“Convido todos aqueles que são chamados a trabalhar pela causa da justiça – uma eminente virtude cardeal – a não temer perder tempo dedicando-o abundantemente à oração. Na oração, e somente na oração, haurimos de Deus, de sua Palavra, aquela serenidade interior que nos permite cumprir nossas obrigações com magnanimidade, equidade e previdência.”
Foi o que disse o Papa Francisco no discurso proferido na manhã deste sábado (27/03) na Sala das Bênçãos, no Vaticano, na inauguração do 92º ano judiciário do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano. Encontrava-se entre os presentes também o premier italiano, Mario Draghi.
O Pontífice falou inicialmente da singular colocação onde se deu esta audiência, destacando que as exigências da pandemia levaram a cerimônia hodierna a ser realizada nesta “Sala das Bênçãos”, situada entre a Basílica de São Pedro e a Praça. “A partir daqui – disse – os Papas concedem aos fiéis, nas principais solenidades, a bênção Urbi et Orbi, a Roma e ao mundo. No lado oposto, a Sala tem vista para a nave central da Basílica, na perspectiva visual da glória do Espírito Santo, que ilumina a abside. Uma posição – física e espiritual – central, entre o espaço aberto e ao mesmo tempo recolhido da Colunata de Bernini, e a da fé professada e celebrada em torno do túmulo de Pedro.
Neste lugar singular pode-se reconhecer o significado e a tarefa da Igreja, constituída e enviada por Cristo Senhor para cumprir a missão de apoiar a verdade e – como ensina o Concílio Vaticano II – “difundir humildade e abnegação por seu exemplo”, com o estilo próprio de Deus: proximidade, compaixão, ternura.
“Com este mandato – prosseguiu Francisco – a Igreja entra na história e se torna um lugar de encontro entre os povos e de reconciliação entre os homens, a fim de conduzi-los, com a Palavra e os Sacramentos, com a Graça e os exemplos de vida, à fé, à liberdade e à paz de Cristo.”
O Papa disse que as modificações normativas têm caracterizado o ordenamento jurídico vaticano nos últimos anos.
“Elas serão mais eficazes na medida em que forem acompanhadas por outras reformas na esfera penal, sobretudo na luta e repressão dos crimes financeiros, e pela intensificação de outras atividades destinadas a facilitar e acelerar a cooperação internacional entre órgãos de investigação vaticanos e instituições similares em outros países, bem como pelas iniciativas tomadas pela polícia judiciária de nosso Estado”, enfatizou.
Os resultados alcançados até o momento – disse o Santo Padre – incentivam a continuação do trabalho empreendido, a fim de superar práticas que nem sempre respondem à necessidade de prontidão exigida pelas dinâmicas investigativas.
“Exorto a todos – prosseguiu – para que as iniciativas recentemente empreendidas e aquelas a serem empreendidas para a absoluta transparência das atividades institucionais do Estado do Vaticano, especialmente nos campos econômico e financeiro, possam sempre inspirar-se nos princípios fundadores da vida eclesial e, ao mesmo tempo, levar em conta os parâmetros e ‘boas práticas’ atuais em nível internacional, e parecer exemplares, como é exigido de uma realidade como a Igreja Católica.”
Todos aqueles que trabalham neste campo, e todos aqueles que ocupam posições institucionais, devem, portanto, comportar-se de tal forma que, embora denotando um arrependimento ativo – quando necessário – em relação ao passado, sejam também irrepreensíveis e exemplares para o presente e o futuro.
“Sobre este ponto, será necessário no futuro levar em conta o requisito primordial de que – também por meio de mudanças apropriadas na legislação – o atual sistema processual deve refletir a igualdade de todos os membros da Igreja e sua igual dignidade e posição, sem privilégios adquiridos no tempo e não estão mais de acordo com as responsabilidades que cada um tem na construção da Igreja. Isto requer solidez de fé e consistência de comportamento e ação.”
Nesta ótica, o Papa Francisco evocou um peculiar dever de testemunho:
“Somos chamados a testemunhar, de forma concreta e crível, em nossos respectivos papéis e tarefas, o imenso patrimônio de valores que caracteriza a missão da Igreja, sendo ela ‘sal e luz’ na sociedade e na comunidade internacional, sobretudo em momentos de crise como o atual.”
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