Thulio Fonseca – Vatican News
Na manhã desta quarta-feira, 27 de setembro, o Papa dedicou a reflexão da catequese para contar aos fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro sobre a experiência que viveu no final da semana passada, em sua viagem a Marselha, onde foi participar da conclusão dos “Encontros Mediterrâneos”.
O Santo Padre disse que, junto com bispos e prefeitos da região mediterrânea, e com numerosos jovens, dedicou-se ao diálogo aberto sobre o futuro. Ao relembrar o tema do evento em Marselha, “Mosaico da Esperança”, Francisco afirmou que “este é o sonho, este é o desafio: que o Mediterrâneo recupere sua vocação de ser um laboratório de civilização e paz”.
“O Mediterrâneo é o berço da civilização, e o berço é para a vida! Não é tolerável que se torne um túmulo, nem mesmo um lugar de conflito. Não. O Mar Mediterrâneo é o oposto de choques entre civilizações, guerra ou tráfico de seres humanos”, disse o Pontífice, sublinhando que o Mediterrâneo conecta a África, a Ásia e a Europa; o norte e o sul, o oriente e o ocidente; povos e culturas, línguas e religiões diferentes.
O Santo Padre ressaltou que o mar é sempre, de alguma forma, um abismo a ser superado e pode se tornar perigoso. Suas águas abrigam tesouros de vida, suas ondas e ventos conduzem embarcações de todos os tipos, e destacou: o mar “é um lugar de encontro e não de conflito, de vida e não de morte”.
Francisco enfatizou que o encontro em Marselha aconteceu após eventos semelhantes realizados em Bari em 2020 e em Florença no ano passado, e completou: “Não foi um evento isolado, mas sim um passo à frente em um itinerário para responder, hoje, ao apelo lançado por São Paulo VI em sua Encíclica Populorum Progressio, para promover “um mundo mais humano para todos, um mundo em que todos tenham algo para dar e receber, sem que o progresso de alguns constitua um obstáculo ao desenvolvimento dos outros”.
Ao falar sobre os resultados do evento em Marselha, o Papa afirmou que “surgiu um olhar sobre o Mediterrâneo simplesmente humano, não ideológico, não estratégico, não politicamente correto, nem instrumental, mas humano, ou seja, capaz de relacionar cada coisa com o valor primordial da pessoa humana e sua dignidade inviolável”.
Para Francisco, este olhar de esperança despertou principalmente através dos testemunhos compartilhados: “Esta obra sempre passa pela fraternidade, através dos olhos, mãos, pés e corações de homens e mulheres que, em seus respectivos papéis de responsabilidade eclesiástica e civil, buscam construir relações fraternas e de amizade social”, sublinhou o Pontífice.
O Papa disse que há outro aspecto complementar: “é preciso devolver esperança às nossas sociedades europeias, especialmente às novas gerações”. E apresentou algumas questões:
“De fato, como podemos acolher os outros se não tivermos nós mesmos um horizonte aberto para o futuro? Os jovens, pobres de esperança, fechados no privado, preocupados em gerir sua precariedade, como podem se abrir ao encontro e à partilha?”
Segundo o Pontífice, nossas sociedades doentes de individualismo, consumismo e vazios precisam se abrir, oxigenar a alma e o espírito, e então poderão encarar a crise como uma oportunidade e enfrentá-la de forma positiva.
Ao recordar que a Europa precisa redescobrir a paixão e o entusiasmo, Francisco disse que em Marselha encontrou no Cardeal Aveline, nos sacerdotes e nos consagrados, nos fiéis leigos empenhados na caridade e educação, no povo de Deus, uma grande cordialidade. O Papa também agradeceu ao Presidente da República, Emmanuel Macron, que, com sua presença, demonstrou a atenção de toda a França ao evento em Marselha.
No final da catequese, Francisco recordou Nossa Senhora da Guarda, venerada pelo povo de Marselha, e disse confiar a Ela o caminho dos povos do Mediterrâneo, “para que esta região se torne aquilo que sempre foi chamada a ser: um mosaico de civilização e esperança”.
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Florina, de Delhi, na Índia, Nyra, do Nepal, e Sheril, do Paquistão, três estudantes universitárias católicas do sul da Ásia, onde os cristãos são minoria, contam ao Papa Francisco, em inglês, sobre a discriminação, o preconceito e a perseguição por parte de sociedades sectárias e, às vezes, fundamentalistas. Elas lhe confidenciaram, em um intenso diálogo via Zoom, o sonho de um futuro melhor, a dificuldade e a frustração de não serem livres para professar sua fé e o medo de vê-la vacilar. Tratou-se de um encontro à distância, virtual, o terceiro da iniciativa “Construindo Pontes”, nascida da colaboração entre a Pontifícia Comissão para a América Latina e o Instituto de Estudos Pastorais com o Escritório de Compromisso Global e Comunitário da Universidade Loyola de Chicago. Depois da América, em fevereiro de 2022, e da África, em novembro do ano passado, na véspera do Sínodo, os jovens do sul da Ásia dialogam com o Papa. Mas o abraço de Francisco é tudo menos virtual.
O Pontífice sorriu e confessou, respondendo em espanhol, que o testemunho cristão das três jovens “toca meu coração”, disse ele, e me faz pensar no “martírio” da paquistanesa Asia Bibi, vítima inocente “de um fanatismo que nasce do medo” das diferenças, que cria uma discriminação antifraterna. A causa “é a redução dos valores sociais a ideias”. E quem não pensa como eu, o torno um réu sem culpa e depois um mártir. Mas, dessa forma, a pessoa se torna ideóloga de seu próprio suicídio cultural”. A resposta, diante de tanto secularismo, para o Papa Francisco, só pode ser o testemunho, forte no “pensamento de que Deus tem um plano para mim”. Pensem, é seu conselho, na audácia de seus pais ao reconhecerem Jesus como Salvador, “e sonhem que podemos viver com diferentes pontos de vista, mas com a mão estendida. E não paralisada. Isso faz com que todos cresçam. Sempre o perdão, a mão estendida e o testemunho”.
Para Rosita, que emigrou com sua família para os Emirados Árabes Unidos, onde se formou em economia e sociologia, e que teme perder sua identidade cultural e religiosa, da Casa Santa Marta o Papa lembrou que em Pentecostes o Espírito Santo permitiu que todos se entendessem. E a convidou a “ter a propensão da compreensão com os outros, embora apresentando sua própria convicção”. E enfatizou que seu pai também era um migrante e que aqueles que estão na diáspora começam um novo caminho, “mas sem esquecer suas raízes”.
Três outros jovens universitários abordaram as questões do bullying, inclusive nas redes sociais, e dos suicídios de jovens. Para Merilin Rose, que estuda química em Bangalore e contou que foi ridicularizada quando garota “por ter um corpo que não correspondia aos padrões de beleza da sociedade”, Francisco respondeu contando que em sua classe, com seus colegas, “um garoto obeso era ridicularizado”. Uma vez ele caiu no chão e todos nós rimos dele – lembrou -, mas quando meu pai descobriu, me mandou para a casa dele para pedir desculpas”. Anos depois, já padre, o reencontrou, e ele havia se tornado pastor evangélico, “superando o trauma do bullying. Ele era uma pessoa bela, porque era harmonioso. Todo mundo tem sua própria beleza, basta saber reconhecê-la, em harmonia interior e também exterior”. Vocês na Ásia sabem como criar essa beleza das diferenças, acrescentou ele, “não cedam à tentação de uniformizar tudo”.
Um jovem comete suicídio, continuou o Pontífice, “quando ele não vê mais um horizonte, mas apenas portas fechadas em seus sonhos. Ele deve ser ajudado a superar o fracasso”. E lembrou que “se os anjos caem e não conseguem se levantar novamente, a nós, homens, Deus deu a capacidade de resiliência”. Como cantam os alpinos, o importante não é não cair, mas não permanecer caído e encontrar alguém que nos ajude a levantar. Com o conselho de nunca perder o senso de humor, “que é saúde mental”.
Joseph, que estuda física no Kerala, e Mary Lavina, estudante de direito em Bangalore, falaram sobre o desafio da internet na Ásia e a importância da alfabetização midiática para os jovens. Eles enfatizaram os méritos e os perigos da web, que permitiu que muitas pessoas tivessem amplo acesso a tantas informações, mas também aumentou as tensões religiosas e étnicas e a polarização política. Acentuando a lacuna entre os que têm e os que não têm acesso às tecnologias digitais. Para enfrentar o desafio, explicou o Papa Francisco, “precisamos da linguagem do pensamento, do coração e das mãos. E muita criatividade, porque cada um de nós é um poema”. Ele acrescentou que “a ideologia encolhe o cérebro, torna o coração pequeno e as mãos paralíticas. Evitem as ideologias e busquem a igualdade no acesso às tecnologias. Isso tornará a internet um lugar melhor”. E não se especializem demais: “a especialização é necessária, mas sem perder a conexão com a totalidade e a conexão com a harmonia. A palavra-chave é harmonia”.
Sobre a comunicação, portanto, o Papa destacou o perigo “das meias-verdades: as notícias não podem ser podadas, mas devem ser oferecidas a todos. Precisamos de fidelidade às notícias e aos fatos!”. Em vez disso, às vezes se transformam em fake-news, “notícias que criam monstros, que seguem o caminho da irrealidade”. E reiterou que a verdadeira democracia pressupõe o diálogo, “mas precisa de acordo, que é algo muito humano. A linguagem da separação está errada, se dois de nós pensamos de forma diferente, temos que pensar no acordo que podemos fazer para seguir em frente. Essa é a mística da mão estendida”.
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