O Papa Francisco, durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 10 de abril, refletiu sobre a terceira virtude cardeal: a fortaleza. Dirigindo-se aos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice, ao dar continuidade ao ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes, recordou a definição presente no Catecismo da Igreja Católica: “A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições”.

Jesus conhece as emoções humanas

A fortaleza é “a mais combatente das virtudes”, introduziu o Papa, “os antigos a chamavam de apetite irascível”. Segundo Francisco, o pensamento antigo não imaginava um homem sem paixões, e isso não quer dizer que elas sejam necessariamente o resíduo do pecado, porém devem ser educadas e direcionadas para o bem:

“Um cristão sem coragem, que não dedica as suas forças ao bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Jesus não é um Deus diáfano e apático, que não conhece as emoções humanas. Ao contrário. Diante da morte do seu amigo Lázaro, começa a chorar; e a sua alma apaixonada transparece algumas das suas expressões.”

Vitória contra nós mesmos

Ao descrever a virtude da fortaleza do ponto de vista existencial, o Santo Padre sublinhou que tanto os filósofos gregos como os teólogos cristãos reconheciam uma dupla tendência nesta virtude. A primeira é passiva, ou seja, direcionada para dentro de nós mesmos, por existirem inimigos internos que temos de derrotar, que atendem pelo nome de ansiedade, angústia, medo, culpa, e sendo forças que se agitam em nós, em algumas situações nos paralisam”:

“A fortaleza é uma vitória antes de mais nada contra nós mesmos. A maioria dos medos que surgem em nós não são realistas e nem se concretizam. Melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com paciente fortaleza: um problema de cada vez, como somos capazes, mas não sozinhos!”

Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje, 10 de abril
Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje, 10 de abril

Resiliência diante das provações da vida

Já a segunda tendência da virtude da fortaleza tem uma natureza mais ativa, pois, continuou Francisco, “além das provações internas, existem os inimigos externos, ou seja, as provações da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem”:

“Podemos tentar prever o que nos vai acontecer, mas a realidade é em grande parte constituída por acontecimentos imponderáveis, e neste mar o nosso barco é por vezes sacudido pelas ondas. A fortaleza nos torna marinheiros resistentes, que não se assustam nem desanimam.”

Não ao mal e à indiferença

Por fim, Francisco enfatizou que a fortaleza é uma virtude fundamental porque leva a sério o desafio do mal no mundo: “alguns fingem que isso não existe, que está tudo bem”, observou o Papa, porém “basta folhear um livro de história, ou infelizmente até os jornais, para descobrir as atrocidades das quais somos em parte vítimas e em parte protagonistas: guerras, violência, escravidão, opressão dos pobres, feridas nunca curadas que ainda sangram”:

“A virtude da fortaleza faz-nos reagir e gritar um firme ‘não’ a tudo isto (…) às vezes sentimos uma saudável nostalgia dos profetas. Mas as pessoas desconfortáveis ​​e visionárias são muito raras. Precisamos de alguém que nos tire do lugar acomodado em que nos instalamos e nos faça repetir resolutamente : ‘não’ ao mal e ‘não’ à indiferença; ‘sim’ ao caminho que nos faz progredir e pelo qual queremos lutar.”

“Redescubramos então a fortaleza de Jesus no Evangelho e aprendamo-la com o testemunho dos santos e das santas”, concluiu o Papa.

No início da Audiência Geral, o Papa saudou os fiéis a bordo do papamóvel
No início da Audiência Geral, o Papa saudou os fiéis a bordo do papamóvel
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Depois de rezar o Angelus, e antes de saudar os diversos presentes na Praça São Pedro, o Papa fez diversos apelos e enviou mensagens, a começar pela felicitação àqueles que em festejarão o Ano Novo Lunar:

No dia 10 de fevereiro, no Leste Asiático e em diferentes partes do mundo, milhões de famílias celebrarão o Ano Novo Lunar. Chegue a eles a minha cordial saudação, com os votos de que esta festa seja uma oportunidade para viver relações de afeto e gestos de atenção, que contribuam para criar uma sociedade solidária e fraterna, onde cada pessoa seja reconhecida e acolhida na sua dignidade inalienável. Enquanto invoco sobre todos a bênção do Senhor, convido-vos a rezar pela paz, que o mundo tanto anseia e que, hoje mais do que nunca, está posta em risco em muitos lugares. Essa não é responsabilidade de poucos, mas de toda a família humana: cooperemos todos na sua construção com gestos de compaixão e de coragem!

E continuemos a rezar pelas populações que sofrem com a guerra, especialmente na Ucrânia, na Palestina e em Israel.

Hoje, na Itália, comemora-se o Dia pela Vida, com o tema “A força da vida nos surpreende”. Uno-me aos Bispos italianos no desejo de superar as visões ideológicas para redescobrir que cada vida humana, mesmo aquela mais marcada por limitações, tem um valor imenso e é capaz de dar algo aos outros.

Saúdo os jovens de numerosos países que vieram para o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico, que se celebrará no dia 8 de Fevereiro, em memória de Santa Josefina Bakhita, a freira sudanesa que foi escrava quando jovem. Também hoje, muitos irmãos e irmãs são enganados com falsas promessas e depois submetidos à exploração e a abusos. Unamo-nos todos para combater o dramático fenômeno global do tráfico de seres humanos.

Rezemos também pelos mortos e feridos nos incêndios devastadores que atingiram a região central do Chile.

E saúdo todos vós que viestes de Roma, da Itália e de muitas partes do mundo. Saúdo em particular os consagrados e as consagradas provenientes de mais de 60 países que participam no encontro “Peregrinos da esperança no caminho da paz”, promovido pelo Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

(….)  vejo ali bandeiras japonesas, saúdo os japoneses! E vejo bandeiras polonesas, saúdo os poloneses, e todos vocês, e os filhos da Imaculada Conceição.

Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueça de orar por mim. Tenha um bom almoço e até mais!

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Abandonar a imagem do Deus que pensamos conhecer e converter-nos a cada dia ao Deus que Jesus nos mostra no Evangelho, Pai de amor e compaixão.

Contínuo movimento de Jesus nos fala de Deus e nos interpela

Esta foi o convite do Papa em sua alocução antes de rezar o Angelus neste 4 de fevereiro, V Domingo do Tempo Comum, em que a liturgia nos propõe o Evangelho de Marcos 1, 29-39. E precisamente o “contínuo movimento de Jesus” narrado pelo evangelista, “nos diz algo muito importante sobre Deus e nos interpela com algumas perguntas sobre a nossa fé”.

De fato, a passagem bíblica nos mostra uma contínua movimentação de Jesus, que tem dois sentidos: uma horizontal e outra ascendente, vertical. Inicialmente Ele prega na sinagoga, depois vai à casa de Pedro onde cura sua sogra da febre, então vai à porta da cidade onde cura doentes e possuídos pelo demônio. Mas na manhã seguinte, retira-se para rezar, onde no silêncio da oração, “entrega tudo e todos ao coração do Pai”. Depois, volta a caminhar pela Galileia, vai às aldeias da redondeza. E precisamente nesses movimentos, revela o verdadeiro rosto do Pai:

Jesus, que vai ao encontro da humanidade ferida, mostra-nos o rosto do Pai. Pode ser que dentro de nós ainda exista a ideia de um Deus distante, frio, indiferente à nossa sorte. O Evangelho, ao invés disso, mostra-nos que Jesus, depois de ter ensinado na sinagoga, sai, para que a Palavra que pregou possa alcançar, tocar e curar as pessoas.

Deus é proximidade, compaixão e ternura

E ao fazer isso, acrescenta o Papa, Ele revela-nos que Deus não é um Senhor distante que nos fala do alto:

Pelo contrário, é um Pai cheio de amor que se faz próximo, que visita as nossas casas, que quer salvar e libertar, curar de todo mal do corpo e do espírito. Deus está sempre perto de nós. A atitude de Deus pode ser expressa em três palavras: proximidade, compaixão e ternura. Deus que se faz próximo para nos acompanhar, terno, e para nos perdoar. Não se esqueçam disto: proximidade, compaixão e ternura. Esta é o comportamento de Deus.

Esse caminhar de Jesus nos interpela, diz Francisco, que sugere que nos façamos algumas perguntas:

Descobrimos o rosto de Deus como Pai da misericórdia ou acreditamos e proclamamos um Deus frio, um Deus distante? A fé nos provoca a inquietação do caminho ou para nós é uma consolação intimista, que nos deixa tranquilos? Rezamos somente para nos sentirmos em paz ou a Palavra que ouvimos e pregamos nos faz ir, como Jesus, ao encontro dos outros, para difundir a consolação de Deus?

Converter-se ao Deus que Jesus nos apresenta no Evangelho

Devemos então olhar para este movimento de Jesus e recordar do primeiro trabalho espiritual, sugeriu o Santo Padre:

O nosso primeiro trabalho espiritual é este: abandonar o Deus que pensamos conhecer e converter-nos a cada dia ao Deus que Jesus nos apresenta no Evangelho, que é o Pai de amor e o Pai da compaixão. O Pai próximo, compassivo e terno. E quando descobrimos o verdadeiro rosto do Pai, a nossa fé amadurece: não ficaremos mais “cristãos da sacristia”, ou “de sala”, mas sentimo-nos chamados a tornar-nos portadores da esperança e da cura de Deus.

“Que Maria Santíssima, Mulher em caminho – disse ao concluir – ajude-nos a dar testemunho do Senhor que é próximo, compassivo e terno.”

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Na manhã desta quarta-feira, 17 de janeiro, Francisco deu continuidade ao itinerário de catequeses sobre os vícios e as virtudes. O tema da reflexão durante a Audiência Geral na Sala Paulo VI foi dedicado ao vício da luxúria, do qual “os antigos Padres ensinam que, depois da gula, é o segundo ‘demônio’ que está sempre à porta do coração”.

“Enquanto a gula é a voracidade por comida”, destacou o Papa, “esse segundo vício é uma espécie de ‘voracidade’ por outra pessoa, ou seja, o vínculo envenenado que os seres humanos mantêm entre si, principalmente no âmbito da sexualidade”.

O Cristianismo não condena o instinto sexual

O Pontífice então enfatizou que “no Cristianismo não há condenação do instinto sexual”. E recordou aos fiéis que “um livro da Bíblia, o Cântico dos Cânticos, é um maravilhoso poema de amor entre dois noivos, contudo, esta bela dimensão da nossa humanidade não está isenta de perigos”.

Como exemplo, Francisco apresentou a exortação de São Paulo presente na primeira Carta aos Coríntios: “Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem mesmo entre os pagãos” (5,1), e completou: “a repreensão do Apóstolo diz respeito precisamente a uma gestão pouco saudável da sexualidade por parte de alguns cristãos”.

Apaixonar-se, uma realidade surpreendente

Ao voltar seu olhar para a experiência humana do apaixonar-se, o Papa afirmou que esta é uma das realidades mais surpreendentes da existência: “a maioria das canções que ouvimos no rádio é sobre isso: amores que se iluminam, amores sempre buscados e nunca alcançados, amores cheios de alegria ou que atormentam até as lágrimas”.

“Se não estiver poluído pelo vício, o apaixonar-se é um dos sentimentos mais puros. Uma pessoa apaixonada torna-se generosa, gosta de dar presentes, escreve cartas e poemas. Deixa de pensar em si mesmo para se projetar completamente nos outros. E se perguntais a um apaixonado por qual motivo ama, não encontrará uma resposta: em muitos aspetos o seu amor é incondicional, sem qualquer motivo”.

Segundo Francisco, esse amor, tão poderoso, é também um pouco ingênuo: “o apaixonado não conhece bem o rosto do outro, tende a idealizá-lo, está pronto a fazer promessas cujo peso não compreende imediatamente”. Este “jardim” onde se multiplicam as maravilhas não está, porém, a salvo do mal, sublinhou o Papa, mas tantas vezes é desfigurado pelo demônio da luxúria.

O luxurioso desconhece o caminho do amor

O Pontífice notou que este vício é particularmente odioso por dois motivos:

“Em primeiro lugar porque devasta as relações entre as pessoas. Infelizmente, as notícias do dia a dia são suficientes para documentar tal realidade. Quantos relacionamentos que começaram da melhor maneira se transformaram em relacionamentos tóxicos, de posse do outro, desprovidos de respeito e de senso de limites? São amores em que faltou a castidade: virtude que não deve ser confundida com a abstinência sexual, mas sim com a vontade de nunca possuir o outro.”

“Amar é respeitar o outro, buscar a sua felicidade, cultivar a empatia pelos seus sentimentos, colocar-se no conhecimento de um corpo, de uma psicologia e de uma alma que não são os nossos, e que devem ser contemplados pela beleza de que são portadores. Amar é belo!”

A luxúria, por outro lado, sublinhou o Papa, “zomba de tudo isso: ataca, rouba, consome às pressas, não quer ouvir o outro, mas apenas a sua própria necessidade e prazer; a luxúria considera enfadonho todo namoro, não busca aquela síntese entre razão, impulso e sentimento que nos ajudaria a conduzir nossa existência com sabedoria. O luxurioso só busca atalhos: não entende que o caminho do amor deve ser percorrido devagar, e essa paciência, longe de ser sinônimo de tédio, nos permite tornar felizes as nossas relações amorosas”.

Amar é o oposto de possuir

Ao recordar que “entre todos os prazeres do homem, a sexualidade tem uma voz poderosa”, o Papa evidenciou a segunda razão pela qual a luxuria é um vicio perigoso.

“A sexualidade envolve todos os sentidos; reside tanto no corpo quanto na psique; se não for disciplinada com paciência, se não se inscrever em uma relação e em uma história onde dois indivíduos a transformam em uma dança amorosa, ela transforma-se em uma corrente que priva o homem de liberdade. O prazer sexual é prejudicado pela pornografia: satisfação sem relacionamento que pode gerar formas de dependência. Devemos defender o amor, a pureza de doar-se um ao outro, essa é a beleza de uma relação sexual.”

“Vencer a batalha contra a luxúria, contra a “coisificação” do outro, pode ser uma tarefa para toda a vida.”

Por fim, destacou o Papa, o prêmio desta batalha é o mais importante de todos, porque consiste em preservar aquela beleza que Deus escreveu na sua criação quando imaginou o amor entre o homem e a mulher:

 “Construir juntos uma história é melhor do que correr atrás de aventuras, cultivar ternura é melhor do que se curvar ao demônio da posse, o verdadeiro amor não possui, se doa, servir é melhor do que conquistar. Porque se não há amor, a vida é uma triste solidão”.

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Duas medidas para definir melhor a gestão das despesas de cada um dos dicastérios vaticanos e para melhorar a transparência no setor dos contratos públicos. Essas são as áreas nas quais o Papa interveio com dois documentos divulgados esta terça-feira, 16 de janeiro, pela Sala de Imprensa vaticana.

O primeiro é uma carta apostólica na forma de motu proprio com o qual Francisco especifica “os limites e as modalidades” da administração ordinária dos dicastérios da Santa Sé. Em três artigos, na linha da renovação do Praedicate Evangelium, é estabelecido essencialmente que uma entidade vaticana é obrigada a solicitar a aprovação do prefeito da Secretaria para a Economia quando um ato de despesa excede 2% dos custos totais da própria entidade, com a cifra deduzida da média dos balanços finais dos últimos três anos.  “Em todo caso – afirma -, para atos cujo valor seja inferior a 150.000 euros, a aprovação não é necessária”. Outro ponto do documento estabelece 30 dias como o limite para receber a aprovação, além do qual até mesmo a falta de resposta equivale à aceitação da solicitação e, em todo caso, afirma que esse procedimento “deve ser concluído dentro de, no máximo, quarenta dias”.

Regulamentos sobre contratos públicos

Com a segunda carta na forma de um motu proprio, o Papa intervém para esclarecer ainda mais os regulamentos que regem o código de contratos públicos vaticano promulgado em 2020. Também aqui, em consonância com o Praedicate Evangelium, Francisco destaca que o motu proprio quer continuar a “questão empreendida para favorecer a transparência, o controle e a concorrência nos procedimentos de adjudicação de contratos públicos”, para uma “aplicação mais eficaz” das normas que, com as últimas modificações, levam em conta as “observações das Instituições ligadas à Santa Sé”, do Governatorato e da experiência “amadurecida nos últimos anos”.

O primeiro artigo no parágrafo 2 em particular esclarece, redefinindo em quatro pontos com relação a 2020, os objetivos perseguidos pelo regulamento, em conformidade, diz ele, “com os princípios da Doutrina Social da Igreja, da ordem canônica da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano e da Carta Encíclica Laudato si'”. Os quatro pontos se referem ao “uso sustentável dos fundos internos”, à “transparência do procedimento de adjudicação”, à “igualdade de tratamento e não discriminação dos licitantes” e à “promoção da concorrência eficaz entre os licitantes, em particular por meio de medidas capazes de contrastar acordos ilícitos em matéria de concorrência e corrupção”.

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“Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar connosco» (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio duma «grande alegria» (Lc 2, 10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De facto hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza duma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais… Ele, o Unigênito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.

Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9): alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz» (9, 5). Com Ele, «a paz não terá fim» (9, 6).

Na Sagrada Escritura, ao Príncipe da paz opõe-se o «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, «amante da vida» (Sab 11, 26). Vemo-lo atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje.

Deste modo dizer «sim» ao Príncipe da paz significa dizer «não» à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer «não» à guerra, é preciso dizer «não» às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde usá-los-á. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia e do escondimento. Quantos massacres armados acontecem num silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.

Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!

Aproxime-se em Israel e na Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo um premente apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu espaventoso rasto de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não se continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido duma solução para a questão palestiniana, através dum diálogo sincero e perseverante entre as Partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional.

Depois o meu pensamento volta-se para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iêmen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.

Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.

Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através da prossecução das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.

Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Chifre de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.

Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo percursos de diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.

O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.

Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura dum futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.

Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que vai começar dentro de um ano. Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; dizer «não» à guerra e «sim» à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, «para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros» (61, 1).

Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador, o Príncipe da paz!”

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Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa da noite de Natal, neste domingo (24/12), na Basílica de São Pedro.

Francisco iniciou sua homilia, enfatizado as seguintes palavras do Evangelista Lucas: «O recenseamento de toda a terra». “Este é o contexto em que nasce Jesus e no qual se detém o Evangelho. Podia limitar-se a uma rápida alusão, mas ao contrário fala dele com grande esmero. Assim, faz surgir um grande contraste: enquanto o imperador conta os habitantes do mundo, Deus entra nele quase às escondidas; enquanto quem manda procura colocar-se entre os grandes da história, o Rei da história escolhe o caminho da pequenez. Nenhum dos poderosos se dá conta d’Ele; apenas alguns pastores, colocados à margem da vida social”, disse o Papa.

“Nesta noite, irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: Em que Deus acreditamos? No Deus da encarnação ou no da performance? Sim, porque há o risco de viver o Natal tendo na cabeça uma ideia pagã de Deus, como se fosse um patrão poderoso que está no céu; um deus que se alia com o poder, o sucesso mundano e a idolatria do consumismo”, sublinhou Francisco.

Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura

O Pontífice convidou a olhar para o «Deus vivo e verdadeiro». “Ele que está para além de todo o cálculo humano, no entanto, deixa-se recensear pelos nossos registos; Ele que revoluciona a história, habitando nela; Ele que nos respeita até ao ponto de nos permitir rejeitá-Lo; Ele que apaga o pecado assumindo a responsabilidade pelo mesmo, que não tira a dor, mas a transforma, que não nos tira os problemas da vida, mas dá às nossas vidas uma esperança maior do que os problemas. Deseja tanto abraçar as nossas existências que, sendo infinito, por nós se fez finito; grande, se fez pequeno; sendo justo, habita as nossas injustiças”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Aqui está a maravilha do Natal: não uma mistura de sentimentos adocicados e confortos mundanos, mas a inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se. Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura, para o presépio, que os anjos chamam «o sinal»: realmente constitui o sinal revelador do rosto de Deus, que é compaixão e misericórdia, onipotente sempre e só no amor.

Carne, uma palavra que evoca a nossa fragilidade

O Pontífice convidou a nos deixamos “surpreender por Ele ter-se feito carne. Carne! Uma palavra que evoca a nossa fragilidade e que o Evangelho utiliza para nos dizer como Deus entrou profundamente na nossa condição humana”.

“Irmão, irmã, para Deus, que mudou a história durante o recenseamento, tu não és um número, mas um rosto; o teu nome está escrito no seu coração”, sublinhou o Papa.

Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti: Ele, que se fez carne, espera, não as tuas performances de sucesso, mas o teu coração aberto e confiado. E n’Ele descobrirás quem és: um filho amado de Deus, uma filha amada de Deus. Agora podes acreditar nisto, porque, nesta noite, o Senhor nasceu para iluminar a tua vida, e os olhos d’Ele cintilam de amor por ti.

A adoração é a forma de acolher a encarnação

“Sim, Cristo não olha para os números, mas para os rostos. Contudo quem é que olha para Ele, por entre as inúmeras coisas e as corridas loucas de um mundo sempre agitado e indiferente? Em Belém, enquanto muitas pessoas, preocupadas com o recenseamento, iam e vinham, enchiam as hospedarias e pousadas falando de tudo e de nada, houve alguns que estiveram junto de Jesus: Maria e José, os pastores e depois os magos. Aprendamos com eles. Ei-los com o olhar fixo em Jesus, com o coração voltado para Ele; não falam, mas adoram.”

A adoração é a forma de acolher a encarnação, porque é no silêncio que Jesus, Palavra do Pai, Se faz carne nas nossas vidas. Façamos nós também como se fez em Belém, que significa «casa do pão»: permaneçamos diante d’Ele, Pão da vida. Redescubramos a adoração, porque adorar não é perder tempo, mas permitir a Deus que habite o nosso tempo; é fazer florescer em nós a semente da encarnação, é colaborar na obra do Senhor, que, como o fermento, muda o mundo; é interceder, reparar, consentir a Deus que endireite a história.

O Papa concluiu sua homilia, dizendo que “nesta noite, o amor muda a história. Fazei, Senhor, que acreditemos no poder do vosso amor, tão diverso do poder do mundo. Fazei que, à semelhança de Maria, José, os pastores e os magos, nos estreitemos ao vosso redor para Vos adorar. Feitos por Vós mais semelhantes a Vós, poderemos testemunhar ao mundo a beleza do vosso rosto”.

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Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo, 24 de dezembro, Vigília de Natal, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Neste IV Domingo do Advento, o Evangelho nos apresenta a cena da Anunciação. O anjo, para explicar a Maria como ela conceberá Jesus, diz-lhe: «O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra». Então, o Papa se deteve na imagem da sombra.

 A sombra é um dom que restaura

Segundo Francisco, “numa terra como a de Maria, perpetuamente ensolarada, uma nuvem passageira, uma árvore que resiste à seca e oferece abrigo, uma tenda hospitaleira traz alívio e proteção. A sombra é um dom que restaura, e o anjo descreve exatamente o modo como o Espírito Santo desce sobre Maria, o modo de Deus fazer as coisas: Deus age sempre como um amor gentil que abraça, fecunda e protege, sem fazer violência, sem ferir a liberdade. Assim, é a maneira de agir de Deus“.

“A imagem da sombra que protege é uma imagem recorrente na Bíblia. Pensemos na sombra que acompanha o povo de Deus no deserto. A sombra fala, em suma, da gentileza de Deus. É como se Ele dissesse a Maria, mas também a todos nós hoje: “Estou aqui para você e me ofereço como seu refúgio e seu abrigo: vem sob a minha sombra, fica comigo”.”

Pensar em quem está longe da alegria do Natal

“Irmãos e irmãs, é assim que o amor fecundo de Deus se comporta. É algo que, de certa forma, também podemos experimentar entre nós, por exemplo, quando entre amigos, namorados, cônjuges, pais e filhos, somos delicados e respeitosos, cuidando dos outros com gentileza. Pensemos na gentileza de Deus”, disse ainda o Papa.

“Deus ama assim e nos chama a fazer o mesmo: acolhendo, protegendo e respeitando os outros. Pensar em todos, pensar em quem é marginalizado, em quem está longe nesses dias da alegria do Natal. Pensemos em todos com a gentileza de Deus. Lembrem-se desta palavra: a gentileza de Deus.”

A seguir, Francisco convidou cada um a se perguntar na Vigília de Natal: “Quero deixar-me envolver pela sombra do Espírito Santo, pela doçura e mansidão de Deus, pela gentileza de Deus, abrindo-lhe espaço no meu coração, aproximando-me do seu perdão, da Eucaristia? E depois: para quais pessoas sozinhas e necessitadas eu poderia ser uma sombra que restaura, uma amizade que consola?”

“Que Maria nos ajude a ser abertos e acolhedores para com a presença de Deus, que com mansidão vem nos salvar”, concluiu.

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Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (18/12), na Sala do Consistório, no Vaticano, uma delegação italiana do Hospital “Francesco Miulli” de Acquaviva delle Fonti, situada na região da Puglia.

Segundo o Pontífice, essa estrutura “questiona ainda mais nossa responsabilidade como Igreja. Na verdade, é um lugar que une a inspiração cristã ao profissionalismo e à inovação clínica e tecnológica”. Francisco se deteve em dois aspectos do trabalho realizado no Hospital “Francesco Miulli”: colocar a pessoa no centro e promover a pesquisa científica.​

Colocar a pessoa no centro. O Hospital “Francesco Miulli” é uma estrutura antiga, fundada há nove séculos, como “hospital para os doentes pobres”, isto é, “como lugar acolhedor e seguro onde quem sofre pode encontrar refúgio e ajuda”. “Procurem ser fiéis ao compromisso de quem os precedeu, continuando a colocar “os pobres doentes” no centro de seu trabalho e, neles, Jesus”.

“Isto tornou vocês uma realidade dinâmica e em constante crescimento, como testemunhado pela forma como vocês atualizam constantemente os tratamentos e as estruturas, a fim de fornecer um serviço mais completo possível aos pacientes. De fato, a nova localização hospitalar permite oferecer aos pacientes mais de 600 leitos, com salas de cirurgia e unidades operacionais, onde trabalham com profissionalismo e dedicação mais de mil funcionários”, frisou ainda o Papa.

Policlínica para os migrantes

Francisco disse que apreciou “a abertura, dentro da estrutura, de uma Policlínica para os migrantes – realizada em colaboração com a Caritas Diocesana – que conta com os serviços voluntários de toda a equipe médica e de enfermagem”. “Isto é muito bonito e testemunha o espírito com que vocês desempenham o seu serviço. Com tudo isto, pode-se dizer que o “Miulli” é um recurso precioso para o seu território e também no âmbito nacional“.

A seguir, o Papa falou a propósito do segundo ponto: promover a pesquisa científica. “Vocês já estão comprometidos nisso há décadas, em colaboração com várias universidades italianas”, sublinhou Francisco, destacando que “há dois anos, com o credenciamento do Ministério da Universidade e Pesquisa, o “Miulli” tornou-se uma Policlínica Universitária e ativou o Curso de Mestrado de Ciclo Único em Medicina e Cirurgia”.

Trata-se de um objetivo de grande valor, que por um lado permite aos profissionais da saúde presentes realizar um serviço reconhecido tanto no âmbito acadêmico quanto no âmbito da saúde em seu próprio território e, por outro lado, também oferece às melhores inteligências locais a oportunidade de não emigrar, a emigração é um problema que empobrece os territórios, e nós sabemos disso, pelo contrário, pode incentivar outros profissionais de alto nível a virem trabalhar na Itália, num intercâmbio enriquecedor de competências em horizontes mais amplos.

Ao desejar a todos um Feliz Natal, Francisco concluiu, dizendo que “o Hospital “Francesco Miulli” pode favorecer um círculo virtuoso por uma assistência médica em benefício da comunidade e dos pacientes, cuidando ao mesmo tempo da qualidade do serviço e da atenção às pessoas”.

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Thulio Fonseca – Vatican News

“Renovo meu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato e incentivo todas as partes envolvidas a retomarem as negociações, e peço a todos que se comprometam urgentemente a levar ajuda humanitária à população de Gaza, que está no limite. Há muito sofrimento ali! Que todos os reféns que viram esperança na trégua de alguns dias atrás sejam libertados: que esse grande sofrimento para israelenses e palestinos chegue ao fim. Por favor, não às armas, sim à paz”. 

Foi esse o apelo do Papa no final da Audiência Geral desta quarta-feira, 13 de dezembro, ao recordar que continua acompanhando “com grande preocupação e dor” o conflito entre israelenses e palestinos. Francisco também exortou para que não se esqueça de “pedir o dom da paz para as populações que estão sofrendo por causa da guerra, especialmente para Israel, a Palestina e a martirizada Ucrânia”.

Memória litúrgica de Santa Luzia, celebrar a amizade e o testemunho cristão

Recordando que hoje a liturgia comemora Santa Luzia, virgem e mártir, Francisco destacou que “em algumas regiões da Itália e da Europa é costume trocar presentes nesta ocasião por causa da proximidade do Natal” e convidou todos “a dividir o dom da amizade e do testemunho cristão”.

Ao dirigir-se aos fiéis de língua portuguesa, o Papa encorajou os lusófonos a continuar a dar, com fé, o testemunho cristão na sociedade. “Deixai-vos guiar pelo Espírito Santo, para crescerdes repletos dos seus frutos. De bom grado abençoo a vós e aos vossos entes queridos”, afirmou Francisco.

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Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco concluiu o ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico na Audiência Geral, desta quarta-feira (13/12), realizada na Sala Paulo VI.

Durante este período, “nos deixamos inspirar pela Palavra de Deus, pela vida de algumas testemunhas e pelo Magistério recente para cultivar a paixão pelo anúncio do Evangelho”, disse Francisco, recordando que o zelo apostólico “diz respeito a todos os cristãos, desde o início”. No Batismo, o celebrante diz, tocando os ouvidos e os lábios do batizado: “O Senhor Jesus que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir a sua palavra e professar a fé”.

Jesus realiza um sinal prodigioso a um homem surdo. O evangelista Marcos descreve onde isso aconteceu: “No mar da Galileia. “O que esses territórios têm em comum?”, perguntou o Papa. “O fato de serem predominantemente habitados por pagãos”, respondeu. “Jesus é capaz de abrir os ouvidos e a boca, ou seja, o fenômeno do mutismo e da surdez na Bíblia é também metafórico e designa o fechamento aos apelos de Deus”, disse ainda Francisco, ressaltando que “há uma surdez física, mas na Bíblia quem é surdo para a Palavra de Deus é mudo, pois não comunica a Palavra de Deus”.

Somos chamados a abrir-nos

Outro sinal é indicativo: o Evangelho relata a palavra decisiva de Jesus em aramaico: Efatá significa “abre-te” que se abram os ouvidos e que se abra a língua. É um convite dirigido não tanto ao surdo-mudo, que não podia ouvi-lo, mas aos discípulos de então e de todos os tempos.

Também nós, que recebemos o Efatá do Espírito no Batismo, somos chamados a abrir-nos. “Abre-te”, diz Jesus a cada fiel e à sua Igreja: abre-te porque a mensagem do Evangelho precisa de ser testemunhada e anunciada! E isso faz pensar no comportamento do cristão. O cristão deve ser aberto à Palavra de Deus e ao serviço dos outros. Os cristãos fechados terminam sempre mal, pois não são cristãos, mas ideólogos, ideólogos do fechamento. O cristão deve ser aberto no anúncio da palavra e no acolhimento dos irmãos e irmãos.

Testemunhar e anunciar Jesus

Segundo o Papa, “este Efatá, abrir-se, é um convite a todos nós. No final dos Evangelhos, Jesus nos dá esse seu desejo missionário. Ir além, ir apascentar e pregar o Evangelho”.

Irmãos e irmãs, sintamo-nos todos chamados, como batizados, a testemunhar e anunciar Jesus. Peçamos a graça, como Igreja, de poder realizar uma conversão pastoral e missionária. O Senhor, às margens do mar da Galileia, perguntou a Pedro se ele o amava e depois pediu-lhe que apascentasse as suas ovelhas.

Francisco convidou cada um a se perguntar: “Amo realmente o Senhor, a ponto de querer anunciá-lo? Quero ser sua testemunha ou contento-me em ser seu discípulo? Levo a sério as pessoas que encontro, levo-as até Jesus na oração? Desejo fazer algo para que a alegria do Evangelho, que transformou a minha vida, torne a deles mais bonita também?” “Pensemos nessas perguntas e sigamos adiante em nosso testemunho”, concluiu.

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Duas vezes desejei ir a Greccio.

A primeira, para conhecer o lugar onde São Francisco de Assis inventou o presépio, que também marcou a minha infância: em casa dos meus pais, em Buenos Aires, estava sempre presente este símbolo do Natal, mais até do que a árvore.

Da segunda vez voltei de boa vontade a esta localidade, hoje situada na província de Rieti, para assinar a carta apostólica Admirabile Signum sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias.

Em ambas as ocasiões senti libertar-se uma emoção especial da gruta onde podemos admirar um fresco medieval que retrata a noite de Belém e a de Greccio, que o artista põe como que em paralelo.

A emoção daquela visão leva-me a aprofundar o mistério cristão que gosta de se esconder dentro daquilo que é infinitamente pequeno.

Com efeito, a encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus, mesmo quando facilmente se torna discreta a ponto de passar despercebida.

A pequenez é, de facto, o caminho para encontrar Deus.

• O meu presépio – Vou falar-vos das personagens do Natal •

Num epitáfio comemorativo de Santo Inácio de Loyola diz-se: «Non coerceri a maximo, sed contineri a minimo, divinum est» NT. É divino ter ideais que não sejam limitados por nada do que existe, mas ideais que, ao mesmo tempo, se contenham e sejam vividos nas coisas mais pequenas da vida. Em suma, não vale a pena assustar-se com as coisas grandes, importa antes andar em frente e reparar sempre nas coisas mais pequenas.

É por esta razão que salvaguardar o espírito do presépio se tor- na uma imersão salutar na presença de Deus, que se manifesta nas pequenas coisas, por vezes banais e repetitivas, do quotidiano. Saber renunciar àquilo que seduz, mas leva por maus caminhos, e escolher os caminhos de Deus é a tarefa que nos espera. Para este efeito, o dis- cernimento é um grande dom e nunca nos devemos cansar de o pedir na oração. No presépio, os pastores são aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem com espanto o encontro com Ele, adorando-O: na pequenez reconhecem o rosto de Deus. Humanamente, somos todos impelidos a procurar a grandeza, mas é um dom saber encontrá- -la de verdade: conseguir encontrar a grandeza naquela pequenez que Deus tanto ama.

Em janeiro de 2016 encontrei-me com jovens de Rieti precisa- mente no Oásis do Menino Jesus, pouco acima do Santuário do Presépio. Recordei-lhes então, e recordo hoje a todos, que são dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma «estrela» especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.

Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós.

Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não inte- ressa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida.

O primeiro biógrafo de São Francisco, Tommaso da Celano, descreve a noite de Natal de 1223, cujo oitavo centenário festejamos este ano. Quando Francisco chegou, encontrou o berço com a palha, a vaca e o burrinho. As pessoas que acorreram manifestaram uma alegria indescritível, nunca antes experimentada, perante aquela cena de Natal. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando assim a ligação entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio não existia então nenhuma figura: o presépio foi feito e vivido pelos próprios presentes.

Estou certo de que o primeiro presépio, que realizou uma grande obra de evangelização, pode ocasionar ainda hoje espanto e maravilha. Assim, o que São Francisco realizou com a simplicidade daquele gesto permanece nos nossos dias uma forma genuína da beleza da nossa fé.

Francisco

Cidade do Vaticano, 27 de setembro de 2023 

*Em português, o livro foi lançado pela Princípia Editora, Ldª

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Salvatore Cernuzio – Vatican News

“Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças”

As imagens divulgadas pela mídia em Gaza nestas horas mostram fotogramas no limite da suportação. Crianças, mesmo as muito pequenas, cujas lágrimas sulcam seus rostos acizentados pela fumaça ou sujos pela poeira dos prédios que desabaram sob as bombas. Crianças nos braços de pais e parentes com a boca aberta, gritando de dor por uma perda. De um familiar ou de um membro. Além dessas, fotografias de menores desesperados em frente aos caixões de seus pais na Ucrânia ou de meninos na África com menos de 10 anos de idade segurando um Kalashnikov, sentados em um tanque, já treinados para os conflitos. Crianças mortas (como os sete bebês prematuros que morreram em incubadoras no hospital de Gaza), crianças feridas, crianças migrantes, crianças-soldados, crianças exploradas: é tolerável tudo isso? Quanto tempo mais deve durar o sofrimento dos pequeninos? Aquele sofrimento diante do qual o Papa disse mais de uma vez que não há resposta, apenas lágrimas.

O apelo do Papa

E é justamente o Papa que mais uma vez chama a atenção para os menores nesta ocasião que relembra seus direitos inalienáveis, o Dia Mundial dos Direitos da Criança, instituído no dia em que se comemora o aniversário da aprovação, em 1989, pela Assembleia das Nações Unidas, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Infância e do Adolescente. Talvez o tratado sobre os direitos humanos mais ratificado do mundo.

Enquanto ocorrem as iniciativas da campanha Crianças em meio a guerras e emergências esquecidas, do Unicef, que quer lembrar as muitas crianças no mundo que vivem em contextos de emergência, com foco especial em seis países afetados pela violência, Francisco marca presença no X (antigo Twitter) e, por meio da conta em nove idiomas e com milhões de seguidores @Pontifex, divulga sua mensagem que tem o propósito de um alerta e a forma de uma pergunta – ou melhor, duas – como pontos para a reflexão.

“Quantas crianças são privadas do direito fundamental à vida e à integridade física e mental por causa de conflitos? Quantas crianças são forçadas a participar ou testemunhar combates e a ter que carregar suas cicatrizes? Nenhuma guerra vale as lágrimas das crianças”.

A dor do Papa pelas mães

Uma frase que, idealmente, dá continuidade ao apelo lançado há exatamente dez dias, em 10 de novembro, pelo próprio Pontífice na mensagem enviada aos participantes do VI Fórum de Paris sobre a Paz. “Nenhuma guerra vale as lágrimas de uma mãe que vê seu filho mutilado ou morto”, denunciou Francisco. E acrescentou: “Nenhuma guerra vale a perda da vida de sequer uma pessoa humana, que é um ser sagrado, criado à imagem e semelhança do Criador; nenhuma guerra vale o envenenamento de nossa casa comum; nenhuma guerra vale o desespero daqueles que são forçados a deixar sua pátria e são privados, de um momento para o outro, de seus lares e de todos os laços familiares, de amizade, sociais e culturais que construíram, às vezes por gerações”.

Nenhuma guerra – “sempre, sempre uma derrota para a humanidade”, como o Papa reiterou no Angelus deste domingo – vale a pena ver essas imagens. Um soco no estômago; um pecado pelo qual, como já disse o Papa durante as celebrações na Casa Santa Marta nos primeiros anos de seu pontificado, “Deus nos pedirá contas”.

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Andressa Collet – Vatican News

Neste domingo (29), o Papa Francisco enalteceu o Evangelho do dia (Mt 22,34-40) sobre o maior dos mandamentos tanto na homilia da missa de conclusão do Sínodo dos Bispos na Basílica de São Pedro, quanto na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus. Aos fiéis na Praça São Pedro, o Pontífice afirmou que o amor a Deus e ao próximo são “inseparáveis um do outro” e refletiu sobre dois aspectos dessa realidade.

O primeiro sobre o fato de que, o amor ao Senhor vindo em primeiro lugar, acaba nos lembrando “que Deus sempre nos precede, nos antecipa com sua infinita ternura (cf. Jo 4,19)”. Assim como acontece quando “a criança aprende a amar no colo da mãe e do pai, e nós o fazemos nos braços de Deus”, recordou Francisco. Do amor a Deus aprendemos a nos doar ao próximo:

“E tudo começa com Ele. Você não pode amar seriamente os outros se você não tiver essa raiz, que é o amor de Deus, o amor de Jesus.”

O exemplo de Santa Teresa de Calcutá

E assim, continuou o Papa, chegamos a um segundo aspecto que decorre do mandamento do amor, o amor ao próximo: “significa que, ao amarmos nossos irmãos, refletimos, como espelhos, o amor do Pai. Refletir o amor de Deus, esse é o ponto; amar Ele, a quem não vemos, por meio do irmão que vemos (cf. 1 Jo 4:20)”. Foi quando Francisco citou Santa Teresa de Calcutá sobre a resposta dada a um jornalista quando perguntou se tinha a ilusão de mudar o mundo com a sua obra e ela respondeu: “nunca pensei que pudesse mudar o mundo! Só tentei ser uma gota de água limpa na qual o amor de Deus pudesse brilhar”.

“Foi assim que ela, tão pequena, foi capaz de fazer tanto bem: refletindo como uma gota o amor de Deus. E se às vezes, olhando para ela e para outros santos, chegamos a pensar que eles são heróis inimitáveis, pensemos nessa pequena gota – o amor é uma gota que pode mudar muitas coisas. E como se faz isso? Dando o primeiro passo, sempre. Às vezes não é fácil dar o primeiro passo, esquecer as coisas, dar o primeiro passo – vamos fazer isso. Esta é a gota: dar o primeiro passo.”

O Papa Francisco, ao finalizar a reflexão sobre o amor de Deus, invocou Nossa Senhora para ajudar a viver no cotidiano esse grande mandamento, convidando os peregrinos na Praça São Pedro a um momento de pausa e reflexão, ao se questionar:

“Sou grato ao Senhor, que me ama por primeiro? Eu sinto o amor de Deus e sou grato a Ele? E procuro refletir Seu amor? Eu me esforço a amar os irmãos, a dar esse segundo passo?”

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Setenta anos atrás, em 21 de setembro de 1953, nasceu a vocação sacerdotal do Papa Francisco. Jorge Mario Bergoglio tinha quase 17 anos de idade. Na Argentina, nessa data é comemorado o dia do Estudante. Para a Igreja é a memória de São Mateus, um pecador público chamado por Jesus para se tornar um apóstolo. O próprio Papa contou o que aconteceu naquele dia tão especial:

Antes de ir para a festa, passei pela paróquia que habitualmente frequentava: encontrei um padre, que não conhecia, e senti necessidade de me confessar. Esta foi para mim uma experiência de encontro: achei que alguém me esperava. Eu não sei o que se passou, não me lembro; não sei sequer por que motivo estivesse lá aquele padre que eu não conhecia, não sei porque senti aquela vontade de me confessar, mas a verdade é que alguém estava à minha espera. Esperava-me há muito tempo. Depois da confissão, senti que qualquer coisa tinha mudado; eu não era o mesmo. Tinha ouvido como que uma voz, um chamado: fiquei convencido de que devia tornar-me sacerdote. Na fé, é importante esta experiência. Dizemos que devemos procurar Deus, ir ter com Ele para pedir perdão… Mas, quando chegamos, Ele está à nossa espera, Ele chega primeiro! Em espanhol, temos uma palavra que explica bem isto: ‘O Senhor sempre nos primerea’, é o primeiro, está à nossa espera! E esta é uma graça muito grande: encontrar alguém que te espera. Tu vais pecador, e Ele está à tua espera para te perdoar. (Vigília de Pentecostes, 18 de maio de 2013)

A vocação de Francisco nasceu da experiência da misericórdia de Deus. O lema do Papa é “Miserando atque eligendo”, ou seja “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”: foi tirado de uma homilia de São Beda, o Venerável, um sacerdote do século VIII, quando ele fala de Jesus chamando Mateus, o publicano, e o Senhor, olhando para ele com um sentimento de amor, o escolhe como seu discípulo.

Francisco descreveu várias vezes o quadro da vocação de São Mateus, de Caravaggio, que se encontra na Igreja de São Luís dos Franceses, em Roma, que ele gostava de observar com frequência:

Jesus tinha acabado de curar um paralítico e quando estava para ir embora encontrou este homem chamado Mateus. E onde estava aquele homem? Sentado no banco dos impostos. Afinal Mateus era um dos que faziam pagar os impostos ao povo de Israel, para os dar aos romanos: um traidor da pátria. A ponto que estes homens, eram desprezados. E Mateus sente que Jesus olha para ele e lhe diz: “segue-Me”. E ele levantou-se e seguiu-o. Mas o que aconteceu? O que convenceu Mateus a seguir o Senhor? Trata-se da força do olhar de Jesus que certamente olhou para ele com muito amor, muita misericórdia: aquele olhar de Jesus misericordioso significava: Segue-me, vem. E Mateus, por sua vez, tinha um olhar desanimado, com um olho em Deus e o outro no dinheiro, apegado ao dinheiro tal como Caravaggio o pintou: precisamente assim, apegado e olhando de canto, e também com um semblante carrancudo, mal-humorado. Ao contrário, o olhar de Jesus, é amoroso, misericordioso. Face a este olhar eis que a resistência daquele homem que era totalmente escravo do dinheiro cedeu. Com efeito, o Evangelho diz-nos que Mateus se levantou e o seguiu. É a luta entre a misericórdia e o pecado. O importante é questionar-se: como entrou o amor de Jesus no coração daquele homem? Por que porta pôde entrar? O fato é que aquele homem sabia que era pecador: sabia que não era amado por ninguém, e até era desprezado. A primeira condição para ser salvo é sentir-se em perigo; a primeira condição para ser curado é sentir-se doente. Sentir-se pecador é a primeira condição para receber este olhar de misericórdia. Há quem possa dizer: “Padre, mas é uma graça sentir-se pecador?” Sim, porque significa sentir a verdade. Mas não um pecador abstrato: pecador por isto e por aquilo. Pecado concreto, pecados concretos! E todos nós temos tantos! Vamos e deixemo-nos olhar por Jesus com aquele olhar misericordioso cheio de amor. (Homilia na santa missa celebrada na capela da casa Santa Marta, 21 de setembro de 2017)

Francisco diz que se sente como Mateus:

Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus. É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: “Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!” Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar. E foi isto que disse quando me perguntaram se aceitava a minha eleição para Pontífice. (Entrevista com o Padre Antonio Spadaro, 19 de agosto de 2013)

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Quando um jovem pergunta a Jesus sobre a vida eterna, a resposta é: “Se queres entrar na vida, observa os mandamentos” [1]. Jesus também nos ensina que o maior mandamento de todos é o amor: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua mente e amarás teu próximo como a ti mesmo” [2]. E de todos os amores, a paternidade é o que nos aproxima de forma mais profunda do amor que é ensinado por Jesus Cristo, compreendendo a posição de pai, valorizando a vida, intensificando a empatia e vivenciando a pureza de uma criança. Por isso, tomemos a paternidade como verdadeiro comprometimento com o caminho da santidade.

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (2070), os Dez Mandamentos fazem parte da revelação de Deus e, ao mesmo tempo, ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem. Põem em relevo os deveres essenciais e, por conseguinte, indiretamente, os direitos fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana. Como deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, ninguém pode ignorá-los. A reflexão sobre os Mandamentos é um exercício importante para a vida cristã. Neste Dia dos Pais, essa reflexão está diretamente ligada à paternidade.

Ao tornar-se pai, o homem passa a se identificar melhor com Deus-Pai e essa relação com o Filho. Compreende-se a grandiosidade da misericórdia de Deus que “tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito” [3]. Assim, preenchido pelo amor verdadeiro de pai, cumpre-se com retidão o Primeiro Mandamento, amando a Deus como o exemplo de Pai que buscamos em nós, caminhando para ser “perfeito como vosso Pai celeste é perfeito” [4]. E uma vez consciente do amor paterno, ele transborda em nós para o próximo, reconhecendo em todos os filhos que precisam sentir-se amados. O mandamento do amor, aquele que Jesus nos apresenta como o mais importante, surge espontaneamente no coração do pai que vive a paternidade com sinceridade.

O amor paterno à luz e inspiração dos dez Mandamentos

Crédito: Arquivo pessoal

O verdadeiro significado de pai

A partir do nascimento do filho, demora ainda algum tempo para que se possa ouvir o chamado de “pai” e saber que é você que está sendo chamado. A palavra “pai” toma um significado ainda mais especial, de amor, de alegria, de paz, de paciência, de delicadeza, de bondade, de fidelidade [5], de tantas virtudes cristãs, invocadas pelo chamado simples da criança. Da mesma forma, o nome de Deus toma nova forma, daquele que clama quem primeiro é clamado. Não haverá mais desvio do segundo mandamento que impõe não invocar o santo nome de Deus em vão.

Na vivência da paternidade, o tempo de qualidade com o filho, desde as atividades mais extraordinárias, como ir ao circo, ao cinema, ao parque, em uma viajem; até as pequenas coisas, como dar banho, escovar os dentes ou contar uma história, passam a ter um significado maior, superando tudo o mais da vida comum. Daí que os momentos dedicados especialmente à presença de Deus, os domingos e Festas de Guarda, assumem a qualidade desses momentos de pai e filho, impulsionando uma entrega mais sincera e com o coração aberto a receber o mesmo amor que se entrega ao filho. Cumpre-se, assim, com profundidade, o terceiro mandamento.

Honrar pai e mãe

Chegamos ao mandamento diretamente ligado à paternidade, o de honrar pai e mãe, o único com uma recompensa imediata, de “que se prolonguem teus dias sobre a terra que Javé, teu Deus, te dá” [6]. O Catecismo da Igreja Católica (2197) ensina que Deus quis que, depois de Si, honrássemos os nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus. Temos obrigação de honrar e respeitar todos aqueles que Deus, para nosso bem, revestiu da sua autoridade. Ao tornar-se pai, o homem se reveste dessa autoridade, direcionando-o para fazer-se digno, enquanto exemplo a ser seguido pelos filhos.

Canção Nova

“Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22, 37). O maior e mais precioso dom é o amor! E é esse dom que devemos oferecer, diariamente, a Deus. Iniciei citando esse versículo da Bíblia para que nós, como solteiros, possamos mergulhar nesta aventura: o estar solteiro nos dias atuais.

Sou membro da Comunidade Canção Nova há 5 anos e, muitas vezes, já me questionei e questionei a Deus sobre a concretização do meu estado de vida.

Aproveitar o momento de estar solteiro

É fato que temos a nossa vida projetada e planejada dentro de nós, mas você já parou para pensar na preciosidade deste tempo que é estar solteiro? Mas, dentro de você, também existe o questionamento: então, fazer projetos e planejar a minha vida não é normal?

Créditos: aldomurillo by GettyImages /cancaonova.com

Portanto, te pergunto: “Quais são as coisas, os meios pelos quais você está realizando projetos e planos para sua vida?”. Retomo ao versículo que iniciei o texto e, dentro de mim, as palavras vêm à minha mente: amar a Deus de todo o meu coração, com toda a minha alma e com todo o meu entendimento.

Quando estamos em Deus, as coisas se tornam mais leves, como disse o filho de um irmão de comunidade: “suave”. O espaço que pensamos estar vazio em nós é preenchido por Sua presença. O “estar” solteiro(a) não quer dizer que estamos sós.

Dedicar-se primeiramente a Deus

Já parou para pensar na preciosidade que é este tempo? Olhando para a minha vida, vejo o quanto exerço plenamente a minha vocação; o quanto consigo me colocar com inteireza nos fatos cotidianos da vida. E essa plenitude e inteireza também fazem parte da minha vida interior, da minha vida em Deus.

Uma outra passagem da Bíblia que fala muito ao meu coração neste tempo é: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33). Observe a riqueza deste versículo! Meu coração é consolado e transformado quando me deparo com esse versículo, pois o ser solteira não pode ser visto como em primeiro lugar na minha vida, e sim o Reino de Deus estar na primazia da minha vida. É aí que eu me encontro realizada! Na busca pelo Reino de Deus, na busca pela santidade da minha vida.

Acredite nas promessas do Senhor

Neste versículo, o Senhor nos faz uma promessa: se eu busco o Reino de Deus em primeiro lugar, o Senhor me promete o acréscimo. E sabemos que: o que Deus promete, Ele cumpre!

Então, fica a dica: o Senhor tem um plano de felicidade para você! Estar dentro dos planos, dos sonhos, da vontade de Deus supera todas as suas expectativas. Confie!

Concluo te perguntando: e aí, o que você está oferecendo a Deus?

Rezo por você, pedindo que o Senhor te visite através desta leitura.

Unidos em Cristo.

Aline Taciana da Silva | Membro da Comunidade Canção Nova

Canção Nova

 

Ao saudar e abençoar os peregrinos de língua portuguesa na Audiência Geral, o Papa Francisco assegurou sua oração ao encontro que se realiza nestes dias em Belém, e que reúne presidentes dos países da região amazônica:

Queridos peregrinos de língua portuguesa, abraço-vos a todos e de coração vos abençoo a vós e às vossas famílias. Que Nossa Senhora vos acompanhe e sempre vos proteja. Aproveito esta ocasião para enviar uma saudação particular aos Presidentes dos países da região amazônica que, nestes dias, estão reunidos em Belém do Pará, no Brasil. Asseguro a minha oração pelo bom êxito do seu encontro, desejando que se renove o compromisso de todos em prol da criação e dum progresso sustentável.

A IV Cúpula dos presidentes que compõem o bioma Amazônia, que teve início na terça-feira, em Belém, é realizada no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), criada em 1995 e integrada por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Os presidentes dos países que abrigam a floresta amazônica não se reuniam há 14 anos (não estão em Belém os presidentes do Equador, Suriname e Venezuela).

Os líderes dos oito países assinaram a Declaração da Cúpula da Amazônia no primeiro dia do encontro, com propostas para garantir a sobrevivência da maior floresta tropical do planeta e soluções conjuntas para os graves desafios do bioma, como desmatamento, garimpo ilegal e narcotráfico.

Paralelamente à cúpula oficial, cerca de 20 mil indígenas e outros grupos de diferentes países amazônicos movimentam 400 eventos paralelos. Em sessões de uma hora, eles apresentaram demandas a ministros principalmente do Brasil, mas também da Colômbia, Peru e outros países.

O encontro de dois dias em Belém também prepara a conferência global do clima (COP) em novembro em Dubai.

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Andressa Collet – Vatican News

Esta quarta-feira, 9 de agosto, marca a retomada das Audiências Gerais após a pausa de verão e também o retorno do Papa Francisco de Portugal. Até o último domingo (6), o Pontífice esteve no país por ocasião da 37ª Jornada Mundial da Juventude, ocasião para também encontrar as autoridades e a Igreja local, além de fazer uma breve peregrinação a Fátima.

Como de costume ao voltar de uma viagem apostólica, o Papa procurou compartilhar com os fiéis da Sala Paulo VI a experiência de fé vivida em meio à juventude do mundo inteiro em Lisboa. O evento foi sentido por todos como um presente de Deus, disse Francisco, já que aconteceu após a pandemia, um período que particularmente afetou o comportamento dos jovens. Com esta Jornada Mundial da Juventude, continuou Francisco, “Deus deu um ‘empurrão’ no sentido oposto”, marcando “um novo início da grande peregrinação dos jovens em nome de Jesus”.

A exemplo de Maria, colocar-se a serviço

E não é por acaso que isso aconteceu em Lisboa, recordou o Pontífice, “cidade voltada para o oceano, cidade-símbolo das grandes explorações marítimas”. A JMJ de Lisboa foi um “movimento de corações e passos dos jovens de várias partes do mundo ao encontro de Jesus”, nos caminhos do Evangelho e tomando como modelo a Virgem Maria. No momento mais crítico para ela, “levantou-Se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). “Gosto muito de invocar Nossa Senhora neste aspecto: a Nossa Senhora ‘apressada’, que sempre faz as coisas com pressa, nunca nos deixa esperando, porque Ela é a mãe de todos”, disse ainda o Papa.

“Maria, hoje, no terceiro milênio, guia a peregrinação dos jovens no seguimento de Jesus.”

“Como já tinha feito há um século justamente em Portugal, em Fátima, quando se dirigiu a três crianças, confiando-lhes uma mensagem de fé e esperança para a Igreja e para o mundo. Por isso, na JMJ, voltei a Fátima, ao local da aparição, e junto com alguns jovens doentes rezei para que Deus curasse o mundo das doenças da alma: o orgulho, a mentira, a inimizade, a violência. São doenças da alma e o mundo está doente com essas doenças. E renovamos a nossa consagração, a da Europa e a do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Rezei pela paz porque há muitas guerras em todas as partes do mundo, muitas.”

Nem férias e nem turismo, mas encontro com Cristo

Em Lisboa e na região metropolitana que acolheram os eventos oficiais, o Papa Francisco sempre se deparou com multidões de jovens entusiastas e provenientes do mundo inteiro. Dos anos de preparação à JMJ, eles se apresentavam prontos a compartilhar as experiências vividas em âmbito local paroquial e a receber o chamado de Deus, cada um a seu modo:

“Não eram férias, uma viagem turística, nem mesmo um evento espiritual por si só; a JMJ é um encontro com Cristo vivo por meio da Igreja. Os jovens vão ao encontro de Cristo; é verdade que onde há jovens há alegria, há um pouco de tudo isto! A minha visita a Portugal, por ocasião da JMJ, se beneficiou do ambiente festivo desta onda de jovens”, reforçou Francisco.

Outro mundo é possível: quem tem ouvidos, ouça!

O coração do Papa carrega muita gratidão a Deus pelo que foi visto e vivido em Portugal neste início de agosto. Um pensamento especial ele também tem pela Igreja local que, em retribuição ao grande esforço feito para a organização e o acolhimento, deve receber “novas energias para lançar novamente as suas redes com paixão apostólica”. Os jovens em Portugal já dão hoje uma mensagem clara ao mundo:

“Enquanto na Ucrânia e em outros lugares do mundo se combate, e enquanto em certas salas escondidas se planeja a guerra, a JMJ mostrou a todos que outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos tremulam juntas, uma ao lado da outra, sem ódio, sem medo, sem fechamentos, sem armas! A mensagem dos jovens foi clara: será que os ‘grandes da terra’ a ouvirão? É uma parábola para o nosso tempo, e ainda hoje Jesus diz: ‘Quem tem ouvidos, ouça! Quem tem olhos, veja!’ Esperamos que o mundo inteiro ouça esta Jornada da Juventude e veja esta beleza dos jovens indo adiante.”

Vatican News

Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano

Uma condenação expressa “com a máxima firmeza” pela Santa Sé contra “a profanação, destruição ou a falta de respeito por objetos religiosos, símbolos e locais de culto”. Na 53ª sessão ordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o encarregado de assuntos da Missão Permanente da Santa Sé, monsenhor David Putzer, intervém no debate sobre o aumento alarmante de atos premeditados e públicos de ódio religioso, como manifestado pela profanação periódica do Alcorão em alguns países europeus e além.

A referência é, em particular, ao recente episódio ocorrido na Suécia, onde no final de junho um manifestante de origem iraquiana ateou fogo ao livro sagrado do Islã em frente à mesquita Medborgarplatsen em Estocolmo, no início dos três dias de festejos da ‘al-Adha, uma das mais importantes celebrações do mundo muçulmano. Um gesto que tem causado forte polêmica e protestos em todo o mundo.

O próprio Papa Francisco se manifestou sobre o assunto, em entrevista ao jornal Al-Ittihad dos Emirados Árabes Unidos, ao qual confidenciou: “Sinto-me indignado e desgostoso com essas ações”. “Qualquer livro considerado sagrado pelo próprio povo – acrescentou o Pontífice – deve ser respeitado em respeito aos seus fiéis, e a liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros, e permitir isso deve ser rejeitado e condenado”.

Ataques à dignidade dos crentes

E recordando precisamente as palavras do Pontífice, o delegado do Vaticano na ONU em Genebra expressou, além de sua condenação, também a preocupação da Santa Sé: “A recente queima do Alcorão no primeiro dia da festa muçulmana de Eid al-Adha é particularmente preocupante, pois o significado daquele dia santo também foi denegrido”, disse ele.

“A crença religiosa – acrescentou Putzer – é expressão da busca do homem pela verdade, do significado e do propósito de vida. Como tal, insultar intencionalmente crenças religiosas, tradições ou objetos sagrados constitui um atentado à dignidade humana do crente”.

Abuso do dom da liberdade de expressão

Por outro lado, segundo o encarregado de assuntos, é necessária uma maior consciência do fato “que atores desonestos muitas vezes cometem atos de intolerância religiosa, abusando do precioso dom da liberdade de expressão, para provocar uma reação desproporcional”. Assim, alimentam “o ódio, a intolerância e a violência” num mundo já marcado por guerras e conflitos, onde – como continua a repetir o Papa – é necessária a fraternidade, bálsamo para as feridas deste tempo.

Vatican News

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O Papa realizou hoje na Praça São Pedro sua última Audiência Geral antes da pausa de verão. Com efeito, ao tomar a palavra, Francisco agradeceu a “paciência” dos fiéis, que comparecem não obstante o calor. Durante o mês de julho estão suspensas todas as atividades públicas de Francisco, com exceção do Angelus dominical.

A Audiência desta quarta foi também a primeira desde a sua operação no intestino. O Pontífice foi internado no dia 7 de junho e recebeu alta no dia 16. E mesmo sob o forte calor romano, Francisco fez o giro entre os milhares de fiéis presentes na Praça São Pedro, beijou as crianças, tomou chimarrão e acenou aos peregrinos. Ao se dirigir a eles, retomou o ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico, destacando figuras exemplares de homens e mulheres que deram a sua vida pelo Evangelho.

Ouça e compartilhe

O testemunho de hoje veio da Oceânia, mais precisamente da Austrália: Santa Mary Mackillop, fundadora das Irmãs de São José do Sagrado Coração, que dedicou sua vida à formação intelectual e religiosa dos pobres da zona rural.

Mary MacKillop nasceu nos arredores de Melbourne de pais emigrados da Escócia. Desde jovem, sentiu o chamado de Deus a servi-Lo e testemunhá-Lo não só com as palavras, mas sobretudo com a vida. E compreendeu que o modo melhor de evangelizar o seu mundo passava pela educação dos jovens, ciente de que a educação católica é uma forma de evangelização. Dedicou-se principalmente aos jovens pobres que habitavam em periferias onde mais ninguém queria ou podia ir.

“E isto é muito importante: no caminho da santidade, os pobres, os marginalizados são os protagonistas e uma pessoa não pode avançar na santidade se não se dedica a eles. São a presença do Senhor”, disse o Papa.

Francisco contou que cerca vez leu uma frase que o impressionou, que dizia o seguinte: o protagonista da história é o mendicante. “São eles que chamam à atenção para esta grande injustiça, que é a grande pobreza no mundo. Gasta-se tanto dinheiro para fabricar armas e não para a comida. E não se esqueçam: não existe santidade se num modo ou de outro não há cuidado com os pobres, com os necessitados, com aqueles que estão um pouco à margem da sociedade.”

Falando ainda sobre Santa Mary, o Pontífice prosseguiu recordando que em 19 de março de 1866, dia de São José, ela abriu a primeira escola num pequeno subúrbio. Seguiram-se, depois, muitas outras, inclusive na Nova Zelândia, nas quais os professores eram convidados a acompanhar e encorajar os estudantes rumo a um desenvolvimento integral da sua pessoa, isto é, sem esquecer a dimensão espiritual.

Com efeito, a educação não consiste em encher a cabeça de ideias, mas acompanhar e encorajar os estudantes no caminho de crescimento humano e espiritual, mostrando a eles quanto a amizade com Jesus dilata os corações e torna a vida mais humana. Esta visão, disse o Papa, é plenamente atual hoje, “quando sentimos a necessidade de um pacto educativo capaz de unir as famílias, as escolas e toda a sociedade”.

O zelo de Mary MacKillop para a difusão do Evangelho a levou a empreender outras obras de caridade, como a “Casa da Providência” inaugurada em Adelaide para acolher idosos e crianças abandonados. Aliás, o seu segredo foi sempre a fé na Divina Providência, a relação contínua com o Senhor: era em Deus que ela encontrava tranquilidade, readquiria o entusiasmo e reavivava a alegria, mesmo em meio às dificuldades e desafios. “Há muitos anos aprendi a amar a Cruz”, confidenciou certa vez a uma coirmã. “Todos os santos tiveram oposição, inclusive dentro da Igreja. É curioso isto”, disse o Papa.

Francisco concluiu fazendo votos de que seu discipulado missionário inspire a todos nós, chamados a ser fermento de Evangelho nas nossas sociedades em rápida transformação. “O seu exemplo e a sua intercessão amparem o trabalho cotidiano dos pais, professores, catequistas e de todos os educadores, pelo bem dos jovens e por um futuro mais humano e cheio de esperança.”

Vatican News

Se o Planeta Terra fosse uma pessoa, provavelmente hoje estaria deitado em alguma cama de hospital com intravenosa de morfina no braço para aliviar as muitas e atrozes dores que o afligem. Foi o próprio homem, nas últimas quatro décadas em particular, que, como um bom médico, tentou diagnosticar o paciente, submetendo-o a análises clínicas especializadas, até formular um diagnóstico nefasto: poluição; mudança climática; desaparecimento da biodiversidade; dívida ecológica entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios econômicos; antropocentrismo; domínio da tecnocracia e das finanças, com a prevalência de uma generalizada “cultura do desperdício” que leva à exploração de crianças, ao abandono dos idosos, à escravidão de outros, ao comércio de órgãos ou de diamantes ensanguentados. Em uma só palavra, “câncer” e, além disso, “câncer na fase final”, que talvez seja ainda mais assustador do que as doenças descritas acima, mas que nos deixa indiferentes porque não afetou alguém da nossa família ou algum velho amigo. Esse mesmo médico, tão escrupuloso na fase de diagnóstico, no entanto, esqueceu de encontrar uma cura adequada. Ou onde ele a havia encontrado, esqueceu de administrá-la diariamente, com perseverança e amor. Há sete anos, em 24 de maio de 2015, com a encíclica Laudato si, o Papa Francisco relançou a urgência de uma terapia direcionada contra os males da Terra, apelando não aos doutores profissionais, mas a “todos os homens e mulheres de boa vontade”: 221 páginas, uma introdução, seis capítulos e duas esplêndidas orações finais que imediatamente deixaram sua marca não apenas na Doutrina Social da Igreja, mas também nos processos políticos, econômicos e ecológicos de nossas sociedades globalizadas.

Palavras proféticas

Hoje, também à luz da dramática experiência da pandemia que nos colocou de joelhos e da guerra que continua a semear o terror e a destruição, temos provas, por um lado, das intuições “proféticas” do texto de Francisco e, por outro, da sua força, tão simples quanto o verso do Cântico das Criaturas do qual tira seu nome e, ao mesmo tempo, tão eficaz quanto cada palavra dirigida a Deus com fé. Os frutos da encíclica do Papa Bergoglio, a segunda de seu pontificado, de fato desencadearam processos fecundos, muitos dos quais ainda estão em andamento, em todos os campos tocados pelo texto, desafiando os governantes, assim como as crianças, que estão determinadas, sem qualquer hesitação, a fazer a sua parte. O contexto cultural e magisterial no qual as reflexões do Papa estão enraizadas é vasto e bem documentado: desde Paulo VI, que se referiu ao problema ecológico, apresentando-o como uma crise que é a “consequência dramática” da atividade descontrolada do ser humano, a São João Paulo II, até Bento XVI, que com preocupação nos convidou a reconhecer que a Criação está comprometida ali “onde somos as últimas instâncias, onde o todo é simplesmente nosso patrimônio e o consumimos somente para nós mesmos”. No entanto, na maravilhosa obra das mãos de Deus, não há predador, não há egoísmo, não há senhores e escravos, não há ambiente a ser explorado segundo a vontade de cada um, mas um lugar, uma casa de fato, a ser compartilhada em harmonia. Francisco diz: ” A Bíblica nos ensina que o mundo não nasceu do caos nem do acaso, mas de uma decisão de Deus que o chamou e sempre o faz, à existência, por amor. O universo é belo e bom, e contemplá-lo nos permite entrever a infinita beleza e bondade de seu Autor. Cada criatura, mesmo a mais efêmera, é o objeto da ternura do Pai, que lhe atribui um lugar no mundo”.

Tudo está conectado, mesmo as crises

O primeiro e precioso fruto da Laudato si’ é precisamente sua capacidade de conectar aspectos que antes eram tratados setorialmente. Não é por acaso que entre as expressões mais citadas estão “ecologia integral”, que constitui seu verdadeiro coração, e “tudo está conectado”, que se tornou quase um slogan, e a anotação de que “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas sim uma única e complexa crise sócio-ambiental”: o Planeta está em mau estado, mas o homem certamente não está melhor, obrigado pelas carestias, pela fome, pelos deslizamentos, pelas inundações, pelas guerras, pela corrupção, a deixar sua própria casa, sem saber se encontrará outra. Também neste ano contamos no Vatican News, muitas histórias inspiradas na Laudato si’, de Roma às Ilhas Salomão, atravessando os Cinco Continentes com os testemunhos daqueles que quiseram assumir a questão. A ação em favor do meio ambiente atravessa culturas, povos, contextos geográficos e crenças, também deve ser dito, que a Igreja tem sido uma enorme fonte de ideias e projetos, graças aos quais as palavras do Pontífice não ficaram no papel.

Os projetos

Em Gana, por exemplo, os bispos da Conferência Episcopal estão organizando a plantação de um milhão de árvores, uma ação concreta que complementa e apoia o projeto governamental “Gana Verde” lançado em junho de 2021. No Quênia, eles já tinham começado no ano passado, com o plantio de sementes na floresta de Kakamega, a única floresta tropical remanescente no país. O programa teve a participação de 500 pessoas de diferentes confissões cristãs, que realizaram também iniciativas de conscientização para um uso mais respeitoso dos recursos da Terra. “Plantar uma árvore”, disse precisamente o Papa Francisco no Quênia em 2015, “é, antes de tudo, um convite para continuar a lutar contra fenômenos como o desmatamento e a desertificação. Mas também nos estimula a continuar a ter confiança, a esperar e, sobretudo, a comprometer-nos concretamente para transformar todas as situações de injustiça e de degradação que hoje sofremos”. Com isto em mente, os jovens do Movimento Laudato si’, de modo particular, também intervieram na esfera urbana para enfrentar simbólica e concretamente um dos maiores desafios que as cidades enfrentam: o da grande produção de lixo. E assim, em colaboração com a ONG Nairobi Recyclers (Narec), eles criaram um projeto de reciclagem que tem como objetivo limpar parte da capital. Além de coletar lixo e proteger o meio ambiente da poluição, a equipe da Nairobi Recyclers também selecionou 17 escolas e cinco casas religiosas que acolhem crianças nas quais planejam plantar mais de mil árvores frutíferas e de outras espécies. Mas a Igreja, além de projetos de reflorestamento na África, implementou muitos em outros contextos, em descarbonização, em eficiência energética, agricultura sustentável, abastecimento de água potável, limpeza dos mares com a retirada do plástico, de educação e conscientização ambiental, sem nunca esquecer a pessoa e a proteção da vida humana. A este respeito, não se pode deixar de mencionar o trabalho do episcopado americano e da diocese de Chicago, que sob a liderança do cardeal arcebispo da cidade, Dom Blase Joseph Cupich, tem o mérito de ter instituído o primeiro ministério Laudato si’ do mundo, chamando à ação tantos católicos, jovens e não jovens, que colocaram sua profissão ou o seu ‘carisma’ ao cuidado da Casa Comum e na defesa dos mais frágeis. Menção especial também para a diocese de Burlington, que engajou os fiéis na conscientização e ação para uma maior justiça ecológica, iniciando projetos para combater a cultura do descarte (fabricação de compostagem em hortas e jardins, uso exclusivo de materiais reciclados começando com o papel, modelos circulares de produção e consumo alimentares e muito mais), juntamente com o início do monitoramento dos imóveis diocesanos no que diz respeito ao fornecimento de energia a ser convertida em formas renováveis ou de baixo impacto ambiental. Também é grande o envolvimento das comunidades locais, por parte da Igreja, para salvar a Amazônia, o pulmão verde do mundo que corre o risco de ser destruído cada dia mais por causa do desmatamento, da corrupção, da exploração intensiva do solo e do desaparecimento da biodiversidade.

Os frutos de um apelo incansável

“Há uma ligação clara entre a proteção da natureza e a construção de uma ordem social justa e equitativa. Não pode haver uma renovação da nossa relação com a natureza sem uma renovação da própria humanidade”, disse o Papa na reunião com as autoridades quenianas durante a Viagem Apostólica em novembro de 2015, que também tocou a Uganda e a África Central, alguns meses após a publicação da própria encíclica. O apelo do Pontífice, no entanto, é incansável: “Proteger a Terra para que ela não responda com destruição”, não devorar a Terra, mas restituir-lhe dignidade, escutando o grito de sofrimento dos povos que continua a pressionar os ouvidos de todos. Também neste ano, assistimos a um animado florescimento das Comunidades Laudato si’, que se originou de uma ideia do bispo de Rieti, Dom Domenico Pompili e do fundador do Slow Food Itália, Carlo Petrini, no silêncio da oração ou no barulho das mobilizações, mas sempre com iniciativas concretas, relançaram o tema da ecologia integral, apostando na conversão do coração, mas também da ação que atravessa e irradia o texto de Francisco. Desde 2020, apesar da pandemia, os círculos de Laudato si’ aumentaram em quase 300 por cento. A encíclica permeou o debate político e científico desde a Conferência de Paris sobre o Clima em 2015 e a de Glasgow em 2021; garantiu que os cuidados da Casa Comum fossem incluídos entre as obras de misericórdia e iniciou a “Economia de Francisco”. Sem esse documento, poderia ter sido mais difícil realizar um Sínodo como o da Amazônia (cuja conexão com Laudato si’ é evidente desde o tema: “Novos caminhos para a Igreja e para a Ecologia Integral”) e para chegar à consequente exortação apostólica, Querida Amazônia, com seus quatro sonhos – social, cultural, ecológico e eclesial – que são de fato um caminho de ecologia integral capaz de desafiar a consciência do mundo inteiro, ao qual o próprio Francisco se referiu quando, na esteira do trabalho sinodal, falou de um verdadeiro “pecado ecológico”. O próprio Sínodo da Juventude de 2018 e o “Documento sobre a Fraternidade Humana”, assinado em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa e o Grão Imame de Al-Azhar, al-Tayyib, seriam basicamente imputáveis entre os frutos deste texto, inicialmente visto como uma encíclica verde, sendo mais tarde entendido como uma verdadeira perspectiva inovadora, o motor de uma revolução cultural, que atravessa a sociedade em cada fenda. Durante a JMJ no Panamá, em janeiro de 2019, falou-se até mesmo de uma “Geração Laudato si’”. É um fato, porém, que o paradigma da ecologia integral tenha se espalhado em nível internacional, graças também ao compromisso do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, assim como na Itália, onde entre outras coisas encontrou terreno particularmente fértil, dada a sensibilidade às questões ambientais demonstrada pela Conferência Episcopal Italiana e por cada uma das dioceses. Entretanto, o documento de Francisco deu nova vida à reflexão de associações comerciais como Coldiretti, Confcooperative e Confartigianato, ou a forças sindicais como a Cisl. Em nível eclesial, também foi unido a iniciativas nacionais como as Semanas Sociais dos Católicos Italianos; inspirou eventos de espiritualidade, sobretudo o “Tempo da Criação” que acontece de 1° de setembro, o Dia Mundial de Oração pela Salvaguarda da Criação, a 4 de outubro, a festa de São Francisco. Possibilitou a instituição da Semana Laudato si’, este ano agendada de 22 a 29 de maio; alimentou a música, a arte, a cultura e até mesmo o cinema. “Fazemos parte de uma única família humana, chamados a viver numa casa comum da qual, juntos, constatamos a preocupante degradação”, foram as palavras do Papa Francisco no texto entregue aos ambientalistas franceses, que ele encontrou em 3 de setembro de 2020, mas, acrescentou, “É gratificante saber que uma tomada de consciência sobre a urgência da situação já é sentida um pouco em toda a parte, que o tema da ecologia permeia cada vez mais os modos de pensar, a todos os níveis, e começa a influenciar as opções políticas e econômicas, embora ainda haja muito a fazer”.

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração na Audiência Geral desta quarta-feira (11/11), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico, por causa da pandemia de coronavírus.

O Pontífice iniciou, dizendo que alguém lhe disse que ele fala muito sobre a oração, que não é necessário. “Sim é necessário”, disse o Papa, “porque se não rezarmos não teremos a força para ir em frente na vida. A oração é como o oxigênio na vida. A oração é atrair sobre nós a presença do Espírito Santo que nos faz ir adiante sempre. Por isso, eu falo muito sobre a oração”.

Oração praticada com perseverança

“Jesus deu exemplo de uma oração contínua, praticada com perseverança. O diálogo constante com o Pai, no silêncio e no recolhimento, é o fulcro de toda a sua missão”, disse o Pontífice, recordando “três parábolas contidas no Evangelho de Lucas que sublinham esta característica da oração”.

“A oração deve ser antes acima de tudo tenaz”, frisou o Papa“como o personagem da parábola que, tendo que receber um hóspede que chegou de repente, no meio da noite, vai bater à porta de um amigo e pede-lhe pão. O amigo responde “não!”, porque já está na cama, mas ele insiste, e insiste a ponto de o obrigar a levantar-se e a dar-lhe. Um pedido tenaz!”.

Mas Deus é mais paciente do que nós, e quem bate à porta do seu coração com fé e perseverança não fica desiludido. Deus responde sempre. Sempre! O nosso Pai sabe bem do que precisamos; a insistência não serve para o informar ou convencer, mas para alimentar o desejo e a expectativa em nós.

A segunda parábola é a da viúva que se dirige ao juiz para que a ajude a obter justiça. Este juiz é um homem sem escrúpulos, mas no final, exasperado pela insistência da viúva, decide contentá-la. Esta parábola nos faz compreender que a fé não é o impulso de um momento, mas uma disposição corajosa para invocar Deus, até para “discutir” com Ele, sem se resignar ao mal e à injustiça.

Quem reza nunca está sozinho

A terceira parábola apresenta um fariseu e um publicano que vão ao Templo para rezar. O primeiro dirige-se a Deus gabando-se dos próprios méritos; o outro sente-se indigno até de entrar no santuário. Contudo, Deus não ouve a oração dos soberbos, mas atende a dos humildes. Não há verdadeira oração sem espírito de humildade. Não há oração verdadeira sem espírito de humildade. É a humildade que nos impele a orar.

O ensinamento do Evangelho é claro: é preciso rezar sempre, até quando tudo parece vão, quando Deus nos parece surdo e mudo, e que perdemos tempo. Mesmo que o céu se ofusque, o cristão não deixa de rezar. A sua oração anda de mãos dadas com a fé. E a fé, em muitos dias da nossa vida, pode parecer uma ilusão, uma labuta estéril. Existem momentos escuros em nossas vidas e ali a fé parece uma ilusão, mas praticar a oração significa também aceitar esta dificuldade. “Padre, eu rezo mas não sinto nada. Me sinto com o coração árido, seco. Não sei”. Mas devemos ir adiante com essa fadiga dos momentos ruins, momentos em que não sentimos nada. Muitos santos e santas viveram a noite da fé e o silêncio de Deus, quando nós batemos, batemos e Deus não responde, e esses santos foram perseverantes.

Segundo o Papa, “nestas noites de fé, quem reza nunca está sozinho. Na verdade, Jesus não é apenas testemunha e mestre de oração, é muito mais. Ele nos acolhe na sua oração, para podermos rezar n’Ele e através d’Ele. E isto é obra do Espírito Santo. É por este motivo que o Evangelho nos convida a rezar ao Pai em nome de Jesus. São João relata estas palavras do Senhor: «O que vocês pedirem ao Pai em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho».” A oração de Jesus “dá as asas que a oração do homem sempre desejou possuir”.

O Espírito Santo reza em nós

A seguir, o Pontífice recordou as palavras do Salmo 90-91, “carregadas de confiança, que brotam de um coração que espera tudo de Deus: «Ele o cobrirá com as suas penas, e debaixo de suas asas você encontrará refúgio. A sua fidelidade é escudo e couraça. Você não temerá o terror da noite, nem a flecha que voa de dia, nem a peste que caminha nas trevas, nem o mal que devasta ao meio-dia».”

É em Cristo que esta maravilhosa oração se cumpre, é n’Ele que encontra a sua verdade plena. Sem Jesus, as nossas orações correriam o risco de se reduzir a esforços humanos, na maioria das vezes destinados ao fracasso. Mas Ele tomou sobre si cada grito, cada gemido, cada júbilo, cada súplica, cada prece humana. Não nos esqueçamos o Espírito Santo. O Espírito Santo reza em nós. É Ele que nos impele a rezar, nos leva a Jesus, é o dom que o Pai e o Filho nos deram para ir ao encontro de Deus. Quando nós rezamos é o Espírito Santo que reza em nossos corações.

“Cristo é tudo para nós, inclusive na nossa vida de oração”, disse Francisco. Santo Agostinho resume admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus, que também encontramos no Catecismo da Igreja Católica: «sendo o nosso Sacerdote, ora por nós; sendo a nossa Cabeça, ora em nós; e sendo o nosso Deus, a Ele oramos. Reconheçamos, pois, n’Ele a nossa voz e a voz d’Ele em nós». “É por isso que o cristão reza, nada teme! Confia no Espírito Santo que nos foi dado como dom que reza em nós e nos conduz à oração. Que seja o mesmo Espírito Santo, mestre de oração, a nos ensinar o caminho da oração”, concluiu o Papa.

Vatican News

A Solenidade do Perdão de Assis, que se celebra neste domingo, esteve nas palavras do Papa nas saudações do pós-Angelus, quando recordou que ao longo do dia de hoje os fiéis poderão receber a indulgência plenária, a absolvição por seus pecados, “o dom espiritual que São Francisco obteve de Deus por intercessão da Virgem Maria”:

“Trata-se de uma indulgência plenária que pode ser recebida aproximando-se dos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia e visitando uma igreja paroquial ou franciscana, recitando o Credo, o Pai Nosso e rezando pelo Papa e pelas suas intenções. A indulgência também pode ser destinada a uma pessoa falecida. Como é importante colocar ao centro o perdão de Deus, que “gera paraíso” em nós e ao nosso redor! Este perdão que vem do coração de Deus é misericoridioso”.

Apelo pelo trabalho

Francisco dirigiu-se então aos presentes na recitação do Angelus, romanos e peregrinos, para desejar-lhes, e a todas as pessoas que seguiam o Angelus através dos meios de comunicação, de transcorrer um período de férias marcado pela natureza e espiritualidade, lançando ao mesmo tempo um apelo às instituições, para que não se esqueçam de salvaguardar os empregos:

“Espero que durante este período muitos possam viver alguns dias de descanso e contato com a natureza, nos quais possam recarregar também sua dimensão espiritual. Ao mesmo tempo, faço votos de que, com os esforços convergentes de todos os líderes políticos e econômicos, o trabalho seja relançado: sem trabalho, as famílias e a sociedade não podem ir avante. Rezemos por isso, porque é e será um problema do pós-pandemia, a pobreza e falta de trabalho e é preciso muita solidariedade e muita criatividade para resolver este problema”.

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No dia 30 de junho de 40 anos atrás, em 1980, o solo de Brasília foi beijado por São João Paulo II, para a primeira das quatro visitas que o Papa polonês realizou ao Brasil no decorrer do seu pontificado.

“Abraço neste momento – ao menos em espírito – cada pessoa que vive nesta pátria brasileira. O Papa pensa em cada um. Ele ama a todos e a todos envia um cumprimento bem brasileiro: “um abraço!”.Com este gesto de amizade, recebei os meus votos de felicidades: Deus abençoe o vosso Brasil. Deus abençoe a todos vós, brasileiros, com a paz e a prosperidade, a serena concórdia na compreensão e na fraternidade. Sob o olhar materno e a proteção de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil!”

Brasil de ponta a ponta

Estas foram as suas palavras no discurso de boas-vindas – o primeiro de 48 pronunciamentos.

Aliás, os números e o fôlego de Karol Wojtyla impressionam. Em 13 dias (a viagem se concluiu em 12 de julho), ele cruzou o Brasil de norte a sul, percorrendo quase 15 mil quilômetros. Além de Brasília, esteve em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Teresina, Belém, Fortaleza e Manaus, de onde se despediu do país.

Ninguém ficou de fora: o Papa se reuniu com autoridades – o presidente na época era João Figueiredo -, corpo diplomático, seminaristas, religiosas, religiosos, sacerdotes, bispos. Visitou pontos turísticos, como o Corcovado, penitenciárias, leprosários, favelas. Manteve encontros com a comunidade judaica, polonesa, com ortodoxos, homens da cultura, operários, estudantes, líderes das Comunidades Eclesiais de Base e indígenas

Abrir as portas a Cristo

Mas mais do que os números, ficaram indeléveis as palavras e, sobretudo, os gestos de afeto para com o brasileiro.

“Aprendi, por exemplo, que “quem parte leva saudades”. Devo confessar que já estou sentindo o que significa este ditado. Mas, com a saudade do Brasil, levo também no coração uma imensa alegria e a mais grata satisfação, por tudo aquilo que me foi dado ver, comungar e viver convosco, nestes dias da minha permanência entre vós.”

“E agora posso confiar-vos um desejo? Que as vossas portas que se abriram para mim com amor e confiança, permaneçam largamente abertas para Cristo. Será minha alegria plena.”

Dom Walmor de Azevedo, arcebispo de Belho Horizonte e Presidente da CNBB:

“Celebrar os 40 anos da primeira visita de São João Paulo II ao Brasil, é celebrar memórias muito profundas, tocantes e sustentadoras do caminho missionário da nossa Igreja. Lembro-me com alegria emoção e gratidão a visita”.

O testemunho de dom Walmor:

Ouça dom Walmor

Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro

“Neste dia 30 de junho comemoramos os 40 anos da chegada do primeiro Papa em terras brasileiras. São João Paulo II ficou aqui 12 dias. Ele passou por diversas cidades e capitais do Brasil. Eu tive a oportunidade de celebrar no local que el celebrou em Belém do Pará, quando estive em Belém. Ficou marcante na minha memória, eu ainda não era bispo, a música a bênção João de Deus, e a sua visita ao Rio de Janeiro à favela do Vidigal”.

Vatican News

Através de um comunicado, a Esmolaria Apostólica faz saber que nas últimas semanas, através das Nunciaturas Apostólicas, o Papa Francisco doou 35 respiradores. Os equipamentos chegaram aos países do mundo em maior dificuldade, os gravemente atingidos pela pandemia e com os sistemas de saúde mais críticos, representando a proximidade concreta e o amor paterno de Francisco.

Máquinas para salvar vidas

Trata-se de respiradores cruciais para salvar a vida dos pacientes com formas graves da Covid-19. Nos últimos meses ouvimos falar deles continuamente, porque o número de pessoas que precisavam desses equipamentos foi, em todos os lugares, maior do que a disponibilidade dessas máquinas que basicamente, através da ventilação mecânica, ajudam os pacientes com insuficiência respiratória, um dos sintomas mais graves do coronavírus.

América e África

Na lista detalhada fornecida pela Esmolaria, passamos do continente americano para a África, até chegar à Europa e Ásia. Quatro respiradores foram enviados para o Haiti e dois para a República Dominicana e Bolívia, enquanto 4 chegaram ao Brasil, ao qual Francisco assegurou suas orações, fazendo-se presente três vezes por telefone aos bispos e recomendando-lhes que se confiassem a Nossa Senhora Aparecida. O Brasil atualmente é um dos países mais críticos por causa da difusão do vírus: 55 mil vítimas, mais de 1 milhão de casos confirmados, o pior balanço depois dos Estados Unidos, onde há quase 2 milhões e quinhentos mil casos e 124 mil mortos.

Europa e Ásia

Três respiradores chegaram à Colômbia e 2 ao Equador, com mais de 4.300 contagiados. Os equipamentos foram entregues pelo Núncio Apostólico ao Ministro da Saúde Pública para o hospital “Eugenio Espejo”, em Quito, onde o gesto foi visto pela população como “um bálsamo”, segundo informou o representante da Santa Sé e arcebispo da cidade, dom Andrés Carrascosa Coso. Outros 3 respiradores chegaram a Honduras, o mesmo número ao México e 4 à Venezuela, onde a crise de saúde se associa a uma situação social e econômica difícil. Depois a África: no continente, a carícia e a proximidade do Papa chegou aos Camarões e ao Zimbabué com 4 respiradores no total, depois a Ásia com 2 respiradores para o Bangladesh, e por fim à Europa com 2 respiradores para a Ucrânia, onde se contam agora mais de mil vítimas.

Nestes meses de pandemia, tem se registrado um grande esforço dos voluntários da Unitalsi para permanecer junto às pessoas. Com um gesto, um telefonema, através de uma mensagem de conforto e esperança.

Unitalsi ao lado dos doentes

É a proximidade, aquela que o Papa Francisco tantas vezes ressaltou a sua importância. Hoje, a Unitalsi reacende os motores também para as peregrinações, como aquela de Lourdes, em agosto, cujo programa promete mais uma vez o máximo compromisso para satisfazer os pedidos de tantos doentes. A solidariedade se torna concreta, portanto, além das contingências do momento, na firme convicção de que há muitas maneiras de financiar os projetos. Entre eles, inclusive o leilão beneficente para os pequenos pacientes do Gemelli de Roma.

Um gesto de amor e caridade

A presidente da Seção de Roma e Lazio da Unitalsi, Preziosa Terrinoni, lembra que “o Santo Padre sempre esteve perto das crianças e, além de se entreter com elas cada vez que visitou a estrutura, alguns anos atrás também quis recebê-las em visita particular no Vaticano”. Nem mesmo o Papa jamais esqueceu daquele dia memorável passado junto às crianças da unidade de oncologia do Gemelli. De fato, nos últimos dias, “ele pensou nelas doando uma bicicleta elétrica de última geração”.

As crianças em peregrinação a Lourdes

O secretário particular do Papa, Mons. Yoannis Lahzi Gaid, fez a intermediação e entregou o presente aos responsáveis da Seção de Roma e Lazio da Unitalsi para transformá-lo em um instrumento de solidariedade. De fato, a bicicleta elétrica será leiloada no portal da Unitalsi, onde foi criada uma página especial que explica as características técnicas da bicicleta e as modalidades para participar do leilão beneficente.

A renda será doada às crianças internadas no Policlínico Gemelli, de Roma, para dar aos pequenos a experiência da peregrinação, caracterizada pela amizade, fé e partilha.

Pe. Gianni Toni, assistente da seção de Roma e Lazio da Unitalsi, em entrevista ao Vatican News, afirma que, com esse presente, “o Papa Francisco também deu um apoio psicológico aos voluntários, nos disse para recomeçar e fez isso nos dando um estímulo para voltar a caminhar, apoiando-nos. Para nós é como se dissesse ‘caminho com vocês’ e isso é muito importante”.

O sacerdote ressalta que, nestes meses, nunca pararam as atividades, já que os voluntários têm estado incessantemente próximos aos doentes de diferentes maneiras. Pe. Gianni finaliza, ao lembrar as palavras do Papa:

“Não há maior poder do que o serviço. Servir o irmão significa estar a seu lado, tornar humana a rotina do dia a dia.”

Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com o tema da oração na Audiência Geral desta quarta-feira (24/06), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

Na catequese de hoje, o Pontífice abordou o tema da “A oração de Davi”, “predileto de Deus desde menino, escolhido para uma missão única, que assumirá um papel central na história do povo de Deus e da nossa fé”.

Nos Evangelhos, Jesus é chamado várias vezes “filho de Davi” e  como ele, nasce em Belém. Segundo as promessas, da descendência de Davi vem o Messias: “Um Rei totalmente segundo o coração de Deus, em perfeita obediência ao Pai, cuja ação cumpre fielmente o seu plano de salvação”.

Davi é um pastor

A história de Davi começa nas colinas ao redor de Belém, onde apascenta o rebanho de seu pai, Jessé. É ainda um rapaz, o último de muitos irmãos. Por ordem de Deus, o Profeta Samuel vai em busca do novo rei. Davi trabalhava ao ar livre e confortava a sua alma tocando harpa. “Nos longos dias de solidão gostava de tocar e cantar ao seu Deus. Brincava também com a funda”, disse o Papa, acrescentando:

Portanto, em primeiro lugar Davi é um pastor: um homem que cuida dos animais, que os defende quando surge o perigo, que lhes dá o sustento. Quando Davi, por vontade de Deus, tiver que se preocupar pelo povo, não realizará ações muito diferentes destas. É por isso que na Bíblia a imagem do pastor é muito recorrente. Também Jesus se define “o bom pastor”, o seu comportamento é diferente daquele do mercenário; oferece a sua vida pelas ovelhas, guia-as, sabe o nome de cada uma delas.

Dimensão poética

Davi aprendeu muito da sua primeira profissão. “Quando o profeta Natã o repreenderá pelo seu gravíssimo pecado, Davi compreenderá imediatamente que tinha sido um mau pastor, que roubara de outro homem a única ovelha que ele amava, que já não era um servo humilde, mas um homem doente de poder, um caçador furtivo que mata e saqueia”, sublinhou Francisco.

A seguir, o Pontífice destacou o segundo traço característico presente na vocação de Davi: o seu espírito de poeta. “Desta pequena observação deduzimos que Davi não era um homem vulgar, como muitas vezes pode acontecer com indivíduos obrigados a viver por muito tempo isolados da sociedade. Ao contrário, é uma pessoa sensível, que gosta da música e do canto. A harpa o acompanhará sempre: para elevar um hino de alegria a Deus,  para expressar um lamento, ou para confessar o próprio pecado.”

O mundo que se apresenta aos seus olhos não é uma cena silenciosa: o seu olhar capta, por detrás do desenrolar dos acontecimentos, um mistério maior. A oração nasce precisamente dali: da convicção de que a vida não é algo que passa por nós, mas um mistério surpreendente, que em nós suscita a poesia, a música, a gratidão, o louvor, ou a lamentação e a súplica. Quando uma pessoa não tem essa dimensão poética, quando lhe falta a poesia, a sua alma manca. Portanto, segundo a tradição Davi é o grande artífice da composição dos salmos. No início fazem frequentemente referência explícita ao rei de Israel e a alguns dos acontecimentos mais ou menos nobres da sua vida.

Oração, voz que nunca se apaga

“Davi tem um sonho: ser um bom pastor”, disse o Papa. “Às vezes conseguirá estar à altura desta tarefa, outras vezes, não; mas o que importa, no contexto da história da salvação, é que ele representa a profecia de outro Rei, do qual é apenas anúncio e prefiguração”, sublinhou Francisco.

“Olhemos para Davi, pensemos a Davi. Santo e pecador, perseguido e perseguidor, vítima e carnífice também. É uma contradição. Davi era tudo isso, junto”, disse o Pontífice, ressaltando que “também nós, na nossa vida, temos traços frequentemente opostos. Na trama da vida, todos os homens pecam muitas vezes de incoerência. Na vida de Davi existe apenas um fio condutor que confere unidade a tudo o que acontece: a sua oração. Esta é a voz que nunca se apaga”.

“Davi Santo, reza. Davi pecador, reza. Davi perseguido, reza. Davi perseguidor, reza. Davi vítima, reza. Até Davi, carnífice, reza. Este é o fio condutor de sua vida. Um homem de oração. Essa é a voz que nunca se apaga: quer assuma os tons do júbilo, quer os da lamentação, é sempre a mesma oração, só muda a melodia. Agindo assim, Davi nos ensina a deixar que tudo faça parte do diálogo com Deus: tanto a alegria como a culpa, o amor como o sofrimento, a amizade como a doença. Tudo pode tornar-se palavra dirigida ao “Tu” que nos ouve sempre”, frisou ainda o Papa.

Davi é nobre porque reza

Davi, que conheceu a solidão, na verdade, nunca esteve sozinho! E no fundo este é o poder da oração, em todos aqueles que lhe dão espaço na própria vida: A oração dá a você nobreza, e Davi é nobre porque reza. É um carnífice que reza, se arrepende e a nobreza retorna da oração. A oração nos dá nobreza: ela é capaz de assegurar a relação com Deus, que é o verdadeiro Companheiro de caminho do homem, no meio das numerosas provações da vida.

“Boas ou más, mas sempre a oração. Obrigado, Senhor. Tenho medo, Senhor. Ajuda-me, Senhor. Perdoa-me, Senhor. A confiança de Davi é tão grande que, quando ele foi perseguido e teve que fugir, ele não deixou ninguém defendê-lo: “Se meu Deus me humilha assim, Ele sabe”, porque a nobreza da oração nos deixa nas mãos de Deus. Aquelas mãos chagadas de amor e as únicas mãos seguras que temos”, concluiu Francisco.

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“A Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós.” No dia em que a Itália celebra a Solenidade de Corpus Christi, o Papa Francisco presidiu à missa na Basílica de São Pedro, com a participação de cerca de 50 fiéis.

A homilia do Pontífice foi inspirada no seguinte versículo extraído do Deuteronômio: «Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer» (Dt 8, 2). As palavras do Papa, portanto, falam de memória: memória de quem somos e do que devemos fazer.

Fazei isto em memória de Mim

Para Francisco, é essencial recordar o bem recebido: se o não conservamos na memória, tornamo-nos estranhos a nós mesmos, meros «passantes» pela existência. Pelo contrário, fazer memória é amarrar-se aos laços mais fortes, sentir-se parte duma história transmitida de geração em geração.

Nossa memória é frágil, recordou o Papa, por isso Deus nos deixou um memorial. Não nos deixou apenas palavras, mas nos deu um Alimento: a Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós. “Fazei isto em memória de Mim.

A Eucaristia cura a nossa memória ferida e órfã. Introduz em nossa memória um amor maior: o Dele. Cura também aquilo que o Pontífice chamou de “nossa memória negativa”, isto é, pensar de que não servimos para nada, que só cometemos erros.

“O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade; são doenças, infeções. E Ele vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para a nossa memória doente de negativismo. Com Jesus, podemos imunizar-nos contra a tristeza.”

Somos portadores de Deus

Os problemas cotidianos não desaparecem, mas o seu peso deixará de nos esmagar, porque, na profundidade de nós mesmos, temos Jesus que nos encoraja com o seu amor.

“Aqui está a força da Eucaristia, que nos transforma em portadores de Deus.” Justamente por isso, ao sair da missa, não podemos continuar a reclamar, a criticar e a nos lamentar, pois a alegria do Senhor muda a vida.

Enfim a Eucaristia cura a nossa memória fechada. Se no início somos medrosos e desconfiados, aos poucos nos tornamos cínicos e indiferentes, agindo com insensibilidade e arrogância.

“Só o amor cura o medo pela raiz, e liberta dos fechamentos que aprisionam. É assim que faz Jesus, vindo ter conosco com mansidão, na fragilidade desarmante da Hóstia; assim faz Jesus, Pão partido para romper a carapaça dos nossos egoísmos.”

Eis o convite a não desperdiçar a vida, correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e deixam o vazio dentro. “A Eucaristia apaga em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir.” Somos as mãos de Deus para saciar o próximo e juntos devemos formar correntes de solidariedade:

“Agora é urgente cuidar de quem tem fome de alimento e dignidade, de quem não trabalha e tem dificuldade em seguir para diante. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá.”

Por fim, uma recomendação: “Queridos irmãos e irmãs, continuemos a celebrar o Memorial que cura a nossa memória: a Missa. É o tesouro que deve ocupar o primeiro lugar na Igreja e na vida. E, ao mesmo tempo, redescubramos a adoração, que continua em nós a ação da Missa”.

A cerimônia se concluiu com a exposição do Santíssimo, com o qual o Pontífice concedeu a sua bênção.

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O Papa Francisco falou aos jovens de Cracóvia na videomensagem por ocasião do centenário de nascimento de São João Paulo II, celebrado nesta segunda-feira (18/05). A mensagem de vídeo foi transmitida pela televisão estatal Telewizja Polska para toda a Polônia.

Francisco recorda que esta é uma bela ocasião para ele se dirigir aos jovens de Cracóvia, pensando no quanto Karol Wojtyla amava os jovens, e lembrando sua viagem apostólica à Polônia, em 2016, para a Jornada Mundial da Juventude.

“São João Paulo II foi um extraordinário dom de Deus à Igreja e à Polônia, sua pátria. A sua peregrinação terrena foi marcada pela paixão pela vida e pelo fascínio pelo mistério de Deus, do mundo e do ser humano”, ressalta o Papa.

João Paulo II,  “um grande da misericórdia”

Francisco lembra o pontífice polonês “como um grande da misericórdia” e pensa “na Encíclica Dives in Misericordia, na canonização de Santa Faustina e na instituição do Domingo da Divina Misericórdia”.

“À luz do amor misericordioso de Deus ele compreendeu a especificidade e a beleza da vocação de mulheres e homens, compreendeu as necessidades das crianças, dos jovens e adultos, considerando também os condicionamentos culturais e sociais”, disse Francisco, convidando os jovens a experimentar o amor misericordioso de Deus, conhecendo a vida e os ensinamentos do Papa Wojtyla, disponíveis a todos na internet.

“Cada um de vocês, queridos jovens, carrega a marca de sua família, com suas alegrias e tristezas. O amor e o cuidado da família são um traço característico de João Paulo II. O seu ensinamento é um ponto de referência seguro para encontrar soluções concretas para as dificuldades e desafios que as famílias enfrentam em nossos dias.”

“Os problemas pessoais e familiares não são um obstáculo no caminho da santidade e da felicidade. Nem foram para o jovem Karol Wojtyła, que sofreu a perda de sua mãe, do irmão e do pai quando era garoto. Como estudante, viveu as atrocidades do nazismo, que lhe tirou muitos amigos. Depois da guerra, como sacerdote e bispo, teve que enfrentar o comunismo ateu”, disse ainda o Papa.

Caminhar corajosamente com Jesus

“As dificuldades, mesmo duras, são uma prova de maturidade e fé; prova que só pode ser superada baseando-se na potência de Cristo morto e ressuscitado. João Paulo II lembrou isso a toda a Igreja desde a sua primeira Encíclica Redemptor hominis, onde diz: «O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente […] deve, com a sua inquietude, incerteza e também com a sua fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Ele deve, por assim dizer, entrar n’Ele com tudo o que é em si mesmo».”

O Papa conclui a mensagem de vídeo, pedindo aos jovens para “entrar em Cristo com toda a sua vida” e desejando que as celebrações do centenário do nascimento de São João Paulo II inspire neles “o desejo de caminhar corajosamente com Jesus, que é «o Senhor do risco, é o Senhor do sempre “além” (…). Como em Pentecostes, o Senhor quer realizar um dos maiores milagres que podemos experimentar: fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformem em sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer as tuas mãos, jovens, quer as tuas mãos, para continuar construindo o mundo de hoje»”.

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Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quinta-feira, 14 de maio, data em que a Igreja celebra em seu calendário litúrgico a Festa de São Matias Apóstolo. Na introdução, recordou o Dia mundial de oração, jejum e obras de caridade, promovido pelo Alto Comitê da Fraternidade Humana, e encorajou todos a se unirem como irmãos, para pedir a libertação deste mal:

O Alto Comitê para a Fraternidade Humana convocou para hoje um dia de oração, jejum para pedir a Deus misericórdia e piedade neste momento trágico da pandemia. Todos somos irmãos. São Francisco de Assis dizia: “Todos irmãos”. E por isto, homens e mulheres de todas as confissões religiosas hoje nos unimos na oração e na penitência para pedir a graça da cura desta pandemia.

Na homilia, o Papa comentou a primeira leitura, extraída do Livro de Jonas, em que o profeta convida o povo de Nínive a converter-se para não sofrer a destruição da cidade. Nínive se converteu e a cidade foi salva de alguma pandemia, talvez “uma pandemia moral”, observou o Santo Padre. “E hoje – ressaltou – todos nós, irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas, rezamos: dia de oração e de jejum, de penitência, convocado pelo Alto Comitê para a Fraternidade Humana. Cada um de nós reza, as comunidades rezam, as confissões religiosas rezam: rezam a Deus, todos irmãos, unidos na fraternidade que nos une neste momento de dor e de tragédia.”

“Nós não esperávamos esta pandemia, veio sem que nós a esperássemos, mas agora está aí. E muitas pessoas morrem. E muitas pessoas morrem sozinhas e muita gente morre sem poder fazer nada. Muitas vezes se pode pensar: ‘Não me diz respeito, graças a Deus me salvei’. Mas pense nos outros! Pense na tragédia e também nas consequências econômicas, nas consequências sobre a educação” e “naquilo que virá depois. E por isso hoje, todos, irmãos e irmãs, de toda e qualquer confissão religiosa, rezemos a Deus”.

“Talvez – observou o Papa – alguém possa dizer:  ‘Mas isso é relativismo religioso e não se pode fazer’. Como não se pode fazer, rezar ao Pai de todos? Cada um reza como sabe, como pode”, segundo a própria cultura. “Nós não estamos rezando um contra o outro, esta tradição religiosa contra aquela, não! Estamos todos unidos como seres humanos, como irmãos, rezando a Deus, segundo a própria cultura, segundo a própria tradição, segundo os próprios credos, mas irmãos rezando a Deus, isso é importante: irmãos, fazendo jejum, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, para que o Senhor tenha misericórdia de nós, para que o Senhor nos perdoe, para que o Senhor detenha esta pandemia. Hoje é um dia de fraternidade, olhando para o único Pai, irmãos e paternidade. Dia de oração.”

Esta pandemia – disse Francisco – “veio como um dilúvio, veio abruptamente. Agora estamos nos acordando um pouco. Mas existem tantas outras pandemias que fazem as pessoas morrer e não nos damos conta disso, olhamos para outro lado. Somos um pouco inconscientes diante das tragédias que se verificam no mundo neste momento”.

O Papa citou uma estatística oficial, que não fala da pandemia do coronavírus, mas de outra pandemia: “Nos primeiros quatro meses deste ano morreram de fome 3 milhões e 700 mil pessoas. Existe a pandemia da fome. Em quatro meses, quase 4 milhões de pessoas. Esta oração de hoje para pedir que o Senhor detenha esta pandemia nos deve levar a pensar nas outras pandemias do mundo. Há muitas pandemias! A pandemia das guerras, da fome e muitas outras. Mas o importante é que, hoje, juntos e graças à coragem que o Alto Comitê para a Fraternidade Humana teve, juntos fomos convidados a rezar cada um segundo a própria tradição e a fazer um dia de penitência de jejum e também de caridade, de ajuda aos outros. Isso é importante. No livro de Jonas ouvimos que o Senhor, quando viu como o povo tinha reagido – tinha se convertido –, o Senhor cessou, desistiu daquilo que Ele queria fazer”.

“Que Deus detenha esta tragédia – foi a oração do Papa Francisco –, que detenha esta pandemia. Que Deus tenha piedade de nós e que cesse também as outras pandemias tão ruins: a da fome, a da guerra, a das crianças sem instrução. E peçamos isso como irmãos, todos juntos. Que Deus nos abençoe a todos e tenha piedade de nós.”

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Na primeira Leitura ouvimos a história de Jonas, num estilo da época. Como havia “alguma pandemia”, não sabemos, na cidade de Nínive, talvez uma “pandemia moral”, (a cidade) estava para ser destruída (conf. Jn 3,1-10). E Deus manda Jonas pregar: oração e penitência, oração e jejum (conf. vers. 7-8). Diante daquela pandemia, Jonas se assustou e fugiu (conf. Jn 1,1-3). Depois o Senhor o chamou pela segunda vez e ele aceitou ir pregar isso (conf. Jn 3,1-2). E hoje todos nós, irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas, rezamos: dia de oração e de jejum, de penitência, convocado pelo Alto Comitê para a Fraternidade Humana. Cada um de nós reza, as comunidades rezam, as confissões religiosas rezam, rezam a Deus: todos irmãos, unidos na fraternidade que nos une neste momento de dor e de tragédia.

Nós não esperávamos esta pandemia, veio sem que nós a esperássemos, mas agora está aí. E muitas pessoas morrem. E muitas pessoas morrem sozinhas e muita gente morre sem poder fazer nada. Muitas vezes se pode pensar: “Não me diz respeito, graças a Deus me salvei”. Mas pense nos outros! Pense na tragédia e também nas consequências econômicas, nas consequências sobre a educação, as consequências… naquilo que virá depois. E por isso hoje, todos, irmãos e irmãs, de toda e qualquer confissão religiosa, rezemos a Deus. Talvez alguém possa dizer:  “Isso é relativismo religioso e não se pode fazer”. Como não se pode fazer, rezar ao Pai de todos? Cada um reza como sabe, como pode, como recebeu da própria cultura. Nós não estamos rezando um contra o outro, esta tradição religiosa contra aquela, não! Estamos todos unidos como seres humanos, como irmãos, rezando a Deus, segundo a própria cultura, segundo a própria tradição, segundo os próprios credos, mas irmãos rezando a Deus, isso é importante! Irmãos, fazendo jejum, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, para que o Senhor tenha misericórdia de nós, para que o Senhor nos perdoe, para que o Senhor detenha esta pandemia. Hoje é um dia de fraternidade, olhando para o único Pai, irmãos e paternidade. Dia de oração.

Nós, no ano passado, aliás, em novembro do ano passado, não sabíamos o que era uma pandemia: veio como um dilúvio, veio abruptamente. Agora estamos nos acordando um pouco. Mas existem tantas outras pandemias que fazem as pessoas morrer e não nos damos conta disso, olhamos para outro lado. Somos um pouco inconscientes diante das tragédias que se verificam no mundo neste momento. Gostaria simplesmente de citar a vocês uma estatística oficial dos primeiros quatro meses deste ano, que não fala da pandemia do coronavírus, fala de outra. Nos primeiros quatro meses deste ano morreram de fome 3 milhões e 700 mil pessoas. Existe a pandemia da fome. Em quatro meses, quase 4 milhões de pessoas. Esta oração de hoje para pedir que o Senhor detenha esta pandemia nos deve levar a pensar nas outras pandemias do mundo. Há muitas pandemias! A pandemia das guerras, da fome e muitas outras. Mas o importante é que, hoje – juntos e graças à coragem que o Alto Comitê para a Fraternidade Humana teve, juntos fomos convidados a rezar cada um segundo a própria tradição e a fazer um dia de penitência de jejum e também de caridade, de ajuda aos outros. Isso é importante. No livro de Jonas ouvimos que o Senhor, quando viu como o povo tinha reagido – que tinha se convertido –, o Senhor cessou, desistiu daquilo que Ele queria fazer.

Que Deus detenha esta tragédia, que detenha esta pandemia. Que Deus tenha piedade de nós e que cesse também as outras pandemias tão ruins: a da fome, a da guerra, a das crianças sem instrução. E peçamos isso como irmãos, todos juntos. Que Deus nos abençoe a todos e tenha piedade de nós.

O Papa convidou a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:

Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. No final da Missa, o Papa agradeceu a Tommaso Pallottino, o técnico de som do Dicastério para a Comunicação que o acompanhou nestas transmissões ao vivo e hoje era seu último dia de trabalho antes da aposentadoria: “Que o Senhor – pediu o Santo Padre – o abençoe e o acompanhe na nova etapa da vida”. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Vatican News

Neste 13 de maio, Festa litúrgica de Nossa Senhora de Fátima, o Papa Francisco quis “aproximar-se com o coração da Diocese de Fátima, ao Santuário”. Dirigindo-se aos peregrinos de língua portuguesa na Audiência Geral, assim falou:

Saúdo os ouvintes de língua portuguesa e, neste dia treze de maio, a todos encorajo a conhecer e seguir o exemplo da Virgem Maria. Para isso procuremos viver este mês com uma oração diária mais intensa e fiel, em particular rezando o terço, como recomenda a Igreja, obedecendo a um desejo repetidamente expresso em Fátima por Nossa Senhora. Sob a sua proteção, vereis que os sofrimentos e as aflições da vida vos farão menos mal.  Gostaria de aproximar-me com o coração à Diocese de Fátima, ao Santuário de Nossa Senhora, hoje. Saúdo todos os peregrinos que rezam diariamente, saúdo o cardeal bispo, saúdo todos. Todos unidos com Nossa Senhora, que nos acompanhe neste caminho de conversão diária a Jesus. Que Deus vos abençoe!

Também ao saudar os poloneses, Francisco convidou a recordar das mensagens da Virgem de Fátima dirigidas ao mundo:

“Hoje celebramos a memória litúrgica da Nossa Senhora de Fátima. Voltemos com o pensamento às suas aparições e sua mensagem transmitida ao mundo, bem como ao atentado contra São João Paulo II, que na salvação de sua vida viu a intervenção materna da Santa Virgem. Em nossas orações, peçamos a Deus, pela intercessão do Imaculado Coração de Maria, pela paz para o mundo, o fim da pandemia, o espírito de penitência e nossa conversão”.

São João Paulo II ajude a conversão da Igreja de Roma

O Pontífice recordou ainda, que na próxima segunda-feira será celebrado o centésimo aniversário de nascimento de São João Paulo II:

Celebrarei a Missa às 7 horas da manhã, em frente ao altar do túmulo, e será transmitida em Mundovisão para todos. Agradeçamos a Deus por nos ter dado esse bispo para Roma, Santo bispo, e peçamos que ele nos ajude: que ajude esta Igreja de Roma a se converter e seguir em frente.

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Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta na manhã desta segunda-feira (11/05) da V Semana da Páscoa. Na introdução, recordou o 75º aniversário da descoberta do corpo de São Timóteo, encontrado na cripta da Catedral de Termoli – região italiana de Molise – durante os trabalhos de restauração em 1945, e dirigiu seu pensamento aos desempregados:

Unamo-nos aos fiéis de Termoli na festa da descoberta do corpo de São Timóteo hoje. Nestes dias, muitas pessoas perderam o emprego, não foram readmitidas, trabalhavam sem contrato. Rezemos por estes nossos irmãos e irmãs que sofrem com a falta de trabalho.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 14,21-26) em que Jesus diz a seus discípulos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. Mas o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”.

“É a promessa do Espírito Santo – disse o Papa –, o Espírito Santo que habita conosco e que o Pai e o Filho enviam” para “acompanhar-nos na vida”. É chamado Paráclito, isto é, Aquele que “sustenta, que acompanha para não cair, que lhe mantém firme, que é próximo de você para sustentá-lo. E o Senhor nos prometeu esse sustento, que é Deus como Ele: é o Espírito Santo. O que o Espírito Santo faz em nós? O Senhor o diz: “Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. Ensinar e recordar. Este é o ofício do Espírito Santo. Ensina-nos: nos ensina o mistério da fé, nos ensina a entrar no mistério, a entender um pouco mais o mistério, nos ensina a doutrina de Jesus e nos ensina como desenvolver a nossa fé sem errar, porque a doutrina cresce, mas sempre na mesma direção: cresce na compreensão. E o Espírito nos ajuda a crescer na compreensão da fé, compreendê-la mais e caminhar mais para compreender isso que a fé diz. A fé não é uma coisa estática; a doutrina não é uma coisa estática: cresce sempre, mas cresce “na mesa direção. E o Espírito Santo evita que a doutrina erre, evita que permaneça parada ali, sem crescer em nós. Ensinar-nos-á as coisas que Jesus nos ensinou, desenvolverá em nós a compreensão daquilo que Jesus nos ensinou, fará crescer em nós, até alcançar a maturidade, a doutrina do Senhor”.

E outra coisa que o Espírito Santo faz é recordar: “Recordará tudo o que eu vos tenho dito”. “O Espírito Santo é como a memória, nos desperta”, nos mantém sempre despertos “nas coisas do Senhor” e nos faz também recordar a nossa vida, quando encontramos o Senhor ou quando o deixamos.

O Papa recordou uma pessoa que rezava diante do Senhor do assim: “Senhor, eu sou o mesmo que quando criança, quando garoto, tinha esses sonhos. Depois, trilhei por caminhos errados. Agora me chamastes”. Essa – disse – “é a memória do Espírito Santo na própria vida. Leva-o à memória da salvação, à memória daquilo que Jesus ensinou, mas também à memória da própria vida”. Este – prosseguiu – é um modo bonito de rezar ao Senhor: “Sou o mesmo. Caminhei muito, errei bastante, mas sou o mesmo e vós me amais”. É “a memória do caminho da vida”.

“E nessa memória, o Espírito Santo nos guia; nos guia para discernir, para discernir o que devo fazer agora, qual é o caminho certo e qual é o errado, mesmo nas pequenas decisões. Se nós pedirmos a luz ao Espírito Santo, Ele nos ajudará a discernir para tomar as decisões acertadas, as pequenas de todos os dias e as maiores.” O Espírito Santo nos acompanha, nos sustenta no discernimento”, “nos ensinará todas as coisas, isto é, faz a fé crescer, nos introduz no mistério, o Espírito que nos recorda: nos recorda a fé, nos recorda a própria vida e o Espírito que neste ensinamento, nesta recordação, nos ensina a discernir as decisões que devemos tomar”. E os Evangelho dão um nome ao Espírito Santo, além de Paráclito, porque nos sustenta, “outro nome mais bonito: é o Dom de Deus. O Espírito é o Dom de Deus. O Espírito é propriamente o Dom: ‘Não vos deixareis sozinhos, vos enviarei um Paráclito que vos sustentará’ e nos ajudará a seguir adiante, a recordar, a discernir e a crescer. O Dom de Deus é o Espírito Santo”.

“Que o Senhor – foi a oração conclusiva do Santo Padre – nos ajude a custodiar esse Dom que Ele nos deu no Batismo e que todos temos dentro de nós.”

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

A passagem do Evangelho de hoje é a despedida de Jesus na Ceia (conf. Jo 14,21-26). O Senhor conclui com estes versículos: “Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. Mas o defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (vers. 25-26). É a promessa do Espírito Santo; o Espírito Santo que habita conosco e que o Pai e o Filho enviam. “O Pai enviará no meu nome”, disse Jesus, para acompanhar-nos na vida. E o chamam Paráclito. Esse é o ofício do Espírito Santo. Em grego, o Paráclito é aquele que sustenta, que acompanha para não cair, que lhe mantém firme, que é próximo de você para sustentá-lo. E o Senhor nos prometeu esse sustento, que é Deus como Ele: é o Espírito Santo. O que o Espírito Santo faz em nós? O Senhor o diz: “Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (vers. 26).

Ensinar e recordar. Este é o ofício do Espírito Santo. Ensina-nos: nos ensina o mistério da fé, nos ensina a entrar no mistério, a entender um pouco mais o mistério, nos ensina a doutrina de Jesus e nos ensina como desenvolver a nossa fé sem errar, porque a doutrina cresce, mas sempre na mesma direção: cresce na compreensão. E o Espírito nos ajuda a crescer na compreensão da fé, compreendê-la mais e caminhar para compreender isso que a fé diz. A fé não é uma coisa estática; a doutrina não é uma coisa estática: cresce. Cresce como as árvores crescem, sempre as mesmas, mas maiores, com fruto, mas sempre o mesmo, na mesma direção. E o Espírito Santo evita que a doutrina erre, evita que permaneça parada ali, sem crescer em nós. Ensinar-nos-á as coisas que Jesus nos ensinou, desenvolverá em nós a compreensão daquilo que Jesus nos ensinou, fará crescer em nós, até alcançar a maturidade, a doutrina do Senhor.

E outra coisa que Jesus diz que o Espírito Santo faz é recordar: “Recordará tudo o que eu vos tenho dito” (vers. 26). O Espírito Santo é como a memória, nos desperta: “Mas você se recorda disso, se recorda daquilo”; nos mantém despertos, sempre despertos nas coisas do Senhor e nos faz também recordar a nossa vida: “Pense naquele momento, pense quando encontrou o Senhor, pense quando deixou o Senhor”.

Uma vez, ouvi dizer que uma pessoa rezava diante do Senhor do assim: “Senhor, eu sou o mesmo que quando criança, quando garoto, tinha esses sonhos. Depois, trilhei por caminhos errados. Agora me chamastes”. Eu sou o mesmo: essa é a memória do Espírito Santo na própria vida. Leva-o à memória da salvação, à memória daquilo que Jesus ensinou, mas também à memória da própria vida. E isso me faz pensar – isso que aquele senhor dizia – num modo bonito de rezar, olhar para o Senhor: “Sou o mesmo. Caminhei muito, errei bastante, mas sou o mesmo e vós me amais”. A memória do caminho da vida”.

E nessa memória, o Espírito Santo nos guia; nos guia para discernir, para discernir o que devo fazer agora, qual é o caminho certo e qual é o errado, mesmo nas pequenas decisões. Se nós pedirmos a luz ao Espírito Santo, Ele nos ajudará a discernir para tomar as verdadeiras decisões, as pequenas de todos os dias e as maiores. É aquele que nos acompanha, nos sustenta no discernimento. Isto é, o Espírito que ensina, nos ensinará todas as coisas, ou seja, faz a fé crescer, nos introduz no mistério, o Espírito que nos recorda. Recorda-nos a fé, nos recorda a própria vida, e é o Espírito que neste ensinamento, nesta recordação, nos ensina a discernir as decisões que devemos tomar. E a isso os Evangelho dão um nome ao Espírito Santo: sim, Paráclito, porque nos sustenta, mas outro nome mais bonito: é o Dom de Deus. O Espírito é o Dom de Deus. O Espírito é propriamente o Dom. Não vos deixareis sozinhos, vos enviarei um Paráclito que vos sustentará e vos ajudará a seguir adiante, a recordar, a discernir e a crescer. O Dom de Deus é o Espírito Santo.

Que o Senhor nos ajude a custodiar esse Dom que Ele nos deu no Batismo e que todos temos dentro de nós.

O Papa convidou a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:

Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Regina Coeli deste domingo (10/05), na Biblioteca do Palácio Apostólico, no Vaticano, por causa da pandemia de coronavírus ainda em andamento.

Francisco recordou que no Evangelho deste domingo, “ouvimos o início do assim chamado ‘Discurso de despedida’ de Jesus. São palavras que Ele dirigiu aos discípulos no final da Última Ceia, pouco antes de enfrentar a paixão. Num momento tão dramático, Jesus começou dizendo: “Não fique perturbado o coração de vocês”. Ele diz a nós também, nos dramas da vida. Mas como fazer para que o coração não se perturbe?”

O Senhor indica dois remédios para a perturbação. O primeiro é: “Tenham fé em mim”. Parece um conselho um pouco teórico, abstrato. Em vez disso, Jesus quer nos dizer uma coisa específica. Ele sabe que, na vida, a ansiedade pior, a perturbação, nasce da sensação de não ser capaz, do sentir-se sozinho e sem pontos de referência diante do que acontece. Essa angústia, em que a dificuldade acrescenta dificuldade, não pode ser superada sozinha. Precisamos da ajuda de Jesus.

“É por isso que Jesus pede para ter fé Nele, ou seja, não nos apoiar em nós mesmos, mas Nele, porque a libertação da perturbação passa através da confiança”, frisou o Papa. “Confiar-se a Jesus. Dar este passo. Esta é a libertação do turbamento. Jesus ressuscitou e está vivo para ficar sempre ao nosso lado. Então podemos dizer-lhe: ‘Jesus, creio que você ressuscitou e que está ao meu lado. Creio que você me ouve. Apresento-lhe o que me perturba, as minhas preocupações: tenho fé em Ti e me confio a Ti’.”

A seguir, Francisco disse que “há um segundo remédio para a perturbação, que Jesus expressa com essas palavras: ‘Na casa de meu Pai há muitas moradas. […] vou preparar um lugar para vocês’.”

Eis o que Jesus fez por nós: nos reservou um lugar no Céu. Tomou sobre si a nossa humanidade para levá-la além da morte, para um novo lugar, no Céu, para que onde Ele está, estejamos também nós. É a certeza que nos consola: há um lugar reservado para cada um. Não vivemos sem meta e sem destino. Somos esperados, somos preciosos. Deus é apaixonado pela beleza de seus filhos. E para nós Ele preparou o lugar mais digno e bonito: o Paraíso.

“Não nos esqueçamos”, disse o Pontífice: “A morada que nos espera é o Paraíso. Aqui estamos de passagem. Somos feitos para o Céu, para a vida eterna, para viver para sempre. Para sempre: é algo que agora não conseguimos imaginar. Mas é ainda mais bonito pensar que esse para sempre será na alegria, na plena comunhão com Deus e com os outros, sem mais lágrimas, rancores, divisões e perturbações”.

“Mas como chegar ao Paraíso? Qual é o caminho?”, perguntou o Papa. Eis a frase decisiva de Jesus hoje: “Eu sou o caminho”.

Para subir ao Céu o caminho é Jesus: é ter um relação viva com Ele, é imitá-lo no amor, é seguir os seus passos. E eu, cristão, posso me perguntar: “Qual caminho devo seguir?” Existem caminhos que não levam ao Céu: os caminhos da mundanidade, os caminhos da autoafirmação, os caminhos do poder egoísta. E há o caminho de Jesus, o caminho do amor humilde, da oração, da mansidão, da confiança, do serviço aos outros. Não é o caminho do meu protagonismo, é o caminho de Jesus protagonista da minha vida. É seguir em frente todos os dias dizendo-lhe: “Jesus, o que você acha dessa minha escolha? O que você faria nessa situação, com essas pessoas?”

Francisco concluiu, dizendo que “nos fará bem perguntar a Jesus, que é o caminho, as indicações para o Céu. Que Nossa Senhora, Rainha do Céu, nos ajude a seguir Jesus, que abriu o Paraíso para nós”.

Radio Vaticano

Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta sexta-feira (08/05) da IV Semana da Páscoa e no dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompeia. Na introdução, recordou o Dia Mundial da Cruz Vermelha:

Hoje, se celebra o Dia Mundial da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Rezemos pelas pessoas que trabalham nestas beneméritas instituições: que o Senhor abençoe o trabalho delas, que fazem tanto bem.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 14, 1-6) em que Jesus diz aos seus discípulos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas (…) Quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós”.

Este diálogo de Jesus com os discípulos – recordou Francisco – se realiza durante a Última Ceia: “Jesus está triste e todos estão tristes: Jesus disse que seria traído por um deles”, mas, ao mesmo tempo, começa a consolar os seus: “O Senhor consola os seus discípulos e aqui vemos como é o modo de consolar de Jesus. Nós temos muitos modos de consolar, dos mais autênticos, dos mais próximos aos mais formais, como aqueles telegramas de pêsames: ‘Profundamente consternado por…’ Não consola ninguém, é uma finta, é a consolação de formalidade. Mas como o Senhor consola? É importante saber isso, porque também nós, quando em nossa vida devemos passar momentos de tristeza” – ressaltou o Santo Padre –, devemos aprender a “perceber qual é a verdadeira consolação do Senhor”.

“Nesta passagem do Evangelho – observou – vemos que o Senhor consola sempre na proximidade, com a verdade e na esperança”. São os traços da consolação do Senhor. “Na proximidade, jamais distantes”. O Papa recordou “aquela bela palavra do Senhor: “Estou aqui, convosco”. “Muitas vezes” está presente no silêncio, “mas sabemos que Ele está presente. Ele está presente sempre. Aquela proximidade que é o estilo de Deus, também na Encarnação, fazer-se próximo de nós. O Senhor consola na proximidade. E não usa palavras vazias, aliás: prefere o silêncio. A força da proximidade, da presença. E fala pouco. Mas está próximo”.

Um segundo traço “do modo de consolar de Jesus é a verdade: Jesus é verdadeiro. Não diz coisas formais que são mentiras: ‘Não, fique tranquilo, tudo passará, nada acontecerá, passará, as coisas passam…’. Não. Diz a verdade. Não esconde a verdade. Porque Ele mesmo nessa passagem diz: ‘Eu sou a verdade’. E a verdade é: ‘Eu vou embora’, isto é, ‘Eu morrerei’. Estamos diante da morte. É a verdade. E diz isso simplesmente e também o diz com mansidão, sem ferir: estamos diante da morte. Não esconde a verdade”.

O terceiro traço da consolação de Jesus é a esperança. Diz: “Sim, é um momento difícil. Mas não se perturbe o vosso coração: Tende fé em mim também”, porque “na casa de meu Pai há muitas moradas. Vou preparar um lugar para vós”. Ele por primeiro vai abrir as portas daquela morada para onde nos quer levar: “Voltarei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós”. “O Senhor volta toda vez que alguém de nós está em caminho para ir embora deste mundo. ‘Voltarei e vos levarei’: a esperança. Ele virá e nos tomará pela mão e nos levará. Não diz: ‘Não, vós não sofrereis, não há nada’. Não. Diz a verdade: ‘Estou próximo de vós, está é a verdade: é um momento difícil, de perigo, de morte. Mas não se perturbe o vosso coração, permanecei naquela paz, aquela paz subjacente a toda consolação, porque eu virei e pela mão vos levarei para onde eu estarei’.”

“Não é fácil – afirmou o Papa – deixar-se consolar pelo Senhor. Muitas vezes, nos momentos difíceis, nós nos enraivecemos com o Senhor e não deixamos que Ele venha e nos fale assim, com esta doçura, com esta proximidade, com esta mansidão, com esta verdade e com esta esperança. Peçamos a graça – foi a oração conclusiva de Francisco – de aprender a deixar-nos consolar pelo Senhor. A consolação do Senhor é verdadeira, não engana. Não é anestesia, não. Mas é próxima, é verdadeira e nos abre as portas da esperança.”

A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Este diálogo de Jesus com os discípulos se dá à mesa, ainda, na ceia (conf. Jo 14,1-6). Jesus está triste e todos estão tristes: Jesus disse que seria traído por um deles (conf. Jo 13,21) e todos percebem que algo de ruim aconteceria. Jesus começa a consolar os seus: porque um dos ofícios, “dos trabalhos” do Senhor é consolar. O Senhor consola os seus discípulos e aqui vemos como é o modo de consolar de Jesus. Nós temos muitos modos de consolar, dos mais autênticos, dos mais próximos aos mais formais, como aqueles telegramas de pesar: “Profundamente contristado por…” Não consola ninguém, é uma finta, é a consolação de formalidade. Mas como o Senhor consola? É importante saber isso, porque também nós, quando em nossa vida devemos passar momentos de tristeza, aprendemos a perceber qual é a verdadeira consolação do Senhor.

E nessa passagem do Evangelho vemos que o Senhor consola sempre na proximidade, com a verdade e na esperança. São os três traços da consolação do Senhor. Com proximidade, jamais distante: estou eu. Aquela palavra: “Estou eu, aqui, convosco”. E muitas vezes em silêncio. Mas sabemos que Ele está presente. Ele sempre está presente. Aquela proximidade que é o estilo de Deus, também na Encarnação, fazer-se próximo de nós. O Senhor consola na proximidade. E não usa palavras, aliás: prefere o silêncio. A força da proximidade, da presença. E fala pouco. Mas é próximo.

Um segundo traço da proximidade de Jesus, do modo de consolar de Jesus, é a verdade: Jesus é verdadeiro. Não diz coisas formais que são mentiras: “Não, fique tranquilo, tudo passará, nada acontecerá, passará, as coisas passam…” Não. Diz a verdade. Não esconde a verdade. Porque Ele mesmo nesta passagem diz: “Eu sou a verdade” (conf. Jo 14,6). E a verdade é: “Eu vou embora”, isto é: “Eu morrerei” (conf. vers. 2-3). Estamos diante da morte. É a verdade. E diz isso simplesmente e também o diz com mansidão, sem ferir: estamos diante da morte. Não esconde a verdade.

E este é o terceiro traço: Jesus consola na esperança. Sim, é um momento difícil. Mas “Não se perturbe o vosso coração (…) Tende fé em mim também” (vers. 1). Digo-vos uma coisa, assim diz Jesus – “Na casa de meu Pai há muitas moradas. (…) Vou preparar um lugar para vós” (vers. 2). Ele por primeiro vai abrir as portas, as portas daquele lugar através do qual todos passaremos, assim espero: “Voltarei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (vers. 3). O Senhor volta toda vez que alguém de nós está em caminho para ir embora deste mundo. “Voltarei e vos levarei”: a esperança. Ele virá e nos tomará pela mão e nos levará. Não diz: “Não, vós não sofrereis, não é nada…” Não. Diz a verdade: “Estou próximo de vós, está é a verdade: é um momento difícil, de perigo, de morte. Mas não se perturbe o vosso coração, permanecei naquela paz, aquela paz subjacente a toda consolação, porque eu virei e pela mão vos levarei para onde eu estarei’.”

Não é fácil deixar-se consolar pelo Senhor. Muitas vezes, nos momentos difíceis, nós nos enraivecemos com o Senhor e não deixamos que Ele venha e nos fale assim, com esta doçura, com esta proximidade, com esta mansidão, com esta verdade e com esta esperança.

Peçamos a graça de aprender a deixar-nos consolar pelo Senhor. A consolação do Senhor é verdadeira, não engana. Não é anestesia, não. Mas é próxima, é verdadeira e nos abre as portas da esperança.

O Papa convidou a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Vatican News

A catequese do Papa Francisco, desta quarta-feira (22/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus, foi dedicada ao 50º Dia Mundial da Terra.

Celebramos hoje o 50º Dia Mundial da Terra. É uma oportunidade para renovar o nosso compromisso de amar a nossa Casa comum e cuidar dela e dos membros mais frágeis de nossa família. Como a trágica pandemia de coronavírus está nos mostrando, somente juntos e ajudando os mais frágeis podemos vencer os desafios globais”, disse o Pontífice.

O Papa citou um trecho de sua Encíclica Laudato si’ “Sobre o cuidado da Casa comum” e convidou a refletir sobre a responsabilidade que caracteriza a “nossa passagem nesta terra”. A seguir, Francisco disse:

“Somos feitos de matéria terrestre, e os frutos da terra sustentam a nossa vida. Mas, como o livro do Gênesis nos recorda, não somos simplesmente “terrestres”: também carregamos em nós o sopro vital que vem de Deus. Portanto, vivemos na Casa comum como uma única família humana e na biodiversidade com as outras criaturas de Deus. Como imago Dei, somos chamados a cuidar e respeitar todas as criaturas e nutrir amor e compaixão por nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais frágeis, imitando o amor de Deus por nós, manifestado em seu Filho Jesus.

Nova maneira de olhar a nossa Casa comum

Segundo Francisco, “por causa do egoísmo, falhamos em nossa responsabilidade como guardiões e administradores da terra. ‘Basta olhar a realidade com sinceridade para ver que há uma grande deterioração de nossa Casa comum’.” “Nós a poluímos e depredamos, colocando em risco nossa própria vida. Por isso, vários movimentos internacionais e locais foram formados para despertar as consciências”, frisou o Papa que aprecia sinceramente essas iniciativas, reiterando “que ainda será necessário que os nossos filhos saiam às ruas para nos ensinar o que é óbvio, ou seja, que não há futuro para nós se destruirmos o ambiente que nos sustenta”.

Para Francisco, “falhamos em proteger a terra, nossa casa-jardim, e em proteger os nossos irmãos. Pecamos contra a terra, contra o nosso próximo e contra o Criador, o Pai bom que provê a todos e quer que vivamos juntos em comunhão e prosperidade”.

“E como a Terra reage?”, perguntou o Papa, citando um “ditado espanhol que é muito claro nisso, e diz o seguinte:

“Deus sempre perdoa; nós, homens, perdoamos às vezes sim, às vezes não; a Terra nunca perdoa”. A Terra não perdoa: se deterioramos a Terra, a resposta será muito ruim.”

A seguir, o Papa perguntou: Como podemos restabelecer uma relação harmoniosa com a terra e o resto da humanidade?

Precisamos de uma nova maneira de olhar a nossa Casa comum. Ela não é um depósito de recursos a serem explorados. Para nós, fiéis, o mundo natural é o “Evangelho da Criação”, que expressa o poder criativo de Deus em plasmar a vida humana e em fazer o mundo existir junto com o que ele contém para sustentar a humanidade. A narração bíblica da criação termina assim: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom”.”

Redescobrir o sentido do respeito sagrado pela terra

Quando vemos essas tragédias naturais que são a resposta da Terra aos nossos maus-tratos, penso: “Se eu perguntar ao Senhor agora o que ele pensa sobre isso, não acredito que ele me diga que é uma coisa muito boa”. “Fomos nós que arruinamos a obra do Senhor”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Ao celebrar o Dia Mundial da Terra hoje, somos chamados a redescobrir o sentido do respeito sagrado pela terra, porque não é apenas a nossa casa, mas também a casa de Deus. Daí vem a consciência em nós de estar numa terra sagrada!

O Pontífice frisou que é necessário despertar “o sentido estético e contemplativo que Deus colocou em nós”. Segundo ele, “a profecia da contemplação é algo que aprendemos sobretudo com os povos nativos, que nos ensinam que não podemos cuidar da Terra se não a amamos e não a respeitamos. Eles têm a sabedoria do “bem viver”, do viver em harmonia com a terra”. A seguir, disse:

“Ao mesmo tempo, precisamos de uma conversão ecológica expressa em ações concretas. Como uma família única e interdependente, precisamos de um plano compartilhado para afastar as ameaças contra nossa Casa comum.”

“A interdependência nos obriga a pensar num só mundo, a um projeto comum”. “Estamos conscientes da importância de colaborar como comunidade internacional para a proteção de nossa Casa comum”.

Duas importantes Conferências internacionais

O Papa exortou os que têm autoridade de guiar o processo que levará a duas importantes Conferências internacionais: a COP15 sobre a Biodiversidade, em Kunming, na China, e a COP26 sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, no Reino Unido. Incentivou a organização de ações miradas no âmbito nacional e local, e a dar vida a um movimento popular “de baixo”. “O Dia Mundial da Terra, que celebramos hoje, nasceu assim. Cada um de nós pode dar sua pequena contribuição”, disse ele, citando um trecho da Encíclica Laudato si: “E não se pense que estes esforços são incapazes de mudar o mundo. Estas ações espalham, na sociedade, um bem que frutifica sempre para além do que é possível constatar; provocam, no seio desta terra, um bem que sempre tende a difundir-se, por vezes invisivelmente”.

Francisco concluiu sua catequese, pedindo que “neste tempo de renovação pascal, procuremos amar e apreciar o magnífico dom da terra, nossa Casa comum e a cuidar de todos os membros da família humana. Como irmãos e irmãs, supliquemos juntos o nosso Pai celestial: “Envia o teu Espírito e renova a face da terra”.

Vatican News

O Papa presidiu a Missa na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quinta-feira (16/04) da Oitava da Páscoa. Na introdução, Francisco dirigiu seu pensamento aos farmacêuticos:

Nestes dias me reclamaram porque me esqueci de agradecer a um grupo de pessoas que também trabalha… Agradeci aos médicos, enfermeiros, voluntários… “Mas o senhor se esqueceu dos farmacêuticos”: também eles trabalham muito para ajudar os doentes a sair da enfermidade. Rezemos também por eles.

Na homilia, Francisco comentou o Evangelho do dia (Lc 24,35-48) em que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, assustados e cheios de medo, porque pensavam que estavam vendo um fantasma, e lhes abre a inteligência para entenderem as Escrituras. E pela alegria não conseguiam acreditar. Ser repletos de alegria – ressaltou o Papa – é a experiência mais alta da consolação. É a plenitude da presença do Senhor, é o fruto do Espírito Santo, é uma graça. Citou a Exortação apostólica de Paulo VI “Evangelii nuntiandi” que fala de evangelizadores alegres. A grande força que temos para pregar o Evangelho, e seguir avante como testemunhas de vida, é a alegria do Senhor, que é fruto do Espírito Santo. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Nestes dias, em Jerusalém, as pessoas tinham muitos sentimentos: o medo, o espanto, a dúvida. “Naqueles dias, enquanto o coxo curado não deixava mais Pedro e João, todo o povo, fora de si pelo espanto…”: há um ambiente não tranquilo porque aconteciam coisas que não se entendia. O Senhor apareceu a seus discípulos. Também eles já sabiam que tinha ressuscitado, inclusive Pedro o sabia porque tinha falado com Ele naquela manhã. Esses dois que tinham retornado de Emaús o sabiam, mas quando o Senhor apareceu se assustaram. “Assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma”; a mesma experiência que tiveram no lago, quando Jesus veio caminhando sobre as águas. Mas naquele tempo Pedro, tomando coragem, apostou no Senhor, disse: “Se és tu, faze-me caminhar sobre as águas”. Este dia Pedro estava calado, tinha falado com o Senhor, naquela manhã, e daquele diálogo ninguém sabe o que foi dito entre eles e por isso estava calado. Mas estavam cheio de medo, assustados, acreditavam ver um fantasma. E diz: “Por que estais preocupados, e porque tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés…”, mostra-lhes as chagas. Aquele tesouro de Jesus que Ele levou para o Céu a fim de mostrá-lo ao Pai e interceder por nós. “Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos”.

E depois vem uma frase que me dá muita consolação e, por isso, esta passagem do Evangelho é uma das minhas preferidas: “Mas eles não podiam acreditar, porque estavam muito alegres”, ainda e estavam repletos de surpresa, a alegria os impedia de acreditar. Era tamanha aquela alegria que “não, isso não pode ser verdade. Essa alegria não é real, é demasiada alegria”. E isso os impedia de acreditar. A alegria. Os momentos de grande alegria. Estavam repletos de alegria, mas paralisados pela alegria. E a alegria é um dos votos que Paulo faz aos seus de Roma: “Que o Deus da esperança vos torne repletos de alegria”, lhes diz. Encher de alegria, ser repletos de alegria. É a experiência da mais alta consolação, quando o Senhor nos faz entender que isso é diferente do estar alegre, positivo, luminoso… Não, é outra coisa. Ser alegre, mas repleto de alegria, uma alegria transbordante que verdadeiramente nos invade. E por isso Paulo lhes deseja que “o Deus da esperança vos torne repletos de alegria”, aos Romanos.

E aquela palavra, aquela expressão, encher de alegria é repetida, muitas, muitas vezes. Por exemplo, quando se dá no cárcere e Pedro salva a vida do carcereiro que estava para suicidar-se porque as portas se abriram com o terremoto e depois lhe anuncia o Evangelho, o batiza, e o carcereiro , diz a Bíblia, estava “repleto de alegria” por ter acreditado. O mesmo acontece com o ministro da economia de Candace, quando Filipe o batizou, desapareceu, ele seguiu seu caminho “repleto de alegria”. O mesmo acontece no dia da Ascensão: os discípulos voltaram para Jerusalém, diz a Bíblia “cheios de alegria”. É a plenitude da consolação, a plenitude da presença do Senhor. Porque, como Paulo diz aos Gálatas, “a alegria é o fruto do Espírito Santo”, não é a consequência de emoções que nascem por uma coisa maravilhosa… Não, é mais que isso. Esta alegria, esta que nos toma é o fruto do Espírito Santo. Sem o Espírito não se pode ter esta alegria. É uma graça receber a alegria do Espírito.

Veem-me à mente os últimos números, os últimos parágrafos da Exortação Evangelii nuntiandi de Paulo VI, quando fala dos cristãos alegres, dos evangelizadores alegres, e não daqueles que vivem sempre tristonhos. Hoje é um dia bonito para lê-los. Repletos de alegria. É isso que a Bíblia nos diz: “Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres…”, era tanta que não acreditavam.

Há uma passagem do livro de Neemias que nos ajudará hoje nesta reflexão sobre a alegria. O povo tendo voltado para Jerusalém reencontrou o livro da Lei, foi descoberto novamente – porque eles sabiam a Lei de cor, não encontravam o livro da Lei –, grande festa e todo o povo se reuniu para ouvir o sacerdote. Esdras que lia o livro da Lei. O povo comovido chorava, chorava de alegria porque tinha encontrado o livro da Lei e chorava, estava alegre, o choro… Quando o sacerdote Esdras terminou, Neemias disse ao povo: “Estejam tranquilos, agora não chorem mais, conservem a alegria, porque a alegria no Senhor é a força de vocês”.

Esta palavra do livro de Neemias nos ajudará hoje. A grande força que temos para transformar, para pregar o Evangelho, para seguir adiante como testemunhas de vida é a alegria do Senhor que é fruto do Espírito Santo, e hoje peçamos a Ele que nos conceda esse fruto.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Vatican News

O Papa presidiu a Missa na Casa Santa Marta na manhã desta terça-feira (14/04) da Oitava da Páscoa. Na introdução, Francisco rezou pela unidade:

Rezemos a fim de que o Senhor nos conceda a graça da unidade entre nós. Que as dificuldades deste tempo nos façam descobrir a comunhão entre nós, a unidade que sempre é superior a toda divisão.

Na homilia, Francisco comentou a primeira leitura, um trecho extraído dos Atos dos Apóstolos (At 2,36-41), em que Pedro anuncia abertamente aos judeus que Deus constituiu Senhor e Cristo aquele Jesus que eles crucificaram: diante dessas palavras muitos sentem traspassar o coração e se convertem. Converter-se – afirmou – é voltar a ser fiéis, uma atitude humana que não é tão comum em nossa vida: a fidelidade nos bons tempos e nos tempos ruins. Fidelidade também na insegurança. Nossas seguranças não são as que o Senhor nos dá, nossas seguranças são ídolos e nos fazem ser infiéis. A nossa vida e a história da Igreja são repletas de infidelidades. O Papa terminou a homilia com o Evangelho do dia (Jo 20,11-18) em que Jesus ressuscitado aparece a Maria Madalena, que chora perto do sepulcro. Uma mulher frágil, mas fiel, fiel também diante do sepulcro, diante da derrocada das ilusões, e que se tornara “apóstola dos apóstolos”. Peçamos a Deus – concluiu – que nos conserve na fidelidade. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

A pregação de Pedro, no dia de Pentecostes, traspassa o coração das pessoas: “Aquele que vós crucificastes, ressuscitou”. “Quando ouviram isso, eles ficaram com o coração aflito, e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: ‘Irmãos, o que devemos fazer?’” E Pedro é claro: “Convertei-vos. Convertei-vos. Mudar de vida. Vós que recebestes a promessa de Deus e vós que vos distanciastes da Lei de Deus, de tantas coisas vossas, em meio a ídolos, tantas coisas…”

“Convertei-vos. Voltai à fidelidade”. Converter-se é isso: voltar a ser fiéis. A fidelidade, aquela atitude humana que não é tão comum na vida das pessoas, em nossa vida. Sempre há ilusões que atraem a atenção e muitas vezes nós queremos ir atrás dessas ilusões. A fidelidade, nos bons tempos e nos tempos ruins. Tem uma passagem do Segundo Livro das Crônicas que me impressiona muito. Está no capítulo XII, no início. “Quando o reino foi consolidado – diz – o rei Roboão se sentiu seguro e se distanciou da lei do Senhor e todo Israel o seguiu”. Assim diz a Bíblia. É um fato histórico, mas é um fato universal. Muitas vezes, quando nos sentimos seguros começamos a fazer nossos projetos e lentamente nos distanciamos do Senhor, não permanecemos na fidelidade. E a minha segurança não é a segurança que o Senhor me dá. É um ídolo. Foi isso que aconteceu com Roboão e o povo de Israel. Sentiu-se seguro – reino consolidado –, distanciou-se da lei e começou a prestar culto aos ídolos. Sim, podemos dizer: “Padre, eu não me ajoelho diante dos ídolos”. Não, talvez você não se ajoelhe, mas que os procure e muitas vezes em seu coração adore os ídolos, (isso) é verdade. Muitas vezes. A segurança em si abre a porta aos ídolos.

Mas a segurança em si é ruim? Não, é uma graça. Ter segurança, mas ter segurança também de que o Senhor está comigo. Mas quando se tem a segurança e eu me coloco no centro, me distancio do Senhor, como o rei Roboão, me torno infiel. É muito difícil conservar a fidelidade. Toda a história de Israel, e depois toda a história da Igreja, é repleta de infidelidade. Repleta. Repleta de egoísmos, de seguranças próprias que fazem de modo que o povo de Deus se distancie do Senhor, perca aquela fidelidade, a graça da fidelidade. E também entre nós, entre as pessoas, a fidelidade não é uma virtude tão difusa, certamente. Não se é fiel ao outro, ao outro… “Convertei-vos, voltai à fidelidade ao Senhor.”

E no Evangelho, o ícone da fidelidade: aquela mulher fiel que jamais havia esquecido tudo aquilo que o Senhor tinha feito por ela. Estava ali, diante do impossível, diante da tragédia, uma fidelidade que a leva mesmo a pensar ser capaz de carregar o corpo… Uma mulher frágil, mas fiel. O ícone da fidelidade desta Maria Madalena, apóstola dos apóstolos.

Peçamos hoje ao Senhor a graça da fidelidade, de agradecer quando Ele nos dá segurança, mas jamais pensar que são as “minhas” seguranças, e sempre, olhar para além das próprias seguranças; a graça de ser fiéis também diante dos sepulcros, diante da derrocada de tantas ilusões. A fidelidade, que sempre permanece, mas não é fácil mantê-la. Que seja Ele, o Senhor, a conservá-la.

O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece. À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja.

Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Vatican News

 

 

Na Missa ao vivo em streaming da Capela da Casa Santa Marta, esta segunda-feira (23/03), as primeiras palavras de Francisco foram palavras de confiança. São as palavras da Antífona de entrada: “Confio em vós, ó Deus! Alegro-me e exulto em vosso amor, pois olhastes, Senhor, minha miséria” (Sl 30,7-8). Em seguida, pediu por aqueles que estão sofrendo com a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus que paralisou muitas atividades de trabalho.

“Rezemos hoje pelas pessoas que por causa da pandemia estão começando a ter problemas econômicos, porque não podem trabalhar e tudo isso recai sobre a família. Rezemos pelas pessoas que têm esse problema.”

Na homilia, comentando o Evangelho de João (Jo 4,43-54) sobre a cura do filho do funcionário do rei, Francisco convidou a rezar com fé, perseverança e coragem, sobretudo neste período. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Este pai pede a saúde para o filho. O Senhor repreende todos um pouco, também ele: “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”. O funcionário, ao invés de se calar e ficar quieto, insiste e lhe diz: “Senhor, desce, antes que meu filho morra!” E Jesus lhe responde: “Podes ir, teu filho está vivo”.

Três coisas são necessárias para se fazer uma verdadeira oração. A primeira é a fé: se não tiverdes fé… E muitas vezes, a oração é somente oral, da boca… mas não vem da fé do coração, ou uma fé fraca… Pensemos em outro pai, o do filho endemoninhado, quando Jesus responde: “Tudo é possível àquele que crê”; o pai como disse claramente “creio, mas aumenta a minha fé”. A fé na oração. Rezar com fé, quer quando rezamos fora, quer quando vimos aqui e o Senhor está ali: mas tenho fé ou é um costume? Estejamos atentos na oração: não cair no costume sem a consciência de que o Senhor está presente, que estou falando com o Senhor e que Ele é capaz de resolver o problema. A primeira condição para uma verdadeira oração é a fé.

A segunda condição que o próprio Jesus nos ensina é a perseverança. Alguns pedem mas a graça não vem: não têm essa perseverança, porque no fundo não precisam dela, ou não têm fé. E Jesus mesmo nos ensina a parábola daquele senhor que vai até o vizinho pedir pão à meia-noite: a perseverança de bater à porta… Ou a viúva, com o juiz iníquo: e insiste e insiste e insiste: é a perseverança. Fé e perseverança caminham juntas, porque se você tem fé você tem certeza de que o Senhor lhe dará aquilo que pede. E se o Senhor faz você esperar, bater, bater, no final o Senhor concede a graça.

Mas o Senhor não faz isso para tornar-se interessante ou porque diga “melhor que espere”: não. Ele o faz para o nosso bem, para que levemos a coisa a sério. Levar a oração a sério, não como os papagaios: blá blá blá e nada mais… O próprio Jesus nos repreende: “Não sede como pagãos que creem na eficácia da oração e nas palavras, muitas palavras”. Não. É a perseverança, ali. É a fé.

E a terceira coisa que Deus quer na oração é a coragem. Alguém pode pensar: é preciso coragem para rezar e para se colocar diante do Senhor? É preciso. A coragem de ficar ali pedindo e seguindo adiante, aliás, quase – quase, não quero dizer uma heresia –, mas quase como ameaçando o Senhor. A coragem de Moisés diante de Deus quando queria destruir o povo e fazê-lo líder de outro povo. Diz: “Não. Eu com o povo”. Coragem. A coragem de Abraão, quando negocia  salvação de Sodoma: “E se fossem 30, e se fossem 25, e se fossem 20…”: ali, a coragem. Essa virtude da coragem, é muito necessária. Não somente para as ações apostólicas, mas também para a oração.

Fé, perseverança e coragem. Nestes dias em que é necessário rezar, rezar mais, pensemos se nós rezamos assim: com fé que o Senhor pode intervir, com perseverança e com coragem. O Senhor não decepciona: não decepciona. Faz-nos esperar, toma o seu tempo, mas não decepciona. Fé, perseverança e coragem.

Por fim, o Papa terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:

Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no vosso e na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece. À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Eu vos amo. Assim seja.

Vídeo integral da Missa

O coração do Papa é um coração que olha para todos, a cada dia para alguém de modo particular. Francisco dedicou a Missa na Casa Santa Marta, na manhã desta terça-feira (17/03), aos anciãos que em tempo de restrições devido ao coronavírus estão entre aqueles que mais do que outros sofrem a distância dos entes queridos.

Gostaria que hoje rezássemos pelos anciãos que sofrem este momento de modo particular, com uma solidão interna (interior) muito grande e por vezes com tanto medo. Peçamos ao Senhor que esteja próximo dos nossos avôs, nossas avós, de todos os anciãos e lhes dê a força. Eles nos deram a sabedoria, a vida, a história. Também nós nos fazemos próximos deles com a oração.

A homilia é inspirada no Evangelho e no tema do perdão que leva Pedro a perguntar a Jesus quantas vezes é lícito perdoar os outros. Não é fácil, reconheceu Francisco, que recordou que tem “pessoas que vivem condenando pessoas”. Mas aquilo que Deus almeja, afirmou, é a “ser magnânimos” a “perdoar, perdoar de coração”. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Jesus vem fazer uma catequese sobre a unidade dos irmãos e acaba por fazer uma bonita palavra: Asseguro-lhes que se dois, dois ou três de vocês, chegarem a um acordo e pedirem uma graça, lhes será concedida”. A unidade, a amizade, a paz entre os irmãos atrai a benevolência de Deus. E Pedro fez a pergunta: “Sim, mas o que devemos fazer com as pessoas que nos ofendem? Se meu irmão comete culpas contra mim, me ofende, quantas vezes deverei perdoá-lo? Sete vezes?” E Jesus responde com aquela palavra que significa, no idioma deles, “sempre”: “Setenta vezes sete”. Sempre se deve perdoar. E não é fácil perdoar. Porque o nosso coração egoísta é sempre apegado ao ódio, às vinganças, aos rancores. Todos vimos famílias destruídas pelos ódios familiares que passam de geração em geração. Irmãos que, diante do caixão de um dos pais, não se saúdam porque levam adiante rancores antigos. Parece que o apegar-se ao ódio seja mais forte do que o apegar-se ao amor e este é propriamente o tesouro – digamos assim – do diabo. Ele se agacha sempre entre nossos rancores, entre nossos ódios e os faz crescer, os mantém ali para destruir. Destrói tudo. E muitas vezes, por coisas pequenas, destrói. E também se destrói este Deus que não veio para condenar, mas para perdoar. Este Deus que é capaz de fazer festa por um pecador que se aproxima e esquece tudo. Quando Deus perdoa, esquece todo o mal que fizemos. Alguém dirá: “É a doença de Deus”. Não tem memória, é capaz de perder a memória, nestes casos. Deus perde a memória das histórias feias de tantos pecadores, dos nossos pecados. Perdoa-nos e segue adiante. Pede-nos apenas: “Faça o mesmo: aprenda a perdoar”, não levar adiante esta cruz não fecunda do ódio, do rancor, do “você vai me pagar”. Essa palavra não é nem cristã nem humana. A generosidade de Jesus que nos ensina que para entrar no céu devemos perdoar. Aliás, nos diz: “Você vai à Missa?” – “Sim” – “Mas se quando vai à Missa você se recorda que seu irmão tem algo contra você, primeiro, não venha a mim com o amor por mim numa mão e o ódio ao o irmão na outra”. Coerência de amor. Perdoar. Perdoar de coração. Tem pessoas que vivem condenado pessoas, falando mal das pessoas, continuamente difamando seus companheiros de trabalho, difamando os vizinhos, os parentes, porque não perdoam uma coisa que lhe fizeram, ou não perdoam uma coisa que não lhe agradou. Parece que a riqueza própria do diabo seja esta: semear o amor ao não-perdoar, viver apegados ao não-perdoar. E o perdão é condição para entrar no céu.

A parábola que Jesus nos conta é muito clara: perdoar. Que o Senhor nos ensine esta sabedoria do perdão que não é fácil. E façamos uma coisa: quando formos confessar, formos receber o sacramento da reconciliação, antes perguntemo-nos: “Eu perdoo?” Se eu sinto que não perdoo, não faça finta de pedir perdão, porque não será perdoado. Pedir perdão significa perdoar. Ambos estão juntos. Não podem separar-se. E aqueles que pedem perdão para si como este senhor, a quem o patrão perdoa tudo, mas não perdoam os outros, acabarão como este senhor. “Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração”.

Que o Senhor nos ajude a entender isto e a abaixar a cabeça, a não ser soberbos, a ser magnânimos no perdão. Ao menos a perdoar “por interesse”. Como é possível? Sim: perdoar, porque se eu não perdoo, não serei perdoado. Ao menos isso. Mas sempre o perdão.

Radio Vaticano

O início do oitavo ano de pontificado do Papa Francisco cai num momento dramático para a humanidade inteira, chamada a enfrentar a pandemia do COVID-19. O chamado, forte e para todos, a manter o olhar fixo naquilo que é essencial impõe que também este aniversário seja celebrado de modo diferente de como foi nos anos precedentes. Nestes dias difíceis, enquanto cada um de nós é dramaticamente colocado diante da precariedade da existência, o Papa Francisco escolheu acompanhar-nos com a oração, sob a proteção de Maria, e com a celebração diária da Eucaristia na Missa na Casa Santa Marta, excepcionalmente transmitida ao vivo toda manhã e difundida no mundo inteiro graças ao streaming.

No fundo, propriamente essas Missas, as celebrações diárias do Papa “pároco” que prega a pequenos grupos de fiéis, contam-lhes aquilo que a meditação sobre a Palavra de Deus suscitou nele, representam uma das novidades mais significativas do pontificado. Um acompanhamento dia após dia, que se tornou compromisso confortador para tantas pessoas que nestes sete anos buscaram e leram a síntese da homilia de Santa Marta oferecida pela mídia vaticana. Agora esse acompanhamento simples e concreto da parte do Papa que celebra a Missa na capela da sua residência oferecendo o sacrifício eucarístico por quem sofre, pelos enfermos, por seus parentes, pelos médicos, os enfermeiros, os voluntários, os anciãos sozinhos, os encarcerados, as autoridades, tornou-se ainda mais evidente e confortador.

Na Quarta-feira de Cinzas, quando ainda a emergência Coronavírus não era percebida de modo tão evidente, o Sucessor de Pedro dissera: “Começamos a Quaresma com a recepção das cinzas: ‘Lembra-te que és pó da terra e à terra hás de voltar’. O pó sobre a cabeça faz-nos ter os pés assentes na terra: recorda-nos que viemos da terra e, à terra, voltaremos; isto é, somos débeis, frágeis, mortais. No longo decorrer dos séculos e milênios, passamos num ai; comparados com a imensidão das galáxias e do espaço, somos minúsculos; somos um bocado de pó no universo. Mas somos o pó amado por Deus. Amorosamente o Senhor recolheu nas suas mãos o nosso pó e, nele, insuflou o seu sopro de vida. Por isso somos um pó precioso, destinado a viver para sempre. Somos a terra sobre a qual Deus estendeu o seu céu, o pó que contém os seus sonhos. Somos a esperança de Deus, o seu tesouro, a sua glória”.

O Papa concluía a sua homilia com as seguintes palavras: “Deixemo-nos reconciliar, para viver como filhos amados, pecadores perdoados, doentes curados, viandantes acompanhados. Para amar, deixemo-nos amar; deixemo-nos erguer, para caminhar rumo à meta – à Páscoa. Teremos a alegria de descobrir que Deus nos ressuscita das nossas cinzas”.

Justamente para testemunhar este olhar de esperança e este abraço voltado a todos, o Papa que nos guia nos acompanhando, terça-feira, 10 de março, no início da Missa na Santa Marta, quis rezar em particular pelos sacerdotes, a fim de que neste momento tenham a força para acompanhar, confortar e estar próximos de quem sofre. E, embora tomando todas as precauções possíveis, tenham “a coragem de sair e ir até os enfermos, levando a força da Palavra de Deus e a Eucaristia e acompanhar os agentes de saúde, os voluntários” no serviço extraordinário que estão realizando.

Radio Vaticano

Na quinta missa (VÍDEO INTEGRAL) via streaming da Capela da Casa Santa Marta no Vaticano, esta sexta-feira (13/03), no dia da sua eleição à Cátedra de Pedro, Francisco convidou mais uma vez a rezar pelos doentes de coronavírus, mas em particular rezou pelos pastores.

Nestes dias nos unimos aos doentes, às famílias, que sofrem esta pandemia. E gostaria também de rezar hoje pelos pastores que devem acompanhar o povo de Deus nesta crise: que o Senhor lhes dê a força e também a capacidade de escolher os meios melhores para ajudar. Nem sempre as medidas drásticas são boas, por isso rezemos: para que o Espírito Santo dê aos pastores a capacidade e o discernimento pastoral a fim de que providenciem medidas que não deixem sozinho o santo povo fiel de Deus. Que o povo de Deus se sinta acompanhado pelos pastores e pelo conforto da Palavra de Deus, dos sacramentos e da oração.

Obviamente, o Papa não se refere às medidas adotadas pelo governo italiano para contrastar os contágios evitando aglomeração de pessoas, mas se dirige aos pastores a fim de que considerem as exigências dos fiéis que precisam ser acompanhados espiritualmente num momento tão dramático.

Na homilia, comentando as leituras do dia, e em particular a parábola dos vinhateiros homicidas, falou da infidelidade à aliança por parte de quem se apropria do dom de Deus que é riqueza, abertura e bênção, e o aprisiona numa doutrina (Mt 21, 33-43.45). A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:

Ambas as leituras são uma profecia da Paixão do Senhor. José vendido como escravo por 20 ciclos de prata, entregue aos pagãos. E a parábola de Jesus, que claramente fala simbolicamente do assassinato do Filho. Esta história de “um homem que possuía um terreno, plantou nele uma vinha – o cuidado com o qual a fizera –, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lugar para a prensa e construiu uma torre – tinha feito isso muito bem. Depois, a arrendou a vinhateiros e partiu para longe”.

Este é o povo de Deus. O Senhor escolheu aquele povo, há uma eleição daquele povo. É o povo da eleição. Também há uma promessa: “Ide avante. Vós sois o meu povo”, uma promessa feita a Abraão. E também há uma aliança feita com o povo no Sinai. O povo deve sempre guardar a eleição na memória, que é um povo eleito, a promessa para olhar para frente com esperança e a aliança para viver a fidelidade a cada dia. Mas nessa parábola se dá que quando chegou o tempo para colher o frutos esse povo tinha se esquecido que eles não eram os proprietários: “Os lavradores pegaram os servos, bateram num deles, mataram o outro, lapidaram outro. Depois mandou outros servos, mais numerosos, mas o trataram do mesmo modo”. Certamente Jesus mostra aí – está falando aos doutores da lei – como os doutores da lei trataram os profetas. “Por último mandou-lhes o próprio filho”, pensando que respeitariam o filho. “Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre eles: ‘Este é o herdeiro. Vamos, matemo-lo e apoderemos-nos da sua herança!”

Roubaram a herança, que era outra. Uma história de infidelidade, de infidelidade à eleição, de infidelidade à promessa, de infidelidade à aliança, que é um dom. A eleição, a promessa e a aliança são um dom de Deus. Infidelidade ao dom de Deus. Não entender que era um dom e tomá-lo como propriedade. Esse povo se apropriou do dom e tirou esse dom para transformá-lo em “minha “ propriedade. E o dom que é riqueza, é abertura, é bênção, foi trancafiado, aprisionado numa doutrina de leis, muitas. Foi ideologizado. E assim o dom perdeu a sua natureza de dom, acabou numa ideologia. Sobretudo numa ideologia moralista repleta de preceitos, inclusive ridícula porque passa à casuística para cada coisa. Apropriaram-se do dom.

Este é o grande pecado. É o pecado de esquecer que Deus se fez dom Ele mesmo para nós, que Deus nos doou isso como dom e, esquecendo isso, tornar-se proprietários. E a promessa já não é promessa, a eleição já não é eleição: “A aliança deve ser interpretada segundo o meu parecer, ideologizado”. Aí, nessa atitude, eu vejo talvez o início, no Evangelho, do clericalismo, que é uma perversão, que renega sempre a eleição gratuita de Deus, a aliança gratuita de Deus, a promessa de Deus. Esquece a gratuidade da revelação, esquece que Deus se manifestou como dom, se fez dom para nós e nós devemos dá-lo, mostrá-lo aos outros como dom, não como nossa posse.

O clericalismo não é uma coisa somente destes dias, a rigidez não é uma coisa destes dias, já havia no tempo de Jesus. E depois Jesus seguirá adiante na explicação das parábolas – – esse é o capítulo 21 –, seguirá adiante até chegar ao capítulo 23 com a condenação, onde se vê a ira de Deus contra aqueles que tomam o dom para si como propriedade e reduzem a sua riqueza aos caprichos ideológicos da mente deles. Peçamos ao Senhor a graça de receber o dom como dom e transmiti-lo como dom, não como propriedade, não de um modo sectário, de modo rígido, de modo “clericalista”.

Radio Vaticano

Senhor Jesus, Rei da Misericórdia, neste tempo quaresmal,
coloco-me aos pés de tua Sagrada Cruz
e, humildemente, peço-vos a graça de viver intensamente
estes 40 dias de conversão.

Concedei-me a perseverança na vida de oração
para que, estando unido ao teu amor,
minha vida seja reflexo de tua bondade.

Que minhas orações não sejam somente palavras,
mas se traduzam em gestos concretos de misericórdia.

Entregue ao Senhor o seu tempo quaresmal

Ajudai-me a viver o jejum como oportunidade
de unir-me a tantos irmãos e irmãs
que não tem o necessário para sua subsistência.

Que meu jejum seja uma oportunidade
de estar mais disponível para acolher tua presença salvadora
em minha alma.

Fortalecei-me na prática da esmola.
Que minhas mãos sejam as tuas mãos
a ajudar os que mais precisam.

Iluminai meu coração para reconhecer tua face sofredora
naqueles que vivem à margem da sociedade.
Que meus olhos não se desviem daqueles que eu encontrar
à beira do caminho, mas os acolha como a Ti mesmo.

Por tuas Santas Chagas, ajudai-me a atravessar os desertos espirituais,
e que Tua Palavra seja para mim uma bússola
a indicar o caminho da vida eterna.

Lavai-me Senhor com Tua misericórdia!
Renovai-me em Teu amor!
Que vivendo este Tempo quaresmal
e unindo-me a Sua dolorosa Paixão,
eu nunca me perca do caminho da conversão.

Amém!

Canção Nova

As imagens da missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, que diariamente estão levando o encorajamento do Papa via streaming para o mundo, iniciaram nesta terça-feira (10) com um lento zoom da câmera sobre o crucifixo que se sobrepõe ao altar. Em seguida, aparece a figura de Francisco que sai da Sacristia.

Começa num silêncio total do local a cerimônia presidida pelo Pontífice. Um silêncio que o próprio Papa quebra logo ao recordar, como na missa desta segunda-feira (9), que a celebração é oferecida a quem sofre por causa do coronavírus, para quem cuida deles:

“Rezemos ao Senhor também pelos nossos sacerdotes para que tenham a coragem de sair e ir ao encontro dos doentes, levando a força da Palavra de Deus e a Eucaristia, e de acompanhar os profissionais de saúde, os voluntários, nesse trabalho que estão fazendo.”

A vaidade é venenosa e nunca cura

A homilia é inspirada no Evangelho, no qual os escribas e fariseus da época faziam exibição hipócrita da sua superioridade diante das pessoas, chamando-se de mestres, mas recusando de se comportar com coerência. A seguir, o texto da homilia, com uma transcrição do Vatican News, quando o Papa iniciou comentando:

“Ontem a Palavra de Deus nos ensinava a reconhecer os nossos pecados e a confessá-los, mas não somente com a mente, também com o coração, com um espírito de vergonha; a vergonha como uma postura mais nobre diante de Deus pelos nossos pecados. E, hoje, o Senhor chama todos, pecadores, a dialogar com Ele, porque o pecado nos fecha em nós mesmos, nos faz nos escondermos ou esconde a nossa verdade, dentro.

É isso que aconteceu com Adão, com Eva: depois do pecado, se esconderam porque tinham vergonha; estavam nus. E o pecador, quando sente a vergonha, depois tem a tentação de se esconder. E o Senhor chama: ‘Vamos, venham, vamos discutir’, diz o Senhor, ‘vamos falar do teu pecado, da tua situação. Não tenham medo. Não…’. E continua: ‘Mesmo se os pecados de vocês fossem como a cor de escarlate, vão se tornar brancos como a neve. Se fossem vermelhos como a púrpura, vão se tornar como lã’. ‘Venham, porque eu sou capaz de mudar tudo’, diz o Senhor, ‘não tenham medo de vir falar, sejam corajosos mesmo com as misérias de vocês’.

Me faz lembrar aquele santo, que tão penitente, rezava muito. E procurava sempre dar ao Senhor tudo aquilo que o Senhor lhe pedia. Mas o Senhor não estava feliz. E, um dia, ele estava um pouco irritado com o Senhor, porque tinha um certo temperamento, aquele santo. E disse ao Senhor: ‘Mas, Senhor, eu não te entendo. Eu te dou tudo, tudo, e tu sempre está tão insatisfeito, como se faltasse alguma coisa. O que falta?’. [E o Senhor responde]: ‘Me dê os teus pecados: é isso que falta’.

Ter a coragem de ir falar com o Senhor com as nossas misérias: ‘Vamos, venham! Vamos discutir! Não tenham medo. Mesmo se os pecados de vocês fossem como escarlate, vão se tornar brancos como a neve. Se fossem vermelhos como a púrpura, vão se tornar como lã’.

Esse é o convite do Senhor. Mas sempre há um engano: ao invés de ir falar com o Senhor, fingir de não ser pecadores. É aquilo que o Senhor repreende aos doutores da lei. Essas pessoas fazem as obras ‘para serem admiradas pelas pessoas: ampliam os seus filactérios e alongam as franjas; estão satisfeitos pelos lugares de honra nos banquetes, dos primeiros lugares nas sinagogas, das saudações nas praças, como também de serem chamados Rabbi das pessoas’.

A aparência, a vaidade. Encobertar a verdade do nosso coração com a vaidade. A vaidade nunca cura! A vaidade nunca cura. Além disso, é venenosa, continua trazendo a doença do coração, trazendo aquela dureza de coração que te diz: ‘Não, não vá ao Senhor, não vá. Você fica.’

A vaidade é apenas o lugar para se fechar ao chamado do Senhor. Em vez disso, o convite do Senhor é aquele de um pai, de um irmão: ‘Venham! Vamos conversar, falar. Ao final, Eu sou capaz de mudar a tua vida do vermelho ao branco’.

“Que essa Palavra do Senhor nos encoraje; que a nossa oração seja uma oração real. Da nossa realidade, dos nossos pecados, das nossas misérias. Fale com o Senhor. Ele sabe, Ele sabe o que somos. Sabemos disso, mas a vaidade nos convida sempre a encobertar. Que o Senhor nos ajude.”

Radio Vaticano

A força da fé, a certeza da esperança e o fervor da caridade: foram os conselhos do Papa Francisco aos bispos, para que ajudem os fiéis a viverem este momento marcado em muitos países pelo combate ao coronavírus.

No Angelus dominical, realizado justamente dentro da Biblioteca Apostólica para evitar risco de contágio entre os fiéis, o Pontífice manifestou mais uma vez sua proximidade aos que sofrem com o vírus e aos profissionais da área da saúde.

“Uno-me aos meus irmãos bispos para encorajar os fiéis a viverem este momento difícil com a força da fé, a certeza da esperança e o fervor da caridade. Que o tempo da Quaresma nos ajude a dar um sentido evangélico também a este momento de provação.”

Ao final da saudação, o Papa anunciou que iria assomar à tradicional janela de onde é feito o Angelus para ver os fiéis “um pouco em tempo real”. E assim fez, saudando de longe os presentes.

Modificações

A Audiência Geral de 11 de março também se realizará seguindo o mesmo procedimento. O evento será transmitido ao vivo pelo Vatican News e nos telões na Praça São Pedro e distribuído pelo Vatican Media aos meios de comunicação que solicitarem.

De acordo com um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, essas medidas são necessárias para evitar riscos de difusão do COVID-19 durante a fase dos controles de segurança para entrar na Praça, como solicitado também pelas autoridades italianas.

Respeitando a determinação da Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano, até o dia 15 de março estará suspensa a participação dos fiéis nas missas realizadas na Santa Marta. O Santo Padre celebrará a Eucaristia em caráter privado.

Radio Vaticano

Em consonância com o 4º Mandamento da Igreja, o qual diz que cada um deve “jejuar e abster-se de carne, como manda a Santa Mãe Igreja”, o Código de Direito Canônico deixa estipulado o que devemos viver nos dias penitenciais (cf. cân. 1249-1253):

“Cân. 1249: Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência, mas para que todos estejam unidos mediante certa observância comum da penitência, são prescritos dias penitenciais, em que os fiéis se dediquem de modo especial à oração, façam obras de piedade e caridade, renunciem a si mesmos, cumprindo ainda mais fielmente as próprias obrigações e observando, principalmente, o jejum e a abstinência, de acordo com os cânones seguintes.

Cân. 1250: Os dias e tempos penitenciais, em toda a Igreja, são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.

Cân. 1251: Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

No que se refere ao cânon 1251, a CNBB permite a substituição da abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou comutar a carne por um outro alimento, realidade prevista pelo cânon 1253, que diz: “a Conferência dos Bispos pode determinar mais exatamente a observância do jejum e da abstinência, como também substituí- la, totalmente ou em parte, por outras formas de penitência, principalmente por obras de caridade e exercícios de piedade.”

A partir de que idade devo fazer jejum e abstinência?
Em relação à idade dos que são obrigados a fazer abstinência e jejum, o Código de Direito Canônico diz o seguinte no Cânon 1252: “estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e os pais cuidem que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência, em razão da pouca idade.”

De acordo com o comentário do mencionado Cânon, 14 anos é a idade para obrigatoriedade da abstinência e vai até o fim da vida. Para o jejum, a obrigatoriedade é a partir dos 18 anos até os 59 anos completos.

É obrigatória a abstinência de carne em todas as sextas-feiras do ano?
Confira resposta no cânon 251: “observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Atente-se à prescrição da Conferência dos Bispos aqui do Brasil, que permite a substituição da abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou comutar a carne por um outro alimento. Assim, vê-se que é obrigatória a abstinência nas sextas-feiras prescritas, mas não necessariamente de carne, por conta do que é prescrito para o Brasil.

Quais os frutos espirituais do jejum e da penitência?
Como fruto espiritual do jejum destaca-se a educação da vontade. O jejum exprime a vontade e esforço de um converter-se para Deus. Ajuda a organizar exterior e interiormente o que está fora de ajuste, por exemplo, o controle dos apetites. Outro fruto é o domínio sobre si mesmo. As privações voluntárias têm em vista educar a vontade à submissão da vontade de Deus. Colocar-se na vontade de Deus é o principal fruto na vivência do jejum e da abstinência.

Deus abençoe você!

Canção Nova

Foi divulgada, nesta quinta-feira (05/03), a mensagem do Papa Francisco para a 35ª Jornada Mundial da Juventude celebrada em todas as dioceses no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (05/04). O tema deste ano é «Jovem, Eu te digo, levanta-te!» extraído do capítulo 7, versículo 14 do Evangelho de Lucas.

Na mensagem, o Papa recorda o Sínodo dos Bispos realizado, no Vaticano, em outubro de 2018, sobre o tema Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, afirmando que através dele a Igreja lançou um processo de reflexão sobre a condição dos jovens no mundo atual. Recorda também a Jornada Mundial da Juventude, no Panamá, em janeiro de 2019, onde encontrou milhares de jovens do mundo. “Acontecimentos como estes, Sínodo e JMJ, manifestam uma dimensão essencial da Igreja: o «caminhar juntos»”, ressalta o Pontífice.

A seguir, o Papa menciona também a próxima Jornada Mundial da Juventude que se realizará em Lisboa, Portugal, em 2022. “De lá, nos séculos XV e XVI, vários jovens, incluindo muitos missionários, partiram para terras desconhecidas a fim de partilhar a sua experiência de Jesus com outros povos e nações.” O tema da Jornada em Lisboa será: «Maria levantou-se e partiu apressadamente». Nos dois anos que precedem a JMJ em Portugal, o Santo Padre pensa em refletir com os jovens outros dois textos bíblicos: «Jovem, Eu te digo, levanta-te!», este ano de 2020, e «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!», em 2021.

Francisco chama a atenção para o verbo comum nos três temas: levantar-se. “Esta palavra possui também o significado de ressuscitar, despertar para a vida. É um verbo frequente na Exortação Christus vivit (Cristo vive), que eu dediquei a vocês depois do Sínodo de 2018 e que, juntamente com o Documento Final, a Igreja lhes oferece como um farol para iluminar as sendas da sua existência. Espero de todo o coração que o caminho que nos levará a Lisboa coincida em toda a Igreja com um forte compromisso na concretização destes dois documentos, orientando a missão dos animadores da pastoral juvenil”, ressalta o Papa.

Ver o sofrimento e a morte

Retornando ao tema da Jornada Mundial da Juventude diocesana deste ano, «Jovem, Eu te digo, levanta-te!», o Papa recorda que Jesus, tocado pelo sofrimento angustiado da viúva, faz o milagre de ressuscitar o seu filho. “Jesus pousa um olhar atento, não distraído, sobre aquele cortejo fúnebre.”

A seguir, o Papa nos convida a nos fazer as seguintes perguntas: “Como é o meu olhar? Vejo com olhos atentos ou como faço ao repassar rapidamente as milhares de fotografias no meu celular ou os perfis sociais?” 

“Quantas vezes nos acontece, hoje, ser testemunhas oculares de vários acontecimentos, sem nunca os vivermos ao vivo! Às vezes, a nossa primeira reação é filmar a cena com o celular, talvez esquecendo-nos de fixar nos olhos as pessoas envolvidas.”

Francisco recorda que há “jovens que estão «mortos», porque perderam a esperança. Infelizmente, entre os jovens, alastra também a depressão, que pode, em alguns casos, levar à tentação de destruir a própria vida. Há tantas situações onde reina a apatia e o indivíduo se perde num abismo de angústias e remorsos. Vários jovens choram, sem que ninguém ouça o grito da sua alma. Muitas vezes, ao seu redor, o que há são olhares distraídos, indiferentes talvez mesmo de quem esteja desfrutando os seus momentos felizes mantendo-se à distância”.

Ter compaixão

Em muitas ocasiões, os jovens demonstram que sabem se com-padecer. “Basta ver como muitos de vocês se doam generosamente, quando as circunstâncias o exigem. Não há desastre, terremoto, inundação que não veja grupos de jovens voluntários mostrarem-se disponíveis para socorrer. Também a grande mobilização de jovens que querem defender a criação dá testemunho de sua capacidade de ouvir o clamor da terra. Queridos jovens, não deixem que lhes roubem esta sensibilidade”, escreve o Papa.

Aproximar-se e tocar

“Jesus para o cortejo fúnebre. Aproxima-se, faz-se próximo. A proximidade impele a ir mais além, cumprindo um gesto corajoso para que o outro viva. Vocês jovens podem se aproximar das realidades de sofrimento e morte que encontram, podem tocá-las e gerar vida como Jesus, tocar como Ele e transmitir a sua vida aos seus  amigos que estão mortos por dentro, que sofrem ou perderam a fé e a esperança.”

O primeiro passo é aceitar levantar-se

O Papa ressalta que o “Evangelho não refere o nome daquele jovem ressuscitado por Jesus em Naim. Isto é um convite ao leitor, para se identificar com ele. O primeiro passo é aceitar levantar-se. A nova vida que Ele nos der, será boa e digna de ser vivida, porque será sustentada por Alguém que nos acompanhará também no futuro sem nunca nos deixar, ajudando-nos a gastar de forma digna e fecunda esta nossa existência”.

Ir além do virtual

O Evangelho diz que o jovem «começou a falar». “Falar significa também entrar em relação com os outros. Quando se está «morto», o indivíduo fecha-se em si mesmo: interrompem-se as relações ou tornam-se superficiais, falsas, hipócritas. Quando Jesus nos devolve a vida, «restitui-nos» aos outros.”

“Hoje, muitas vezes há «conexão», mas não comunicação. Se o uso dos aparelhos eletrônicos não for equilibrado, pode levar-nos a ficar sempre colados a um visor. Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te». É um convite a abrir-se para uma realidade que vai muito além do virtual. Isto não significa desprezar a tecnologia, mas usá-la como um meio e não como fim.”

“«Levanta-te» significa também «sonha», «arrisca», «esforça-te por mudar o mundo», reacende os teus desejos, contempla o céu, as estrelas, o mundo ao teu redor. «Levanta-te e torna-te aquilo que és»”, concluiu Francisco.

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Na narração do Êxodo, o deserto é o lugar da providência. O lugar onde o Senhor “se revela como o Deus da aliança com Israel, o Deus bom e fiel, e ao mesmo tempo, como o soberano onipotente ao qual estão submetidas todas as forças cósmicas”. Padre Pietro Bovati prossegue a sua reflexão quaresmal, que chega na sua sexta etapa, citando uma passagem bíblica que por um lado mostra o Senhor “como artífice da história da salvação”, e de outro “não sublinha suficientemente um outro aspecto importante, ou seja, a livre expressão dos homens, seu consenso ou a sua rebeldia para com Deus. Porém, sem a atividade humana – observa o teólogo jesuíta – a história assume uma imagem deformada “na qual Deus atua, sim, admiravelmente”, mas o homem corre o risco de ser reduzido “a puro objeto passivo”. “Portanto, paradoxalmente, para exaltar Deus na sua obra, chega-se a dizimar o próprio ápice da criação, formado pelo homem livre e artífice do seu destino, porque foi criado a imagem e semelhança de Deus”.

Os textos bíblicos são complexos e muitas vezes complementares, afirma padre Bovati, e muitos deles mostram que o Senhor no seu agir considera as resistências dos homens e deseja sempre suscitar uma resposta, não se impõe e deseja uma relação com a criatura “mesmo de cooperação, de corajosa colaboração”, a ponto que do homem, em um certo sentido, depende a realização da ação salvífica de Deus nos acontecimentos humanos.

O deserto “figura da vida”

Os 40 anos passados no deserto significam toda uma existência, o deserto é representação da nossa terra, onde o homem sofre, mas onde Deus se revela e o faz “na própria ação dos seus servos”. Padre Bovati reitera um ponto fundamental: “É preciso assumir com responsável obediência a tarefa de fazer o bem como se as nossas mãos fossem as mãos de Deus”. E isso se realiza quando o servo de Deus vive a dupla virtude da escuta: a escuta da voz de Deus e a escuta do grito do povo que lhe foi confiado.

O deserto, repete o pregador, “é figura da vida”. É um tempo que pode se tornar tentação, “é o nosso tempo, o tempo do homem”. Deus coloca o seu povo à prova para que amadureça na fé e ao mesmo tempo estimula os homens capazes de ajudar os que estão sob prova, como no caso de Moisés. Ele escuta o grito dos sofredores, mesmo se manifestado debilmente e se os pedidos da sua gente o colocam em dificuldade porque ele mesmo não sabe como responder. Mas escuta porque Deus faz assim. “Mesmo as nossas orações, são sempre muito imperfeitas e principalmente, o grito do povo sofredor, muitas vezes é turbulento”. Então Moisés invoca com fé o Senhor na oração que vence a tentação e recebe resposta.

Ao amar, ensina-se amar

O pregador introduz um novo conceito: na narração bíblica se diz que “naquele lugar o Senhor impôs ao povo uma lei e uma ordem”. “Isso significa – explica o pregador – que no próprio ato do socorro, deve ser inculcada a relação obediente com o Senhor”. Portanto, ao amar ensina-se amar, “na obra de misericórdia corporal se faz também a obra de misericórdia espiritual, alcança-se o coração das pessoas, colocando-os na condição de crer em Deus e de agir como Deus quer, ou seja no amor”.

Por fim padre Bovati fala sobre a passagem evangélica do juízo final. Todo o juízo está centralizado em uma só coisa: na ajuda ou na falta de ajuda para com os mais necessitados. Portanto há uma concretitude do fazer, que exige a dedicação a um corpo que sofre, mas também do coração do sofredor. Nos mais necessitados, diz o Evangelho, há Jesus mas, pergunta-se o pregador, “como é possível ver que nós socorremos Deus quando nos dedicamos aos mais necessitados? Como os nossos olhos de carne podem realmente ver que é assim?”. Então conclui: “É sem ver que nós amamos, sem glória, sem honra, no doar-se até morrer, há a plenitude do bem, há a bênção do Pai na vida”.

 

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Quais são as verdades de fé que definem um cristão e como ele deve viver para ser um cristão verdadeiro? São as perguntas às quais o Papa Francisco responde, dialogando com o padre Marco Pozza, capelão do cárcere de Pádua, no livro “Eu creio, nós cremos” que prossegue as reflexões iniciadas com a análise de outras duas orações, o Pai Nosso e a Ave Maria.

A nossa fé não é uma ideologia

A profissão de fé conhecida como Símbolo dos Apóstolos confessa Deus Criador do Céu e da Terra, a sua encarnação em Jesus pela salvação dos homens, o Espírito Santo que dá a vida, a Igreja e a comunhão dos Santos, o perdão dos pecados, a ressurreição, a vida eterna. Mas o Credo não é apenas um conjunto de fórmulas, escreve o Papa no prefácio do livro, “é também a expressão da vida e da experiência que distinguia os cristãos”. A coerência entre fé e vida, é fundamental para o Papa, a fé cristã não é uma fé abstrata, ideológica, afastada da concretitude da realidade. “Não cremos – afirma o Papa – em um Deus abstrato ou imaginário, fruto das nossas ideias ou teorias. Cremos no Deus Pai que Jesus nos fez encontrar e que é amor”. “Os santos – observa – são os verdadeiros protagonistas do cristianismo: homens e mulheres que entenderam o que quer dizer crer em um Deus que é Pai”.

Devemos aprender a sujar as mãos

“O nosso principal mandamento é o amor” diz o Papa Francisco e afirma: “Quando vejo cristãos muito ‘limpos’, que pensam saber todas as verdades, a ortodoxia, a verdadeira doutrina – e dizem: precisa fazer assim e assim -, mas são incapazes de sujar suas mãos para ajudar alguém se levantar; quando vejo estes cristãos eu digo: vocês não são cristãos; vocês são teístas com a água benta cristã, mas ainda não chegaram ao cristianismo”. Portanto o amor ao próximo é condição essencial para ser cristão e não poderia ser de outro modo se o Deus ao qual se crê é Pai, é Amor, é um Deus “doente de misericórdia” ao qual devemos nos entregar.

A Tradição não é um museu

A rigidez não faz parte do modo de pensar do Papa Francisco que neste livro fala também sobre a relação entre a Tradição da Igreja e o Espírito que é sempre novo e leva continuamente a Igreja a se renovar: “Às vezes – lê-se no livro – pensamos que manter a Tradição signifique construir um museu de coisas; e a Igreja torna-se um museu. Não, a Tradição é viva, não uma coleção de coisas, ritos… é viva. E cresce, deve crescer, como a raiz faz com que a árvore cresça, dê flores e frutos. Devemos sempre voltar à Tradição para extrair dali o suco, a linfa que faz crescer”.

Satanás, o juízo universal, a ressurreição

Um tema que o Papa Francisco fala com frequência é a existência do demônio. Nas páginas deste livro o Papa destaca a diferença entre crer em alguém e crer na existência de alguém. Escreve: “Eu creio no Satanás, creio na sua existência, mas não o amo. Não digo ‘creio em’, porque sei que existe, mas devo me defender das suas seduções”.

São belas e confortantes as palavras do Papa sobre o juízo universal. “Imagino o momento em que, no crepúsculo da vida – confidencia Francisco – me aproximarei de Deus, seduzido por aquela beleza, com o ânimo humilhado, a cabeça inclinada; imagino o seu abraço e o meu olhar que se elevará ao seu. Não ousaria olhá-lo sem antes ter recebido o seu abraço”. Nos vários capítulos Papa Francisco esclarece seu pensamento sobre temas como a ressurreição, o diálogo com os mortos, o paraíso, o purgatório e o inferno, a pluralidade das expressões de fé em Jesus porque “Deus é sempre maior do que nós e nenhuma palavra, nenhuma expressão, pode esgotar a grandeza do seu amor”.

Filhos de Deus

No capítulo dedicado à remissão dos pecados, o Papa volta a falar do populismo, que reapareceu no cenário mundial, que “oprime o pobre e instrumentaliza a fé”. Constrói um culto ao redor do seu ‘porta-voz’, homens e mulheres “que pensam apenas em si mesmos” e “alimentam o culto de si, acreditando-se Deus”. Todavia o texto não analisa o conteúdo da fé cristã ponto por ponto. Como escreve ele mesmo, ainda no prefácio: “Preferi compartilhar o significado diário, existencial, simples mas profundo, da nossa condição de sermos filhos de Deus – convidados à mesa do amor com a própria Trindade – e da amizade com os irmãos na fé e com a humanidade inteira”.

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Respondendo a jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, falou sobre as condições de saúde do Papa Francisco:

“O resfriado diagnosticado no Santo Padre nos dias passados está fazendo o seu decurso, sem sintomas relacionados a outras patologias. Enquanto isso, o Papa Francisco celebra diariamente a Santa Missa e acompanha os exercícios espirituais que estão se realizando na Casa Divino Mestre em Ariccia”.

Nesta quarta-feira, não se realiza a tradicional Audiência Geral, mas não devido à saúde do Pontífice e sim porque o evento semanal já havia sido cancelado em decorrência do retiro quaresmal.

O primeiro compromisso cancelado pelo Papa foi quinta-feira passada, quando não foi à Basílica de São João de Latrão para participar da liturgia penitencial de início de Quaresma com o clero da diocese de Roma.

Desde então, todas as audiências a grupos foram canceladas e Francisco manteve somente os encontros marcados na Casa Santa Marta.

No domingo, rezou a oração do Angelus com os fiéis e na ocasião comunicou sua decisão de não partir para Ariccia com seus colaboradores da Cúria Romana para os Exercícios Espirituais.

“Uno-me espiritualmente à Cúria e a todas as pessoas que estão vivendo momentos de oração, fazendo os exercícios espirituais em casa”.

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Diante das tentações, existe um caminho a seguir. O Papa Francisco, ligando suas palavras no Angelus com as do Evangelho deste domingo, incorporado no tempo da Quaresma, lembra-nos que este caminho é aquele percorrido por Jesus no deserto, onde ele enfrenta as tentações do maligno. O diabo primeiro sugere a Jesus, que tem fome, que transforme as pedras em pão. Mas a resposta é clara: “Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Então o diabo pede a Jesus para experimentar a confiança em Deus, de se atirar do ponto mais alto do templo, porque ele seria socorrido pelos anjos. “Quem crê – enfatiza Francisco -, sabe que não se coloca à prova Deus, mas confia na sua bondade”. Por esta razão, Jesus responde ao diabo com estas palavras: “Não porás à prova o Senhor teu Deus!”.. Na terceira tentação, o maligno oferece “uma perspectiva de messianismo político”. Mas Jesus, recorda o Pontífice, “rejeita a idolatria do poder e da glória humana” e, no final, expulsa o tentador dizendo: “Vai embora, Satanás, pois está escrito: ‘Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto’”.

Quanto mais longe de Deus, mais indefesos nos sentimos…

Jesus, recorda o Pontífice, não dialoga com o diabo, mas responde ao maligno com a palavra de Deus. Nunca se deve dialogar com o diabo. Nisto, enfatiza, é preciso ter muito cuidado. A experiência de Jesus, explica o Papa, deve ajudar-nos a estar vigilantes, a não nos submetermos a nenhum ídolo:

Também hoje Satanás irrompe na vida das pessoas para tentá-las com suas propostas atraentes; ele mistura a sua às muitas vozes que tentam domar a consciência. De muitos lugares chegam mensagens convidando as pessoas a “deixarem-se tentar” para experimentar a embriaguez da transgressão. A experiência de Jesus ensina-nos que a tentação é a tentativa de percorrer caminhos alternativos aos de Deus, que nos dão a sensação de autossuficiência, de gozo da vida como um fim em si mesmo. Mas tudo isso é ilusório: logo percebemos que quanto mais nos afastamos de Deus, mais nos sentimos indefesos e inermes diante dos grandes problemas da existência.

E Francisco conclui:

“Que a Virgem Maria, a Mãe d’Aquele que esmagou a cabeça da serpente, nos ajude neste tempo de Quaresma a estar vigilantes diante das tentações, a não nos submetermos a nenhum ídolo deste mundo, a seguir Jesus na luta contra o mal; e conseguiremos também nós ser vencedores como Ele”.

Oração pelos migrantes que fogem da guerra

No final da oração mariana, Francisco recordou os muitos migrantes que procuram refúgio no mundo, “muitos homens, mulheres e crianças expulsos por causa da guerra”. E pediu para rezar por eles.

Exercícios Espirituais em Ariccia

Depois do Angelus, o Papa recordou ainda que nesta noite terão início os exercícios espirituais da Cúria Romana. E ele anunciou que este ano, por causa de um resfriado, não participará do retiro em Ariccia. “Uno-me espiritualmente à Cúria e a todas as pessoas que estão vivendo momentos de oração, fazendo os exercícios espirituais em casa”.

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Pessoas de esperança, reconciliadas que reconhecem suas amarguras e foram transformadas. É a exortação que o Papa Francisco dirige ao clero da Diocese de Roma, no discurso lido, na manhã desta quinta-feira (27/02), pelo cardeal vigário, Angelo De Donatis, na Basílica de São João de Latrão, durante a tradicional liturgia penitencial no início da Quaresma, na qual Francisco não participou por causa de uma “leve indisposição”, conforme a nota divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Toda a reflexão fala sobre a amargura que pode se infiltrar na vida de um sacerdote como um “inimigo sutil” que encontra uma maneira de se camuflar de parasita. Trata-se de amargura na relação de fé, com o bispo e entre confrades.

Não onipotentes, mas pecadores perdoados

O Papa enfatiza que o seu pensamento é fruto, por um lado, de ouvir alguns seminaristas e sacerdotes italianos, mas sem referência a nenhuma situação específica, enquanto, por outro, observa que a maioria dos sacerdotes ainda está feliz com a sua vida e considera essas amarguras como normais. Portanto, encará-las, ajuda a entrar em contato com a nossa humanidade e, afirma Francisco, “nos lembra que, como sacerdotes, não somos chamados a ser onipotentes, mas homens pecadores perdoados”.

“A espiritualidade do protesto”

Na raiz da amargura no relacionamento de fé, vemos uma esperança desiludida. Uma esperança provavelmente trocada por uma expectativa. “De fato, a esperança cristã não decepciona”, sublinha o Papa, porque “esperar não é se convencer de que as coisas vão melhorar, mas que tudo o que acontece tem significado à luz da Páscoa”. Para alimentá-la, no entanto, é necessária uma intensa vida de oração, colocando-se “à luz da Palavra de Deus”. “O verdadeiro protesto”, explica ele, não é “contra Deus, mas diante dele”, nasce da confiança.

Ouça a reportagem

Esperança cristã, não expectativa

Para entrar profundamente no sentido da esperança é preciso entender a diferença da expectativa que nasce quando”, observa Francisco, “lutamos”, buscando certezas, quando o ponto de referência somos nós mesmos. Em vez disso, a esperança brota quando se decide não se defender mais e, como o teatino Lorenzo Scupoli disse em sua ‘Luta espiritual’, é preciso “desconfiar-se de si e confiar em Deus”. Baseia-se numa aliança: que a vida plena prometida por Deus no dia da ordenação se realiza “se vivo a Páscoa e não se as coisas acontecem como eu digo”.

Problemas com o bispo

“Sem cair no lugar comum que dá a culpa de tudo aos superiores, pois na realidade somos falhos, permanece o fato”, escreve o Papa, de que “muita amargura na vida do sacerdote acontece por causa das omissões dos pastores”. Não se trata de divergências inevitáveis sobre problemas administrativos ou estilos pastorais, mas de dois aspectos “desestabilizadores para os padres”. Primeiramente, o que Francisco chama de “uma certa origem autoritária suave”, quando, por uma “distinção”, a pessoa é inscrita entre os que remam contra. O segundo, é a adesão a iniciativas que corre o risco de se tornar “a medida da comunhão”, enquanto o “culto das iniciativas” vai substituindo ao essencial.

A competência suplantada por suposta lealdade

Para traçar a direção certa, o Papa Francisco se refere a São Bento. Na Regra, ele recomenda que o abade consulte toda a comunidade quando tiver que enfrentar uma questão importante, mas também que a decisão final depende dele, com prudência e equidade.

A grande tentação do pastor é circundar-se dos “seus”, dos “vizinhos”; e, assim, infelizmente, a competência real é suplantada por uma certa lealdade presumida, sem distinguir entre quem agrada e quem aconselha desinteressadamente. Isso faz com que o rebanho sofra muito, aceitando frequentemente sem externar nada.

No entanto, os fiéis têm o direito, e algumas vezes o dever, de expressar seus pensamentos sobre o bem da Igreja aos Pastores, conforme exigido pelo Código de Direito Canônico. Certamente, neste tempo de precariedade, a solução parece ser o autoritarismo, “na esfera política isso é evidente”, mas o verdadeiro zelo está na equidade, não na uniformidade, recorda o Papa.

Amargura entre os sacerdotes

Uma terceira causa de amargura nos sacerdotes pode vir dos problemas “entre nós”, ressalta Francisco. O presbítero nos últimos tempos sofreu “os golpes de escândalos, financeiros e sexuais” e a suspeita tornou as relações mais frias e formais:

Diante de escândalos, o maligno nos tenta, impelindo-nos a uma visão “donatista” da Igreja: dentro os impecáveis, fora os que erram! Temos falsas concepções da Igreja militante, numa espécie de puritanismo eclesiológico. A Noiva de Cristo é e continua sendo o campo em que o trigo e o joio crescem até a parusia. Quem não se apropriou dessa visão evangélica da realidade, expõe-se à amarguras indizíveis e inúteis. No entanto, os pecados públicos e divulgados do clero tornaram todos mais cautelosos e menos dispostos a criar laços significativos, sobretudo em relação à  partilha da fé.

O povo de Deus espera pessoas que reconciliam

Na conclusão, Francisco ressalta que o povo de Deus “os conhece melhor que ninguém”:

É muito respeitoso, sabe acompanhar e cuidar de seus pastores. Conhece as nossas amarguras e pede ao Senhor nós. Unamos as nossas orações às suas e peçamos ao Senhor para que transforme as nossas amarguras em água fresca para o seu povo. Peçamos ao Senhor para que nos dê a capacidade de reconhecer o que está nos amargando e nos deixar-se transformar, ser pessoas reconciliadas que reconciliam, pacíficas que pacificam, cheias de esperança que infundem esperança. O povo de Deus espera de nós, mestres de espírito, capazes de indicar os poços de água fresca no meio do deserto.

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O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (21/02), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes da plenária do Pontifício Conselho para a Interpretação dos Textos Legislativos.

Em seu discurso, o Pontífice frisou que a plenária abordou o tema da revisão do Livro VI do Código de Direito Canônico, De sanctionibus in Ecclesia, e agradeceu aos membros do organismo vaticano pelo serviço desempenhado, “em nome e com a autoridade do Sucessor de Pedro, em favor das Igrejas e dos Pastores”.

Aprofundar o sentido do direito na Igreja

O Papa frisou que a colaboração específica do Pontifício Conselho para a Interpretação dos Textos Legislativos é definida na Constituição Apostólica Pastor Bonus, como um “auxílio à função legislativa do Sumo Pontífice, Legislador universal, na interpretação correta das leis por ele emitidas, na ajuda a outros dicastérios no campo do Direito Canônico, bem como na supervisão da legitimidade dos textos normativos emitidos por legisladores sob a autoridade suprema”.

O Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, através de várias iniciativas, também se compromete a oferecer sua ajuda aos pastores das Igrejas particulares e às Conferências Episcopais para a correta interpretação e aplicação do direito, de maneira geral, na difusão do conhecimento e atenção a ele.

“É necessário readquirir e aprofundar o verdadeiro sentido do direito na Igreja, Corpo Místico de Cristo, onde a preeminência é da Palavra de Deus e dos Sacramentos, enquanto a norma jurídica tem um papel necessário, mas subordinado e a serviço da comunhão.”

Nesta linha, o Dicastério deve ajudar a refletir sobre uma formação jurídica genuína na Igreja, que faça compreender a pastoralidade do Direito Canônico, sua instrumentalidade para a salus animarum, sua necessidade em favor da virtude da justiça, que deve ser sempre afirmada e garantida.

Nessa perspectiva, o Papa Francisco frisou que é atual o convite  de Bento XVI na Carta aos Seminaristas, válido para todos os fiéis: «Aprendei também a compreender e – ouso dizer – a amar o direito canônico na sua necessidade intrínseca e nas formas da sua aplicação prática: uma sociedade sem direito seria uma sociedade desprovida de direitos. O direito é condição do amor».

Direito, baluarte válido em defesa dos últimos

Para Francisco, “divulgar e aplicar as leis da Igreja não é um empecilho para a eficiência pastoral de quem deseja resolver os problemas sem a lei, mas garantia da busca de soluções não arbitrárias, realmente justas, e por isso, realmente pastorais”.

“Evitando soluções arbitrárias, o direito torna-se um baluarte válido em defesa dos últimos e dos pobres, escudo protetor de quem corre o risco de ser vítima dos poderosos de turno.”

Vemos, hoje, nesta área de guerra mundial em pedaços, que existe a falta de direito: sempre. As ditaduras nascem e crescem sem lei. Isso não pode acontecer na Igreja. 

“O tema que está sendo estudado na plenária também segue nessa direção, a fim de enfatizar que o direito penal é um instrumento pastoral e, como tal, deve ser considerado e acolhido. O bispo deve estar cada vez mais consciente de que, em sua Igreja, da qual ele é pastor e líder, ele é também juiz entre os fiéis que lhe são confiados. Mas a função de juiz sempre tem uma marca pastoral, pois visa a comunhão entre os membros do povo de Deus”, sublinhou Francisco.

O Papa concluiu o seu discurso, afirmando que o trabalho de revisão do Livro VI do Código de Direito latino, feito pela por alguns anos e que chegou ao fim com a plenária, se coloca na direção justa: atualiza a normativa penal para torná-la mais orgânica e conforme às novas situações e problemáticas do contexto sociocultural atual, e juntos oferecer instrumentos idôneos para facilitar sua aplicação.

Radio Vaticano

“Quem dizem os homens que eu sou?” E vós, quem dizeis que eu sou?’” São as perguntas feitas por Jesus no trecho do Evangelho da liturgia de hoje e sobre as quais Francisco se baseou para fazer a sua homilia ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta.

As três etapas

O Evangelho, afirmou, nos ensina as etapas já percorridas pelos apóstolos para saber que é Jesus. São três: conhecer, professar e aceitar o caminho que Deus escolheu para Ele.

Conhecer Jesus, observou o Papa, é o que “fazemos todos nós” quando  pegamos o Evangelho, procuramos conhecer Jesus, quando levamos as crianças ao catecismo, quando as levamos à missa, mas é só o primeiro passo. O segundo é professar Jesus.

E isso nós, sozinhos, não podemos fazer. Na versão de Mateus, diz: “Jesus disse a Pedro: ‘Isso não vem de ti. O Pai te revelou”. Somente podemos professar Jesus com a força de Deus, com a força do Espírito Santo. Ninguém pode dizer Jesus na confissão e confessá-Lo sem o Espírito, diz Paulo. Nós não podemos confessar Jesus sem o Espírito. Por isso, a comunidade cristã deve buscar sempre a força do Espírito Santo para professar Jesus, para dizer que Ele é Deus, que Ele é o Filho de Deus.

Aceitar o caminho de Jesus até a cruz

Mas qual é a finalidade da vida de Jesus, por qual motivo Ele veio? Responder a esta pergunta significa realizar a terceira etapa no caminho do conhecimento de Cristo. E o Papa recordou que Jesus começou a ensinar aos apóstolos que deveria sofrer, morrer e depois ressuscitar.

Professar Jesus é professar a Sua morte, a Sua ressurreição; não é professar: “Tu és Deus” e parar ali. Não: “Viestes por nós e morreste por mim. E ressuscitastes e nos deste a vida, nos prometeste o Espírito Santo para nos guiar”. Professar Jesus significa aceitar o caminho que o Pai escolheu para Ele: a humilhação. Paulo, escrevendo aos Filipenses, diz: “Deus enviou o Seu Filho, o qual aniquilou a si mesmo, se fez servo, humilhou a si mesmo, até a morte e morte de cruz”. Se não aceitamos o caminho de Jesus, o caminho da humilhação que Ele escolheu para a redenção, não somos cristãos e merecemos o que Jesus disse a Pedro: “Vai para longe de mim, Satanás!”.

A Igreja não pode se tornar mundana

Francisco explicou que Satanás sabe que Jesus é o Filho de Deus, mas Jesus rejeita a sua “confissão”, assim como afasta Pedro quando não quer aceitar o caminho escolhido por Jesus. “Professar Jesus – afirmou Papa – é aceitar o caminho da humildade e da humilhação. E quando a Igreja não percorre este caminho, erra e acaba mundana.

E quando nós vemos tantos cristãos bons, não? Com boa vontade, mas confundem a religião com um conceito social de bondade, de amizade, quando nós vemos tantos clérigos que dizem seguir Jesus, mas buscam as honras, o caminho da mundanidade, não buscam Jesus: buscam a si mesmos. Não são cristãos; dizem ser cristãos, mas de nome, porque não aceitam o caminho de Jesus, da humilhação. E quando lemos na história da Igreja tantos bispos que viveram assim e também tantos Papas mundanos que não conheceram o caminho da humilhação, não o aceitaram, devemos aprender que aquele não é o caminho.

O Papa concluiu com o convite a pedir “a graça da coerência cristã” para “não usar o cristianismo para fazer carreira”, a graça de seguir Jesus no seu mesmo caminho, até a humilhação.

Radio Vaticano

O Papa Francisco se reuniu com milhares de fiéis e peregrinos na Sala Paulo VI para a Audiência Geral da quarta-feira (19/02).

A sua catequese foi dedicada à terceira das oito bem-aventuranças: “Bem-aventurados os mansos, porque receberão a terra em herança”.

Francisco explicou o significado da palavra “manso”, que é literalmente “doce, gentil, sem violência”. A mansidão se manifesta nos momentos de conflito, de come se reage numa situação hostil, e não nos momentos de tranquilidade. Jesus nos deu o maior exemplo de mansidão quando, pregado na Cruz, perdoou seus algozes. “A mansidão de Jesus se vê fortemente na Paixão”, disse o Papa.

Mansidão e posses

Nas Escrituras, a palavra “manso” indica também aquele que não tem propriedades terrenas, por isso a terceira bem-aventurança fala que os mansos receberão a terra em herança.

Isso pode parecer incompatível, mas a posse de terras é o âmbito típico do conflito: se combate com frequência por um território, para obter a hegemonia sobre um lugar. Nas guerras, o mais forte prevalece e conquista outras terras.

Mas a bem-aventurança fala de “herança”, que nas Escrituras tem um sentido ainda mais profundo. O Povo de Deus chama “herança” justamente a terra de Israel, que é a Terra Prometida.

Aquela terra é uma promessa e um dom para o povo de Deus e se torna sinal de algo muito maior e mais profundo do que um simples território.

“Há uma ‘terra’ – permitam-me o jogo de palavras – que é o Céu, isto é, a terra para a qual caminhamos.”

Herdar o mais sublime dos territórios

Então o manso é quem “herda” o mais sublime dos territórios. Ser manso não é ser covarde, pelo contrário, é o discípulo de Cristo que aprendeu bem a defender outra terra.

“Ele defende a Sua paz,  a sua relação com Deus e os seus dons, protegendo a misericórdia, a fraternidade, a confiança e a esperança. Porque as pessoas mansas são pessoas misericordiosas, fraternas, confiantes e pessoas com esperança.”

Francisco mencionou o pecado da ira e todas as coisas que destruímos quando se manifesta: perde-se o controle e não se avalia o que é realmente importante, e se pode arruinar a relação com um irmão, às vezes sem remédio. “Por causa da ira, muitos irmãos não se falam mais, se afastam. É o contrário da mansidão. A mansidão reúne. A ira separa.”

A mansidão, ao invés, conquista tantas coisas. A “terra” a conquistar é a salvação daquele irmão de que fala o mesmo Evangelho de Mateus: “Se te ouvir, ganhaste a teu irmão”:

“Não há terra mais bela do que o coração dos outros. Pensemos nisso: Não há terra mais bela do que o coração dos outros. Não há território mais belo a conquistar do que a paz restabelecida com um irmão. Esta é a terra a ser herdada com a mansidão!”

Radio Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa esta manhã na capela da Casa Santa Marta e em sua homilia comentou o Evangelho de Marcos, que narra o episódio em que os discípulos entraram na barca com Jesus e se preocupam com a gestão de algo material: “discutiam entre si porque não tinham pão”. Jesus os adverte: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? Tendo olhos, vós não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?”

Há ideologia quando falta compaixão

A reflexão do Papa partiu dessas palavras para mostrar a diferença entre um “coração endurecido”, como o do discípulo, e um “coração compassivo”, como o do Senhor, que expressa a Sua vontade.

E a vontade do Senhor é a compaixão: “Misericódia quero, e não sacrifício”. E um coração sem compaixão é um coração idolátrico, é um coração autossuficiente, que vai avante amparado pelo próprio egoísmo, que se torna forte somente com as ideologias. Pensemos nesses quatro grupos ideológicos do tempo de Jesus: os fariseus, os saduceus, os essênios e os zelotas. Quatro grupos que haviam endurecido o coração para levar avante um projeto que não era o de Deus; não havia lugar para o projeto de Deus, não havia lugar para a compaixão.

Jesus é o remédio a toda dureza do coração

Mas existe um remédio contra a dureza do coração: é a memória. Por isso, no Evangelho de hoje e em tantos trechos da Bíblia, volta como uma espécie de “refrão” o chamado ao poder salvífico da memória, uma “graça” a ser pedida, disse Francisco, porque “mantém o coração aberto e fiel”.

Quando o coração se torna endurecido, quando o coração se endurece, se esquece… Esquece-se da graça da salvação, se esquece a gratuidade. O coração duro leva às brigas, leva às guerras, leva ao egoísmo, leva à destruição do irmão, porque não existe compaixão. E a maior mensagem de salvação é que Deus sentiu compaixão por nós. Aquele refrão do Evangelho, quando Jesus vê uma pessoa, uma situação dolorosa: “sentiu compaixão”. Jesus é a compaixão do Pai; Jesus é a afronta a toda dureza de coração. 

Ter um coração “no ar”

Portanto, pedir a graça de ter um coração “não ideologizado” e endurecido, mas “no ar”, “aberto e compassivo” diante do que acontece no mundo, porque – recordou o Papa – sobre isto seremos julgados no dia do juízo, não pelas nossas “ideias” ou pelas nossas “ideologias”.

“Tive fome e me destes de comer; estive preso e viestes me visitar, estive aflito e me consolastes”, está escrito no Evangelho e esta – afirmou Francisco – é a compaixão, esta é a não dureza do coração”. E a humildade, a memória das nossas raízes e da nossa salvação nos ajudarão a mantê-lo assim. Eis então a oração conclusiva do Papa:

Cada um de nós tem algo que endureceu no coração. Façamos memória e que seja o Senhor a nos dar um coração reto e sincero que pedimos na oração da coleta, onde habita o Senhor. Nos corações endurecidos o Senhor não pode entrar; nos corações ideológicos o Senhor não pode entrar. O senhor entra somente nos corações que são como o Seu coração: os corações compassivos, os corações que têm compaixão, os corações abertos. Que o Senhor nos dê esta graça.

Radio Vaticano

O Papa Francisco havia preanunciado no seu discurso final no Sínodo Amazônico e agora aquela indicação se concretiza. O Pontífice escreveu uma carta ao Monsenhor Joseph Marino, novo presidente da Pontifícia Academia Eclesiástica – a escola para a formação dos diplomatas da Santa Sé –, pedindo que no currículo seja inserido um ano em missão junto a uma Igreja local. A carta do Papa foi assinada em 11 de fevereiro. Francisco recorda “o desejo que os sacerdotes que se preparam para o Serviço diplomático da Santa Sé dediquem um ano de sua formação ao empenho missionário em uma diocese”.

“Estou convencido – acrescenta – de que esta experiência poderá ser útil a todos os jovens que se preparam ou iniciam o serviço sacerdotal, mas de modo especial àqueles que, no futuro, serão chamados a colaborar com os representantes pontifícios e, na sequência, poderão se tornar, por sua vez, Enviados da Santa Sé junto às nações e Igrejas particulares”.

O Papa cita o que ele afirmou num discurso dirigido à Pontifícia Academia Eclesiástica em junho de 2015: “A missão que um dia sereis chamados a desempenhar levar-vos-á a todas as regiões do mundo. À Europa, necessitada de despertar; à África, sequiosa de reconciliação; à América Latina, faminta de alimento e interioridade; à América do Norte, comprometida a descobrir de novo as raízes de uma identidade que não se define a partir da exclusão; à Ásia e à Oceânia, desafiadas pela capacidade de fermentar na diáspora e de dialogar com a vastidão de culturas ancestrais”.

E na carta acrescenta que “para enfrentar positivamente estes crescentes desafios para a Igreja e para o mundo, é preciso que os futuros diplomatas da Santa Sé adquiram também, além de uma sólida formação sacerdotal e pastoral e aquela específica” oferecida pela Academia, “uma experiência pessoal de missão fora da diocese de origem, compartilhando com as Igrejas missionárias um período de caminho junto a suas comunidades, participando de sua cotidiana atividade evangelizadora”.

O Papa, portanto, decidiu se dirigir ao Monsenhor Marino, pedindo-lhe “que ponha em prática este seu desejo de enriquecer o currículo da formação acadêmica com um ano dedicado inteiramente ao serviço missionário junto às Igrejas particulares espalhadas no mundo. Esta nova experiência entrará em vigor com os novos alunos que iniciarão sua formação no próximo ano acadêmico 2020/2021”.

Para elaborar de modo aprofundado o projeto, escreve ainda Francisco, “será necessário, antes de tudo, uma estreita colaboração com a Secretaria de Estado e, mais precisamente, com a Seção para os funcionários com cargo diplomático da Santa Sé (a terceira Seção, ndr), e com os representantes pontifícios, os quais certamente não deixarão de prestar uma válida ajuda ao identificar as Igrejas particulares prontas a acolher os alunos e segui-los de perto nesta experiência”.

“Estou certo – conclui o Papa – de que superadas as preocupações iniciais que poderiam surgir diante deste novo estilo de formação para os futuros diplomatas da Santa Sé, a experiência missionária que se quer promover se tornará útil não somente para os jovens acadêmicos, mas também para as Igrejas com as quais eles colaborarão e, faço votos, suscite em outros sacerdotes da Igreja universal o desejo de se tornarem disponíveis a transcorrer um período de serviço missionário fora da própria diocese”.

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Sob um sol quase primaveril, o Papa Francisco rezou o Angelus com milhares de fiéis e peregrinos na Praça São Pedro.

Em sua alocução, comentou o Evangelho deste VI Domingo do Tempo Comum (Mt 5,17-37), extraído do “sermão da montanha” e que toca o argumento da aplicação da Lei.

Francisco explicou que a intenção de Jesus é ajudar os seus ouvintes a ter uma abordagem justa com as prescrições dos mandamentos dados a Moisés. Trata-se de viver a Lei como um instrumento de liberdade, que nos ajuda a não sermos escravos das paixões e do pecado.

“Pensemos nas guerras, em suas consequências, pensemos naquela menina que morreu de frio na Síria outro dia. Tantas calamidades, tantas. Isso é fruto das paixões e as pessoas que fazem a guerra não sabem dominar as próprias paixões. Falta obedecer à Lei.”

Quando se cede às tentações e às paixões, acrescentou, não se é senhor e protagonista da própria vida, mas se torna incapaz de administrá-la com vontade e responsabilidade.

Obediência formal e obediência substancial

O sermão de Jesus, prosseguiu o Papa, é estruturado em quatro antíteses, expressas com a fórmula «Ouvistes o que foi dito… porém vos digo». Essas antíteses fazem referência a situações da vida cotidiana: o homicídio, o adultério, o divórcio, os juramentos.

Jesus não abole as prescrições que dizem respeito a essas problemáticas, mas explica o seu significado mais profundo e indica o espírito com o qual observá-las. Ele encoraja a passar de uma obediência formal da Lei a uma obediência substancial, acolher a Lei no coração, que é o centro das intenções, das decisões, das palavras e dos gestos de cada um de nós. “Do coração partem as ações boas e aquelas más”, recordou Francisco.

A língua mata

Acolhendo a Lei de Deus no coração, se compreende que, quando não se ama o próximo, se mata de algum modo a si mesmo e aos outros, porque o ódio, a rivalidade e a divisão matam a caridade fraterna, que está na base das relações interpessoais. “Vale o que disse antes sobre as guerras e também das fofocas, porque a língua mata.”

Acolhendo a Lei de Deus no coração, se compreende que os desejos devem ser guiados, porque nem tudo o que se deseja é possível obter, e não é bom ceder a sentimentos egoístas e possessivos.

Progredir no caminho do amor

Todavia, acrescentou o Papa, Jesus está consciente de que não é fácil viver os mandamentos deste modo assim tão profundo. Por isso, nos oferece o socorro do seu amor: Ele veio ao mundo não só para realizar a Lei, mas também para nos doar a sua Graça, de modo que possamos fazer a vontade de Deus, amando Ele e os irmãos.

“Podemos fazer tudo com a Graça de Deus. A santidade nada mais é que custodiar esta gratuidade que Deus nos deu, esta Graça.”

Trata-se de se entregar e confiar Nele, acolhendo a mão que Ele nos estende constantemente.

Jesus hoje nos pede para progredir no caminho do amor que Ele nos indicou e que parte do coração. Este é o caminho a seguir para viver como cristãos.

“Que a Virgem Maria nos ajude a seguir o caminho traçado pelo seu Filho, para alcançar a verdadeira alegria e difundir em todo o mundo a justiça e a paz.”

 

Radio Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa matutina esta sexta-feira (14/04) e em sua homilia se inspirou numa funcionária da Casa Santa Marta, Patrícia, que acaba de se aposentar. O Pontífice fez um “ato de memória, de agradecimento” e falou do calor da Casa Santa Marta, de uma “família ampla”, feita de pessoas que nos acompanham no caminho da vida, que todos os dias trabalham ali, com dedicação e cuidado.

O egoísmo é um pecado

A homilia narrou a cotidianidade da Casa Santa Marta, a residência do Papa. Francisco deu destaque à família, não apenas “pai, mãe, irmãos, tios e avós”, mas à “família alargada, aqueles que nos acompanham no caminho da vida por um pouco de tempo”. Depois de 40 anos de trabalho, Patrícia está se aposentando: uma presença de família sobre a qual refletir:

E isso fará bem a todos nós que moramos aqui pensar nesta família que nos acompanha; e a todos vocês que não moram aqui, pensar em tantas pessoas que os acompanham no caminho da vida: vizinhos, amigos, companheiros de trabalho, de estudo… Nós não estamos sós. O Senhor nos quer povo, nos quer em companhia; não nos quer egoístas: o egoísmo é um pecado.

Obrigado, Senhor, por não nos abandonar

Na sua reflexão, o Papa recordou a generosidade de tantos companheiros de trabalho que cuidaram de quem adoeceu. Por trás de cada nome, há uma presença, uma história, uma permanência breve que deixou uma marca. Uma familiaridade que encontrou espaço no coração de Francisco. “Penso na Luísa, penso na Cristina”, afirmou o Pontífice, na avó da casa, irmã Maria, que entrou para trabalhar jovem e que ali decidiu se consagrar. Mas ao recordar a sua família “alargada”, o pensamento do Papa se dirigiu a quem não está mais: “Miriam, que foi embora com seu filho; Elvira, que foi um exemplo de luta pela vida, até o fim”. E outros ainda que se aposentaram ou foram trabalhar em outro lugar. Presenças que fizeram bem e que, ás vezes, é difícil deixar.

Hoje nos fará bem, a todos nós, pensar nas pessoas que nos acompanharam no caminho da vida, como gratidão, e também como um gesto de gratidão a Deus. Obrigado, Senhor, por não nos abandonar. É verdade, sempre existem problemas, e onde há gente, há fofocas. Inclusive aqui dentro: se reza e se faz fofoca, ambas as coisas. E algumas vezes também se peca contra a caridade.

Um grande “obrigado”

Pecar, perder a paciência e, depois, pedir desculpa. Assim se faz na família. “Eu gostaria de agradecer pela paciência das pessoas que nos acompanham – destacou o Papa – e pedir perdão pelas nossas faltas”.

Hoje é um dia para agradecer e pedir perdão, do coração, cada um de nós, às pessoas que nos acompanham na vida, por um pedaço da vida, por toda a vida … E gostaria de aproveitar desta despedida de Patrícia para fazer com vocês este ato de memória, de agradecimento, e também pedir perdão às pessoas que nos acompanham. Cada um de nós o faça com as pessoas que habitualmente o acompanham. E àqueles que trabalham aqui em casa, um “obrigado” grande, grande, grande. E à senhora, Patrícia, que comece esta segunda parte da vida com mais 40 anos!

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Deixar-se deslizar lentamente no pecado, relativizando as coisas e entrando em “negociação” com os deuses do dinheiro, da vaidade e do orgulho. A partir daquela que define como “queda com anestesia”, o Papa fez sua homilia na Missa desta manhã (13/02) na Casa Santa Marta, refletindo sobre a história do rei Salomão.

A Primeira Leitura da Liturgia do dia (1Rs 11, 4-13) “nos fala da apostasia, por assim dizer, de Salomão”, que não foi fiel ao Senhor, explicou Francisco. De fato, quando ele era idoso, suas mulheres o fizeram “desviar seu coração” para seguir outros deuses.

Quando jovem, era muito valoroso, pedindo ao Senhor somente a sabedoria, e Deus o tornou sábio, a ponto de os juízes irem até ele, assim como também a rainha de Sabá, da África, com presentes, porque ouviram falar de sua sabedoria. “Vê-se que essa mulher era um pouco filósofa e lhe fez perguntas difíceis”, diz o Papa, observando que “Salomão saiu vitorioso dessas perguntas” porque sabia como responder.

A lenta apostasia

Naquele tempo, continua Francisco, era possível ter mais de uma esposa, o que não quer dizer – explica – que fosse lícito ser um “mulherengo”. O coração de Salomão, porém, se enfraqueceu não por ter se casado com essas mulheres – podia fazê-lo – mas porque as havia escolhido de outro povo, com outros deuses. E Salomão então caiu na “armadilha” e se perdeu quando uma das esposas lhe disse para ir adorar Camos ou Melcom.  E fez isso por todas as mulheres estrangeiras que ofereciam sacrifícios aos seus deuses. Em uma palavra, “permitiu tudo, deixou de adorar o único Deus”. Do coração enfraquecido pelo excesso de afeição pelas mulheres, “o paganismo entrou em sua vida”. Assim, destaca Francisco, aquele jovem sábio que rezou pedindo sabedoria, caiu ao ponto de ser rejeitado pelo Senhor.

“Não foi uma apostasia da noite para o dia, foi uma apostasia lenta”, explica o Papa. Também o rei Davi, seu pai, de fato, havia pecado – gravemente pelo menos duas vezes – mas logo se arrependeu e pediu perdão: permaneceu fiel ao Senhor que o guardou até o fim.

Davi chorou por aquele pecado e pela morte do filho Absalão e quando fugia dele, humilhou-se pensando em seu pecado, quando as pessoas o insultavam. “Era santo. Salomão não é santo”, afirmou. O Senhor lhe havia dado tantos dons, mas ele havia desperdiçado tudo porque deixara seu coração enfraquecer. Não se trata – observa o Papa – do “pecado de uma vez”, mas do “deslizar”.

As mulheres desviaram seu coração e o Senhor o reprova: “Você desviou o coração”. E isto ocorre na nossa vida. Nenhum de nós é um criminoso, nenhum de nós comete grandes pecados como Davi cometeu com a esposa de Urias, nenhum. Mas onde está o perigo? Deixar-se escorregar lentamente porque é uma queda com anestesia, você não se dá conta, mas lentamente você escorrega, relativiza as coisas e perde a fidelidade a Deus. Estas mulheres eram de outros povos, tinham outros deuses, e quantas vezes nos esquecemos do Senhor e entramos em negociações com outros deuses: o dinheiro, a vaidade, o orgulho. Mas isto é feito lentamente e se não houver graça de Deus, perdemos tudo.

Cuidado com a mundanidade, você não pode estar bem com Deus e com o diabo

Mais uma vez o Papa se refere ao Salmo 105 (106) para enfatizar que esta mistura com os povos e aprender a agir como eles significa tornar-se mundano, pagão:

E para nós este lento deslizamento na vida é em direção da mundanização, este é o pecado grave: “Todos o fazem, mas sim, não há problema, sim, não é realmente o ideal, mas…”. Estas palavras justificam-nos ao preço de perder a fidelidade ao único Deus. Eles são ídolos modernos. Vamos pensar neste pecado da mundanização. De perder a autenticidade do Evangelho. O genuíno da Palavra de Deus, de perder o amor deste Deus que deu a sua vida por nós. Não se pode estar bem com Deus e com o diabo. Isto é o que todos dizemos quando falamos de uma pessoa que é um pouco assim: “Ele está bem com Deus e com o diabo”. Ele perdeu a sua fidelidade.

O amor de Deus fará com que paremos

E, na prática, continua, significa não ser fiel “nem a Deus nem ao diabo”. Em conclusão, o Papa exorta-nos a pedir ao Senhor a graça de parar quando compreendermos que o coração começa a escorregar:

Pensemos neste pecado de Salomão, pensemos em como aquele sábio Salomão caiu, abençoado pelo Senhor, com toda a herança de seu pai Davi, como ele caiu lentamente, anestesiado para esta idolatria, para esta mundanização e lhe foi tirado o reino. Peçamos ao Senhor a graça de entender quando nosso coração começa a enfraquecer e a escorregar, para nos deter. Serão a Sua graça e o Seu amor nos deter se nós rezarmos a Ele.

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O 12 de fevereiro tornou-se uma importante ocasião ecumênica de comemoração em função do histórico encontro ocorrido em Havana entre o Papa e o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia Kirill, no início da 12ª Viagem Apostólica que levaria o Pontífice ao México, mas que teve uma etapa no Aeroporto José Martí, em Cuba, local do abraço entre irmãos. Foi um momento intenso, privado, resumido nos poucos pronunciamentos finais, para reafirmar a fraternidade entre as duas Igrejas, seguido então pela assinatura de uma Declaração Conjunta com indicações sobre o caminho futuro.

O histórico abraço em Cuba

“Somos bispos, conversamos sobre nossas Igrejas, concordamos que a unidade é construída no caminho”, foram as palavras do Papa, enquanto o Patriarca Kirill se referiu a um trabalho comum em algumas frentes, como a paz, o respeito pela vida, a família e a dignidade humana.

E é exatamente sobre esses temas que as etapas sucessivas do caminho comum foram articuladas, sempre no dia 12 de fevereiro de cada ano. O primeiro ano foi em Freiburg, seguido por Viena e Moscou nos anos sucessivos.

O martírio e o empenho dos cristãos no Oriente Médio, o despovoamento da região, o fim da vida e a dignidade do enfermo estiveram no centro dos encontros entre o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e Metropolita Hilarion, chefe do Departamento das Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou.

O encontro de Roma e o tema dos Santos

Quatro anos após aquela histórica Declaração, Roma acolhe o simpósio organizado sobre outro tema de interesse comum: “Os Santos – sinais e sementes da unidade”. O programa tem início às 15h30 desta quarta-feira, 12,  com a conferência na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino e um concerto noturno na Basílica de São João de Latrão, onde o Coro Sinodal de Moscou se apresentará junto com o Coro da Capela Musical Pontifícia Sistina.

Ao Vatican News, o cardeal Kurt Koch falou sobre os frutos amadurecidos nesses quatro anos de caminhada entre as Igrejas Católica e Ortodoxa de Moscou, as razões da escolha do “ecumenismo dos Santos” para o Simpósio em Roma, mas também o que o Papa, que compartilha o caminho em andamento passo a passo, tem no coração:

R.- Sim, podemos falar de frutos, porque ter um melhor conhecimento uns dos outros é muito importante para o progresso do ecumenismo. Devo mencionar a este respeito duas coisas: a primeira é a transferência da relíquia de São Nicolau para Moscou e São Petersburgo, um grande evento, porque representou a oportunidade para todos os crentes participarem do movimento ecumênico, e muitos russos ortodoxos e católicos foram para a veneração desta relíquia. E depois temos uma tradição já iniciada, ou seja, uma troca recíproca de visitas, em que um grupo de sacerdotes ortodoxos de Moscou vêm a Roma para visitar a Igreja Católica, para conhecer melhor a realidade da Igreja Católica e um grupo de sacerdotes católicos, por sua vez, vai a Moscou para encontrar a Igreja Ortodoxa. Parece-me uma excelente oportunidade para superar preconceitos que acumulamos na história e para ter um melhor conhecimento uns dos outros. Esses são para mim os frutos mais importantes.

Este ano o aniversário do encontro, depois de Freiburg, Viena e Moscou, é realizado em Roma, e a escolha do tema recai sobre os “Santos como sinais de unidade”. O senhor poderia explicar a escolha do local e do tema, se faz referência ao “ecumenismo dos santos” do qual o senhor já falou em diversas ocasiões?

R. – Organizamos o terceiro aniversário em Moscou sobre o tema crucial da eutanásia e estabelecemos que a próxima vez seria em Roma. Em Roma, escolhemos o tema dos Santos como sinais de unidade, porque em Roma temos a veneração de muitos Santos e sobretudo dos Santos da Igreja indivisa, que une Oriente e Ocidente. Nesse sentido, o ecumenismo dos Santos ajuda muito a incluir os povos, os crentes, porque é muito belo que os chefes das Igrejas se encontrem e também é necessário que os teólogos discutam as problemáticas teológicas, mas é importante incluir os crentes nesse movimento ecumênico e a veneração dos Santos e a reflexão sobre a santidade são temáticas muito importantes.

Portanto Santos que atraem os povos e que zelam também pela unidade?

R. – Sim, porque eu penso que os Santos, no Oriente e no Ocidente, já encontraram a unidade no céu e podem ajudar a encontrar unidade na terra, são  portanto, os apoiadores desse caminho ecumênico nesta terra.

No programa em Roma, além dos pronunciamentos, estão previstos dois testemunhos de vida dados pela unidade. O que nos ensinam e por que foram incluídos nesta ocasião?

R.- Todos somos chamados a nos tornar Santos, todos nós batizados. Tornar-se Santos quer dizer viver com Deus e, se encontramos a unidade em Deus, também encontramos unidade entre nós. Nesse sentido, como disse o Papa Francisco em um congresso, “não há ecumenismo sem santidade”. O caminho da santidade é o fundamento de todo o movimento ecumênico, na santidade podemos reencontrar a unidade em Cristo, porque Cristo quis a unidade. O fundamento de todo o movimento ecumênico é a oração sacerdotal de Jesus em João, capítulo 17, na qual Jesus reza pela unidade dos discípulos. Para mim, isso é muito tocanteJesus não ordena a unidade e não diz aos discípulos: “Vocês devem fazê-la”, mas ele reza. Nesse sentido, também nós cristãos não podemos fazer nada melhor do que a oração pela unidade no caminho da santidade.

O senhor havia indicado duas outras direções do caminho comum a ser seguido após Havana: o ecumenismo cultural e o ecumenismo da ação comum. Existem progressos também nesses campos?

R.- Sim. Quarta-feira de manhã temos a reunião do Comitê Cultural entre a Igreja Ortodoxa de Moscou e a Igreja Católica. Queremos discutir quais projetos podemos organizar para o futuro. Para mim é muito importante o ecumenismo cultural, porque na história, por exemplo, pela divisão entre Ocidente e Oriente, não estavam em primeiro plano as temas teológicos, mas sim temáticas culturais, porque no Oriente e no Ocidente as pessoas não se entendem mais uma com a outra e aprofundar um melhor conhecimento da cultura do outro ajuda muito a reencontrar a unidade e também uma colaboração social é muito importante, porque muitos desafios que temos neste mundo hoje são comuns e dar um testemunho comum sobre esses grandes desafios é muito importante, como fizemos no ano passado em Moscou sobre a eutanásia, que é um grande desafio nos países da Europa.

A situação dos cristãos no Oriente Médio – cada vez mais complicada, cada vez mais delicada, outro tema de preocupação comum – de que maneira interpela hoje quem trabalha com o ecumenismo,  em nível de comprometimento, em nível dos projetos?

R. – Eu penso que o principal desafio é que muitos cristãos deixam o Oriente Médio e vão embora e isso é uma coisa importante, porque o Oriente Médio é a terra de origem do cristianismo. O Oriente Médio sem cristãos não é mais o Oriente Médio e também um Oriente Médio com poucos cristãos não é mais o Oriente Médio. Nesse sentido, nós cristãos de todo o mundo temos a responsabilidade de dar nossa contribuição para que os cristãos possam permanecer. Isso é importante não somente para os cristãos do Oriente Médio, mas para o cristianismo de todo o mundo.

Imagino que o Papa Francisco acompanhe vocês neste caminho comum que está sendo realizado. Sabe-se se há algo em seu coração, um desejo, uma preocupação em particular?

R.- Você sabe que o Santo Padre sempre faz referência a essa realidade trinitária: caminhar juntos, rezar juntos, colaborar juntos. Essas três coisas estão muito a peito do Santo Padre e, sobre este caminho deseja caminhar no futuro em todas as relações ecumênicas. Mas devo dizer que para alcançar a plena comunhão, a plena unidade, também temos necessidade de diálogo teológico, mas há a decisão das Igrejas Ortodoxas de fazer esse diálogo não de forma bilateral, mas multilateralmente, e para isso temos a Comissão internacional mista para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas, e não podemos fazer esse diálogo somente em nível bilateral com Moscou.

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“Vinde a Mim”: as palavras de Cristo dirigidas à humanidade aflita e sofredora inspiraram a Mensagem do Papa Francisco para Dia Mundial do Enfermo, que chega à sua 28º edição.

Celebrado, como todos os anos, no dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, o tema para 2020 foi extraído do Evangelho de Mateus 11, 28: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos”.

“No XXVIII Dia Mundial do Enfermo, Jesus dirige este convite aos doentes e oprimidos, aos pobres cientes de dependerem inteiramente de Deus para a cura de que necessitam sob o peso da provação que os atingiu. A quem vive na angústia devido à sua situação de fragilidade, sofrimento e fraqueza, Jesus Cristo não impõe leis, mas, na sua misericórdia oferece-Se a Si mesmo, isto é, a sua pessoa que dá alívio.”

Ouça a reportagem

Ao tratamento, acrescentar o amor

Jesus tem esses sentimentos, prossegue o Pontífice, porque Ele mesmo viveu em primeira pessoa o sofrimento humano e só quem passa por esta experiência poderá ser de conforto aos demais.

De fato, constata o Papa, nota-se por vezes falta de humanidade na relação com os doentes. Ao tratamento, deve-se somar a solicitude, ou seja, o amor, sem esquecer com o enfermo há uma família que também ela pede conforto e proximidade.

É de Cristo que vem a luz para superar este momento de provação. Nele, os doentes encontrarão força para ultrapassar as inquietações e interrogativos que surgem nesta «noite» do corpo e do espírito. É verdade que Cristo não nos deixou receitas, mas, com a sua paixão, morte e ressurreição, liberta-nos da opressão do mal.

Nesta condição, reforça Francisco, a Igreja quer ser, cada vez mais e melhor, a «estalagem» do Bom Samaritano que é Cristo, isto é, a casa onde os enfermos podem encontrar a sua graça, que se expressa na familiaridade, no acolhimento, no alívio.

Não ceder a formas de eutanásia

A este ponto, o Papa fez uma menção aos profissionais da saúde, que colocam suas competências em prol do enfermo. E recorda que o substantivo “pessoa” deve vir antes do adjetivo “enfermo”.

Assim, a ação de médicos e enfermeiros têm que ter em vista “constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a atos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se for irreversível o estado da doença”.

Quando os profissionais da saúde se deparam com os limites e o possível fracasso da medicina, são chamados a se abrir à dimensão transcendente, “que pode oferecer o sentido pleno da profissão”. E lamentou que em contextos de guerras e conflitos, os profissionais e as estruturas de saúde podem ser atacados como forma de represália política.

“Lembremo-nos de que a vida é sacra e pertence a Deus, sendo por conseguinte inviolável e indisponível. A vida há de ser acolhida, tutelada, respeitada e servida desde o seu início até à morte”, escreve o Papa. Trata-se de uma exigência não só que vem da fé em Deus, mas da própria razão.

E Francisco pede que a objeção de consciência se torne uma opção necessária para que os profissionais da saúde permaneçam coerentes com esta abertura à vida. Quando não se pode curar, pode-se sempre cuidar com gestos e procedimentos que proporcionem amparo e alívio ao doente.

Acesso negado à saúde

Por fim, o Papa reserva seu pensamento a tantos irmãos no mundo que não têm acesso aos cuidados médicos porque vivem na pobreza.

“Por isso, dirijo-me às instituições sanitárias e aos governos de todos os países do mundo, pedindo-lhes que não sobreponham o aspecto econômico ao da justiça social.”

Francisco conclui confiando todos as pessoas que carregam “o fardo da doença” à Virgem Maria, bem como suas famílias, todos os profissionais e voluntários.

Radio Vaticano

Ser sal da terra e luz do mundo, uma linguagem simbólica usada por Jesus para indicar àqueles que pretendem segui-lo, “alguns critérios para viver a presença e o testemunho no mundo.”

Dirigindo-se aos milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o Angelus dominical, o Papa refletiu sobre o Evangelho de Mateus proposto pela liturgia do dia, explicando o significado destas duas imagens: sal e luz.

Ser sal

O sal – observou Francisco-  “é o elemento que dá sabor e que conserva e preserva os alimentos da corrupção”, motivo pelo qual o discípulo “é chamado a manter afastados da sociedade os perigos, os germes corrosivos que poluem a vida das pessoas”.

“Trata-se de resistir à degradação moral, ao pecado, testemunhando os valores da honestidade e da fraternidade, sem ceder às tentações mundanas do carreirismo, do poder e da riqueza.”

E explicando o que é ser sal, enfatiza o quanto é necessário hoje o testemunho de fidelidade aos ensinamentos de Jesus:

É “sal” o “discípulo” que, apesar dos fracassos cotidianos – porque todos nós os temos – reergue-se do pó dos próprios erros, recomeçando com coragem e paciência, a cada dia, a buscar o diálogo e o encontro com os outros. É “sal” o discípulo que não busca o consenso e o aplauso, mas se esforça para ser uma presença humilde e construtiva, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus, que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir. E há tanta necessidade desse comportamento.

Ser luz

O Papa explica então o significado de ser luz. “A luz – recordou – dissipa a escuridão e permite ver. Jesus é a luz que dissipou as trevas, mas elas ainda permanecem no mundo e nas pessoas”.  Neste sentido, “é tarefa do cristão dissipá-las, fazendo resplandecer a luz de Cristo e anunciando seu Evangelho”.  E essa “irradiação”, deve brotar sobretudo “de nossas boas obras”.

“Um discípulo e uma comunidade cristã são luz no mundo quando direcionam os outros para Deus, ajudando cada um a fazer a experiência da sua bondade e da sua misericórdia.”

O discípulo de Jesus é luz quando sabe viver a própria fé fora de espaços restritos, quando contribui para eliminar os preconceitos, a eliminar as calúnias e a deixar entrar a luz da verdade nas situações deterioradas pela hipocrisia e pela mentira. Iluminar. Mas não é a minha luz, é a luz de Jesus. Nós somos instrumentos para que a luz de Jesus chegue a todos.

Igreja não pode fechar-se em si mesma

Diante dos conflitos e pecados existentes no mundo – recordou o Papa – Jesus nos convida a não temer. De fato, na Última Ceia, Ele não pediu ao Pai para que tirasse os discípulos do mundo, mas que os protegesse do espírito do mundo. E enfatizou:

Diante da violência, da injustiça, da opressão, o cristão não pode fechar-se em si mesmo ou esconder-se na segurança do próprio recinto. Também a Igreja não pode fechar-se em si mesma, não pode abandonar sua missão de evangelização e de serviço.

A Igreja se dedica com generosidade e ternura aos pequenos e aos pobres: este não é o espírito do mundo, esta é a sua luz, é o sal. A Igreja escuta o clamor dos últimos e dos excluídos, porque tem consciência de ser uma comunidade peregrina chamada a prolongar a presença salvífica de Jesus Cristo na história.

Grupos de peregrinos presentes na Praça São Pedro

O Papa concluiu, pedindo a Virgem Santa para nos ajudar “a ser sal e luz em meio às pessoas, levando a todos, com a vida e a palavra, a Boa Nova do amor de Deus”.

Radio Vaticano

“O mundo é rico e, todavia, os pobres aumentam ao nosso redor.” Foi a constatação expressa pelo Papa no discurso na tarde desta quarta-feira (05/02) na Casina Pio IV, no Vaticano, no Simpósio “Novas formas de fraternidade solidária, de inclusão, integração e inovação”, com a participação, entre outros, de economistas, ministros da economia e banqueiros.

Já no início, Francisco agradeceu pelo encontro, exortando a aproveitar deste novo início do ano para construir pontes, “pontes que favoreçam o desenvolvimento de um olhar solidário a partir dos bancos, das finanças, dos governos e das decisões econômicas.

“Precisamos de muitas vozes capazes de pensar, a partir de uma perspectiva poliédrica, as várias dimensões de um problema global que diz respeito aos nossos povos e às nossas democracias”, enfatizou.

Centenas de milhões de pessoas imersas na extrema pobreza

Segundo relatórios oficiais, disse o Pontífice, a renda mundial deste ano será de quase 12 mil dólares per capita. No entanto, centenas de milhões de pessoas ainda se encontram imersas na pobreza extrema e não dispõem de alimento, habitação, assistência médica, escolas, eletricidade, água potável e estruturas higiênicas adequadas e indispensáveis.

“Calcula-se que cerca de cinco milhões de crianças abaixo dos 5 anos morrerão este ano devido à pobreza. Outras 260 milhões não receberão uma educação por falta de recursos, por causa das guerras e das migrações”, acrescentou.

Esta situação, disse ainda, levou milhões de seres humanos “a ser vítimas do tráfico de pessoas e das novas formas de escravidão, como o trabalho forçado, a prostituição e o tráfico de drogas”.

Não somos condenados à iniquidade universal

Tais realidades não devem ser motivo de desespero, mas de ação, são realidades que nos impulsionam a fazer algo, frisou Francisco, destacando em seguida a principal mensagem de esperança que gostaria de partilhar com os presentes:

“Não existe um determinismo que nos condene à iniquidade universal. Permitam-me repetir: não somos condenados à iniquidade universal. Isso torna possível um novo modo de enfrentar os eventos, que permita encontrar e gerar respostas criativas diante do evitável sofrimento de tantos inocentes; isso implica aceitar que, em não pouca situações, nos encontramos diante de uma falta de vontade e de decisão para mudar as coisas, e principalmente as prioridades.”

Em seguida, o Santo Padre foi enfático: “Um mundo rico e uma economia vibrante podem e devem acabar com a pobreza. E se podem gerar e promover dinâmicas capazes de incluir, alimentar, cuidar e vestir os últimos da sociedade ao invés de excluí-los”.

Escolher a que e a quem dar prioridade

Devemos escolher a que coisa e a quem dar prioridade: se favorecer mecanismos socioeconômicos humanizadores para toda a sociedade ou, ao contrário, fomentar um sistema que acaba por justificar determinadas práticas que só fazem aumentar o nível de injustiça e de violência social.

Dito isso, o Pontífice foi taxativo:

“O nível de riqueza e de técnica acumulados pela humanidade, bem como a importância e o valor que os direitos humanos adquiriram, não permitem mais pretextos. Devemos ter consciência de que todos somos responsáveis. Isso não quer dizer que todos somos culpados. Todos somos responsáveis a fazer algo.”

Extrema pobreza e extrema riqueza

Se existe a pobreza extrema em meio à riqueza (por sua vez riqueza extrema), é porque permitimos que a disparidade se ampliasse até tornar-se a maior da história.

Baseado em dados quase oficiais, Francisco afirmou que as cinquenta pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio tal que poderiam financiar a assistência médica e a educação de toda criança pobre no mundo, quer através do pagamento de impostos, quer através de iniciativas filantrópicas, ou ambas. Essas cinquenta pessoas poderiam salvar milhões de vida todos os anos, destacou.

A globalização da indiferença foi chamada “inação”. São João Paulo II a chamou: estruturas de pecado. Tais estruturas encontram um clima propício para a sua expansão toda vez que o Bem Comum é reduzido ou limitado a determinados setores ou, no caso que nos reúne hoje, quando a economia  e a finança se tornam fins a si mesmas. É a idolatria do dinheiro, a avidez e a especulação.

Estruturas de pecado hoje

Seguindo a razão iluminada pela fé, ressaltou Francisco, a doutrina social da Igreja celebra as formas de governo e os bancos “quando realizam sua finalidade, que é, definitivamente, buscar o bem comum, a justiça social, a paz, bem como o desenvolvimento integral de todo indivíduo, de toda comunidade humana e de todas as pessoas.”

“Todavia – observou o Papa –, a Igreja alerta que essas instituições benéficas, tanto públicas quanto privadas, podem decair em estruturas de pecado.”

“As estruturas de pecado hoje incluem repetidos cortes dos impostos para as pessoas mais ricas, justificados muitas vezes em nome do investimento e do desenvolvimento; paraísos fiscais para os lucros privados e corporativos; e a possibilidade de corrupção por parte de algumas das maiores empresas do mundo, não raramente em sintonia com o setor político governante.”

O peso insuportável da dívida externa dos países pobres

Em seguida, o Pontífice falou sobre o peso dívida externa dos países pobres e suas consequências sobre a população. “As pessoas pobres em países muito endividados suportam imposições tributárias opressoras e cortes nos serviços sociais, na medida em que seus governantes pagam as dívidas contraídas de modo insensível e insustentável.”

Nesse sentido, Francisco citou a Carta encíclica Centesimus annus (n. 35) de 1991, afirmando que as exigências morais de São João Paulo II se mostram hoje supreendentemente atuais:

“Com certeza que é justo o princípio de que as dívidas devem ser pagas; não é lícito, porém, pedir ou pretender um pagamento, quando esse levaria de fato a impor opções políticas tais que condenariam à fome e ao desespero populações inteiras. Não se pode pretender que as dívidas contraídas sejam pagas com sacrifícios insuportáveis. Nestes casos, é necessário — como, de resto, está sucedendo em certa medida — encontrar modalidades para mitigar, reescalonar ou até cancelar a dívida, compatíveis com o direito fundamental dos povos à subsistência e ao progresso.”

Indústria da guerra, dinheiro e tempo a serviço da morte

O Santo Padre disse ainda que “é necessário afirmar que a maior estrutura de pecado é a indústria da guerra, porque é dinheiro e tempo a serviço da divisão e da morte. O mundo perde todos os anos bilhões de dólares em armamentos e violências, somas que poderiam acabar com a pobreza e o analfabetismo”.

“Vocês, que tão gentilmente estão aqui reunidos, são os líderes financeiros e especialistas do mundo em economia”, disse o Papa dirigindo-se diretamente aos economistas, ministros da economia e banqueiros presentes no evento promovido pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais. “Vocês conhecem por primeiro quais são as injustiças da nossa economia global atual. Trabalhemos juntos para acabar com essas injustiças”, foi a exortação do Pontífice.

Por uma nova arquitetura financeira internacional

Concluindo, Francisco afirmou com veemência que “o tempo presente exige e requer passar de uma lógica insular e antagonista como único mecanismo autorizado para a solução dos conflitos, a outra (lógica) capaz de promover a interconexão que favorece uma cultura do encontro, onde se renovem as bases sólidas de uma nova arquitetura financeira internacional”.

Radio Vaticano

A Sala Paulo VI acolheu esta quarta-feira (05/02) milhares de fiéis e peregrinos que vieram ao Vaticano para a Audiência Geral.

Na semana passada, o Papa Francisco anunciou um novo ciclo de catequeses dedicado às bem-aventuranças e hoje comentou a primeira das oito proclamadas por Jesus:  bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. (Mt 5,3).

O Pontífice começou explicando o significado de “pobres”: aqui não se trata simplesmente de uma pobreza material, mas de ser pobres em espírito. O espírito, segundo a Bíblia, é o sopro da vida que Deus comunicou a Adão, é a nossa dimensão mais íntima, a dimensão espiritual, a que nos torna pessoas humanas, o núcleo profundo do nosso ser. Portanto, os “pobres em espírito” são aqueles que são e se sentem pobres, mendicantes, no íntimo de seu ser.

“Quantas vezes ouvimos o contrário! É preciso ser alguém, ser alguém… é disto que nasce a solidão e a infelicidade: se devo ser ‘alguém’, estou competindo com os outros e vivo na preocupação obsessiva pelo meu ego. Se não aceito ser pobre, sinto ódio por tudo aquilo que recorda a minha fragilidade.”

Digerir os próprios limites

Diante de si, cada um sabe que, por mais que faça, permanece sempre radicalmente incompleto e vulnerável. Não tem truque que cubra essa vulnerabilidade. Cada um de nós é vulnerável dentro. Mas como se vive mal rejeitando os próprios limites! Vive-se mal, não se digere o limite. Está ali. As pessoas orgulhosas não pedem ajuda porque querem se mostrar autossuficientes. Quantos precisam de ajuda, mas o orgulho lhes impede de pedir ajuda. E quanto é difícil admitir um erro e pedir perdão!

Francisco recordou que quando dá um conselho aos recém-casado sobre como levar avante o matrimônio, diz três palavras mágicas: com licença, obrigado, desculpa. “Palavras que vêm da pobreza.” “Os casais me dizem que a terceira é a mais difícil, porque quem é orgulhoso não consegue perdir desculpa, tem sempre razão. Não é pobre.”

Cansaço de pedir perdão

Ao invés, o Senhor jamais se cansa de perdoar; somos nós que nos cansamos de pedir perdão. “O cansaço de pedir perdão é uma doença ruim.”

Pedir perdão, acrescentou o Papa, humilha a nossa imagem hipócrita, mas Jesus nos recorda que ser pobres é uma ocasião de graça e nos mostra o caminho para sair desta angústia de se mostrar perfeito. Nos foi dado o direito de ser pobres em espírito, porque este é o caminho do Reino de Deus.

Mas se deve reiterar algo fundamental: não devemos nos transformar para nos tornar pobres em espírito, porque já o somos! Precisamos de tudo. Somos todos pobres em espírito, mendicantes. É a condição humana.

Os reinos deste mundo caem

O Reino de Deus é dos pobres em espírito, mas há também os reinos deste mundo, feitos de pessoas com posses e comodidades. Mas são reinos que acabam. O poder dos homens, inclusive os maiores impérios, passam e desaparecem. “Mas vemos na televisão, nos jornais, governantes fortes, poderosos, mas caíram. Ontem eram, hoje não são mais. As riquezas deste mundo vão embora, também o dinheiro. O sudário não tinha bolsos. Nunca vi atrás de um cortejo fúnebre um caminhão de mudanças.”

Reina realmente quem sabe amar o verdadeiro bem mais que a si mesmo. Este é o poder de Deus. Cristo se mostrou poderoso porque soube fazer o que os reis da terra não fazem: dar a vida pelos homens.

“Este é o poder verdadeiro: poder da fraternidade, da caridade, do amor, da humildade. Isso fez Cristo. Nisto está a verdadeira liberdade. Quem tem os poderes da humildade, do serviço, da fraternidade, é livre.”

O Papa então concluiu:

“Há uma pobreza que devemos aceitar, a do nosso ser, e uma pobreza que, ao invés, devemos buscar, aquela concreta, das coisas deste mundo, para ser livres e poder amar. Sempre buscar a liberdade do coração, aquela que tem raízes na pobreza de nós mesmos.”

 

Radio Vaticano

O choro de Davi pela morte do seu filho é profecia do amor de Deus por nós: foi o que afirmou o Papa Francisco na homilia da missa matutina (04/02) na Casa Santa Marta.

Meu filho Absalão! Por que não morri eu em teu lugar? Este é o grito angustiado de Davi, aos prantos, ao tomar conhecimento da morte do filho. A Primeira Leitura da liturgia do dia, extraída do segundo livro de Samuel, descreve o fim de uma longa batalha conduzida por Absalão contra o próprio pai, o rei Davi, para tomar o trono.

O Pontífice resumiu a narração, afirmando que Davi sofria por aquela guerra que o filho, Absalão, havii desencadeado contra ele, convencendo o povo a lutar ao seu lado contra o rei, a ponto de Davi ter que fugir para Jerusalém para salvar a própria vida.

“Descalço, com a cabeça coberta, insultado – afirmou Francisco, enquanto outros lhe lançavam pedras, porque todo o povo estava do lado deste filho que o havia enganado, seduzindo o coração das pessoas com promessas”.

O trecho descreve Davi à espera de novidades na linha de frente e então chega o mensageiro que o adverte: Absalão morreu em batalha. Com a notícia, Davi estremece, chora e diz: ‘Meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Por que não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho! ‘”. Quem presencia a cena fica maravilhado com esta reação:

“Mas por que está chorando? Ele estava contra você, o havia renegado, renegado a sua paternidade, insultado, perseguido, mas festeje, festeje porque você venceu!”, e Davi só diz: “Meu filho, meu filho, meu filho” e chorava. Este pranto de Davi é um fato histórico, mas é também uma profecia. Nos mostra o coração de Deus, o que faz o Senhor conosco quando nos afastamos Dele, o que faz o Senhor quando nós destruímos a nós mesmos com o pecado, desorientados, perdidos. O Senhor é pai e jamais renega esta paternidade: “Meu filho, meu filho”.

O Papa prosseguiu dizendo que nós encontramos aquele pranto de Deus quando vamos nos confessar, porque não é como “ir à lavanderia” para tirar uma mancha, mas “é ir até o pai que chora por mim, porque é pai”.

A frase de Davi: “Por que não morri eu em teu lugar, meu filho Absalão?” é profética, afirmou ainda Francisco, e em Deus “se faz realidade”:

É tão grande o amor de pai que Deus sente por nós, que morreu no nosso lugar. Fez-se homem e morreu por nós. Quando olhamos para o crucifixo, devemos pensar nisto “Por que não morri eu em teu lugar”. E sentimos a voz do pai que no filho nos diz: “meu filho, meu filho”. Deus não renega os filhos, Deus não negocia a sua paternidade.

O amor de Deus chega até o limite extremo. Quem está na cruz é Deus, o filho do Pai, enviado para dar a vida por nós.

Nos fará bem nos momentos ruins da nossa vida – todos nós temos – momentos de pecado, momentos de afastamento de Deus, sentir esta voz no coração: “Meu filho, minha filha, o que você está fazendo? Não se mate, por favor. Eu morri por você”.

Por fim, o Papa recordou que Jesus chorou olhando Jerusalém, Jesus chorou “porque nós não deixamos que Ele nos ame”. E concluiu com um convite: “No momento da tentação, no momento do pecado, no momento que nós nos afastamos de Deus, busquemos ouvir esta voz: ‘Meu filho, minha filha, por quê?’”.

Radio Vaticano

Uma vida normal, tranquila, um coração que não se move nem mesmo diante dos pecados mais graves, um mundanismo que rouba a capacidade de ver o mal sendo feito. O Papa Francisco, na homilia da Missa na Casa Santa Marta, relê a passagem extraída do segundo livro de Samuel, focada na figura do rei Davi, o “santo rei Davi”, que caindo na vida cômoda, esquece ter sido eleito por Deus.

Davi, como tantos homens de hoje, pessoas que parecem boas, “que vão à Missa todos os domingos, que se dizem cristãs”, mas que perderam “a consciência do pecado”: um dos males de nosso tempo, dizia Pio XII. Um tempo em que parece que tudo pode ser feito, uma “atmosfera espiritual” da qual se arrepender, quem sabe graças à repreensão de alguém ou por “um tapa” da vida.

O espírito do mundo

Francisco se concentra nos pecados de Davi: o censo do povo e a forma como faz Urias morrer, depois de ter engravidado sua esposa Betsabeia. Ele escolhe o assassinato porque seu plano para colocar as coisas no lugar depois do adultério, falha miseravelmente. “Davi – afirma o Papa – continuou a sua vida normal. Tranquilo. O coração não se moveu”:

Mas como o grande Davi, que é santo, que havia feito tantas coisas boas, que era tão unido a Deus, foi capaz de fazer isso? Isso não se faz da noite para o dia. O Grande Davi escorregou lentamente, lentamente. Há pecados de um momento: o pecado da ira, um insulto, que eu não posso controlar. Mas há pecados nos quais se escorrega lentamente, com o espírito do mundanismo. É o espírito do mundo que te leva a fazer essas coisas, como se fossem normais. Um assassinato …

Deslizar no pecado

Lentamente, é um advérbio que o Papa repete muitas vezes em sua homilia. Explica o modo como pouco a pouco o pecado toma posse do homem, aproveitando de sua comodidade. “Somos todos pecadores – prossegue Francisco – mas às vezes cometemos pecados do momento. Fico com raiva, insulto. Depois me arrependo.”

Às vezes, pelo contrário, “nos deixamos deslizar para um estado de vida em que… parece normal”. Normal, por exemplo, é “não pagar a doméstica como deve ser paga”, ou aqueles que trabalham no campo e recebem metade do valor devido:

Mas são pessoas boas, parece, que fazem isso, que vão à Missa todo domingo, que se dizem cristãs. Mas por que fazes isso? E os outros pecados? Conto somente este… Eh, porque deslizaste para um estado no qual perdeste a consciência do pecado. E este é um dos males do nosso tempo. Pio XII disse: perder a consciência do pecado. “Mas, se pode fazer tudo …” e, no final, leva uma vida inteira para resolver um problema.

O “tapa” da vida

Não são coisas antigas, explica o Papa, recordando um caso recente ocorrido na Argentina com alguns jovens jogadores de rugby que espancaram um companheiro até a morte depois de uma noitada. Jovens – afirma o Papa – que se tornaram “um bando de lobos”. Um fato que leva a questionar sobre a educação dos jovens, sobre a sociedade.

“Tantas vezes há necessidade de um tapa da vida” para parar, para dar um basta naquele lento deslizar para o pecado. Há necessidade de uma pessoa como o profeta Natã, enviado por Deus a Davi, para fazê-lo ver seu erro:

Pensemos um pouco: qual é a atmosfera espiritual da minha vida? Estou atento, sempre tenho necessidade de alguém para me dizer a verdade, ou não, acredito que não? Escuto a repreensão de algum amigo, do confessor, do marido, da esposa, dos filhos, que me ajuda um pouco? Olhando para esta história de Davi – do Santo Rei Davi, perguntemo-nos: se um Santo foi capaz de cair assim, estejamos atentos, irmãos e irmãs, isso pode acontecer também conosco. E também nos perguntemos: eu, em que atmosfera vivo? Que o Senhor nos dê a graça de sempre nos enviar um profeta – pode ser o vizinho, o filho, a mãe, o pai – que nos dê um tapa quando estivermos deslizando para essa atmosfera onde parece que tudo seja lícito.

Radio Vaticano

A página que o Evangelho de Marcos (Mc 2, 21-25) nos propõe hoje é rica de frases e conselhos de Jesus. O Papa Francisco escolhe uma para refletir na sua homilia na capela da Casa Santa Marta, num diálogo constante com os fiéis presentes: “Com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos”.

A medida do estilo cristão

Todos nós, afirmou o Papa, fazemos as contas com a vida, fazemos no presente e, sobretudo, faremos ao final da nossa existência, e esta frase de Jesus nos diz justamente “como será aquele momento”, isto é, como será o juízo.

Enquanto o trecho das Bem-aventuranças e o capítulo 25 do Evangelho de Mateus falam das “coisas que devemos fazer”, o Evangelho de hoje mostra como fazê-las, o estilo e a medida:

Com qual medida eu meço os outros? Com qual medida meço a mim mesmo? É uma medida generosa, repleta do amor de Deus ou é uma medida rasa? E com aquela medida eu serei julgado, não será outra: com aquela, aquela que eu faço. Qual é o nível em que coloquei a minha trave? Coloquei no alto? Devemos pensar nisso. E isso o vemos não só nas coisas boas ou más que fazemos, mas no estilo contínuo de vida.

O modelo do estilo cristão: Deus que humilha a si mesmo 

O Papa destacou que cada um de nós tem um estilo, “um modo de medir a si mesmo, as coisas e os outros” e será o mesmo que o Senhor usará conosco.  Portanto, explicou, quem mede com egoísmo, assim será medido; quem não tem piedade e que para subir na vida “é capaz de pisar na cabeça de todos”, será julgado do mesmo modo, isto é, “sem piedade”. O contrário disto é o estilo de vida do cristão, que Francisco assim propôs:

E como cristão eu me pergunto qual é a medida de referência, a medida de comparação para saber se estou num nível cristão, um nível que Jesus quer? É a capacidade de me humilhar, é a capacidade de sofrer as humilhações. Um cristão que não é capaz de carregar consigo as humilhações da vida, lhe falta algo. É um cristão de verniz ou de interesse. “Mas, padre, por que isto?”. Porque Jesus fez assim, ele mesmo se aniquiliou, assim diz Paulo: “humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!”. Ele era Deus, mas não se agarrou a isto: humilhou-se a si mesmo. Este é o modelo.

Mundanos, pecadores, empreendedores ou cristão?

E como exemplo de um estilo de vida definido “mundano” e incapaz de seguir o modelo de Jesus, o Papa citou as “lamentações” que lhe referem os bispos quando têm dificuldades para transferir os sacerdotes de paróquia, porque consideradas “de categoria inferior” e não superior como eles aspiram e, portanto, vivem esta transferência como uma punição.

Francisco então comentou como reconhecer o “meu estilo”, o “meu modo de julgar” segundo o comportamento que assumo diante das humilhações: “um modo de julgar mundano, um modo de julgar pecador, um modo de julgar empresarial ou um modo de julgar cristão”:

Com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos”, a mesma medida. Se é uma medida cristã, que segue Jesus no seu caminho, (com) a mesma serei julgado, com muita, muita, muita piedade, com muita compaixão, com muita misericórdia. Mas se a minha medida é mundana e só uso a fé cristã – sim, faço, vou à missa, mas vivo como mundano – serei medido com esta medida. Peçamos ao Senhor a graça de viver de modo cristão e, sobretudo, de não ter medo da cruz, das humilhações, porque este é o caminho que Ele escolheu para nos salvar e isto é o que garante que a minha medida é cristã: a capacidade de carregar a cruz, a capacidade de sofrer alguma humilhação. 

Radio Vaticano

Na Audiência Geral desta quarta-feira (29/01), realizada na Sala Paulo VI, o Papa Francisco anunciou um novo ciclo de catequeses, desta vez dedicado às bem-aventuranças.

No Evangelho de Mateus (5, 1-11), o texto se abre com o sermão da montanha, que iluminou a vida dos fiéis e inclusive de muitos não fiéis, por conter a “carteira de identidade” dos cristãos, o seu estilo de vida seguindo o exemplo de Cristo.

Nas próximas semanas, o Pontífice comentará cada uma das bem-aventuranças, dedicando esta primeira catequese a uma explicação global das palavras de Jesus.

Uma mensagem a toda a humanidade

Antes de tudo, afirmou, é importante como acontece a proclamação desta mensagem: suas palavras são endereçadas aos discípulos, com um horizonte mais amplo que é a multidão que se reuniu às margens do lago da Galileia – multidão que representa hoje toda a humanidade. “É uma mensagem para toda a humanidade.”

A montanha ainda evoca o Sinai, onde Deus deu a Moisés os dez mandamentos. Jesus começa a ensinar uma nova lei: ser pobres, mansos, misericordiosos… que vai além de meras “normas”. Com efeito, Jesus nada impõe, mas revela o caminho da felicidade – o Seu caminho – repetindo oito vezes a palavra “bem-aventurados”.

As bem-aventuranças, prosseguiu o Pontífice, se compõem de três partes. Primeiramente, consta sempre a palavra “bem-aventurados”; depois, a situação em que se encontram estes beatos: pobreza, aflição, injustiça, guerra, perseguição, etc.; e finalmente o motivo de tal felicidade, introduzido pela palavra “porque…”.

“Seria belo aprender de cor as bem-aventuranças, para ter na mente e no coração esta lei que Jesus nos dá.”

O motivo da felicidade

Os “porquês” não dizem respeito à situação atual, mas à nova condição que os Bem-aventurados receberão de Deus. De fato, ao indicar tais motivos, Jesus usa frequentemente um futuro passivo: serão consolados, serão saciados, etc.

Francisco explicou ainda o significado da palavra “bem-aventurado”, que é uma pessoa que está numa condição de graça, que progride na graça de Deus e no caminho de Deus. “Paciência, pobreza, serviço aos outros, consolação: estas pessoas são felizes.”

Para doar-se a nós, Deus escolhe com frequência estradas impensáveis, provavelmente aquelas dos nossos limites, das nossas lágrimas, das nossas derrotas. É a alegria pascal, da qual falam os irmãos orientais, aquela que tem os estigmas, mas está viva, atravessou a morte e fez a experiência do poder de Deus.

O Papa então concluiu com uma recomendação aos fiéis:

“As bem-aventuranças levam à alegria, sempre. São o caminho para chegar à alegria. E nos fará bem hoje pegar o Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículos 1-11 e ler as bem-aventuranças e talvez repetir isso algumas vezes durante a semana para entender este caminho belo e certo da felicidade que o Senhor nos propõe.”

Radio Vaticano

O convite do Papa Francisco para ter mais familiaridade com a Bíblia, como se fôssemos usar o celular, já foi feito publicamente em outras oportunidades quando pediu para lermos diariamente a Palavra de Deus, “sempre atual e eficaz”, meditando e assimilando ela. Já no Angelus de 5 de março de 2017, o Pontífice lançou a provocação de levar a Bíblia, ou pelo menos o pequeno Evangelho, no bolso:

“Se abríssemos a Bíblia várias vezes ao dia; se lêssemos as mensagens de Deus contidas na Bíblia como lemos as mensagens do celular, o que aconteceria? Obviamente a comparação é paradoxal, mas faz refletir.”

No último dia 26 de janeiro, ao pronunciar a homilia na missa que, pela primeira vez, celebrou o Domingo da Palavra de Deus, o Papa nos encorajou novamente a ler o Evangelho todos os dias. A cerimônia foi instituída para fortalecer e recuperar a identidade cristã, através da leitura mais frequente da Bíblia:

“Queridos irmãos e irmãs, demos espaço à Palavra de Deus! Vamos ler diariamente qualquer versículo da Bíblia. Começar pelo Evangelho: mantê-lo aberto no cômodo de casa, trazê-lo conosco no bolso, visualizá-lo no celular; deixemos que nos inspire todos os dias. Descobriremos que Deus está perto de nós, ilumina as nossas trevas, amorosamente impele para conduzir a nossa vida.”

Na conclusão da celebração eucarística, o Papa Francisco fez um gesto simbólico: entregou a Bíblia a 40 pessoas representantes de várias realidades da sociedade, desde bispos, seminaristas e catequistas a migrantes, pobres, detentos, professores universitários e de escolas fundamentais e de ensino médio, jornalistas, embaixadores de vários continentes e representantes das Igrejas Ortodoxas e das Comunidades Evangélicas.

Itália e a “Bíblia noite e dia”

Outras iniciativas promovidas por ocasião do primeiro Domingo da Palavras também foram realizadas fora do Vaticano. Na Itália, na Igreja do Santíssimo Salvador em Terni, mais de 70 pessoas de diferentes idades e confissões religiosas se alternaram para a leitura da Bíblia durante 24 horas. Foi uma noite e um dia inteiro de leitura integral, sem interrupções e comentários, apenas com pequenos espaços musicais. A leitura da “Bíblia noite e dia” pôde inclusive ser seguida via streaming pelo Facebook.

Polônia e a #Bible nas redes sociais

Na Polônia, também no Domingo da Palavra de Deus, no dia 26 de janeiro, a internet serviu de ferramenta para o compartilhamento do Evangelho. Uma iniciativa da Conferência Episcopal convidou para serem publicadas nas redes sociais citações preferidas da Bíblia com a hashtag #Bible. “A internet èe um instrumento útil para a difusão da Palavra e também as redes sociais podem ajudar”, disse o porta-voz dos bispos poloneses, Pe. Pawel Rytel-Andrianik.

Radio Vaticano

Depois da missa celebrada na Basílica de São Pedro, por ocasião do Primeiro Domingo da Palavra de Deus, o Papa Francisco, na alocução que precedeu a Oração Mariana do Angelus deste domingo (26), se concentrou no Evangelho do dia, de quando começou a missão pública de Jesus. Uma pregação que começa ao pronunciar as seguintes palavras:”Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo”. Um anúncio poderoso como um “feixe de luz que atravessa as trevas e corta a névoa”, disse Francisco.

“Com a vinda de Jesus, luz do mundo, Deus Pai mostrou à humanidade a sua proximidade e amizade”, comentou o Papa, dadas gratuitamente e que não são um mérito nosso: “são um dom gratuito de Deus. Nós devemos tutelar esse dom”, explicou o Pontífice, que fez um apelo para um “verdadeiro caminho de conversão”:

“Tantas vezes é impossível mudar a própria vida, abandonar o caminho do egoísmo, do mal, abandonar a estrada do pecado, porque o compromisso de conversão está centrado apenas em si mesmo e nas próprias forças, e não em Cristo e no seu Espírito. Mas nossa adesão ao Senhor não pode ser reduzida a um esforço pessoal, não. Acreditar nisso também seria um pecado de soberba. A nossa adesão ao Senhor não pode se reduzir a um esforço pessoal, ao contrário, deve ser expressa em uma abertura confiante de coração e mente para acolher a Boa Nova de Jesus. É essa, a Palavra de Jesus, a Boa Nova de Jesus, o Evangelho – que muda o mundo e os corações! Somos chamados, portanto, a confiar na palavra de Cristo, a nos abrir à misericórdia do Pai e a nos deixar ser transformados pela graça do Espírito Santo.”

Radio Vaticano

As histórias “podem ajudar-nos a entender e a dizer quem somos” porque “o homem é um ser narrador” que precisa “revestir-se de histórias para custodiar a própria vida”. O Papa Francisco ressalta isso em sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2020, publicada esta sexta-feira (24/01) memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.

Uma mensagem que, todavia, abraça um horizonte bem mais amplo do que a profissão jornalística, como efetivamente Francisco nos habituou desde sua primeira Mensagem para as Comunicações Sociais, a de 2014, quando traçou uma união ideal entre a figura evangélica do Bom Samaritano e a missão realizada hoje pelos “bons comunicadores”.

Num tempo marcado pelo uso instrumental da palavra, utilizada para causar divisão, “doença” da qual infelizmente o mundo católico não é imune, o Papa nos recorda que a comunicação é autêntica se edifica, não se destrói. Se é “humilde” na “busca da verdade”, como já ressaltado na audiência de maio passado aos jornalistas da Associação Imprensa Estrangeira.

E diante do propagar-se de narrações “falsas e malvadas” – até a sofisticada aberração do deep fake (profunda falsificação) –, o Papa encoraja a fazer de modo que a narração fale “de nós e do belo que nos habita” ajudando “a reencontrar as raízes e a força para seguir adiante juntos”. Precisamos – é a sua exortação – “respirar a verdade das boas histórias”.

A Sagrada Escritura, uma “História de histórias”

Na Mensagem é citada a storytelling, técnica sempre mais em voga em vários ambientes da publicidade à política, mas a narração pensada por Francisco não segue lógicas mundanas. Tem um valor mais profundo que “recorda aquilo que somos aos olhos de Deus”. De resto, uma indicação reveladora daquilo que o Papa considera ser um modelo de narração vem já do tema escolhido para a Mensagem: “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10, 2). A vida faz-se história”.

A Sagrada Escritura, observa o Pontífice, é “uma História de histórias” e acrescenta que a Bíblia nos mostra “um Deus que é criador e ao mesmo tempo narrador”. Propriamente “através do seu narrar – prossegue – Deus chama as coisas à vida e, no ápice, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores”.

Na iminência da celebração do “Primeiro Domingo da Palavra de Deus”, instituída com a Carta Apostólica Aperuit Illis, Francisco nos convida, portanto, também com esta Mensagem, a fazer-nos próximos da Sagrada Escritura, a fazê-la nossa, recordando-nos que “a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade”. Por outro lado, como nos ensina o Livro do Êxodo – do qual o tema da Mensagem é extraído – aprendemos que “o conhecimento de Deus se transmite sobretudo contando, de geração em geração, como Ele continua se fazendo presente”.

Uma parte importante do documento é dedicada pelo Papa às “histórias destrutivas” que descreve com palavras que recordam o caráter imediato das homilias feitas na Casa Santa Marta. Mais uma vez – como na Mensagem para as Comunicações de 2018 dedicada ao fenômeno das fake news -, Francisco chama a atenção para a tentação da serpente, narrada no Livro do Gênesis, que “insere na trama da história um nó difícil de desfazer-se”. O Papa denuncia aquelas histórias que “nos entorpecem, convencendo-nos de que para ser felizes precisamos continuamente ter, possuir, consumir”.

E, retomando um tema que tem muito a peito, estigmatiza a avidez de “boatos e mexericos” dos quais “quase não nos damos conta”, bem como a muita “violência e falsidade” que “consumimos”. A consequência última é o difundir-se de “histórias destrutivas e provocatórias que consumam e quebram os fios frágeis da convivência”. É colocada em risco a dignidade humana, lê-se na Mensagem, que é espoliada pela união de “informações não verificadas” com a repetição de “discursos banais e falsamente persuasivos” que golpeiam “com proclamações de ódio”.

A tudo isso, pede que se reaja com “coragem” para repelir tais ameaças. Num mundo que suporta “tantas dilacerações”, Francisco faz votos de que se possa “reconduzir à luz a verdade daquilo que somos, inclusive na heroicidade ignorada do cotidiano”.

Nenhuma história humana é insignificante aos olhos de Deus

Em seguida, o Papa dirige a atenção para a história de Jesus, que mostra como Deus cuidou do homem e que para Ele “não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas”. Por obra o Espírito Santo – acrescenta – toda história, mesmo a mais esquecida”, pode “renascer como obra-prima, tornando-se um apêndice de Evangelho”. Cita algumas histórias que “admiravelmente encenaram o encontro entre a liberdade de Deus e a do homem” das Confissões de Agostinho e os Irmãos Karamazov.

Convida a ler as histórias dos santos e a partilhar aquelas “histórias que têm perfume de Evangelho” que cada um de nós conhece. “Contar a Deus a nossa história jamais é inútil”, reitera, porque “ninguém é um figurante na cena do mundo e a história de cada um é aberta a uma possível mudança”. Por isso, observa, “também quando contamos o mal” podemos reconhecer o bem e “dar-lhe espaço”.

A Mensagem conclui-se com uma oração a Maria a fim de que possa ouvir nossas histórias, possa custodiá-las. Evocando uma imagem querida para Francisco e presente também na Casa Santa Marta, pede à Virgem que desfaça “o cúmulo de nós em que é emaranhada a nossa vida”, ajudando-nos a “construir histórias de paz e de futuro”.

Radio Vaticano

Foi divulgada, nesta sexta-feira (24/01), memória de São Francisco de Sales, a mensagem do Papa Francisco para o 54° Dia Mundial das Comunicações Sociais intitulada «“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história». O Dia Mundial das Comunicações Sociais será celebrado em 24 de maio próximo.

O Santo Padre dedicou a mensagem deste ano ao tema da narração. Segundo ele, “para não nos perdermos, precisamos respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destroem. Histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros”.

Tecer histórias

Segundo o Papa, “o homem é um ente narrador. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem nos ajudar a compreender e dizer quem somos. O homem não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade mas também o único que tem necessidade de narrar-se a si mesmo, «revestir-se» de histórias para guardar a própria vida. O homem é um ente narrador, porque descobre-se e enriquece-se com as tramas dos seus dias. Mas, desde o início, a nossa narração está ameaçada: na história, serpeia o mal”.

Nem todas as histórias são boas

“Mas, enquanto as histórias utilizadas para proveito próprio ou ao serviço do poder têm vida curta, uma história boa é capaz de transpor os confins do espaço e do tempo: à distância de séculos, permanece atual, porque nutre a vida. Ocorre paciência e discernimento para descobrirmos histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras lacerações de hoje; histórias que tragam à luz a verdade daquilo que somos, mesmo na heroicidade oculta do dia a dia.”

A História das histórias

“A Sagrada Escritura é uma História de histórias. Quantas vicissitudes, povos, pessoas nos apresenta! Desde o início, mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador. Deus, através deste seu narrar, chama à vida as coisas e, no apogeu, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores, geradores de história juntamente com Ele”, ressalta Francisco na mensagem. “Não nascemos perfeitos, mas necessitamos de ser constantemente «tecidos» e «recamados». A vida nos foi dada como convite a continuar a tecer a «maravilha estupenda» que somos. Neste sentido, a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus. Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu. Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com  parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida se faz história e depois, para o ouvinte, a história se faz vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e a transforma.”

Uma história que se renova

“A história de Cristo não é um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Depois que Deus Se fez história, toda a história humana é, de certo modo, história divina. Cada história humana tem uma dignidade incancelável. Por isso, a humanidade merece narrações que estejam à sua altura, àquela altura vertiginosa e fascinante a que Jesus a elevou. Cada um de nós conhece várias histórias que perfumam de Evangelho: testemunham o Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas, feitas viver em todos os tempos, com todas as linguagens, por todos os meios.”

Uma história que nos renova

O Papa concluiu a mensagem, frisando que “em cada grande história, entra em jogo a nossa história. Ao mesmo tempo que lemos a Escritura, as histórias dos Santos e outros textos que souberam ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Quando fazemos memória do amor que nos criou e salvou, quando colocamos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos mudando de página. Já não ficamos atados a lamentos e tristezas, ligados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas, abrindo-nos aos outros, abrimo-nos à própria visão do Narrador. Com o olhar do Narrador, o único que tem o ponto de vista final, aproximamo-nos depois dos protagonistas, dos nossos irmãos e irmãs, atores juntamente conosco da história de hoje. Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança. Confiemo-nos a uma Mulher que teceu a humanidade de Deus no seio e, diz o Evangelho, teceu tudo o que Lhe acontecia. A Virgem Maria tudo guardou, meditando-o no seu coração. Peçamos-lhe ajuda a Ela, que soube desatar os nós da vida com a força suave do amor.”

Radio Vaticano

A catequese da Audiência Geral do Papa Francisco, nesta quarta-feira (22/01), realizada na Sala Paulo VI, foi dedicada ao tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos “Trataram-nos com gentileza” (At 28,2).

Francisco sublinhou que o tema deste ano é o da hospitalidade e foi desenvolvido pelas Igrejas cristãs de Malta e Gozo, a partir da passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos que fala sobre a hospitalidade dos habitantes de Malta para com São Paulo e seus companheiros de viagem que naufragaram com ele.

O Papa iniciou, contando a experiência dramática desse naufrágio.

O navio em que Paulo viaja está à mercê dos elementos. Durante  catorze dias eles estão no mar, e como nem o sol e nem as estrelas são visíveis, os viajantes se sentem desorientados, perdidos. Abaixo deles, o mar bate violentamente contra o navio e eles temem que o navio se rompa por causa da força das ondas. Do alto eles são açoitados pelo vento e pela chuva. A força do mar e da tempestade é terrivelmente poderosa e indiferente ao destino dos navegantes: mais de 260 pessoas!

Ouça a reportagem

A hospitalidade comunica algo do amor de Deus

Porém, Paulo sabe que não é assim. A fé lhe diz que a sua vida está nas mãos de Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos e chamou o Apóstolo dos Gentios “para levar o Evangelho aos confins da terra. A sua fé também lhe diz que Deus, segundo o que Jesus revelou, é um Pai amoroso. Portanto, Paulo dirige-se a seus companheiros de viagem e, inspirado pela fé, anuncia a eles que Deus não permitirá que um fio de cabelo deles seja perdido”.

“Essa profecia se torna realidade quando o navio encalha na costa de Malta e todos os passageiros chegam sãos e salvos a terra firme. Ali, eles experimentam algo novo. Em contraste com a violência brutal do mar tempestuoso, eles recebem o testemunho da “humanidade rara” dos habitantes da ilha. Essas pessoas, desconhecidas, estão atentas às suas necessidades. Acendem uma fogueira para eles se aquecerem, lhes oferecem abrigo contra chuva e alimento. Mesmo que ainda não tenham recebido as Boa Nova de Cristo, manifestam o amor de Deus em atos concretos de bondade. De fato, a hospitalidade espontânea e os gestos de carinho comunicam algo do amor de Deus, e a hospitalidade dos malteses é recompensada pelos milagres de cura que Deus opera através de Paulo na ilha. Portanto, se o povo de Malta foi um sinal da providência de Deus para o apóstolo, ele também foi testemunha do amor misericordioso de Deus por ele.”

Hospitalidade, virtude ecumênica

A seguir, o Papa disse:

“Queridos, a hospitalidade é importante; é uma importante virtude ecumênica também. Primeiramente, significa reconhecer que outros cristãos são realmente nossos irmãos e irmãs em Cristo. Nós somos irmãos.”

“Alguém lhe dirá: “Mas esse é  protestante, aquele é ortodoxo …” Sim, mas somos irmãos em Cristo. Não é um ato de generosidade numa só direção, porque quando hospedamos outros cristãos, os acolhemos como um presente que nos é dado. Como os malteses, bons malteses, somos recompensados, porque recebemos o que o Espírito Santo semeou em nossos irmãos e irmãs, e isso se torna um presente para nós também, porque o Espírito Santo semeia suas graças em todos os lugares.”

“Acolher os cristãos de outra tradição significa, primeiramente, mostrar o amor de Deus por eles, porque eles são filhos de Deus, nossos irmãos, e também significa acolher o que Deus realizou em suas vidas”, ressaltou Francisco.

“A hospitalidade ecumênica exige disposição para ouvir os outros, prestando atenção em suas histórias pessoais de fé e na história de sua comunidade, comunidade de fé com outra tradição diferente da nossa.”

“A hospitalidade ecumênica envolve o desejo de conhecer a experiência que outros cristãos têm de Deus e a expectativa de receber os dons espirituais que surgem. E isso é uma graça; descobrir isso é uma graça. Penso nos tempos passados, na minha terra, por exemplo. Quando alguns missionários evangélicos chegaram, um pequeno grupo de católicos foi queimar as tendas. Isso não. Não é cristão. Somos irmãos, somos todos irmãos e devemos ser hospitaleiros uns com os outros.”

Migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência

Francisco disse ainda que hoje, o mar que fez Paulo naufragar junto com seus companheiros é ainda “um lugar perigoso para a vida de seus navegantes”.

“Em todo o mundo, homens e mulheres migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência, da guerra e da pobreza. Como Paulo e seus companheiros, experimentam a indiferença, a hostilidade do deserto, dos rios, dos mares. Muitas vezes não deixam eles desembarcar nos portos. Infelizmente, às vezes eles também encontram a hostilidade pior dos homens. São explorados por traficantes criminosos. Hoje! São tratados como números e como uma ameaça por alguns governantes. Hoje! Às vezes, a falta de hospitalidade os rejeita como uma onda em direção à pobreza ou aos perigos dos quais fugiram.”

Francisco concluiu sua catequese, dizendo que “nós cristãos devemos trabalhar juntos para mostrar aos migrantes o amor de Deus revelado em Jesus Cristo”. “Podemos e devemos testemunhar que não há somente hostilidade e indiferença, mas que cada pessoa é preciosa para Deus e amada por Ele. Trabalhar juntos para viver a hospitalidade ecumênica, especialmente para com aqueles cujas vidas são mais vulneráveis, tornará todos os cristãos, protestantes, ortodoxos, católicos, todos os cristãos, seres humanos melhores, discípulos melhores e um povo cristão mais unido. Isso nos aproximará ainda mais da unidade, que é a vontade de Deus para nós.” 

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, no Hemisfério Norte, teve início no último dia 18 e prossegue até o próximo dia 25. No Brasil, é celebrada entre Ascensão e Pentecostes.

Radio Vaticano

Ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta (17/01), o Papa comentou o trecho de hoje, extraído do Evangelho segundo Marcos, que apresenta um episódio de cura realizada por Jesus a um paralítico.

Jesus está em Cafarnaum e a multidão está reunida em volta dele. Através da abertura feita no teto da casa, algumas pessoas levam a Ele um homem deitado numa maca. A esperança é que Jesus cure o paralítico, mas surpreende a todos dizendo: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Somente depois ordenará que se levante, pegue a cama e volte para casa.

O Pontífice comentou dizendo que, com as suas palavras, Jesus nos permite ir ao essencial. “Ele é um homem de Deus”, afirmou o Papa: cura, mas não é um curandeiro, ensina, mas é mais do que um mestre, e diante da cena que se apresenta, vai ao essencial:

Olha o paralitico: “Os teus pecados estão perdoados”. A cura física é um dom, a saúde física é um dom que devemos proteger. Mas o Senhor nos ensina ainda que também a saúde do coração, a saúde espiritual precisa ser preservada.

O medo de ir ali onde acontece o encontro com o Senhor

Jesus vai essencial também com a mulher pecadora, de que fala o Evangelho, quando diante do seu choro, diz“Os teus pecados estão perdoados”. Os outros ficam escandalizados, afirmou o Papa, “quando Jesus vai ao essencial, se escandalizam, porque ali está a profecia, ali está a força”.

Do mesmo modo, “vai, mas não peques mais”, diz Jesus ao homem da piscina que nunca chega em tempo para descer na água para poder curar. À Samaritana que lhe faz tantas perguntas, -“fazia um pouco o papel de teóloga”, disse o Papa – Jesus pergunta do marido. Vai ao essencial da vida. “E o essencial – afirmou Francisco – é a sua relação com Deus. E nós muitas vezes esquecemos disto, como se tivéssemos medo de ir propriamente ali, onde há o encontro com o Senhor, com Deus”. O Papa observou que fazemos tanto por nossa saúde física, trocamos conselhos sobre médicos e remédios, o que é bom, “mas pensamos na saúde do coração?”.

Aqui tem uma palavra de Jesus que talvez nos ajudará: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Estamos acostumados a pensar neste remédio do perdão dos nossos pecados, dos nossos erros? Nós nos perguntamos: “Eu devo pedir perdão a Deus por alguma coisa?”. “Sim, sim, sim, em geral todos somos pecadores”, e assim a coisa se dilui e perde a força, esta força de profecia que Jesus faz quando vai ao essencial. E hoje Jesus, a cada um de nós, nos diz: “Eu quero perdoar os teus pecados”.

O perdão é o remédio para a saúde do coração

O Papa prosseguiu afirmando que há pessoas que não encontram pecados em si mesmas para confessar, porque “falta a consciência dos pecados”. “Pecados concretos”, “doenças da alma”, “doenças da alma” que devem ser curadas “e o remédio para se curar é o perdão”.

É uma coisa simples, mas que Jesus nos ensina quando vai ao essencial. O essencial é a saúde, toda: do corpo e da alma. Devemos preservar bem a do corpo, mas também a saúde da alma. E devemos ir àquele médico que pode nos curar, que pode perdoar os pecados. Jesus veio para isto, deu a vida por isto. 

Radio Vaticano

Na manhã desta segunda-feira (06), na Solenidade da Epifania do Senhor, o Papa Francisco celebrou a missa na Basílica de São Pedro. Durante a sua homilia, destacou a “adoração” recordando-a como a intenção dos Reis Magos ao seguirem a estrela no Oriente. Adorar era o objetivo do percurso dos Reis, a meta do seu caminho. Para sublinhar a importância da adoração o Papa recordou: “Se perdermos o sentido da adoração, falta-nos o sentido de marcha da vida cristã, que é um caminho rumo ao Senhor, e não a nós”, e em seguida esclarece o risco falando de personagens “incapazes de adorar”. E cita Herodes, que usa o verbo ‘adorar’, mas de maneira falaciosa, porque pede aos Magos que o informem do local onde encontrarem o Menino, enquanto que na realidade ele queria livrar-se dele. E o Papa afirma:

Adorar a Deus para não adorar-se a si mesmo

“Que nos ensina isto? Que o homem, quando não adora a Deus, é levado a adorar-se a si mesmo; e a própria vida cristã, sem adorar o Senhor, pode tornar-se uma forma educada de se louvar a si mesmo e a sua habilidade. É um risco sério: servir-se de Deus, em vez de servir a Deus”

Francisco explica a importância da adoração a Deus e como se pode chegar a isso:

“Quando se adora, apercebemo-nos de que a fé não se reduz a um belo conjunto de doutrinas, mas é a relação com uma Pessoa viva, que devemos amar. É permanecendo face a face com Jesus que conhecemos o seu rosto”

Não basta ter boas ideias e conhecimentos teóricos aprofundados, esclarece, “é preciso colocá-Lo em primeiro lugar, como faz um namorado com a pessoa amada. Assim deve ser a Igreja: uma adoradora enamorada de Jesus, seu esposo”.

Descobrir a adoração

E faz um apelo a todos: “Ao principiar este ano, descubramos de novo a adoração como exigência da fé. Se soubermos ajoelhar diante de Jesus, venceremos a tentação de olhar apenas aos nossos interesses. De fato, adorar é fazer o êxodo da maior escravidão: a escravidão de si mesmo”.

“Quando adoramos – recorda o Papa – permitimos a Jesus que nos cure e transforme; adorando, damos ao Senhor a possibilidade de nos transformar com o seu amor, iluminar as nossas trevas, dar-nos força na fraqueza e coragem nas provações”

E por fim recorda “Adorar é ir ao essencial: é o caminho para se desintoxicar de tantas coisas inúteis, de dependências que anestesiam o coração e estonteiam a mente”.

E seguida o Papa Francisco pondera:

“Adorar é um gesto de amor que muda a vida. É fazer como os Magos: levar ao Senhor o ouro, para Lhe dizer que nada é mais precioso do que Ele; oferecer-Lhe o incenso, para Lhe dizer que só com Ele se eleva para o alto a nossa vida; apresentar-Lhe a mirra como promessa a Jesus de que socorreremos o próximo marginalizado e sofredor, porque nele está o Senhor”

Conclui sua homilia propondo uma reflexão: “Sou um cristão adorador? A pergunta impõe-se-nos, pois muitos cristãos que rezam, não sabem adorar. Encontremos momentos para a adoração ao longo do nosso dia e criemos espaço para a adoração nas nossas comunidades”.

Radio Vaticano

Em meio às dificuldades e sofrimentos do tempo presente, Deus nos alimenta, consola e fortifica com a esperança. Essa é uma Virtude Teologal (diferente das virtudes humanas que são disposições habituais que permitem o homem a escolher e praticar o bem) e refere-se diretamente a Deus. “Dispõe o cristão a viver em relação com a Santíssima Trindade e tem Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto. As Virtudes Teologais são infundidas por Deus na alma dos fiéis para serem capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano” (CIC 1812-1813).

As tribulações da vida não apagam a esperança, ao contrário, fazem com que essa desperte com uma força admirável e nos empurre para frente, sempre nos mostrando que ainda há possibilidades. A Sagrada Escritura afirma isso quando diz: “A tribulação produz a perseverança; a perseverança, a fidelidade provada; e a fidelidade provada, a esperança. E a esperança não decepciona” (Rm 5,3-5a).

“A Virtude da Esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo o esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da Caridade” (CIC 1818).

Esperança unida à força do Espírito Santo

Ela não é uma utopia ou uma disposição interior que nos permite construir mundos imaginários; é inteiramente concreta: nas situações em que paralisamos ou desesperamos e pensamos que já não há nada a ser feito, eis que a esperança se ergue dentro de nós e com a força do Espírito Santo diz: “Tente outra vez; seja mais humilde; reze, reze mais; não desista, ainda há solução; suporte com paciência… ela coloca sempre à nossa frente novas possibilidades. É quem nos mostra o sentido da vida, alimenta a nossa fé e nos conduz à caridade”.

Na carta aos Hebreus, o autor compara a esperança a uma âncora: “Nela temos como que uma âncora da nossa vida segura e firme” (Hb 6,19). Segura e firme porque atirada não na terra, e sim no céu, não no tempo, e sim na eternidade, além do véu do santuário.

“Essa imagem da esperança tornou-se clássica. Mas temos também uma outra imagem da esperança em certo sentido oposta: a vela. Se a âncora é aquilo que dá ao barco a segurança e o mantém firme entre o balanço do mar, a vela é, ao contrário, aquilo que o faz avançar no mar. Ambas as coisas fazem a esperança com o barco da Igreja. Ela é, na verdade, como que uma vela que recolhe o vento e, sem barulho, o transforma em força motora que leva o barco, segundo os casos, para o mar aberto ou para a margem. Como a vela nas mãos de um bom marinheiro consegue utilizar todos os tipos de vento, de onde quer que ele sopre, favorável ou menos favorável, para fazer o barco avançar na direção desejada, o mesmo faz a esperança. Trata-se agora de ver como orientar essa vela, como utilizá-la para que ela faça mesmo cada um de nós avançar à santidade, e todo o Reino de Deus até os confins da terra” (Cantalamessa).

Os frutos dessa virtude

Temos uma pergunta fundamental: “Como manter viva a esperança, não só em nossa vida, mas também de modo a transbordá-la para o mundo desesperançado?”. Diariamente, Deus renova na vida de seus amados filhos a graça da esperança, a nós cabe acolhê-la. Isso se dá por meio dos Sacramentos, da própria Palavra de Deus, da voz de Deus em nosso coração que continuamente nos diz: “Levanta e anda!”. E essa ação do Senhor restaura o que antes era enfermo.

Antigamente, os fiéis, ao sair da Igreja, passavam a água benta de mão em mão, desejando que, por meio desse gesto simples, a outra pessoa também recebesse as graças e os dons de Deus. Podemos seguir esse exemplo e passar “de mão em mão”, de pai para filho, de amigo para amigo, a alegria e a paz da esperança.

São Paulo nos fala na carta aos Romanos: “Que o Deus da esperança vos cumule de alegria e de paz na fé” (Rm 15,13); daí temos a certeza de que a alegria e a paz são frutos diretos dessa virtude, e como vivemos num mundo sem alegria e sem paz, podemos afirmar que o homem de hoje perdeu a esperança, mas deseja reencontrá-la porque não deixa de procurar (ainda que de forma equivocada), alguma coisa que responda a essa sua necessidade. Não devemos ter medo de parecer ingênuos falando de esperança e com o nosso testemunho contagiando o mundo com a alegria e a paz que vêm de Deus.

“Talvez, em nenhum outro momento, o mundo moderno mostrou-se tão bem disposto para com a Igreja, tão à escuta dela, como durante os anos do Concílio. E o motivo principal é que o Concílio dava esperança. A Igreja não pode fazer, no mundo, uma doação melhor do que dar-lhe esperança, não esperanças humanas, efêmeras, econômicas ou políticas, sobre as quais ela não tem competência específica, mas esperança pura e simples, aquela que, mesmo sem o saber, tem por horizonte a eternidade e por avalista Jesus Cristo e a sua Ressurreição. Essa esperança servirá também de mola para todas as outras legítimas esperanças humanas” (Cantalamessa).

Fonte: Comunidade Shalom

“Vinde a Mim”: as palavras de Cristo dirigidas à humanidade aflita e sofredora inspiraram a Mensagem do Papa Francisco para Dia Mundial do Enfermo, divulgada esta sexta-feira (03/01)

A 28º edição será celebrada, como todos os anos, no dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes. O tema para 2020 foi extraído do Evangelho de Mateus 11, 28: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos”.

“No XXVIII Dia Mundial do Enfermo, Jesus dirige este convite aos doentes e oprimidos, aos pobres cientes de dependerem inteiramente de Deus para a cura de que necessitam sob o peso da provação que os atingiu. A quem vive na angústia devido à sua situação de fragilidade, sofrimento e fraqueza, Jesus Cristo não impõe leis, mas, na sua misericórdia oferece-Se a Si mesmo, isto é, a sua pessoa que dá alívio.”

Ao tratamento, acrescentar o amor

Jesus tem esses sentimentos, prossegue o Pontífice, porque Ele mesmo viveu em primeira pessoa o sofrimento humano e só quem passa por esta experiência poderá ser de conforto aos demais.

De fato, constata o Papa, nota-se por vezes falta de humanidade na relação com os doentes. Ao tratamento, deve-se somar a solicitude, ou seja, o amor, sem esquecer com o enfermo há uma família que também ela pede conforto e proximidade.

É de Cristo que vem a luz para superar este momento de provação. Nele, os doentes encontrarão força para ultrapassar as inquietações e interrogativos que surgem nesta «noite» do corpo e do espírito. É verdade que Cristo não nos deixou receitas, mas, com a sua paixão, morte e ressurreição, liberta-nos da opressão do mal.

Nesta condição, reforça Francisco, a Igreja quer ser, cada vez mais e melhor, a «estalagem» do Bom Samaritano que é Cristo, isto é, a casa onde os enfermos podem encontrar a sua graça, que se expressa na familiaridade, no acolhimento, no alívio.

Não ceder a formas de eutanásia

A este ponto, o Papa fez uma menção aos profissionais da saúde, que colocam suas competências em prol do enfermo. E recorda que o substantivo “pessoa” deve vir antes do adjetivo “enfermo”.

Assim, a ação de médicos e enfermeiros têm que ter em vista “constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a atos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se for irreversível o estado da doença”.

Quando os profissionais da saúde se deparam com os limites e o possível fracasso da medicina, são chamados a se abrir à dimensão transcendente, “que pode oferecer o sentido pleno da profissão”. E lamentou que em contextos de guerras e conflitos, os profissionais e as estruturas de saúde podem ser atacados como forma de represália política.

“Lembremo-nos de que a vida é sacra e pertence a Deus, sendo por conseguinte inviolável e indisponível. A vida há de ser acolhida, tutelada, respeitada e servida desde o seu início até à morte”, escreve o Papa. Trata-se de uma exigência não só que vem da fé em Deus, mas da própria razão.

E Francisco pede que a objeção de consciência se torne uma opção necessária para que os profissionais da saúde permaneçam coerentes com esta abertura à vida. Quando não se pode curar, pode-se sempre cuidar com gestos e procedimentos que proporcionem amparo e alívio ao doente.

Acesso negado à saúde

Por fim, o Papa reserva seu pensamento a tantos irmãos no mundo que não têm acesso aos cuidados médicos porque vivem na pobreza.

“Por isso, dirijo-me às instituições sanitárias e aos governos de todos os países do mundo, pedindo-lhes que não sobreponham o aspecto econômico ao da justiça social.”

Francisco conclui confiando todos as pessoas que carregam “o fardo da doença” à Virgem Maria, bem como suas famílias, todos os profissionais e voluntários.

Radio Vaticano

O primeiro compromisso oficial do Papa Francisco nesta quinta-feira foi a audiência aos embaixadores de Seychelles, Mali, Andorra, Quênia, Letônia e Niger, para a apresentação de suas credenciais.

Para um grupo tão heterogêneo de países, em seu discurso Francisco destacou dois aspectos: a paz e o respeito pelo meio ambiente.

O diálogo é essencial

“O nosso encontro de hoje se realiza enquanto os cristãos de todo o mundo se preparam para celebrar o nascimento Daquele ao qual nos dirigimos como Príncipe da paz”, disse o Pontífice, recordando que a paz é a aspiração de toda a família humana.

Todavia, constatou, o mundo hoje é “tristemente” marcado por conflitos civis, regionais e internacionais, divisões sociais e desigualdades. Por isso, é “essencial” empreender um diálogo construtivo e criativo. Neste esforço, Francisco garantiu o compromisso da Igreja Católica em colaborar com todo parceiro responsável em promover o bem de toda pessoa e de todos os povos.

O caminho rumo à paz, acrescentou, tem início com a abertura à reconciliação e citou um trecho de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020, em que escreve que é preciso abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a nos olhar como irmãos.

“Somente quando colocamos de lado a indiferença e o medo pode crescer e prosperar um verdadeiro clima de respeito recíproco. Isso, por sua vez, leva ao desenvolvimento de uma cultura da inclusão, a um sistema econômico mais justo e a várias oportunidades para a participação de todos à vida social e política.”

Para Francisco, a presença dos embaixadores já é por si um sinal da vontade dos países que representam de enfrentar as situações de injustiça, discriminação, pobreza e desigualdades que afligem o mundo.

Exploração: obstáculo para a paz

Como um dos obstáculos para a paz o Pontífice apontou o desrespeito pela Casa Comum, em especial com a exploração abusiva dos recursos naturais. O Papa mencionou o recente Sínodo para a Pan-amazônia, que fez um apelo por um renovado apreço da relação entre comunidade e terra, presente e passado e entre experiência e esperança.

“O empenho por uma gestão responsável da terra e dos seus recursos é urgentemente desejado em todos os níveis, da educação familiar à vida social e civil, até as decisões políticas e econômicas.”

O Pontífice concluiu desejando que a missão dos novos embaixadores junto à Santa Sé seja profícua e formulando votos de paz e Feliz Natal a todos os povos que representam.

Radio Vaticano

Faltando uma semana para o Natal, o Papa Francisco dedicou a catequese desta quarta-feira (18/12) na Audiência Geral ao modo como estamos nos preparando para acolher o festejado.

Um modo simples, mas eficaz, afirmou o Pontífice, é preparar o presépio, recordando que este ano foi a Greccio – lugar do primeiro presépio idealizado por São Francisco – e que escreveu uma Carta Apostólica a respeito.

Evangelho vivo

O presépio, de fato, é como um Evangelho vivo e nos recorda uma coisa essencial: que Deus não permaneceu invisível no céu, mas veio sobre a Terra, se fez homem.

“Fazer o presépio é celebrar a proximidade de Deus: é redescobrir que Deus é real, concreto, vivo e palpitante. Não é um senhor distante ou um juiz desapegado, mas é Amor humilde, que desceu até nós.”

Parar diante do Menino Jesus no presépio, aconselhou o Papa, é uma ocasião para falar das pessoas e das situações que temos no coração, fazer com Ele o balanço do ano e compartilhar as expectativas e as preocupações.

Ao lado de Jesus, vemos Nossa Senhora e José. A Santa Família é um evangelho doméstico. A palavra presépio, explicou Francisco, significa literalmente “manjedoura”, enquanto a cidade do presépio, Belém, significa “casa do pão”. Esses elementos nos recordam que Jesus é o nutrimento essencial, o pão da vida. “É Ele que alimenta o nosso amor, é Ele que doa às nossas famílias a força para ir avante e nos perdoar.”

Convite à contemplação

O presépio, acrescentou o Papa, nos oferece outro ensinamento de vida: nos ritmos às vezes frenéticos de hoje é um convite à contemplação. Nos recorda a importância de parar. “Porque somente quando sabemos nos recolher, podemos acolher o que conta na vida.”

Francisco contou que ontem lhe deram de presente uma imagem pequena, com José acudindo o Menino e Maria descansando, cujo nome era: “Deixemos a mãe repousar”. “Quantos entre vocês têm que dividir a noite entre marido e mulher para acudir a criança que chora, chora, chora…Deixemos a mãe repousar. É a ternura de uma família, de um matrimônio.”

Imagem artesanal de paz

O presépio, portanto, é a imagem artesanal da paz num mundo onde todos os dias se fabricam inúmeras armas e tantas imagens violentas.

Queridos irmãos e irmãs, concluiu o Papa, do presépio podemos colher o ensinamento sobre o sentido próprio da vida. Agora não estamos mais sós, há uma novidade decisiva: Jesus.

“Jesus vem na nossa vida concreta, por isso é importante fazer um pequeno presépio sempre, porque nos recorda que Deus veio entre nós, nasceu entre nós, nos acompanha e se fez homem como nós. Na vida de todos os dias, não estamos mais sós. Ele habita conosco. Não muda magicamente as coisas, mas, se O acolhermos, todas as coisas podem mudar. Eu então faço votos de que fazer o presépio seja a ocasião para convidar Jesus na vida. Quando fazemos o presépio em casa, é como abrir a porta: entre Jesus. Fazer concreta esta proximidade, este convite a Jesus para que venha na nossa vida. Porque se Ele a habita, renasce. E se a vida renasce, é verdadeiramente Natal. Feliz Natal a todos!”

Radio Vaticano

O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira (13) um grupo de associações, congregações e movimentos eclesiais franceses dedicados à misericórdia. Ao recebê-los o Papa logo destacou a importância da diversidade dos carismas do grupo presente para a misericórdia.

“Esta diversidade que vocês representam é muito bela: exprime muito bem o fato de que não existe pobreza humana que Deus não queira alcançar, tocar e socorrer”

“De fato”, recordou o Papa, “a misericórdia é o ato último e supremo com o qual Deus vem ao nosso encontro e que abre o nosso coração à esperança de sermos amados para sempre, qualquer que seja a nossa pobreza, qualquer que seja o nosso pecado”.

Não sufocar o respiro da ternura

E para continuar nesta missão Francisco convidou os presentes “a estarem sempre muito atentos em manter viva, antes de tudo no profundo do seu coração, esta misericórdia que vocês testemunham. Que o cumprimento, às vezes muito empenhativo e cansativo, das suas atividades caritativas não sufoque jamais o respiro da ternura e da compaixão com o qual devem ser animadas, e o olhar que o exprime”.

Por outro lado, completou o Pontífice:

“Acredito que para ser autênticos apóstolos da misericórdia deve-se ser profundamente conscientes de ter sido objeto por parte do Pai e também com humildade, de ainda sê-lo enquanto exercermos esta misericórdia”

Admirabile signum

Por fim o Francisco propôs a contemplação do presépio neste período de preparação do Natal citando sua recente carta apostólica Admirabile signum:

“O Presépio é um convite a ‘sentir’, a ‘tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados”.

Radio Vaticano

Já se passaram 50 anos. Era 13 de dezembro de 1969: Jorge Mario Bergoglio, apenas quatro dias depois do seu 33º aniversário, foi ordenado sacerdote. Sua vocação remonta a 21 de setembro de 1953, memória de São Mateus, o publicano convertido por Jesus: durante uma confissão teve uma profunda experiência da misericórdia de Deus. Foi uma alegria imensa que o levou a tomar uma decisão “para sempre”: tornar-se sacerdote.

É tempo de misericórdia

É precisamente a Divina Misericórdia que caracteriza toda a sua vida sacerdotal. Os sacerdotes – afirma – sem fazer barulho deixam tudo para se envolverem na vida cotidiana das comunidades, dando aos outros a própria vida, “se comovem diante das ovelhas, como Jesus, quando via as pessoas cansadas e exaustas como ovelhas sem pastor”. Assim, “à imagem do Bom Pastor, o sacerdote é um homem de misericórdia e de compaixão, próximo do seu povo e servo de todos. Qualquer pessoa que esteja ferida na sua vida, de alguma forma, pode encontrar nele atenção e escuta… Há necessidade de curar as feridas, tantas feridas! Tantas feridas! Há tantas pessoas feridas, por problemas materiais, por escândalos, também na Igreja… Pessoas feridas pelas ilusões do mundo… Nós, sacerdotes, devemos estar ali, perto destas pessoas. Misericórdia significa, em primeiro lugar, curar as feridas”. Este – recorda frequentemente – é o tempo da misericórdia (Discurso aos párocos de Roma, 6 de março de 2014).

Homem da Eucaristia: Jesus no centro

O sacerdote – diz Francisco – é um homem descentralizado, porque no centro de sua vida não está ele, mas Cristo. Por isso, agradece aos sacerdotes pela celebração diária da Eucaristia: “Na Celebração Eucarística reencontramos todos os dias esta nossa identidade de pastores. Cada vez que podemos verdadeiramente fazer nossas as suas próprias palavras: “Este é o meu corpo oferecido em sacrifício por vós”. É o sentido da nossa vida, são as palavras com as quais… podemos renovar diariamente as promessas da nossa Ordenação. Agradeço-te pelo teu “sim” e por tantos “sim” escondidos de todos os dias, que só o Senhor conhece. Agradeço-te pelo teu “sim” para dar a vida unidos a Jesus: aqui está a fonte pura da nossa alegria” (Homilia do Jubileu dos Sacerdotes, 3 de junho de 2016). E convida os sacerdotes a serem prudentes e audazes ao mesmo tempo, porque a Eucaristia “não é um prêmio para os perfeito, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos” (Evangelii gaudium, 47).

A vida sacerdotal no confessionário

No serviço a Deus e ao seu povo, o sacerdote desempenha um papel importante da sua missão no confessionário, onde pode dispensar o excesso da misericórdia de Deus. Exorta os sacerdotes a não serem rigorosos nem laxistas: “É normal que haja diferenças de estilo entre os confessores, mas estas diferenças não dizem respeito à substância, isto é, à sã doutrina moral e à misericórdia. Nem o laxista nem o rigorista dão testemunho de Jesus Cristo, porque nem um nem o outro se encarregam da pessoa que encontram. O rigorista lava suas mãos: de fato ele está apegado à lei compreendida de maneira fria e rígida”. Também o laxista “lava as mãos”: só aparentemente é misericordioso, mas na realidade não leva a sério o problema dessa consciência, minimizando o pecado. A verdadeira misericórdia cuida da pessoa, escuta-a com atenção, aborda sua situação com respeito e verdade e a acompanha no caminho da reconciliação. E isto é cansativo, sim, certamente. O sacerdote verdadeiramente misericordioso comporta-se como o bom samaritano… mas por que o faz? Porque o seu coração é capaz de compaixão, é o coração de Cristo! (Discurso aos párocos de Roma, 6 de março de 2014).

Oração, Maria e a luta contra o diabo

O sacerdote – sublinha o Papa – é sobretudo um homem de oração. É da intimidade com Jesus que brota a verdadeira caridade. É a união com Deus que vence as inúmeras tentações do mal. O diabo existe, ele não é um mito – recorda frequentemente – ele é astuto, mentiroso, enganador. Francisco convida a olhar para Maria, a rezar o terço todos os dias, é a sua oração do coração, especialmente neste período, para proteger a Igreja dos ataques do diabo que quer causar divisão. “Olhar para Maria é voltar a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”, Ela é “a amiga sempre atenta para que não falte vinho na nossa vida” e, como “uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e infunde incessantemente a proximidade do amor de Deus” (Carta aos sacerdotes no 160º aniversário da morte do Cura d’Ars).

Os pobres e o juízo final

A espiritualidade do sacerdote se encarna na realidade da vida cotidiana – observa Francisco – e se torna uma voz profética diante das opressões que espezinham os pobres e os fracos: a Igreja “não pode e não deve ficar à margem da luta pela justiça”, relegando a religião, como alguns gostariam, “à intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional” (Evangelii gaudium, 183), porque o Reino de Deus começa aqui na terra e é já aqui que encontramos Jesus: o juízo final centrar-se-á precisamente no que fizemos a Cristo nos pobres, doentes, estrangeiros, prisioneiros (Mt 25). Seremos julgados pelo amor: mas não pode haver amor sem justiça, como dizia São João Paulo II.

Sacerdotes que dão vida e o escândalo dos abusos

O Papa não se cala sobre a “monstruosidade” dos abusos cometidos pelos sacerdotes, repete sempre a sua proximidade às vítimas, mas pensa também nos muitos bons sacerdotes que suportam o peso dos crimes que não cometeram: seria “injusto não reconhecer tantos sacerdotes que, de modo constante e integral, oferecem tudo o que são e o que têm para o bem dos outros”. Os sacerdotes “que fazem da sua vida uma obra de misericórdia em regiões ou situações muitas vezes inóspitas, distantes ou abandonadas, também correndo risco da própria vida”. O Papa agradece-lhes “pelo seu corajoso e constante exemplo” e convida-os a não desanimarem, porque “o Senhor está purificando a sua Esposa e está nos convertendo todos a Si”. Ele faz-nos experimentar a provação para que compreendamos que sem Ele somos pó” (Carta aos sacerdotes no 160º aniversário da morte do vigário de Ars).

Nas provações, recordar o primeiro encontro com Jesus

O Papa pensa nos momentos de dificuldade que os sacerdotes podem experimentar, convidando-os a voltar ao seu primeiro encontro com Jesus, àqueles momentos luminosos em que se experimentou o chamado do Senhor a consagrar toda a sua vida ao seu serviço: devemos voltar “àquele ponto incandescente em que a graça de Deus me tocou no início do caminho”. É dessa centelha que posso acender o fogo de hoje, de todos os dias, e levar calor e luz aos meus irmãos e irmãs. Daquela centelha brota uma alegria humilde, uma alegria que não ofende a dor e o desespero, uma alegria boa e suave” (Homilia na Vigília Pascal, 19 de abril de 2014).

O bom cansaço dos sacerdotes

“Sabem – confessa o Papa – quantas vezes penso nisto: o cansaço de todos vocês? Penso muito nisso e rezo com frequência, especialmente quando estou cansado. Rezo por vocês que trabalham no meio do povo fiel de Deus que lhe foi confiado, e muitos que trabalham em lugares abandonados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu. O nosso cansaço vai direto ao coração do Pai… Há o que podemos chamar “o cansaço das pessoas, o cansaço das multidões”: Para o Senhor, como para nós, foi cansativo – como diz o Evangelho – mas é um bom cansaço, um cansaço cheio de frutos e de alegria… É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas” e “com o sorriso de papai que contempla seus filhos ou seus netos… Só o amor dá descanso” (Homilia na Missa do Crisma, 2 de abril de 2015).

Breves homilias que queimam corações

A importância da homilia foi sublinhada muitas vezes por Francisco, que exorta fortemente os sacerdotes a prepará-la bem com um longo tempo de estudo, oração e reflexão. Convida a fazer homilias breves que não sejam nem espectáculo nem uma conferência, nem lição puramente moralista e doutrinal: devemos ser capazes de dizer “palavras que queimam corações” numa linguagem positiva: não dizer tanto o que não devemos fazer, mas propor o que podemos fazer melhor: “Uma pregação positiva oferece sempre esperança, orienta para o futuro, não nos deixa prisioneiros da negatividade” (Evangelii gaudium, 159) exprimindo “proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena” (Evangelii gaudium, 165). O Papa sublinha o papel fundamental do “kerygma”, o primeiro anúncio: “Jesus Cristo ama você, deu a sua vida para salvar você, e agora está vivo ao seu lado todos os dias, para iluminar, para fortalecer, e libertar você” (164).

O humor dos sacerdotes

“O santo é capaz de viver com alegria e senso de humor”, recorda o Papa aos sacerdotes citando São Filipe Neri ou a oração do bom humor de São Tomás Moro. É uma alegria que vem da união com Jesus e da fraternidade. “O senso de humor é uma graça que peço todos os dias” – disse em novembro de 2016, numa entrevista concedida à Tv2000 e à Rádio InBlu – porque “o senso de humor eleva você, faz ver o provisório da vida e tomar as coisas com um espírito de alma redimida. É uma atitude humana, mas é a mais próxima à graça de Deus”. É um sinal de uma grande maturidade espiritual que nasce do Espírito Santo.

O apelo do Papa aos fiéis: apoiar os sacerdotes

O Papa Francisco pede aos sacerdotes que estejam sempre perto do povo, mas ao mesmo tempo pede aos fiéis que apoiem os sacerdotes: “Queridos fiéis, estejam perto dos seus sacerdotes com o afeto e com a oração para que sejam sempre pastores com o coração de Deus” (Homilia para a Missa do Crisma, 28 de março de 2013).

Radio Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (12/12), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Congregação das Causas dos Santos por ocasião de seus 50 anos de fundação.

Francisco manifestou sua alegria de se encontrar com “a grande família da Congregação das Causas dos Santos, que desempenha o seu trabalho a serviço da Igreja universal, reconhecendo a santidade daqueles que seguiram Cristo fielmente”.

Em 8 de maio de 1969, São Paulo VI decidiu substituir a Congregação dos Ritos Sagrados com dois dicastérios: a Congregação das Causas dos Santos e a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. “Com essa decisão, ele permitiu dedicar recursos adequados de pessoas e trabalhar em duas grandes áreas claramente distintas, para corresponder melhor às solicitações cada vez mais numerosas das Igrejas particulares e à sensibilidade conciliar.”

Neste meio século de atividade, sua Congregação examinou um grande número de perfis biográficos e espirituais de homens e mulheres, para apresentá-los como modelos e guias da vida cristã. As várias beatificações e canonizações que foram celebradas nas últimas décadas significam que os santos não são seres humanos inacessíveis, mas estão próximos de nós e podem nos ajudar no caminho da vida. De fato, «são pessoas que experimentaram a fadiga cotidiana da existência com seus sucessos e fracassos, encontrando no Senhor a força para se levantar sempre e prosseguir o caminho». É importante medir nossa coerência evangélica com diferentes tipos de santidade, pois «todo santo é uma missão; é um projeto do Pai para refletir e encarnar, num momento específico da história, um aspecto do Evangelho».

Segundo o Papa, “o testemunho dos beatos e dos santos nos ilumina, nos atrai e nos coloca em questão, porque é “palavra de Deus” encarnada na história e próxima de a nós. A santidade permeia e acompanha sempre a vida da Igreja peregrina, muitas vezes de maneira oculta e quase imperceptível.

Portanto, devemos aprender a «ver a santidade no povo de Deus paciente: nos pais que crescem seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham para levar comida para casa, nos doentes, nas religiosas idosas que continuam sorrindo. […] Isso é muitas vezes a santidade “da porta ao lado”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus».

“A santidade é a verdadeira luz da Igreja: como tal, deve ser colocada no candelabro para que possa iluminar e guiar o caminho em direção a Deus do povo redimido”, concluiu o Papa.

 

Radio Vaticano

A catequese da Audiência Geral do Papa Francisco, nesta quarta-feira (11/12), na Sala Paulo VI, no Vaticano, teve como tema, xtraído do Livro dos Atos dos Apóstolos, «Ainda um pouco, e você me convence a tornar-me cristão!» Paulo prisioneiro diante do Rei Agripa.

Francisco continua a viagem do Evangelho no mundo narrado pelo Livro dos Atos dos Apóstolos, e o testemunho de Paulo é cada vez mais marcado pelo sigilo do sofrimento. “Paulo não é apenas um evangelizador cheio de ardor, missionário intrépido entre os pagãos que dá vida a novas comunidades, mas é também a testemunha sofredora do Ressuscitado”, disse o Papa.

Paulo e Jesus, ambos odiados pelos adversários

A chegada do Apóstolo a Jerusalém, descrita no capítulo 21 dos Atos, desencadeia um ódio feroz contra ele. Paulo é censurado: “Mas, este era um perseguidor! Não confiem!” “A cidade é hostil, assim como foi para Jesus. Tendo ido ao templo, Paulo foi reconhecido e  levado para ser linchado. Foi salvo por um fio pelos soldados romanos. “Acusado de ensinar contra a Lei e o templo, ele foi preso e começa a sua peregrinação de encarcerado, primeiro diante do Sinédrio, depois diante do procurador romano em Cesaréia e, por fim, diante do rei Agripa”, sublinhou Francisco, acrescentando:

“Lucas evidencia a semelhança entre Paulo e Jesus, ambos odiados pelos adversários. Jesus foi odiado pelos seus adversários e Paulo a mesma coisa, acusados publicamente e reconhecidos como inocentes pelas autoridades imperiais; e assim Paulo é associado à paixão de seu Mestre, e sua paixão se torna um evangelho vivo.”

A seguir, o Papa recordou o seu encontro, esta manhã, com os peregrinos ucranianos, de uma diocese na Ucrânia.

“Quanto essas pessoas foram perseguidas; quanto sofreram pelo Evangelho! Mas não negociaram fé. É um exemplo. Hoje, no mundo, na Europa, muitos cristãos são perseguidos e dão a vida por sua fé, ou são perseguidos com “luvas de pelica”, ou seja, deixados de lado, marginalizados. O martírio é o ar da vida de um cristão, de uma comunidade cristã.”

“Sempre haverá mártires entre nós: este é o sinal de que estamos seguindo o caminho de Jesus. É uma bênção do Senhor que haja no povo de Deus, alguém que seja testemunho de martírio.”

A apologia de Paulo é um testemunho eficaz de fé

Paulo é chamado a defender-se das acusações e na presença do rei Agripa, a sua apologia se transforma num testemunho eficaz de fé. Mesmo quando fala de si, Paulo anuncia e manifesta o seu Senhor.

Depois, Paulo relata sua própria conversão: Cristo ressuscitado o tornou cristão e confiou-lhe a missão entre as nações, “para que se convertam das trevas para a luz, do poder de Satanás para Deus, e recebam o perdão dos pecados e a herança entre os santificados pela fé em Cristo”.

Paulo obedeceu a essa tarefa e não fez nada além de mostrar como os profetas e Moisés prenunciaram o que agora anuncia: «que o  Messias devia sofrer e que, ressuscitado por primeiro dentre os mortos, ele devia anunciar a luz ao povo e aos pagãos». O testemunho apaixonado de Paulo toca o coração do rei Agripa, que diz: «Ainda um pouco, e você me convence a tornar-me cristão! » Paulo é declarado inocente, mas ele não pode ser libertado porque apelou a César. Assim, continua a viagem irreversível da Palavra de Deus em direção a Roma.

A partir desse momento, o retrato de Paulo é o do prisioneiro cujas correntes são sinal de sua fidelidade ao Evangelho e do testemunho dado ao Ressuscitado.

As correntes são certamente uma provação humilhante para o apóstolo, que aparece aos olhos do mundo como um “malfeitor”. Mas seu amor por Cristo é tão forte que mesmo essas correntes são lidas com os olhos da fé; fé que para Paulo não é “uma teoria, uma opinião sobre Deus e o mundo”, mas é “o impacto do amor de Deus em seu coração, é o amor por Jesus Cristo”.

O Papa concluiu sua catequese, dizendo que “Paulo nos ensina a perseverança na provação e a capacidade de ler tudo com os olhos da fé. Peçamos ao Senhor, por intercessão do Apóstolo, para reavivar a nossa fé e nos ajudar a ser fiéis até o fim à nossa vocação de discípulos missionários”.

Radio Vaticano

O Senhor guia o seu povo, o consola, mas também o corrige e o pune com a ternura de um pai, de um pastor, que “carrega os cordeirinhos sobre o peito e conduz docilmente as ovelhas mães”. Assim se expressou o Papa Francisco na homilia da missa matutina na Casa Santa Marta, respondendo às perguntas suscitadas pela liturgia de hoje: “Como consola, como corrige o Senhor?”.

A primeira Leitura, de fato, é um trecho da consolação de Israel do profeta Isaías e se abre com um “anúncio de esperança”, explicou Francisco.

“Consolai o meu povo, consolai-o! Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida”, lê-se no trecho de Isaías.

O Senhor consola quem se deixa consolar

“O Senhor sempre nos consola – comentou Francisco – desde que nós nos deixemos consolar”. Deus “corrige com o consolo, mas como?”, questionou o Papa, que leu outro trecho de Isaías, que fala do Senhor bom pastor, que com o seu braço recolhe o rebanho, “carrega os cordeirinhos no peito” e com doçura conduz “as ovelhas mães”.

“Mas este é um trecho de ternura! Como o Senhor consola? Com ternura. Como o Senhor corrige? Com ternura.  Como o Senhor pune? Com ternura”.

“Você se imagina no peito do Senhor depois de pecar?”, perguntou ainda o Papa:

O Senhor conduz, o Senhor guia o seu povo, o Senhor corrige; e eu diria também: o Senhor pune com ternura. A ternura de Deus, as carícias de Deus. Não é uma atitude didática ou diplomática de Deus: vem de dentro, é a alegria que Ele sente quando um pecador se aproxima. E a alegria o torna tenro.

A alegria que se faz ternura

O Papa Francisco recordou a “parábola do Filho Pródigo” e o pai que “vê o filho de longe”: porque o esperava, “ia até o terraço para ver se o filho voltava. Coração de pai”. E quando chega, e começa “aquele discurso do arrependimento”, ele lhe tapa a boca e faz festa.

“A proximidade tenra do Senhor”, comentou ainda o Papa. No Evangelho, volta o pastor, que tem cem ovelhas e uma se perde.  “Não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu?” citou Francisco. E “se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se perderam”. Esta é “a alegria do Senhor diante do pecador”, “diante de nós quando nos deixamos perdoar, nos aproximamos a Ele para que nos perdoe”. Uma alegria que “se faz ternura, e aquela ternura que nos consola”.

Não nos lamentemos: o Senhor perdoa os nossos pecados

“Tantas vezes, explicou o Pontífice, nos lamentamos das dificuldades que temos: o diabo quer que nós caiamos no espírito de tristeza”, “amargurados pela vida” ou “pelos próprios pecados”. E recordou: “conheci uma pessoa consagrada a Deus que a chamavam de ‘Lamentação”, porque não conseguia fazer nada além de se lamentar: era “o prêmio Nobel das lamentações”.

Mas quantas vezes nós nos lamentamos, nos lamentamos e tantas vezes pensamos que os nossos pecados, os nossos limites não podem ser perdoados. E ali, a voz do Senhor vem e diz: “Eu o consolo, estou próximo a você”, e nos pega com ternura. O Deus poderoso que criou os céus e a terra, o Deus-heroi, por assim dizer, nosso irmão, que deixou que o levassem à cruz para morrer por nós, é capaz de nos acariciar e dizer: “Não chore”.

“Com quanta ternura – prosseguiu o Papa Francisco – o Senhor terá acariciado a viúva de Naim quando lhe disse: ‘Não chore’. ”Talvez, diante do caixão do filho, a acariciou antes de dizer “não chore”. Porque “ali havia o desastre”. “Devemos acreditar neste consolo do Senhor” porque depois “tem a graça” do perdão.

“Pai, eu tenho tantos pecados, cometi tantos erros na vida” – “Mas se deixe consolar” – “Mas quem me consola?” – “O Senhor” – “E onde devo ir?” – “Para pedir perdão: vai, vai! Seja corajoso. Abra a porta. E Ele o acariciará”. Ele se aproximará com a ternura de um pai, de um irmão: assim como um pastor apascenta o seu rebanho e com o braço o reúne, carrega os cordeiros sobre o peito e conduz docilmente as ovelhas mães, assim o Senhor nos consola.

Radio Vaticano

Na manhã desta segunda-feira (9), o Papa Francisco recebeu os seminaristas do Pontifício Seminário Regional Flamínio “Bento XV” da cidade de Bolonha, durante o qual o Papa refletiu sobre a beleza do chamado ao sacerdócio ministerial.

O seminário na preparação ao sacerdócio

E para responder ao chamado, Francisco recordou que a Igreja Mãe pede que seja feito um “percurso formativo” que somente o ambiente do Seminário pode oferecer. Nesta perspectiva o Papa indica aos jovens três aspectos que “identificam este lugar e o tempo de formação e de preparação ao sacerdócio: casa da oração, casa de estudo e casa de comunhão”.

Casa de oração

Sobre o seminário como casa de oração:

“O Seminário é antes de tudo a casa da oração, onde o Senhor ainda convoca os ‘seus’ em lugar ‘apartado’ para viver uma experiência forte de encontro e de escuta”

Francisco observou ainda que as pessoas precisam encontrar no sacerdote “a fé robusta que é como uma chama na noite e como uma rocha onde de agarrar. E esta fé se cultiva principalmente na relação pessoal, coração a coração, com a pessoa de Jesus”.

Casa de estudo

O segundo aspecto que identifica o Seminário é o do estudo. O estudo explica o Papa “é um instrumento privilegiado de um conhecimento sapiencial e científico, que pode garantir fundamentos sólidos a toda a estrutura da formação dos futuros presbíteros”. Francisco recorda:

“No seminário estuda-se em conjunto para uma missão comum, e isso dá um ‘sabor’ todo especial ao aprendizado da Sagrada Escritura, da teologia, da história, do direito e de cada disciplina”

Casa de comunhão

Por fim o Papa fala sobre a terceira dimensão: o Seminário como casa de comunhão.

“Também este aspecto é ‘transversal’ como os outros dois. Parte de uma base humana de abertura aos outros, de capacidade de escuta e de diálogo, e é chamado a assumir a forma da comunhão presbiterial em torno do Bispo e sob sua guia”.

“A caridade pastoral do padre não pode ser acreditável se não for precedida e acompanhada pela fraternidade, primeiro entre os seminaristas e depois entre os presbíteros”

Quatro aproximações

Neste ponto, Papa disse aos seminaristas que gostaria muito que fossem sempre consideradas as “quatro aproximações” fundamentais para estar próximos dos sacerdotes diocesanos: “próximos a Deus na oração, que inicia no seminário; próximos ao bispo, sem o bispo o padre pode ser um líder, mas nãos será um padre; terceira aproximação: próximos dos presbíteros, entre vocês”. O Papa recordou que este ponto o faz sofrer quando vê presbíteros que falam mal um do outro. E a quarta aproximação: com o Povo de Deus, por favor, não esqueçam de onde vocês vieram”, reiterou o Papa.

Concluindo o encontro Francisco recorda aos seminaristas que “o Seminário se qualifica como caminho que educa os candidatos a avaliar todas suas ações com referência a Cristo e a considerar a pertença ao único presbitério como dimensão prévia do agir pastoral e testemunho de comunhão, indispensáveis para servir de modo eficiente o mistério da Igreja e a sua missão no mundo”.

Radio Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (09/12), no Vaticano, os membros da fundação “Uma chance na vida” (A Chance in Life).

O organismo, fundado pelo pe. John Patrick Carroll-Abbing, promove iniciativas educacionais em favor de milhares de adolescentes na Itália, Bolívia, Colômbia, Guatemala e Peru. Oferece a crianças e adolescentes em situação de pobreza “a possibilidade de superar as dificuldades e realizar plenamente o projeto que Deus tem em cada um deles”.

A primeira iniciativa, fortemente desejada pelo fundador, foi a Obra Nacional Cidade dos Adolescentes. A obra hoje “pode se orgulhar de uma longa tradição de compromisso a serviço dos menores em condições frágeis e difíceis, segundo uma metodologia educacional baseada no autogoverno”.

Colocar no centro a pessoa e o cuidado do ambiente

No espírito de uma fidelidade criativa ao carisma original, esta obra pretende renovar-se a fim de ser mais significativa e eficaz em sua missão num mundo que hoje oferece novos desafios educacionais.

“Aprecio o fato de que esta atualização seja inspirada nas recomendações que expressei na Carta Encíclica Laudato si’, como sinal de uma ecologia integral que tem como objetivo o desenvolvimento da humanidade e da criação.”

Francisco destacou a importância de “educar as novas gerações a uma cidadania ativa e participativa, que coloque no centro a pessoa e o cuidado do ambiente”.

Até mesmo a inovação tecnológica é chamada a colaborar com essas finalidades e as novas gerações, se forem bem motivadas, poderão realizá-las, porque nasceram e cresceram no atual contexto tecnológico.

O Papa agradeceu ao organismo pela sensibilidade para com os irmãos e irmãs vulneráveis. “Que Deus recompense o seu compromisso apaixonado e ilumine sempre o seu caminho de fraternidade”, concluiu.

Radio Vaticano

O Papa Francisco recebeu na manhã de sexta-feira (6) a redação da revista italiana “Aggiornamenti sociali”, ou seja, “Atualizações sociais”. A revista fundada há 70 anos, caracteriza-se pelo aprofundamento e análise de temáticas sociais, políticas, eclesiais e internacionais, e é formada por jesuítas e leigos.

Francisco começou seu discurso comentando o lema da revista que é ajudar os leitores a “orienta-se no mundo que muda”, principalmente “em tempos de mudanças aceleradas como o nosso, que deixam muitos perdidos e confusos”.

Discernir na sociedade

“Orienta-se quer dizer entender onde nos encontramos – disse o Papa – quais são os pontos de referência e depois decidir a direção a ser tomada”. Considerando deste modo o significado está “muito próximo do discernimento: de fato, também na sociedade, precisamos aprender a reconhecer a voz do Espírito, interpretar seus sinais e seguir aquela voz e não as outras”.

Interpelando a nível pessoal e também como comunidade civil e eclesial porque o Espírito atua nas dinâmicas sociais, o Papa observa: “Não é suficiente treinar a sensibilidade espiritual, que é indispensável, são necessárias competências e análises específicas”.

Em seguida o Papa afirma:

“Para os cristãos o discernimento dos fenômenos sociais não pode ser independente da opção preferencial pelos pobres. Antes de ajudá-los, esta opção requer que estejamos ao lado deles, mesmo quando consideramos as dinâmicas sociais”

Um caminho a ser percorrido juntos

Francisco recorda que “o discernimento dos fenômenos sociais não pode ser realizado por uma única pessoa. Ninguém – nem mesmo o Papa e a Igreja – consegue abraçar todas as perspectivas relevantes: é preciso de um confronto sério, que envolva todas as partes em causa”. Para isso é fundamental uma dinâmica na qual todos falem com liberdade mas também escutem e estejam disponíveis a aprender e a mudar. E fala sobre a importância do diálogo:

“Dialogar é construir um caminho no qual percorrer juntos e quando necessário, ajudando-se e estendendo-se a mão. As divergências e os conflitos não podem ser ignorados ou dissimulados, como muitas vezes temos a tentação de fazer, mesmo na Igreja, mas assumidos, não para ficarem bloqueados sem conclusões, mas para abrir novos processos, porque o conflito jamais pode ser a última palavra”

No que se refere a iniciativas para criar redes, participar de eventos, ativar grupos de pesquisa, o Papa os encoraja sugerindo três âmbitos particularmente significativos:

“O primeiro é a integração de grupos da sociedade que por vários motivos são marginalizados, nos quais mais facilmente encontra-se as vítimas da cultura do descarte”.

“O segundo âmbito refere-se ao encontro entre as gerações, do qual no Sínodo dos Jovens reconhecemos a urgência”.

E o “terceiro âmbito é a promoção de ocasiões de encontro e ação comum entre cristãos e crentes de outras religiões, mas também com todas as pessoas de boa vontade”.

A alegria do compromisso social

Por fim o Papa exortou a não desencorajarem e disse: o compromissos pela justiça e pelo cuidado da casa comum está associado a uma promessa de alegria e de plenitude”. E concluiu: “Ficar ao lado dos pobres é um encontro com sofrimentos e injustiças, mas também uma felicidade genuína e contagiosa”.

Radio Vaticano

“O elogio da solidez” é o centro da Liturgia de hoje, com o Evangelho de Mateus (Mt7,21.24-27), em que Jesus fala da diferença entre o homem prudente e o homem sem juízo: o primeiro, deposita no Senhor o fundamento da sua vida, construindo a própria casa sobre a rocha. O outro não ouve a Palavra de Deus e vive de aparências, construindo a própria casa sobre um fundamento fraco, como a areia.

O Senhor é a rocha segura e forte

A partir deste episódio, o Papa desenvolveu a sua homilia, pronunciada na missa matutina na Casa Santa Marta (05/12), num diálogo contínuo com os fiéis, aos quais pediu para refletirem justamente sobre a “sabedoria e a fraqueza”, isto é, sobre qual é o fundamento das nossas esperanças, das nossas seguranças e da nossa vida, e pedindo a graça de saber discernir onde está a rocha e onde está a areia.

A rocha. Assim é o Senhor. Quem confia no Senhor estará sempre seguro, porque seus fundamentos estão sobre a rocha. É o que diz Jesus no Evangelho. Fala de um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha, isto é, sobre a confiança no Senhor, sobre coisas sérias. E esta confiança também é um material nobre, porque o fundamento desta construção da nossa vida é seguro, é forte.

As aparências fazem a vida cristã ruir

O prudente, portanto, é quem edifica sobre a rocha, ao contrário do tolo, que escolhe a “areia que se move” e que é levada pelo vento e pela chuva. Também é assim na vida cotidiana, nos prédios que se constroem sem bons fundamentos e, portanto, desmoronam, e na nossa existência pessoal

E também a nossa vida pode ser assim, quando o meu fundamento não é forte. Vem a tempestade – e todos nós temos tempestades na vida, todos, do Papa até o último, todos – e não somos capazes de resistir. E muitas pessoas dizem: “Não, eu mudarei de vida” e pensam que mudar de vida é maquiar-se, mas mudar de vida é mudar os fundamentos, isto é, colocar a rocha ali, que é Jesus. “Eu queria refazer esta construção, este prédio, porque é muito feio, muito feio, e gostaria de embelezá-lo um pouco, mas se recorro à maquiagem e enfeito um pouco, a casa não vai avante; cairá. Com as aparências, a vida cristã desmorona.

Saber discernir entre rocha e areia

Portanto, somente Jesus é o fundamento seguro, as aparências não ajudam e o Papa citou o exemplo de um confessionário: somente quem se reconhece pecador, fraco, desejoso de salvação, tem uma vida baseada sobre a rocha, enquanto crê e conta com Jesus-Salvação. Converter-se, portanto, àquilo que não desmorona e não passa: assim aconteceu com São Francisco Borgia em 1500, quando este ex-cavaleiro de corte, diante do corpo em decomposição da imperatriz Isabel, se deu conta da caducidade e da vaidade das coisas terrenas, e escolheu o Senhor e se tornou santo:

Nós não podemos edificar a nossa vida sobre coisas passageiras, nas aparências, em fazer de conta que tudo vai bem. Vamos para a rocha, onde está a nossa salvação. E ali seremos felizes todos. Todos.

Neste dia de Advento, o Papa então convidou cada um de nós a pensar no fundamento que damos à nossa vida, se a sólida rocha ou a areia móvel, pedindo ao Senhor a graça de saber discernir.

Radio Vaticano

«Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho»O ministério de Paulo em Éfeso e a despedida dos anciãos. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco, extraído do Livro dos Atos dos Apóstolos, na Audiência Geral, desta quarta-feira (04/12), realizada na Praça São Pedro.

“A viagem do Evangelho no mundo continua sem parar e passa pela cidade de Éfeso, manifestando o seu significado salvífico. Graças a Paulo, cerca de doze homens recebem o batismo em nome de Jesus e experimentam a efusão do Espírito Santo que os regenera”, frisou o Papa. “Vários são os milagres que se realizam por meio do Apóstolo: os doentes ficam curados e os possuídos são libertados. Isso acontece porque o discípulo assemelha-se a seu Mestre e o torna presente comunicando aos irmãos a mesma vida nova recebida Dele”, sublinhou Francisco.

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A fraqueza das artes mágicas

Segundo o Papa, “a força de Deus que se manifesta em Éfeso tira a máscara de quem quer usar o nome de Jesus para fazer exorcismos, mas sem ter a autoridade espiritual para fazê-lo, e revela a fraqueza das  artes mágicas, que são abandonadas pelas pessoas que escolhem Cristo. Uma verdadeira mudança para uma cidade, como Éfeso, que era um lugar famoso pela prática de magia. São Lucas sublinha a incompatibilidade entre a fé em Cristo e a magia”.

“ Se você escolhe Cristo não pode recorrer ao mago: a fé é abandono confiante nas mãos de um Deus confiável que se mostra não através de práticas ocultas, mas pela revelação e com amor gratuito.”

Talvez alguns de vocês podem dizer: Ah, sim, essa história de magia é antiga. Hoje, com a civilização cristã, isso não acontece. Fiquem atentos! Eu lhes pergunto: quantos de vocês vão atrás de tarô, quantos de vocês vão procurar as pessoas que leem as mãos e as cartomantes? Ainda hoje, nas grandes cidades, os cristãos práticos ainda procuram essas coisas.

“ Mas, se você acredita em Jesus Cristo, porque vai procurar o mago, a cartomante, todas essas pessoas? Por favor: a magia não é cristã. Essas coisas que são feitas para adivinhar o futuro ou adivinhar muitas coisas ou mudar as situações da vida não são cristãs. A graça de Cristo dá tudo a você: reze e confie-se ao Senhor.”

A difusão do Evangelho em Éfeso prejudica o comércio dos ourives que fabricavam as estátuas da deusa Ártemis, fazendo de uma prática religiosa um verdadeiro negócio. “Vendo diminuir a atividade que dava muito dinheiro, os ourives organizam uma revolta contra Paulo, e os cristãos são acusados de terem colocado em crise a categoria de artesãos, o santuário de Ártemis e o culto a essa deusa”, disse ainda o Papa.

Entrega pastoral

Depois, Paulo parte de Éfeso. Vai diretamente a Jerusalém e chega a Mileto. Ali, chama os anciãos da Igreja de Éfeso, os presbíteros, para fazer uma entrega “pastoral”. Estamos no final do ministério apostólico de Paulo e Lucas nos apresenta o seu discurso de despedida, um testamento espiritual que o apóstolo dirige àqueles que, após sua partida, deverão guiar a comunidade de Éfeso.

Esta é uma das páginas mais bonitas do Livro de Atos dos Apóstolos: eu aconselho vocês a pegar hoje o Novo Testamento, a Bíblia, o capítulo 20 e ler esta despedida de Paulo aos presbíteros de Éfeso, que ele faz em Mileto. É uma maneira de entender como o apóstolo se despede e também como os presbíteros hoje devem se despedir e também como todos os cristãos devem se despedir. É uma página bonita. Não se esqueçam: Atos dos Apóstolos, capítulo 20, versículos de 17 em diante.

O pastor deve vigiar

Na parte exortativa, Paulo incentiva os responsáveis da comunidade: “Vigiem a si mesmos e todo o rebanho: e este é o trabalho do pastor: vigiar. O pastor deve vigiar, o pároco deve vigiar, fazer vigília, os presbíteros devem vigiar, os bispos, o Papa deve vigiar. Isto é: vigiar para proteger o rebanho, e vigiar a si mesmo, examinar a consciência e ver como ela cumpre esse dever de vigiar”.

O Papa concluiu sua catequese, pedindo ao Senhor para renovar em nós o amor pela Igreja e pelo depósito da fé que ela preserva, e nos tornar corresponsáveis pela tutela do rebanho, apoiando os pastores na oração para que manifestem a firmeza e a ternura do Divino Pastor.

Ao saudar os peregrinos de língua portuguesa o Papa disse:

Saúdo com afeto os peregrinos de língua portuguesa, em particular o grupo brasileiro de Nossa Senhora do Livramento, de Vitória de Santo Antão, encorajando a todos a apostar em ideais grandes, ideais de serviço que engrandecem o coração e tornam fecundos os seus talentos. Confiem em Deus, como a Virgem Maria!

Radio Vaticano

Na última semana do ano litúrgico, a Igreja nos convida a refletir sobre o fim do mundo, o fim de cada um de nós, e o faz também o Evangelho desta sexta-feira, em que Lucas repete as palavras de Jesus: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.

A vulnerabilidade humana

Em sua homilia, o Papa reiterou que “tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento do fim, isto é, da morte. Nenhum de nós sabe exatamente quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência a adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim:

Todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. Ontem eu meditava sobre isto, sobre um belo artigo que saiu agora na (revista, ndr) ‘Civiltà cattolica’, que dizia que o que une todos nós é a vulnerabilidade: somos iguais na vulnerabilidade. Todos somos vulneráveis e a um certo ponto esta vulnerabilidade nos leva à morte. Por isso vamos ao médico para ver como vai a minha vulnerabilidade física, outros vão para curar alguma vulnerabilidade psíquica no psicólogo.

A ilusão de ser eternos e a esperança no Senhor

A vulnerabilidade, portanto, nos une e nenhuma ilusão nos abriga. Na minha terra, recordou o Papa, havia a moda de pagar antecipadamente o funeral com a ilusão de economizar dinheiro para a família. Quando veio à luz o golpe aplicado por essas empresas fúnebres, a moda passou. “Quantas vezes a ilusão nos engana”, comentou o Pontífice, como a ilusão de “sermos eternos”. A certeza da morte, ao invés, está escrita na Bíblia e no Evangelho, mas o Senhor nos apresenta como um “encontro com Ele” e está acompanhada pela palavra “esperança”:

O Senhor nos fala para estarmos preparados para o encontro, mas a morte é um encontro: é Ele quem vem nos encontrar, é Ele quem vem nos pegar pela mão e nos levar até Ele. Eu não gostaria que essa simples pregação fosse um aviso fúnebre! É simplesmente Evangelho, é simplesmente vida, é simplesmente dizer um ao outro: somos todos vulneráveis ​​e todos temos uma porta à qual o Senhor um dia baterá.

É necessário, portanto, preparar-se bem para o momento em que a campainha tocará, o momento em que o Senhor baterá à nossa porta: rezemos um pelo outro – é o convite do Papa também aos fiéis presentes na Missa – para estar prontos, para abrir a porta com confiança ao Senhor que vem:

Todas as coisas que juntamos, que poupamos, licitamente boas, mas não levaremos nada … Mas, sim, levaremos o abraço do Senhor. Pensar na própria morte: eu vou morrer, quando? Não está determinado no calendário,  mas o Senhor sabe. E rezar ao Senhor: “Senhor, prepara meu coração para morrer bem, para morrer em paz, para morrer com esperança”. É esta a palavra que deve sempre acompanhar a nossa vida, a esperança de viver com o Senhor aqui e depois viver com o Senhor do outro lado. Rezemos uns pelos outros sobre isso.

Radio Vaticano

A origem do Rosário, segundo a tradição, está no costume dos antigos monges, de fazer suas preces, contando-as com o uso dos dedos das mãos ou mediante pedrinhas ou grãos. Na Idade Média (séculos X-XII), os fiéis costumavam rezar vários “Pais-Nossos” ou várias “Ave-Marias” consecutivos, quando não conseguiam recitar os 150 Salmos. Essa prática foi-se codificando e regulamentando aos poucos, chegando a sua forma atual no século XVI sob o Papa São Pio V (1566-1572), dominicano. Foi esse Pontífice quem determinou tanto o número de “Pai-Nosso” e “Ave-Maria” como o teor dos mistérios que os devem acompanhar.

O nosso Catecismo diz: “A piedade medieval do Ocidente desenvolveu a oração do Rosário como alternativa popular à oração das horas”. (n.2678)

São Pio V atribuiu a eficácia dessa prece à vitória naval de Lepanto, que, aos 7 de outubro de 1571, salvou de grande perigo a Cristandade ocidental contra a invasão dos turcos otomanos, muçulmanos, que pretendiam dominar a Europa e acabar com o cristianismo. Por isso, o Papa São Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora do Rosário em 7 de outubro. A devoção foi mais e mais favorecida pelos Papas seguintes, destacando-se Leão XIII, que determinou fosse o mês de outubro dedicado, em todas as paróquias, à reza do Rosário.

Rosário como arma para a conversão

Uma forte tradição na Igreja diz que São Domingos de Gusmão, enviado pelo Papa Gregório IX (1227-1241), para converter os hereges cátaros na França, recebeu a visita de Nossa Senhora, que lhe apresentou o Rosário como a arma para a conversão dos hereges. São Domingos caminhava rezando o Rosário e pregando a sã doutrina da fé.

Há muito tempo, os papas valorizam e recomendam, vivamente, a oração do Rosário, especialmente os últimos papas, sobretudo a partir das aparições de Lourdes (1858) e Fátima (1917). Em Fátima, Nossa Senhora disse aos pastorinhos que “não há problema de ordem pessoal, familiar e nacional que a oração do Terço não possa ajudar a resolver”.

Leão XIII (1878-1903), em tempos difíceis, dedicou ao Rosário 16 documentos, sendo 11 encíclicas e uma constituição apostólica; Paulo VI dedicou três documentos ao Rosário; uma encíclica: Mense (29 de Abril de 1965), a qual recorda que “Maria é caminho para Cristo, e isso significa que o recurso contínuo a ela exige que se procure nela, para ela e com ela, Cristo Salvador, ao qual nos devemos dirigir sempre”.

Na carta apostólica de João Paulo II Rosarium Virginis Mariae, ele declara: “Percorrer com ela [Maria] as cenas do Rosário é como frequentar ‘escola’ de Maria para ler Cristo, penetrar nos seus segredos, compreender a sua mensagem”. É a minha oração predileta, disse João Paulo II.

“É a oração mais querida pela Mãe de Deus”

Em 10 outubro 2010, o Papa Bento XVI disse que o Rosário é “a oração mais querida pela Mãe de Deus, e que conduz, diretamente, a Cristo”. “O Rosário é uma oração bíblica, totalmente tecida pela Sagrada Escritura. É uma oração do coração, em que a repetição da ‘Ave-Maria’ orienta o pensamento e o afeto para Cristo. É oração que ajuda a meditar a Palavra de Deus e a assimilar a Comunhão Eucarística sob o modelo de Maria, que guardava, em seu coração, tudo aquilo que Jesus fazia e dizia, e sua própria presença. A “Virgem do Rosário” recomendou, com insistência, a oração do Rosário todos os dias, para alcançar o fim da guerra.

O Catecismo diz: “A oração cristã procura, de preferência, meditar os mistérios de Cristo, como na lectio divina ou no Rosário”. (n.2708)

São João Paulo II

São João Paulo II disse, na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, em 16 de outubro de 2002, no Ano do Rosário: “Em momentos em que estivera ameaçada a própria cristandade, foi à força dessa oração que se atribuiu a libertação do perigo, tendo a Virgem do Rosário sido saudada como propiciadora da salvação. O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando, gradualmente, no segundo Milênio, é oração amada por numerosos santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no Terceiro Milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor”.

“Desde a minha juventude, essa oração teve um lugar importante na minha vida espiritual. A ele confiei tantas preocupações; nele, encontrei sempre conforto. Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. […] Hoje, no início do vigésimo quinto ano de serviço como Sucessor de Pedro, desejo fazer o mesmo. Quantas graças recebi, nesses anos da Virgem Santa, por meio do Rosário. Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo”.

Canção Nova

 

Recém-chegado de sua 32° viagem apostólica, o Papa Francisco recebeu milhares de fiéis e peregrinos para a Audiência Geral esta quarta-feira (27/11) e dedicou sua catequese aos principais momentos vividos na Tailândia e no Japão.

Ao agradecer às autoridades governamentais e eclesiásticas dos dois países, o Pontífice afirmou que a visita aumentou a sua proximidade e o seu afeto por aqueles povos: “Deus os abençoe com abundância de prosperidade e de paz”.

Povo thai: povo do belo sorriso

Começando pela primeira etapa, Francisco recordou que a Tailândia é um antigo Reino que se modernizou fortemente. O povo “thai” é o “povo do belo sorriso. As pessoas ali sorriem. Encorajei o empenho pela harmonia entre os diversos membros da nação e para que o desenvolvimento econômico possa ir em benefício de todos e sejam sanadas as chagas da exploração, especialmente das mulheres e dos menores.”

Sobre a religião budista, parte integrante da história e da vida do povo tailandês, o Papa citou o encontro com o Patriarca Supremo e com os líderes ecumênicos e inter-religiosos.

Com a comunidade católica local, o Pontífice viveu momentos de convívio com os sacerdotes, os consagrados, os bispos, os jesuítas. Celebrou duas missas e conheceu de perto o trabalho do Hospital São Luís em prol dos últimos. “Ali experimentamos que na nova família formada por Jesus Cristo existem também os rostos e as vozes do povo Thai.”

Japão: capacidade extraordinária de lutar pela vida

Depois, foi a vez do Japão, cujo lema “Proteger cada vida” acompanhou a sua visita. O país, afirmou, “carrega impressas as chagas do bombardeio atômico e é em todo o mundo porta-voz dos direitos fundamentais à vida e à paz”.

Em Nagasaki e Hiroshima, o Papa rezou, encontrou sobreviventes e familiares das vítimas. “Reiterei a firme condenação das armas nucleares e da hipocrisia de falar de paz construindo e vendendo artilharia bélica.”

Depois daquela tragédia, prosseguiu, o Japão demonstrou uma extraordinária capacidade de lutar pela vida e o fez inclusive recentemente depois do tríplice desastre de 2011: terremoto, tsunami e acidente na central nuclear.

“ Para proteger a vida, é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça nos países mais desenvolvidos é a perda do sentido de viver. ”

As primeiras vítimas do vazio de sentido, apontou Francisco, são os jovens. Por isso, dedicou um encontro a eles em Tóquio, aos quais encorajou a se opor a toda forma de bullying, e a vencer o medo e o fechamento abrindo-se ao amor de Deus.

“Auspiciei uma cultura de encontro e diálogo, caracterizada pela sabedoria e amplidão de horizonte. Permanecendo fiel aos seus valores religiosos e morais, e aberto à mensagem evangélica, o Japão poderá ser um país condutor por um mundo mais justo e pacífico e pela harmonia entre homem e meio ambiente.”

Queridos irmãos e irmãs, finalizou o Papa, “confiemos à bondade e à providência de Deus os povos da Tailândia e do Japão”.

Fundação Nizami Ganjavi

Antes da Audiência Geral, o Papa Francisco recebeu os membros da Fundação Nizami Ganjavi. Trata-se de uma organização dedicada à memória do grande poeta do Azerbaijão do século XII, com a finalidade de promover a paz no diálogo e no respeito mútuo.

Francisco encorajou a Fundação a prosseguir neste caminho, sobretudo no que diz respeito ao desafio das mudanças climáticas, convencidos de que a cultura do diálogo é a via mestra, a colaboração é a conduta mais eficaz e conhecimento recíproco é o método para crescer na fraternidade entre as pessoas e os povos.

 

Radio Vaticano

O Santo Padre concluiu suas atividades, na tarde desta sexta-feira (22/11), horário local da Tailândia, com a celebração Eucarística para os Jovens, na Catedral da Assunção, em Bangcoc.

Vamos ao encontro do Senhor!

O Papa iniciou a sua homilia com o convite “Vamos ao encontro do Senhor, que vem!”, partindo do Evangelho do dia, que nos exorta a pôr-nos a caminho com o olhar fixo no futuro e no dom mais belo: a vinda definitiva de Cristo ao nosso mundo.

O Senhor vem ao nosso encontro, a partir da história, que deve ser construída, criada, inventada, disse o Papa. Acolhamo-lo com alegria:

“ O Senhor sabe que, por meio de vocês, jovens, o futuro entra nestas terras e no mundo. Ele conta com vocês para continuar hoje a sua missão. Como Deus tinha um plano para o Povo escolhido, também tem um plano para cada um de vocês. Ele é o primeiro a convidar todos para o banquete, que devemos preparar juntos, como comunidade: o banquete do seu Reino, do qual ninguém pode ser excluído” ”

Apelo aos jovens

Referindo-se ao Evangelho de hoje, Francisco disse que “dez jovens foram convidadas para olhar o futuro e participar do banquete do Senhor”. O problema é que algumas delas não estavam preparadas para participar porque lhes faltou o óleo necessário, o combustível interno para manter aceso o fogo do amor.

Com grande entusiasmo e motivação, queriam participar do convite do Mestre, mas, com o tempo, suas forças e anseios começaram a se dissipar e chegaram tarde ao banquete. E o Papa afirmou:

“ Esta parábola pode se comparada a nós, cristãos, quando ouvimos, com entusiasmo e decisão, a chamada do Senhor para tomar parte do seu Reino e partilhar da sua alegria. Mas, por causa dos muitos problemas, obstáculos e sofrimentos, perdemos a confiança e, amargurados, esfriamos nosso coração, sonhos e alegrias ”

Por isso, o Santo Padre perguntou aos jovens presentes: “Vocês querem manter vivo o fogo, que os ilumina em plena noite e nas dificuldades? Querem preparar-se para responder à chamada do Senhor? Querem estar prontos para cumprir a sua vontade? Como obter o óleo para mantê-los em movimento à busca do Senhor em todas as situações?” E respondeu:

“Vocês são herdeiros de uma magnífica história de evangelização, que lhes foi transmitida como um tesouro sagrado. Esta bela Catedral é testemunho da fé em Jesus Cristo, que seus antepassados receberam. Sua fidelidade, profundamente arraigada, os impeliu a fazer boas obras e a construir outro templo, bem mais esplêndido, composto de pedras vivas, para levar o amor misericordioso de Deus às pessoas da sua época”.

O segredo de um coração feliz

O Papa concluiu sua homilia exortando os fiéis a ficarem arraigados na fé, que receberam de seus pais e mestres, para que o fogo do Espírito não se apague em seus corações, apesar das provações e sofrimentos. O segredo de um coração feliz é estar ancorado em Jesus, na sua vida, nas suas palavras, na sua morte e ressurreição. Por fim, os exortou:

“ Queridos jovens, vocês são uma nova geração, com novas esperanças, sonhos e interrogativos… Convido-os a manter viva a alegria, arraigados em Cristo. Vamos ao encontro do Senhor, que vem! Não tenham medo do futuro e não desanimem, pois o Senhor os aguarda para preparar e celebrar o banquete no seu Reino ”

Após a celebração Eucarística, na catedral da Assunção, Francisco aproveitou para se despedir do povo tailandês, porque amanhã, sábado, irá ao Japão, segunda e última etapa da Sua Viagem Apostólica à Ásia.

Por isso, o Papa agradeceu a todos os que tornaram possível sua visita à Tailândia: o Rei Rama X, o Governo e as Autoridades do país, seus irmãos Bispos, sobretudo o Cardeal Francis Xavier, os sacerdotes, religiosas e religiosos, fiéis e leigos e, de modo especial, todos os jovens!

“ Um sincero agradecimento aos voluntários, que colaboraram, com tanta generosidade, e os que me acompanharam com suas orações e sacrifícios, sobretudo os enfermos e encarcerados. O Senhor os recompense com a sua consolação e paz, que só Ele lhes pode dar ”

Radio Vaticano

O Santo Padre concluiu suas atividades em Bangcoc, capital da Tailândia, na tarde desta quinta-feira, com uma celebração Eucarística, no Estádio Nacional da cidade.

Em sua homilia, o Papa partiu da frase evangélica de Mateus “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?”. Com esta pergunta, Jesus desafiou a multidão a prestar atenção a esta pergunta, que parecia tão óbvia, e respondeu: “Todo aquele que fizer a vontade do meu Pai, que está no Céu. Este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Pôr-se a caminho, descobrir a verdade

Deste modo, disse Francisco, Jesus critica os determinismos religiosos e legais da época. No entanto, é impressionante ver no Evangelho a variedade de perguntas que perturbam, despertam e convidam os discípulos a pôr-se a caminho e a descobrir a verdade, capaz de gerar a vida. Isto, afirmou o Papa, serve para abrir o coração e renovar a nossa vida e a da comunidade. E acrescentou:

“ Assim aconteceu com os primeiros missionários, que partiram e chegaram a estas terras: ao ouvir a Palavra do Senhor e responder aos seus pedidos, puderam perceber que pertenciam a uma família bem maior do que a gerada pelos laços de sangue, cultura, região ou pertença a um determinado grupo ”

Por isso, explicou Francisco, impelidos pela força do Espírito e repletos de esperança, que nasce da boa nova do Evangelho, eles se  puseram a caminho para conhecer os membros desta sua família que ainda não conheciam. Mas, tiveram que abrir o coração a uma nova realidade, superar todos os obstáculos e divisões, para encontrar as mães e irmãos tailandeses, que não frequentavam a Igreja. E o Papa ponderou:

“ Sem este encontro, faltaria o rosto do Cristianismo, os cânticos e as danças, que representam o sorriso típico dos tailandeses e seu contexto cultural. O discípulo missionário não é um mercenário da fé nem um caçador de prosélitos, mas um mendigo que reconhece que lhe faltam os irmãos, as irmãs e as mães com quem celebrar e festejar o dom da reconciliação, que Jesus oferece a todos ”

Todos somos discípulos missionários

Eis a fonte da ação evangelizadora, frisou Francisco, que recordou os 350 anos da criação do Vicariato Apostólico de Sião. Na época, eram apenas dois missionários que lançaram a semente do Evangelho, que, desde então, cresceu e desabrochou em uma variedade de iniciativas apostólicas, que contribuíram para a vida da nação. E o Papa afirmou:

“ Este aniversário não significa nostalgia do passado, mas uma chama de esperança para que, no presente, possamos também responder, com a mesma determinação, força e confiança. Trata-se de uma comemoração festiva, que nos ajuda, com coração feliz, compartilhar uma vida nova, que brota do Evangelho, com todos os membros da nossa família, que ainda não conhecemos ”

O Santo Padre concluiu sua homilia dizendo que “todos somos discípulos missionários, quando fazemos parte viva da família do Senhor, como Ele o fez”. E recordou:

“ Penso, de modo particular, nos meninos, meninas e mulheres obrigados à prostituição e ao tráfico, desfigurados na sua dignidade; penso nos jovens escravos da droga, que perturba sua perspectiva e dissipa seus sonhos; penso nos migrantes, privados das suas casas e famílias, e em tantos que, como eles, são esquecidos, órfãos, abandonados, sem uma comunidade de fé que os possa acolher; penso nos pescadores explorados, nos mendigos ignorados ”

Todas estas pessoas, disse por fim Francisco, fazem parte da nossa família cristã. O discípulo missionário sabe que a evangelização não é contar com a adesão dos poderosos, mas abre as portas para viver e partilhar do abraço misericordioso e mediador de Deus Pai. Assim, o Papa exortou a comunidade tailandesa a continuar o caminho iniciado há 350 anos pelos primeiros missionários.

Radio Vaticano

Na manhã desta segunda-feira, 18, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao diretor do Programa Alimentar Mundial, David Beasley, por ocasião da abertura da segunda sessão ordinária do Comitê Executivo do órgão.

Na Mensagem, o Papa recordou que, nos projetos do Programa, estão sendo formuladas iniciativas concretas para tornar mais eficaz a luta contra a fome no mundo. “Seus projetos compreendem a promoção de medidas determinantes para eliminar o desperdício alimentar, um fenômeno que grava cada vez mais na nossa consciência”.

Em seguida o Papa recordou a desigualdade entre os irmãos: lugares onde não se alimentam suficientemente e outros onde os alimentos são desperdiçados e jogados fora. “É o que o meu predecessor São João Paulo II definiu de “paradoxo da abundância” que continua a ser um obstáculo à solução do problema da desnutrição da humanidade”. “O paradoxo implica mecanismos de superficialidade, negligência e egoísmo que estão na base da cultura do desperdício”, acrescentou Francisco.

Ao falar sobre os compromissos assumidos nas organizações internacionais como Agenda 2030 e Acordo de Paris, o Papa reiterou: “Alcançar estes objetivos é responsabilidade não apenas das organizações internacionais e dos governos, mas de cada um de nós” ou seja: “Famílias, escolas e meios de comunicação têm uma importante tarefa em educar para a sensibilização”.

“Ninguém pode ser excluído da necessidade de combater esta cultura que oprime tantas pessoas, especialmente os pobres e vulneráveis na sociedade”, concluiu o Papa.

“Stop the Waste”

Francisco elogia a campanha global do PAM, “Stop the Waste”, que evidencia “o quanto o desperdício danifica a vida das pessoas e o progresso dos povos”. A campanha sustenta também que o único modo de agir é mudando o estilo de vida e rejeitando todo e qualquer desperdício.

Sobre este ponto, o Papa afirmou: “Este novo estilo de vida consiste em valorizar adequadamente o que a Terra mãe nos dá e terá uma repercussão para toda a humanidade”.

Radio Vaticano

No Novo Testamento, o ministério de intercessão é centrado em torno de dois advogados supremos – Jesus e o Espírito Santo. A intercessão é a oração ao Pai por meio de Jesus, conduzida e fortalecida pelo Espírito Santo. Aquilo que, normalmente, nós pensamos ser uma oração de intercessão é, na verdade, uma oração de petição. Sou eu dizendo a Deus o que eu gostaria que Ele fizesse. Mas quando intercedemos, nós deveríamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo quanto ao que rezar e como rezar.

Jesus prometeu aos Seus discípulos que Ele mandaria o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco” (Jo 14,16). Sendo esse “outro advogado” dado a nós, o Espírito Santo advoga por nós em nossa oração de intercessão. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. (Rm 8,26-27)

Muitas vezes, nós não sabemos como rezar, porque não temos compreensão plena da situação, as causas escondidas, a complexidade do problema etc. Não conseguimos prever o futuro. Não entendemos bem o que é melhor para nós ou qual o plano de Deus para nós. O Espírito Santo é o nosso parceiro orante interior, que vem em nosso auxílio na intercessão.

O Espírito nos ajuda a rezar

Precisamos ser abertos ao Espírito Santo em nossa intercessão, porque Ele nos ajuda a rezar estrategicamente. Existem muitas situações complexas na intercessão, que não temos como compreender na totalidade. Deveríamos permitir que o Espírito assuma o processo da intercessão.

Num sentido mais profundo, se nos questionarmos: “O que é a intercessão?”, a resposta seria: é a oração pelos outros conduzida e energizada pelo Espírito Santo. O Espírito é o ator principal da intercessão. “Orai em toda circunstância pelo Espírito” (Ef 6,18). Em nossa intercessão, nós precisamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo.

“Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou.” (1Jo 2,27) A nossa intercessão se torna eficiente por meio da força e da direção dada pelo Espírito Santo. Na intercessão, é importante saber para o que Deus quer que rezemos e, ao mesmo tempo, experimentar o poder do Espírito Santo, para que a oração seja efetiva.

A importância dos carismas

Os carismas vêm em nosso auxílio na intercessão. Os carismas, ou dons espirituais, existem para “o perfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo” (Ef 4,12). Uma boa maneira de explicar os dons espirituais é dizer que eles são como ferramentas ou recursos que transmitem poder para o nosso ministério. Tem hora que o Senhor revela ao intercessor situações de emergência, como uma tendência suicida de alguém, uma calamidade natural, um acidente, uma doença fatal etc. Essencialmente, a intercessão é um dom do Espírito Santo.

Existem outros carismas que podem ser usados durante o processo de intercessão, tais como: o dom de línguas, o dom de interpretação de línguas, palavra de ciência, palavra de sabedoria, discernimento dos espíritos, dom de profecia etc. Muitas vezes, não sabemos o que rezar nem como rezar. Outras vezes, quando estamos em um grupo, existem situações nas quais não podemos explicar em detalhes tudo a todos. Em todas essas ocasiões, o dom de oração em línguas vem como um poderoso meio de intercessão. O dom de línguas ajuda a pessoa a ficar focada na intenção e a não sair dos trilhos. A intercessão se torna muito mais eficaz quando ela é conduzida pelo poder do Espírito Santo.

Canção Nova

 

Na sua audiência, na manhã desta sexta-feira (15/11), no Vaticano, o Santo Padre recebeu, na Sala Régia, cerca de 600 participantes no Congresso Internacional de Direito Penal.

Em seu discurso, o Papa expressou seu apreço e reconhecimento pelo serviço que a Associação presta à sociedade e ao desenvolvimento de uma justiça, que respeita a dignidade e os direitos da pessoa humana.

A este propósito, Francisco fez uma reflexão sobre as questões que interpelam a Igreja na sua missão de evangelização e serviço à justiça e à paz.

Idolatria do mercado e riscos do idealismo penal

Por várias décadas, disse, o Direito Penal incorporou diversos conhecimentos sobre algumas problemáticas relacionadas ao exercício da função sancionadora.

No entanto, apesar da sua abertura epistemológica, o Direito Penal não conseguiu se livrar das ameaças que, em nossos dias, pairam sobre as democracias e a plena vigência do Estado de Direito. Por outro lado, o Direito Penal, muitas vezes, descuida dos dados da realidade, que assume a aparência de um conhecimento meramente especulativo.

O contexto atual, disse Francisco, destaca dois aspectos relevantes: a “idolatria do mercado” e os “riscos do idealismo penal”:

 

“ A pessoa frágil e vulnerável encontra-se indefesa diante dos interesses do mercado divinizado, que se tornaram regra absoluta. Hoje, alguns setores econômicos têm mais poder que os próprios Estados. Esta realidade torna-se mais evidente em tempos de globalização do capital especulativo ”

O princípio de maximização do lucro, isolado de qualquer outra consideração, disse o Papa, leva a um modelo de exclusão, que ataca, de modo violento, os que sofrem pelos seus custos sociais e econômicos, enquanto as gerações futuras são condenadas a pagar os custos ambientais. E ponderou:

“ A primeira coisa que os juristas deveriam fazer, hoje, é se preguntar, com seus conhecimentos, como combater esse fenômeno, que coloca em risco as instituições democráticas e o próprio desenvolvimento da humanidade ”

O desafio atual para os advogados criminais, afirmou Francisco, é conter a irracionalidade punitiva, que se manifesta: com a prisão de massa, a aglomeração e tortura nas prisões, arbitrariedade e abusos das forças de segurança, expansão no âmbito da pena, a criminalização dos protestos sociais, o abuso da prisão preventiva e o repúdio às garantias penais e processuais mais elementares.

Crime dos poderosos

A seguir, o Pontífice recordou que, uma das omissões mais frequentes do Direito Penal e uma das consequências da seletividade das sanções, são a escassa ou pouca atenção ao crime dos mais poderosos, sobretudo a macro delinquência das empresas. E acrescentou:

“ O capital financeiro global está na origem dos crimes graves contra as pessoas e o meio ambiente. Trata-se de uma criminalidade organizada pelo excesso de endividamento dos Estados e pela pilhagem dos recursos naturais do nosso planeta, que pode ser comparada a crimes contra a humanidade, quando levam à fome, pobreza, migração forçada e morte por doenças evitáveis, desastres ambientais e extermínio dos povos indígenas ”

Depois, o Santo Padre falou sobre a tutela jurídica e penal do ambiente. A resposta penal ocorre quando o crime foi cometido, mas, devido à sua seletividade estrutural, a sanção recai, geralmente, sobre os setores mais vulneráveis. E afirmou:

Um senso elementar de justiça imporia a não impunidade de alguns comportamentos, sobretudo os considerados “ecocídios”: contaminação do ar, dos recursos da terra e da água; destruição em grande escala da flora e fauna, e toda ação que produz desastres ecológicos ou destruição do ecossistema”.

Pecado ecológico

Aqui, Francisco recordou o que os Padres sinodais da Região Pan-Amazônica definiram o pecado ecológico como ação ou omissão contra Deus, contra os outros, contra a comunidade e o meio ambiente: um pecado contra as gerações futuras, que se manifesta com a poluição e a destruição do meio ambiente e contra a virtude da justiça. E o Papa exortou:

“ Nesta circunstância, através de vocês, gostaria de fazer um apelo a todos os líderes e representantes do setor para que contribuam, com seus esforços, para garantir uma tutela jurídica adequada da nossa Casa comum ”

Por fim, o Santo Padre recordou alguns problemas, que pioraram ao longo desses anos: o uso indevido de prisão preventiva; o incentivo involuntário à violência; a cultura do descarte e do ódio e o “lawfare” ou emprego da justiça penal.

Mediante os instrumentos próprios da lei, é explorada a necessária luta contra a corrupção, com o objetivo de combater governos indesejados, reduzir os direitos sociais e promover um sentimento anti-político, que beneficia os que aspiram a um poder autoritário.

Ao mesmo tempo, frisou o Papa, é estranho que o recurso a paraísos fiscais, que serve para ocultar todo tipo de crime, não seja visto como uma questão de corrupção e crime organizado. Da mesma forma, fenômenos maciços de apropriação de recursos públicos passam despercebidos ou até minimizados como meros conflitos de interesse.

O Papa Francisco concluiu seu denso discurso, chamando a atenção dos estudiosos de Direito Penal e a todos os que são chamados a desempenhar funções relacionadas à aplicação do Direito Penal, por uma maior responsabilidade na atuação da justiça:

“ Na visão cristã do mundo, o modelo de justiça encontra uma perfeita encarnação na vida de Jesus. Ao ser tratado com desprezo e até com violência, que o levou à morte, a sua ressurreição nos deixou uma mensagem de paz, perdão e reconciliação, valores difíceis de alcançar, mas necessários para a boa vivência de todos ”

Nossas sociedades, disse por fim o Papa, são chamadas a avançar em direção a um modelo de justiça fundado no diálogo e no encontro. Não se trata de uma utopia, mas, certamente, de um grande desafio! Um desafio que devemos enfrentar, se quisermos resolver os problemas da convivência civil, de modo racional, pacífico e democrático. Todos, cristãos e não cristãos, precisamos da ajuda de Deus, que é fonte de razão e de justiça.

Radio Vaticano

Quarta-feira é dia de Audiência Geral no Vaticano e o Papa Francisco se reuniu com milhares de fiéis e peregrinos na Praça São Pedro não obstante o mau tempo.

Em sua catequese, o Pontífice deu prosseguimento à sua “viagem” com o livro dos Atos dos Apóstolos, comentando o capítulo 17: “Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio”.

Olhos de fé

Este trecho narra a chegada de Paulo ao coração da Grécia: Atenas. Ali, o Apóstolo tem um impacto com o paganismo, mas ao invés de fugir, busca uma ponte para dialogar com aquela cultura, reunindo-se com as pessoas mais significativas.

“Paulo não olha a cidade de Atenas e o mundo pagão com hostilidade, mas com os olhos da fé”, explicou Francisco.

E isso nos faz interrogar sobre o nosso modo de olhar as nossas cidades: “Nós as observamos com indiferença? Com desprezo? Ou com a fé que reconhece os filhos de Deus em meio às multidões anônimas?”, questionou o Papa.

Abrir uma brecha

Paulo escolhe o olhar que o leva a abrir uma brecha entre o Evangelho e o mundo pagão. No coração de uma das instituições mais célebres do mundo antigo, o Areópago, ele realiza um extraordinário exemplo de inculturação da mensagem da fé: anuncia Jesus Cristo aos adoradores de ídolos, e não o faz agredindo, mas fazendo ponte, “pontífice”.

Em seu discurso, o Apóstolo se inspira no altar da cidade, dedicado a um “deus desconhecido”, para então anunciar Aquele que os homens ignoram, e todavia conhecem-No: o Ignorado-Conhecido, disse o Papa, citando uma expressão de Bento XVI E convida todos a irem além dos templos da ignorância e a optarem pela conversão em vista do juízo iminente. Paulo chega assim ao kerygma e faz alusão a Cristo, sem citá-lo.

Construir pontes

A este ponto, a pregação do Apóstolo encontra um desafio: a morte e a ressurreição de Cristo é interpretada como tolice e suscita zombaria e escárnio. Paulo se afasta e a sua tentativa está prestes a falir quando alguns aderem à sua palavra e se abrem à fé.

“ Peçamos também nós hoje ao Espírito Santo, concluiu Francisco, que nos ensine a construir pontes com a cultura, com quem não crê ou com quem tem um credo diferente do nosso. Sempre construir pontes, com a mão estendida, nada de agressão. Peçamos a capacidade de inculturar com delicadeza a mensagem da fé, depositando sobre quem não conhece Cristo um olhar contemplativo, movido por um amor que aquece os corações mais endurecidos. ”

Radio Vaticano

Que o Espírito Santo nos faça compreender “o amor de Cristo por nós” e prepare os nossos corações para “nos deixarmos amar” pelo Senhor. Esta é a recomendação do Papa Francisco na Missa da manhã desta quinta-feira, na Casa Santa Marta, detendo-se na primeira leitura de hoje, tirada da Carta de São Paulo aos Romanos. Na sua homilia, o Pontífice explica como o Apóstolo dos gentios poderia até parecer “um pouco orgulhoso”, “demasiado confiante” ao afirmar que nem “a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada” conseguirão separar-nos “do amor de Cristo”.

O amor de uma mãe

No entanto, o Papa afirma, lendo São Paulo, “somos mais do que vencedores” com o amor do Senhor. São Paulo foi um deles porque, explica Francisco, desde o momento em que “o Senhor o chamou na estrada de Damasco, começou a compreender o mistério de Cristo”: “tinha-se apaixonado por Cristo”, tomado – observa o Papa – de “um amor forte”, “grande”, não uma “trama” de “telenovela”. Um amor “sincero”, a ponto de “sentir que o Senhor sempre o acompanhava em coisas belas e feias”.

“Ele sentia isto com amor. E eu me pergunto: eu amo o Senhor assim? Quando chegam os maus momentos, quantas vezes se sente o desejo de dizer: “O Senhor abandonou-me, já não me ama mais” e gostaria de deixar o Senhor. Mas Paulo estava certo de que o Senhor nunca abandona. Compreendera o amor de Cristo em sua própria vida. Este é o caminho que Paulo nos mostra: o caminho do amor, sempre, no bom e no mau, sempre e avante. Esta é a grandeza de Paulo”.

Dar a vida pelo outro

O amor de Cristo, acrescenta o Pontífice, “não se pode descrever”, é algo muito grande.

Foi Ele quem foi enviado pelo Pai para nos salvar e o fez com amor, deu a vida por mim: não há amor maior do que dar a vida por outra pessoa. Pensemos em uma mãe, o amor de uma mãe, por exemplo, que dá a vida pelo filho, acompanha-o sempre, a vida toda, nos momentos difíceis, mas ainda é pouco… É um amor próximo de nós, o amor de Jesus não é um amor abstrato, é um amor eu-tu, eu-tu, cada um de nós, com nome e sobrenome.

O pranto de cada um de nós

No Evangelho de Lucas, o Papa nota “algo do amor concreto de Jesus”. Falando de Jerusalém, Jesus recordou quando tentou recolher seus filhos “como a galinha com seus pintinhos debaixo das asas”, e lhe foi impedido. Então “chorou”.

O amor de Cristo o leva ao pranto, ao pranto por cada um de nós. Que ternura há nesta expressão. Jesus podia condenar Jerusalém, dizer coisas negativas… E se lamenta porque não se deixa amar como os pintinhos da galinha. A ternura do amor de Deus em Jesus. E Paulo tinha entendido isso. Se não formos capaz de sentir, de entender a ternura do amor de Deus em Jesus por cada um de nós, jamais poderemos entender o que é o amor de Cristo. É um amor assim, espera sempre, paciente, o amor que joga a última carta com Judas: “Amigo”, desobriga-o, até o fim. Também com os nossos grandes pecados, até o fim Ele ama com esta ternura. Não sei se pensamos em Jesus tão terno, em Jesus que chora, como chorou diante do túmulo de Lázaro, como chorou aqui, olhando Jerusalém.

Um amor que se faz lágrima

Portanto Francisco exorta a nos perguntar se Jesus chora por nós, ele que nos deu “tantas coisas” enquanto nós muitas vezes decidimos “tomar outro caminho”. O amor de Deus “se faz lágrima, se faz pranto, pranto de ternura em Jesus”, reitera. Por isso, conclui o Pontífice, São Paulo “tinha se apaixonado por Cristo e nada podia separá-lo d’Ele”.

Radio Vaticano