O convite da Igreja nesta Sexta-feira Santa é para nos colocar diante do Crucificado em adoração, pedindo a Deus o dom da paz. E assim fez o Papa Francisco, ao presidir na Basílica Vaticana à celebração da Paixão do Senhor.
É a única celebração do ano em que não há a Eucaristia, pois todo o momento é dedicado à Paixão e à morte de Jesus. A homilia dá lugar à pregação do cardeal Raniero Cantalamessa, que nesta ocasião refletiu sobre o diálogo de Jesus com Pilatos, detendo-se sobre uma pergunta: “Que é a Verdade?”
“Como é atual esta página do Evangelho!”, comentou o cardeal italiano, que em sua análise utilizou referências ecléticas: além das Escrituras, citou o filósofo Søeren Kierkegaard, mas também autores menos “eclesiásticos”, como o autor do ciclo de romances e de filmes “O Senhor dos anéis”, John Ronald Tolkien. E não só: mencionou os debates sobre fé que correm pela internet.
A Verdade se fez carne
Tudo acontece como se no mundo jamais tivesse existido um homem chamado Jesus Cristo. O resultado é que a palavra “Deus” se torna um recipiente vazio que cada um pode preencher ao seu bel-prazer.
Mas justamente por isso, observa Cantalamessa, Deus se preocupou em dar ele mesmo um conteúdo ao seu nome: “O Verbo se fez carne”. A Verdade se fez carne!
Há quem faça a objeção se tratar de um caso de megalomania demente e de uma fraude gigantesca ou há quem afirme que a verdade é relativa. Afirma-se que há muita injustiça e muito sofrimento no mundo para se crer em Deus.
“É verdade”, responde o cardeal, mas o mal que nos circunda seria ainda mais absurdo e motivo de desespero sem a fé no triunfo final da verdade e do bem.
“A Ressurreição de Jesus dos mortos, que celebraremos em dois dias, é a promessa e a garantia de que haverá aquele triunfo, porque já iniciou com Ele. (…) É muito importante. Trata-se de saber se temos vivido por algo, ou em vão.”
A Páscoa sob o barulho de bombas
A falta de fé, todavia, acomete também os próprios cristãos diante dos pecados da Igreja e dos seus ministros: um motivo a mais para chorar por Jesus e chorar hoje com as vítimas e pelas vítimas dos nossos pecados.
Ao ceticismo difuso, acrescenta ainda o frade capuchinho, este ano a celebração da Páscoa será marcada não pelo som dos sinos, mas pelo barulho de bombas e explosões. Cantalamessa cita então as palavras do profeta Isaías: “Se não mudardes as vossas lanças em foices, as vossas espadas em arados (Is 2,4) e os vossos mísseis em fábricas e casas, perecereis todos do mesmo modo!”.
Passemos Àquele que não passa
O cardeal conclui com um apelo urgente por uma “verdadeira Páscoa”:
“Os eventos improvisamente nos recordaram uma coisa. As disposições do mundo mudam de um dia para o outro. Tudo passa, tudo envelhece; tudo ‒ não somente “a feliz juventude” ‒ desvanece. Há um só modo de se subtrair à corrente do tempo, que arrasta tudo atrás de si: passar ao que não passa! Pôr os pés em terra firme! Páscoa significa passagem. Este ano, façamos todos uma verdadeira Páscoa, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs: passemos Àquele que não passa. Passemos agora com o coração, antes de passar um dia com o corpo!”
Depois da pregação e da oração dos fiéis, se realizou o momento mais intenso da cerimônia: a adoração da Cruz, com o Papa em oração silenciosa diante do Crucifixo.
Vatican News