A conversão de Saulo de Tarso no caminho de Damasco é “uma mudança de página na história da Salvação”, é “a porta aberta sobre a universalidade da Igreja”. Foi o que disse o Papa Francisco esta manhã na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta, comentando o episódio dos Atos dos Apóstolos.
No centro da homilia, portanto, está a figura do Apóstolo dos Gentios que, cego, permanece em Damasco por três dias sem comida nem água, até que Ananias, enviado pelo Senhor, lhe restitui a visão, dando-lhe a possibilidade de iniciar o caminho de conversão e pregação “repleto do Espírito Santo”.
O Papa evidenciou duas características, dirigindo-se em especial a um grupo de irmãs de Cottolengo presentes na missa por ocasião dos 50 anos de sua vida religiosa e a alguns sacerdotes eritreus que vivem Itália.
Coerência e zelo
Paulo era um “homem forte” e “apaixonado pela pureza da lei”, mas era “honesto” e, mesmo com um “caráter difícil”, era “coerente”:
Antes de tudo, era coerente porque era um homem aberto a Deus. Se ele perseguia os cristãos era porque estava convencido de que Deus queria isto. Mas como é possível? Estava convencido disto. É o zelo que tinha pela pureza da casa de Deus, pela glória de Deus. Um coração aberto à voz do Senhor. E arriscava, arriscava, ia avante. E outra característica do seu comportamento é que era um homem dócil, tinha a docilidade, não era teimoso.
Docilidade e abertura à voz de Deus
Talvez o seu temperamento fosse teimoso – acrescentou o Papa -, mas não a sua alma. Paulo era “aberto às sugestões de Deus”. Com o “fogo interior” prendia e matava os cristãos, mas, “uma vez que ouviu a voz do Senhor, se tornou como uma criança, se deixou levar”:
Todas aquelas convicções que tinha, ficam caladas, esperam a voz do Senhor: “Que devo fazer, Senhor?”. E ele se encaminha e vai ao encontro em Damasco, ao encontro daquele outro homem dócil e se deixa catequizar como uma criança. Se deixa batizar como uma criança. E depois retoma as forças e o que faz? Fica quieto. Vai para a Arábia rezar, quanto tempo não sabemos, talvez anos, não sabemos. A docilidade. Abertura à voz de Deus e docilidade. É um exemplo da nossa vida e fico feliz em falar disto hoje diante dessas irmãs que festejam os 50 anos de vida religiosa. Obrigado por ouvir a voz de Deus e obrigado pela docilidade.
A “docilidade das mulheres de Cottolengo” fez com que o Papa se lembrasse de sua primeira visita, nos anos 70, a uma das estruturas que, no espírito de São José Benedito Cottolengo, acolhem em todo o mundo portadores de deficiências físicas e psíquicas. Francisco contou que passou de quarto em quarto guiado por uma freira, como as que estavam na missa hoje na Casa Santa Marta, e que passam a vida “ali, entre os descartados”. Sem esta perseverança e docilidade, afirma o Papa, não poderiam fazer o que fazem.
O carisma cristão
Perseverar. E este é um sinal da Igreja. Eu gostaria de agradecer hoje, através de vocês, a tantos homens e mulheres, corajosos, que arriscam a vida, que vão avante, que buscam inclusive novas estradas na vida da Igreja. Buscam novas estradas! “Mas, padre, não é pecado?”. Não, não é pecado! Busquemos novas estradas, isto nos fará bem a todos! Com a condição de que sejam as estradas do Senhor. Mas ir avante: avante na profundidade da oração, na profundidade da docilidade, do coração aberto à voz de Deus. E assim se fazem as verdadeiras mudanças na Igreja, com pessoas que sabem lutar no pequeno e no grande.
O “cristão”, concluiu Francisco, deve ter “este carisma do pequeno e do grande” e a oração dirigida a São Paulo no final da homilia é justamente o pedido da “graça da docilidade à voz do Senhor e do coração aberto ao Senhor; a graça de não nos assustar de fazer grandes coisas, de ir avante, com a condição de que tenhamos a delicadeza de cuidar das pequenas coisas”.
Radio Vaticano