Raimundo de Lima – Vatican News
Qual é a nossa contribuição para a construção de um mundo em harmonia? A cultura da beleza sempre nos coloca em movimento. O encontro com a beleza de Deus nos permite partir novamente, recomeçar, no caminho rumo a sociedades mais humanas e fraternas.
Foi o que disse o Papa à Delegação do Movimento Diaconie de la beauté, ou seja, “Diaconia da beleza”, recebida pelo Pontífice na manhã desta quinta-feira, 15 de fevereiro, no Vaticano, cujos membros realizam estes dias em Roma o Simpósio da Associação francesa que celebra o décimo aniversário da iniciativa “Festival”. Em seu discurso, Francisco refletiu sobre três dimensões que a caracterizam: espiritual, evenemencial e residencial.
A primeira dimensão é a espiritual. A vocação de vocês é ajudar os artistas a criar uma ponte entre o céu e a terra. Vocês querem despertar neles a busca pela verdade, sejam eles músicos, poetas ou cantores, pintores, arquitetos ou diretores, escultores, atores ou dançarinos ou o que quer que seja. Porque a beleza nos convida a uma maneira diferente de estar no mundo. Trata-se de contemplação. De fato, “a beleza nos faz sentir que a vida está voltada para a plenitude. Na verdadeira beleza, começamos a sentir a nostalgia de Deus”.
Acreditar em Deus criador só pode encorajar a criatura a ir além de si mesma, a se projetar na vida divina por meio da inspiração artística, continuou o Santo Padre.
A segunda dimensão – com um francesismo de palavra – a chamamos de evenemencial. A associação Diaconia da beleza ajuda os artistas a restabelecer um diálogo frutífero com a Igreja, por meio de encontros, shows, concertos e apresentações. Trata-se de uma maneira, ressaltou o Papa, de tornar visível a proximidade da Igreja com os artistas, entrando em diálogo com a cultura e a vida deles, sejam eles crentes ou não.
A terceira dimensão é a residencial. Graças ao seu frutífero apostolado, a obra de vocês é multiplicada com a criação de casas de artistas em todo o mundo. A vida de um artista é frequentemente marcada pela solidão, às vezes pela depressão e por grande sofrimento interior. O desafio de vocês é trazer à tona a beleza que está escondida nele ou nela, para que ele ou ela, por sua vez, se torne um apóstolo dessa beleza que gera vida, esperança e sede de felicidade. Uma missão que ajuda a aumentar a dignidade do artista, que não se sente mais rejeitado, incompreendido, marginalizado e excluído. Sigam em frente com isso! – exortou Francisco.
Irmãos e irmãs, eu os exorto a serem cantores da harmonia entre povos, culturas e religiões. Nossa humanidade é abalada por violências de todos os tipos, por guerras, por crises sociais. Nesse contexto, precisamos de homens e mulheres capazes de nos fazer sonhar com um mundo diferente e belo. Façam as pessoas sonharem, para que elas aspirem a uma vida em plenitude!
Além disso, concluiu o Pontífice, hoje é urgente recriar a harmonia entre o homem e o meio ambiente. As grandes crises climáticas nos obrigam a rever nossos hábitos e comportamentos. E a arte é um meio muito poderoso para transmitir a mensagem da beleza da natureza. De fato, “cuidar do mundo que nos cerca e nos sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos nos constituir em um ‘nós’ que habita a Casa comum”.
Thulio Fonseca – Vatican News
O Papa Francisco presidiu, nesta quarta-feira (14/02), na Basílica de Santa Sabina, no bairro Aventino, em Roma, a Santa Missa com o rito da bênção e imposição das cinzas.
Como é tradição, a cerimônia teve início com a procissão penitencial que partiu da Igreja de Santo Anselmo, com a participação de cardeais, bispos, monges beneditinos, padres dominicanos e fiéis.
Ao final da procissão, o Papa que aguardava na Basílica de Santa Sabina, deu início a Celebração Eucarística.
Em sua homilia, Francisco recordou que a Quaresma mergulha-nos em um banho de purificação e despojamento: ajuda-nos a retirar toda a “maquiagem”, tudo aquilo de que nos revestimos para brilhar, para aparecer melhores do que somos:
“Voltar ao coração significa tornar ao nosso verdadeiro eu e apresentá-lo diante de Deus tal como é, nu e sem disfarces. Significa olhar dentro de nós mesmos e tomar consciência daquilo que somos realmente, tirando as máscaras que muitas vezes utilizamos, diminuindo a corrida do nosso frenesim, abraçando a verdade de nós mesmos.”
“A vida não é um teatro”, enfatizou o Papa, “e a Quaresma convida-nos a descer do palco do fingimento e regressar ao coração, à verdade daquilo que somos”.
O Santo Padre sublinhou que o gesto de receber as cinzas visa reconduzir-nos à realidade essencial de nós mesmos: somos pó, a nossa vida é como um sopro, mas o Senhor – Ele, e só Ele – não deixa que ela desapareça:
“As cinzas postas sobre a nossa cabeça convidam-nos a redescobrir o segredo da vida.”
“Enquanto continuares a usar uma armadura que cobre o coração, a disfarçar-te com a máscara das aparências, a exibir uma luz artificial para te mostrares invencível, permanecerás árido e vazio. Pelo contrário, quando tiveres a coragem de inclinar a cabeça para te olhares intimamente, então poderás descobrir a presença de um Deus que desde sempre te amou; finalmente despedaçar-se-ão as couraças de que te revestiste e poderás sentir-te amado com amor eterno.”
Francisco, ao falar dos elementos principais do tempo quaresmal, “a esmola, a oração e o jejum”, recordou que tais ações não se podem reduzir a práticas exteriores, mas são caminhos que nos levam de volta ao coração, ao essencial da vida cristã.
Segundo o Papa, este é um convite salutar do Senhor para nós que muitas vezes vivemos à superfície, que nos agitamos para ser notados, que sempre temos necessidade de ser admirados e apreciados:
“Por isso nos diz o Senhor: entra no segredo, volta ao centro de ti mesmo. Aí onde se abrigam também tantos medos, sentimentos de culpa e pecados, precisamente aí desceu o Senhor para te curar e purificar. Entremos no nosso quarto interior: aí habita o Senhor, é acolhida a nossa fragilidade e somos amados sem condições.”
“Voltemos para Deus com todo o coração”, foi o convite do Pontífice, “para que nestas semanas de Quaresma possamos dar espaço à oração feita de adoração silenciosa, na qual permanecemos na presença do Senhor à Sua escuta”. E citando o autor H. Nouwen, Francisco sublinhou:
“Inclinemos o ouvido do coração Àquele que, no silêncio, nos quer dizer: «Eu sou o teu Deus, Deus de misericórdia e compaixão, o Deus do perdão e do amor, o Deus da ternura e da solicitude. (…) Não te julgues a ti mesmo. Não te condenes. Não sintas aversão de ti. (…) Permite-Me enxugar as tuas lágrimas, deixa que a minha boca se aproxime mais do teu ouvido e te diga: Eu te amo, te amo, te amo»”
“Não tenhamos medo de nos despojar dos revestimentos mundanos e voltar ao coração, ao essencial.”
“Reconheçamo-nos pelo que somos: pó amado por Deus; e, graças a Ele, renasceremos das cinzas do pecado para a vida nova em Jesus Cristo e no Espírito Santo”, concluiu o Santo Padre.
Vatican News