia de decoro”, isto é, íntegra em todas as suas relações, tanto em relação a si mesmos quanto em relação aos outros. No nosso texto, o Apóstolo resume tudo isso com a expressão: “comportar-se honestamente como em pleno dia” (cf. Rm 13, 13).

Pureza e amor ao próximo estão entre si como o autocontrole e a doação aos demais. Como posso doar-me, se não me possuo, mas sou escravo das minhas paixões? Como posso doar-me aos demais, se não compreendi ainda o que me disse o Apóstolo, ou seja, que não me pertenço e que o meu próprio corpo não é meu, mas do Senhor?

É uma ilusão acreditar que se pode colocar junto um autêntico serviço aos irmãos, que requer sempre sacrifício, altruísmo, esquecimento de si e generosidade, e uma vida pessoal desordenada, inteiramente voltada a gratificar a si mesmos e as próprias paixões. Terminamos, inevitavelmente, por instrumentalizar os irmãos, como se instrumentaliza o próprio corpo. Não sabe dizer “sim” aos irmãos quem não sabe dizer “não” a si mesmo.

Uma das “desculpas” que mais contribuem para favorecer o pecado de impureza, na mentalidade popular, e eliminar qualquer responsabilidade, é a indiferença do tanto faz, pois isso não faz mal a ninguém, não viola os direitos e a liberdade dos demais, a menos – se fala – que se trate de violência carnal. Mas, além do fato de que viola o direito fundamental de Deus de dar uma lei às suas criaturas, essa “desculpa” é falsa também com relação ao próximo.

Não é verdade que o pecado de impureza termina com quem o comete. Há uma solidariedade entre todos os pecados. Todo pecado, onde quer que seja e por quem quer que seja cometido, contagia e polui o ambiente moral do homem; este contágio é chamado por Jesus “o escândalo” e é condenado por ele com algumas das palavras mais terríveis de todo o Evangelho (cf Mt 18, 6 ss; Mc 9, 42 ss; Lc 17, 1 s). Mesmo os maus pensamentos que estagnam no coração, de acordo com Jesus, poluem o homem e, portanto, o mundo: “Do coração vêm os propósitos maus; os homicídios, os adultérios, as prostituições… Estas são as coisas que poluem o homem”(Mt 15, 19-20).

Todo pecado produz uma erosão dos valores e todos juntos criam o que Paulo chama de “a lei do pecado” e da qual ele ilustra o terrível poder sobre todos os homens (cf. Rm 7, 14ss). No Talmud judaico se lê uma parábola que ilustra bem a solidariedade que existe no pecado e o dano que cada pecado, também o pessoal, faz aos demais: “Algumas pessoas estavam a bordo de um barco. Uma delas pegou uma broca e começou a fazer um buraco embaixo dela. Os outros passageiros, vendo, disseram-lhe: “O que você está fazendo? – Ele respondeu: O que isso importa a vocês? Eu não estou fazendo o buraco debaixo do meu assento? – Mas eles responderam: – Sim, mas a água virá e nos afogará a todos!” A própria natureza começou a nos enviar sinais sinistros de protesto contra certos modernos abusos e excessos na esfera da sexualidade.

3. Pureza e renovação

Estudando a história das origens cristãs, fica claro com clareza que foram dois os principais instrumentos com o qual a Igreja conseguiu transformar o mundo pagão da época; o primeiro foi o anúncio da Palavra, o querigma, e o segundo o testemunho de vida dos cristãos, a martyria; e se vê como, no âmbito do testemunho de vida, duas foram, de novo, as coisas que mais surpreenderam e converteram os pagãos: o amor fraterno e a pureza dos costumes. Já a Primeira Carta de Pedro menciona o assombro do mundo pagão em face do teor de vida tão diferente dos cristãos. Escreve:

“Baste-vos que no tempo passado tenhais vivido segundo os caprichos dos pagãos, em luxúrias, concupiscências, embriaguez, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias. Estranham eles agora que já não vos lanceis com eles nos mesmos desregramentos de libertinagem, e por isso vos cobrem de calúnias.” (1 Pd 4, 3-4).

Os Apologistas – isto é, os escritores cristãos que escreveram em defesa da fé, nos primeiros séculos da Igreja – atestam que os padrões de vida puro e casto dos cristãos era, para os pagãos, algo de “extraordinário e inacreditável”. Em particular, teve um impacto extraordinário sobre a sociedade pagã a reestruturação da família, que as autoridades da época queriam reformar, mas que eram impotentes para conter a desintegração.

Um dos argumentos que São Justino Mártir utiliza para basear a sua Apologia dirigida ao imperador Antonino Pio, é este: os imperadores romanos estão preocupados em restaurar os costumes e a família e se esforçam para emanar, para esse fim, oportunas leis, que se revelam, no entanto, insuficientes. Bem, por que não reconhecer o que conseguiram obter as leis cristãs junto àqueles que a acolheram e a ajuda que podem dar também à sociedade civil? Algumas donzelas cristãs brilhantes, mortas mártires, mostraram até onde chegava, nesse ponto, a força do cristianismo.

Não devemos pensar que a comunidade cristã estava totalmente livre de desordens e pecados em questões sexuais. São Paulo teve que repreender um caso, até mesmo, de incesto, na comunidade de Corinto. Mas esses pecados eram claramente reconhecidos como tais, denunciados e corrigidos. Não se exigia que se fosse sem pecado, nesta matéria, como no resto, mas de lutar contra o pecado.

Agora vamos dar um salto das origens cristãs para os nossos dias. Qual é a situação no mundo de hoje em relação à pureza? A mesma, se não pior, do que era naquele tempo! Nós vivemos em uma sociedade que, em termos de costumes, mergulhou em pleno paganismo e em plena idolatria do sexo. A tremenda denúncia que São Paulo faz do mundo pagão, no começo da Carta aos Romanos, se aplica, ponto a ponto, ao mundo de hoje, especialmente nas sociedades assim chamadas do bem-estar (cf. Rm 1, 26-27.32).

Também hoje, não só se fazem essas coisas e outras piores, mas também se tenta justificá-las, ou seja, justificar toda licença moral e toda perversão sexual, desde que – dizem – ela não faça violência aos outros e não prejudique a liberdade dos outros. Como se Deus não tivesse nada a ver com isso!

Famílias inteiras são destruídas e dizem: o que há de errado? Não há dúvida de que certos juízos da moral sexual tradicional deviam ser revistos e que as modernas ciências do homem têm ajudado a lançar luz sobre certos mecanismos e condicionamentos da psique humana que removem ou diminuem a responsabilidade moral de certos comportamentos considerados, uma vez, pecaminosos.

Mas este progresso não tem nada a ver com o pansexualismo de certas teorias pseudo-científicas e permissivas que tendem a negar qualquer norma objetiva em questões de moral sexual, reduzindo tudo a uma questão de evolução espontânea dos costumes, ou seja, a uma questão de cultura. Se examinarmos de perto aquela que é chamada de revolução sexual dos nossos dias, percebemos, com espanto, que ela não é simplesmente uma revolução contra o passado, mas é, muitas vezes, também uma revolução contra Deus.

4. Puro de coração!

Mas eu não quero me demorar muito descrevendo a situação atual que nos circunda que, além disso, todos conhecemos bem. Muito me interessa, de fato, descobrir e transmitir o que Deus quer de nós cristãos em tal situação. Deus nos chama ao mesmo empreendimento ao qual ele chamou nossos primeiros irmãos de fé: “se opor a essa torrente de perdição”. Nos chama a fazer a “beleza” da vida cristã brilhar novamente diante dos olhos do mundo. Nos chama a lutar pela pureza. Lutar com tenacidade e humildade; não necessariamente a ser, todos e imediatamente, perfeitos. Esta é uma luta tão antiga quanto a própria Igreja.

Hoje há algo novo que o Espírito Santo nos chama a fazer: ele nos chama a testemunhar ao mundo a inocência original das criaturas e das coisas. O mundo afundou muito baixo; o sexo – foi escrito – subiu na cabeça de todos. Algo muito forte é necessário para quebrar esse tipo de narcose e intoxicação sexual. É necessário despertar no homem a nostalgia da inocência e da simplicidade que ele traz em seu coração com pungência, ainda que tantas vezes coberta de lama.

Não de uma inocência de criação que não há mais, mas de uma inocência de redenção que nos foi devolvida por Cristo e que nos é oferecida nos sacramentos e na palavra de Deus. São Paulo assinala este programa quando escreve aos Filipenses: ” Sejam irrepreensíveis e simples, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração perversa e degenerada, na qual vocês devem brilhar como estrelas no mundo, mantendo no alto a palavra de vida “(Fp 2, 15 ss). Isto é o que o apóstolo chama, em nosso texto, “usar as armas da luz”.

Não basta mais uma pureza feita de medos, de tabus, de proibições, de fuga recíproca entre o homem e a mulher, como se um fosse, sempre e necessariamente, uma armadilha para o outro e um inimigo potencial, mais que uma “ajuda”. No passado, a pureza tinha sido reduzida, às vezes, pelo menos na prática, precisamente a este complexo de tabu, de proibições e de medos, como se a virtude tivesse que se envergonhar perante o vício e não, pelo contrário, o vício a ter que se envergonhar perante a virtude.

Devemos desejar, graças à presença em nós do Espírito, uma pureza que seja mais forte do que o vício; uma pureza positiva, não somente negativa, que seja capaz de fazer-nos experimentar a verdade dessa palavra do Apóstolo: “Tudo é puro para os que são puros!” (Tt 1, 15) e desta outra palavra da Escritura: ” Aquele que está em ti é maior do que aquele que está no mundo “(1 Jo 4, 4).

Temos de começar curando a raiz que é o “coração”, porque é dali que sai tudo aquilo que polui verdadeiramente a vida de uma pessoa (cf. Mt 15, 18 ss). Jesus dizia: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). Eles realmente verão, isto é, terão novos olhos para ver o mundo e Deus, olhos limpos que sabem ver o que é belo e o que é feio, o que é verdade e o que é mentira, o que é vida e o que é morte. Olhos, em suma, como os de Jesus.

Com que liberdade Jesus podia falar de tudo: das crianças, da mulher, da gestação, do parto… Olhos como os de Maria. A pureza não consiste mais, então, em dizer “não” às criaturas, mas em dizer “sim”; sim em quanto criaturas de Deus que eram, e permanecem, “muito boas”.

Nós não nos iludimos. Para poder dizer esse “sim”, devemos passar pela cruz, porque depois do pecado, nosso olhar sobre as criaturas se tornou nublado; a concupiscência foi desencadeada em nós; a sexualidade não é mais pacífica, tornou-se uma força ambígua e ameaçadora que nos atrai contra a lei de Deus, apesar de nossa própria vontade. Na primeira meditação desta Quaresma, insistimos em um aspecto particularmente atual e necessário da mortificação: a dos olhos. Um jejum saudável das imagens é mais importante hoje do que o jejum das comidas e das bebidas.

Concluo trazendo à vossa mente a experiência de Santo Agostinho recordada no início. Depois daquela experiência, o santo inventou uma oração toda sua para obter a castidade: “Senhor, disse, tu me ordenas ser casto. Pois bem, dá-me o que me ordenas e então ordena-me o que quiseres”. Uma oração que todos podemos fazê-la nossa, recordando que nisso, bem como em qualquer outro campo, sem a graça de Deus não podemos fazer nada.

(Tradução de Thácio Siqueira, Associação Marie de Nazareth)

____________________________

[1] S. Agostino, Confessioni, VIII, 11-12.

FONTE: Radio Vaticano

FOTO: Papa celebra a missa na Casa Santa Marta / VATICAN NEWS

O Senhor é fiel, jamais se esquece de nós: isso nos leva a exultar na esperança. A poucos dias da Semana Santa, a Igreja propõe a reflexão sobre o amor fiel de Deus e foi este o tema da missa celebrada pelo Papa Francisco na capela da Casa Santa Marta.

A homilia do Pontífice foi inspirada no Salmo responsorial e na Primeira Leitura, extraída do Livro do Gênesis, que narra o episódio da aliança de Deus com Abraão. Uma aliança que se prolongará na história do povo, não obstante os pecados e a idolatria.

Amor de mãe

O Senhor, de fato, tem um “amor visceral” que não faz esquecer. Para dar um exemplo, o Papa recorda que na Argentina, no Dia das Mães, se presenteia uma flor chamada “não se esqueça de mim”, que tem duas cores: azul claro para as mães vivas e roxa para as mães que já morreram:

Este é o amor de Deus, como o de uma mãe. Deus não se esquece de nós. Nunca. Não pode, é fiel à Sua aliança. Isso nos dá segurança. De nós podemos dizer: “Mas a minha vida é tão ruim… Tenho esta dificuldade, sou um pecador, uma pecadora…” Ele não se esquece de você, porque tem este amor visceral, e é pai e mãe.

Abraço de amor

Trata-se, portanto, de uma fidelidade que leva à alegria, notou o Papa. Assim como para Abraão, a nossa alegria é exultar na esperança, porque “cada um de nós sabe que não é fiel”, mas Deus sim, reiterou o Papa. Basta pensar na experiência do Bom Ladrão:

O Deus fiel não pode renegar a si mesmo, não pode nos renegar, não pode renegar o seu amor, não pode renegar o seu povo, não pode renegar porque nos ama. Esta é a fidelidade de Deus. Quando nos aproximamos do sacramento da penitência, por favor: não pensar que vamos à lavanderia para tirar as sujeiras. Não. Vamos para receber um abraço de amor deste Deus fiel que nos espera sempre. Sempre.

Concluindo, o Papa retoma a exortação central desta homilia:

Ele é fiel, ele me conhece, me ama. jamais me deixará só. Ele me leva pela mão. Que mais posso querer? Que mais? Que devo fazer? Exulta na esperança, porque o Senhor ama você como pai e como mãe.

Radio Vaticano

FOTO: Papa Francisco entre a multidão na Praça São Pedro / VATICAN NEWS

O Papa Francisco iniciou a Audiência Geral falando fora do texto sobre o primeiro dia de primavera. “Boa primavera!” desejou a todos, para então recordar que, à exemplo do que acontece com as plantas nesta estação, “a vida cristã deve ser uma vida que deve florescer nas obras de caridade, no fazer o bem”, e que se não temos raízes, “não poderemos florescer”, e Jesus é a raiz.

“Se não tens Jesus na raiz, ali, não florescerás. Se tu não regas a tua vida com a oração e os sacramentos, haverá flores cristãs?”, pergunta. “Não! Porque a oração e os sacramentos regam as raízes e a nossa vida floresce. Faço votos de que esta primavera seja para vocês uma primavera florida, como será a Páscoa florida. Flores de boas obras, de virtudes, de fazer o bem aos outros.

Eucaristia

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeiramente uma bebida”.

Em sua reflexão, Francisco inspirou-se no Evangelho de São João (6,54-55) para falar sobre a Comunhão, dando continuidade assim a sua série de catequeses sobre a Santa Missa, que é toda “ordenada para a Comunhão sacramental”, não a espiritual que posso fazer em casa dizendo: “Jesus, eu gostaria de te receber espiritualmente”, mas a Comunhão sacramental.

“Celebramos a Eucaristia para nos nutrirmos de Cristo, que doa a si mesmo quer na Palavra como no Sacramento do altar, para conformar-nos a Ele”, disse o Santo Padre dirigindo-se aos cerca de 15 mil fiéis de diversos países presentes na Praça São Pedro, a uma temperatura de 8°C.

“O gesto de Jesus que deu aos seus discípulos o seu Corpo e o seu Sangue na última Ceia – explicou – continua ainda hoje pelo ministério do sacerdote e do diácono, ministros ordinários da distribuição aos irmãos do Pão da vida e do Cálice da salvação”.

“Depois de ter partido o Pão consagrado, isto é, o Corpo de Jesus, o sacerdote o mostra aos fiéis, convidando-os a participar do banquete eucarístico”, dizendo as palavras: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor: eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”.

Este convite inspirado em uma passagem do Apocalipse – recordou o Santo Padre – “nos chama a experimentar a íntima união com Cristo, fonte de alegria e de santidade”:

“É um convite que alegra e ao mesmo tempo impele a um exame de consciência iluminado pela fé. Se por um lado, de fato, vemos a distância que nos separa da santidade de Cristo, por outro acreditamos que o seu Sangue é “derramado pela remissão dos pecados”. Todos nós fomos perdoados no batismo e todos nós somos e seremos perdoados cada vez que nos aproximarmos do Sacramento da Penitência. E não esqueçam, Jesus perdoa sempre. Jesus não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão”.

O Papa recordou Santo Ambrósio quando exclama: “Eu que peco sempre, devo sempre dispor de remédio!”, e com esta fé “também nós voltamos o nosso olhar ao Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo e o invocamos” com as palavras: “Ó Senhor, não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Isso dizemos em cada Missa”:

“Se somos nós a nos mover em procissão para fazer a Comunhão, nós vamos em direção ao altar em procissão para fazer a comunhão. Na realidade é Cristo que vem em nosso encontro para assemelharmo-nos a Ele. Há um encontro com Jesus! Nutrir-se da Eucaristia significa deixar-se transformar enquanto recebemos”.

“ Cada vez que nós comungamos, mais nos assemelhamos a Jesus, mais nos transformamos em Jesus. ”

“Como o pão e o vinho são convertidos no Corpo e Sangue do Senhor, assim aqueles que os recebem com fé, são transformados em Eucaristia viva.”

Ao responder “Amém” ao sacerdote que diz “Corpo de Cristo”, se reconhece “a graça e o empenho que comporta tornar-se Corpo de Cristo. Pois quando tu recebes o Corpo de Cristo, tu te tornas Corpo de Cristo. É belo isto, é muito belo!”

“Enquanto nos unimos a Cristo, separando-nos de nossos egoísmos, a Comunhão nos abre e une a todos aqueles que são um só n’Ele. Eis o prodígio da Comunhão: nos tornamos aquilo que recebemos!”

O Papa reforça que a Igreja deseja que os fiéis recebam o Corpo do Senhor “com hóstias consagradas na mesma Missa” e que “o sinal do banquete eucarístico se expressa com maior plenitude se a santa Comunhão é feita sob duas espécies, ainda que a doutrina católica ensine que sob uma espécie somente se recebe o Cristo inteiro”.

O fiel se aproxima e comunga em pé com devoção ou de joelhos, como estabelecido pela Conferência Episcopal, recebendo o Sacramento na boca ou, onde é permitido, na mão, como preferir.

O Santo Padre recorda que após a Comunhão, para custodiar no coração o dom recebido, “nos ajuda o silêncio, a oração silenciosa. Prolongar um pouco aquele momento de silêncio, falando com Jesus no coração, nos ajuda tanto, como também cantar um Salmo ou um hino de louvor, que nos ajude a estar com o Senhor”.

A Oração após a Comunhão conclui a Liturgia Eucarística. “Nela, em nome de todos, o sacerdote dirige-se a Deus para agradecer a Ele por nos fazer seus convidados e pedir que o que foi recebido transforme a nossa vida”.

“A Eucaristia nos torna fortes para dar frutos de boas obras para viver como cristãos”.

Significativa – disse o Papa ao concluir – é a oração de hoje, em que pedimos ao Senhor que “a participação ao seu sacramento seja para nós remédio de salvação, nos cure do mal e nos confirme na sua amizade”.

“Aproximemo-nos da Eucaristia: receber Jesus nos transforma n’Ele, nos faz mais fortes. É tão bom e tão grande o Senhor!”

Radio Vaticano

FOTO: Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (Vatican Media)

“Coragem e paciência”: estas são as peculiaridades da oração, que deve ser elevada a Deus “com liberdade, como filhos”. Foi o que destacou o Papa Francisco na homilia da Missa celebrada na Casa Santa Marta. O ponto de partida foi a primeira leitura, extraída do livro do Êxodo, com o diálogo entre o Senhor e Moisés sobre a apostasia do seu povo.

Moisés não cedeu à lógica da propina

O profeta tenta desviar o Senhor dos seus propósitos irascíveis contra o povo que “deixou a glória do Deus vivente para adorar um bezerro de ouro”. No diálogo audaz que leva avante, Moisés “se aproxima com as argumentações” e recorda ao Pai o quanto fez por se povo, salvo da escravidão no Egito, e a fidelidade de Abraão, de Isaac. Nas suas palavras, neste “face a face”, transparece o envolvimento do profeta, o seu amor pelo povo. Moisés não teme dizer a verdade, não “entra em jogos de propina”, não cede diante da possibilidade “de vender a sua consciência”. “E Deus gosta disto”, precisa o Pontífice, “quando Deus vê uma alma, uma pessoa que reza e reza e reza por algo, Ele se comove”.

“Nada de propina. Eu estou com o povo. E estou Contigo. Esta é a oração de intercessão: uma oração que argumenta, que tem a coragem de dizer na cara ao Senhor, que é paciente. É preciso paciência na oração de intercessão: nós não podemos prometer a alguém de rezar por ele e depois concluir a coisa com um Pai-Nosso e uma Ave Maria e ir embora. Não. Se você diz rezar por outra pessoa, tem que ir por este caminho. E para isso é preciso paciência”.

Paciência e constância da oração

Na vida cotidiana, infelizmente, não são raros os casos de dirigentes dispostos a sacrificar a empresa para salvar os próprios interesses, obter uma vantagem pessoal. Mas Moisés não entra na “lógica da propina”, ele está com o povo e luta pelo povo. As Sagradas Escrituras são repletas de exemplos de “constância”, da capacidade de “ir avante com paciência”: a cananea, o “cego na saída de Jericó”.

“Para a oração de intercessão são necessárias duas coisas: coragem, isto é parresia, coragem e paciência. Se eu quero que o Senhor ouça algo que eu peço, devo ir, e ir, e ir, bater à porta e bato no coração de Deus, e bato ali… mas porque o meu coração está envolvido com isso! Mas se o meu coração não se envolve com aquela necessidade, com aquela pessoa pela qual devo rezar, não será capaz nem mesmo da coragem e da paciência”.

Ter um coração envolvido

Papa Francisco indicou, enfim, o “caminho da oração de intercessão”: estar envolvidos, lutar, ir avante, jejuar.

“Que o Senhor nos dê esta graça. A graça de rezar diante de Deus com liberdade, como filhos; de rezar com insistência, de rezar com paciência. Mas, sobretudo, rezar sabendo que eu falo com meu Pai, e meu Pai me ouvirá. Que o Senhor nos ajude a progredir nesta oração de intercessão”.

Radio Vaticano