Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco encontrou-se com mais de seis mil crianças, de 7 a 12 anos, provenientes de várias partes do mundo, na tarde desta segunda-feira (06/11), na Sala Paulo VI, no Vaticano. O evento teve como tema “Aprendamos com os meninos e meninas”.
“Muito obrigado a todos vocês por terem vindo, aos seus acompanhantes e aos organizadores deste encontro”, disse o Papa no início de seu discurso.
A propósito do tema do encontro, Francisco disse que é preciso aprender com as crianças. “Sempre fico feliz quando as encontro, porque vocês me ensinam algo novo a cada vez”, sublinhou.
Por exemplo, vocês me recordam como a vida é bela em sua simplicidade e me ensinam também como é bom estarmos juntos! Essas são duas grandes dádivas de Deus: estar juntos e com simplicidade.
A seguir, Francisco convidou as crianças a dizerem com ele ao mundo: “A vida é um dom!”. “Um belo dom e somos irmãos e irmãs, todos nós”. “Somos inimigos?”, perguntou o Papa e as crianças responderam: “Não!” “Somos irmãos?” “Sim”, responderam as crianças. “Muito bem! Vocês responderam bem”, disse ainda o Papa.
“Vocês vieram aqui de todas as partes do mundo, como muitos irmãos que se reúnem em uma grande casa. É a grande casa que Jesus nos deu: A Igreja é a casa da família, e o Senhor nos recebe sempre com um abraço, com uma carícia”, sublinhou Francisco.
“Gostaria de poder acolher todos vocês, um por um, mas vocês são muitos, então digo a todos vocês, meninos e meninas, que vocês são maravilhosos, a idade de vocês é maravilhosa. Sigam em frente”, disse ainda o Papa.
A seguir, Francisco convidou as crianças a não se esquecerem “das mudanças climáticas, da fome, da guerra e da pobreza”. “Vocês sabem que tem gente ruim que faz o mal, que faz guerra, que destrói? Vocês querem fazer o mal?” “Não”, responderam! “Vocês querem ajudar?” “Sim”, responderam as crianças. “Gosto disso”, disse o Papa.
“Queridas crianças, sua presença aqui é um sinal que vai direto ao coração de todos nós, adultos, e nós, as pessoas grandes, temos que olhar para a sua espontaneidade e ouvir a sua mensagem”, disse ainda Francisco, convidando as crianças a dizerem mais uma vez: “A vida é um dom maravilhoso. Deus nos ama muito e é lindo estarmos juntos, comunicar, partilhar e doar. Façam sempre assim, Nossa Senhora ajudará vocês. Por favor: invoquem sempre Nossa Senhora e rezem por mim”.
A seguir, o Papa respondeu algumas perguntas das crianças.
Em cada resposta o Pontífice envolveu também as crianças presentes, fazendo-as repetir algumas frases, para melhor gravá-las na mente. O Papa envolveu a todos, até na oração do Pai-Nosso seguida de um minuto de silêncio pelas vítimas dos conflitos. Atrànik, uma menina síria perguntou ao Papa: “Por que matam as crianças na guerra?”.
Vi nas crônicas de guerra, nas notícias, quantas crianças morreram. Elas são inocentes e isso mostra a maldade da guerra. Porque, se matassem apenas os soldados, seria outra coisa; mas matam pessoas inocentes, matam as crianças. Por que matam as crianças na guerra? Isso é crueldade.
A paz é necessária, na verdade urgente. Mas “como fazer a paz?”, perguntou Ivan, 9 anos, ucraniano. “Não existe um “método” para construí-la”, respondeu o Papa: “É mais fácil dizer como se faz a guerra, com o ódio, com a vingança, para ferir o outro e isso vem do instinto”. A paz, porém, pode ser alcançada com “um gesto”.
A paz se faz com a mão estendida, com a mão estendida da amizade, procurando sempre envolver outras pessoas para caminharem juntas. A mão estendida… Cumprimentar os amigos, receber todos em casa. A paz se faz com o coração e com a mão estendida.
Rania, de 12 anos, da Palestina, perguntou ao Papa: “Se começar a terceira guerra mundial, a paz nunca mais voltará?”
“O Papa respondeu: Você fez uma pergunta que afeta também a sua terra que está sofrendo tanto neste momento. Se começar a guerra: a guerra já coeçou, queridos. Ouçam isto: a guerra estourou em todo o mundo. Não só na Palestina: eclodiu na África Austral, no Congo, em Mianmar, eclodiu em todo o mundo. São guerras ocultas, em Moçambique… em todo o mundo.
Estamos vivendo uma guerra terrível e a guerra tira a nossa paz e tira as nossas vidas. Precisamos pensar um pouco, trabalhar pela paz.
Essa menina, que se chama Rania, sua terra natal está em guerra e se sofre muito. Façamos uma coisa: em silêncio, façamos uma saudação a Rania e a todo o povo da sua pátria. E você informe ao povo da Palestina que todas as crianças lhe enviam saudações. A paz é linda. Todos: “a paz é linda”. Obrigado, Rania”.
Um aperto de mão entre todos os presentes formando uma corrente humana, ao ritmo da famosa canção We are the World (Nós somos o mundo), foi o momento final – e também um dos mais evocativos – do encontro, enquanto globos simbolizando a terra eram levantados no palco. Todos devemos cuidar da terra, começando pelos mais pequenos. “Destruir a Terra é destruir-nos…” disse o Papa Francisco a Isadora, do Brasil.
Se você destrói a Terra, você destrói a si mesmo. Digamos todos juntos, devagar, sem gritar: destruir a Terra é destruir-nos, porque a Terra nos dá tudo para viver: nos dá o oxigênio, nos dá a água, nos dá o alimento, nos ajuda muito para viver. Se destruímos a Terra, destruímos a nós mesmos.
Rodeado de cartazes brancos com as palavras Paz em vários idiomas, o Papa assinou chapéus brancos e acolheu os presentes que lhe foram dados em cestos de madeira: peluches, bonecas, jogos, desenhos e plantas.
Depois, despedindo-se da multidão, dirigiu-se à Estação Vaticano, onde quis pessoalmente desejar “boa viagem” a alguns grupos que partiam no Trem Rock disponibilizado pela companhia ferroviária italiana Ferrovie dello Stato. O Papa tentou cumprimentar todas as crianças entre abraços, aperto de mão e pedidos de selfies. Ele distribuiu a alguns o pacote de presentes preparado com chá gelado, doces e chocolates. Do trem alguns batiam nas janelas ou mostravam escritos de seus celulares: “Quero bem a você”, “Te amo”. Outros gritavam aos companheiros vizinhos: “Eu cumprimentei o Papa!”. “Sim eu também! Toquei seu dedo indicador…”. Pequenos gestos que escrevem grandes capítulos na história de cada uma dessas crianças.
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