Silvonei José – Vatican News
“O Santo Padre pede aos cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade que não permaneçam surdos diante do grito que se eleva a Deus a partir deste nosso mundo. Os discursos não são suficientes, o que é necessário são “gestos concretos” e “escolhas compartilhadas” que construam uma cultura de paz”: é o que se lê na mensagem do Santo Padre assinada pelo cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e enviada a dom Nicolò Anselmi, bispo de Rimini, por ocasião da 44ª edição do “Encontro para a amizade entre os povos”. Esse tradicional “Meeting de Rimini”, na Itália, terá início no próximo domingo, dia 20, com a Santa Missa presidida pelo cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI).
Neste ano, o tema central do Encontro é “A existência humana é uma amizade inesgotável”.
O Santo Padre envia mais uma vez a sua mensagem dirigida aos organizadores e participantes do Encontro, enquanto, infelizmente, a guerra e as divisões – escreve – semeiam nos corações ressentimentos e medo, e o outro que é diferente é muitas vezes visto como um rival. A comunicação global e generalizada – continua a mensagem – “faz com que essa atitude generalizada se torne uma mentalidade, as diferenças apareçam como sintomas de hostilidade e ocorra uma espécie de epidemia de inimizade.
Nesse contexto, o título do Encontro parece ousado: “A existência humana é uma amizade inesgotável”. Ousado – diz Francisco – porque vai claramente contra a tendência, em uma época marcada pelo individualismo e pela indiferença, que geram solidão e muitas formas de descarte.
É uma situação da qual é impossível sair com as próprias forças. A humanidade sempre experimentou isso: ninguém pode se salvar sozinho. É por isso que, em um momento preciso da história, Deus tomou a iniciativa: “Ele nos envia seu Filho, ele o doa, o entrega, o compartilha, para que possamos aprender o caminho da fraternidade, o caminho do dom”. É definitivamente um novo horizonte, é uma nova palavra para tantas situações de exclusão, de desintegração, de fechamento, de isolamento.
Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre exalta o valor da verdadeira amizade, que alarga o coração: “Os amigos fiéis […] são um reflexo do afeto do Senhor, da sua consolação e da sua presença amorosa. Ter amigos nos ensina a nos abrir, a compreender, a cuidar dos outros, a sair de nosso conforto e isolamento, a compartilhar a vida” (Christus vivit, 151).
Citando ainda uma reflexão de Dom Giussani o Papa recorda que “a verdadeira natureza da amizade é viver livremente juntos para o destino. Não pode haver amizade entre nós, não podemos nos chamar de amigos, se não amarmos o destino do outro acima de todas as coisas, além de qualquer ganho”.
A atitude de abertura ao outro como irmão é uma das marcas do pontificado do Papa Francisco, de seu testemunho e de seu magistério: “O amor ao outro pelo que ele é nos impele a buscar o melhor para a sua vida. Somente cultivando esse modo de se relacionar, tornaremos possível a amizade social que não exclui ninguém”. É precisamente a amizade social, que o Papa continua a recomendar como a única chance, mesmo nas situações mais dramáticas – mesmo diante da guerra – “quando é genuína […] dentro de uma sociedade, é uma condição de possibilidade para a verdadeira abertura universal”.
A lei da amizade foi estabelecida por Jesus com estas palavras: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. É por isso que o Santo Padre pede aos cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade que não fiquem surdos diante do grito que se eleva a Deus deste nosso mundo. Os discursos não são suficientes, mas são necessários “gestos concretos” e “escolhas compartilhadas” para construir uma cultura de paz onde cada um de nós vive: “reconciliar-se na família, com amigos ou vizinhos, rezar por aqueles que nos feriram, reconhecer e ajudar os necessitados, levar uma palavra de paz à escola, à universidade ou à vida social, ungir com proximidade alguém que se sente só…”. É um caminho que todos podem percorrer, e a Igreja não se cansa de incentivar as pessoas a percorrê-lo, praticando quase obstinadamente essa suprema virtude humana e cristã.
Nesta hora conturbada da história, o Papa encoraja para que nunca falte a disponibilidade para uma “amizade inesgotável” – porque fundada em Cristo e sobre a rocha de Pedro -, pronta para captar o bem que qualquer pessoa pode trazer à vida de todos, porque “as outras culturas não são inimigas contra os quais se defender, mas são reflexos diferentes da riqueza inesgotável da vida humana”.
Em seguida cita o Papa Bento XVI: “o encontro de culturas é possível porque o homem, apesar de todas as diferenças em sua história e criações comunitárias, é um idêntico e único ser. Esse ser único que é o homem, na profundidade de sua existência, é interceptado pela própria verdade”.
O Papa Francisco espera que o Encontro para a Amizade entre os Povos continue a promover a cultura do encontro, aberta a todos, sem excluir ninguém, porque em todos há um reflexo do Pai que “dá a todos a vida, o respiro e todas as coisas”. Que cada um dos participantes aprenda um pouco a se aproximar dos outros à maneira de Jesus, que “sempre estende a mão, sempre procura levantar, fazer com que as pessoas sarem, fazê-las felizes, fazê-las encontrar Deus”. Assim crescerão a amizade social e a amizade entre os povos.