Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, os promotores do Festival Verde e Azul (Green and Blue Festival) por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta segunda-feira (05/06). O Festival Verde e Azul é organizado nesta segunda-feira, em Roma, e de 6 a 8 de junho, em Milão, pelo projeto editorial do grupo italiano Gedi, dedicado à sustentabilidade e ao ambiente.
Francisco recordou em seu discurso que “mais de cinquenta anos se passaram desde a primeira grande Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano realizada, em 5 de junho de 1972, em Estocolmo”, que “deu início a vários encontros que convocaram a Comunidade internacional a debater como a humanidade está administrando nossa Casa comum. É por isso que 5 de junho se tornou o Dia Mundial do Meio Ambiente”. Francisco recordou que queria publicar a Encíclica Laudato si’ antes da Cop 25 de Paris sobre o clima e lamentou que depois daquele evento tão positivo não tenha sido realizado outros do mesmo nível.
Muitas coisas mudaram neste meio século; basta pensar no advento das novas tecnologias, no impacto de fenômenos transversais e mundiais como a pandemia, na transformação de uma “sociedade cada vez mais globalizada [que] nos aproxima, mas não nos torna irmãos”. Vemos uma «crescente sensibilidade em relação ao ambiente e ao cuidado da natureza», amadurecendo «uma preocupação sincera e dolorosa pelo que está a acontecendo ao nosso planeta».
“Neste sentido, pode-se dizer que, enquanto a humanidade do período pós-industrial talvez fique recordada como uma das mais irresponsáveis da história, espera-se que a humanidade dos inícios do século XXI possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves responsabilidades”, disse ainda o Papa, citando um trecho de sua Encíclica Laudato si’.
A seguir, Francisco recordou que “o fenômeno das mudanças climáticas nos lembra com insistência as nossas responsabilidades”.
Este fenômeno “afeta particularmente os mais pobres e frágeis, aqueles que menos contribuíram para a sua evolução.
«As feridas causadas à humanidade pela pandemia de Covid-19 e pelo fenômeno das mudanças climáticas são comparáveis às decorrentes de um conflito global», e esta não é a mesma geração”.
“Um conflito global onde o verdadeiro inimigo é o comportamento irresponsável que repercute em todos as componentes de nossa humanidade de hoje e de amanhã“, frisou o Papa, recordando a visita que os pescadores de San Benedetto del Tronto, na região das Marcas, na Itália, o fizeram alguns anos atrás, na qual disseram ao Pontífice que “em um ano recolheram doze toneladas de plástico” do mar.
Segundo Francisco, “a Comunidade internacional deve priorizar a implementação de ações coletivas, solidárias e clarividentes”, reconhecendo “a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que se apresenta”.
“É um “grande” e exigente desafio, porque exige uma mudança de rumo, uma mudança decisiva no atual modelo de consumo e produção, muitas vezes imerso na cultura da indiferença e do descarte, descarte do ambiente e descarte das pessoas“, sublinhou o Papa, comentando, a seguir, que alguns grupos do restaurante McDonald’s lhe disseram que aboliram o plástico e tudo é feito com papel reciclável, tudo. “O plástico é proibido no Vaticano”, ressaltou o Pontífice, e se obteve 93% sem uso do plástico. “São passos, verdadeiros passos que devemos prosseguir”, sublinhou.
“Como indicado por vários setores do mundo científico, a mudança desse modelo é “urgente” e não pode mais ser adiada“, acrescentou. Segundo Francisco, devemos “passar da cultura do descarte a estilos de vida baseados na cultura do respeito e do cuidado, do cuidado da criação e do cuidado do próximo, perto ou distante no espaço e no tempo. Estamos diante de um caminho educativo para a transformação da nossa sociedade, uma conversão tanto individual quanto comunitária”.
“É necessário acelerar esta mudança de rumo em favor de uma cultura do cuidado, como se cuidam das crianças, que coloque no centro a dignidade humana e o bem comum, e que se alimente daquela aliança entre o ser humano e o ambiente que deve ser um espelho do amor criador de Deus, de quem viemos e para o qual caminhamos”, concluiu.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O Papa recebeu em audiência na manhã desta segunda-feira os membros da Fundação Centesimus Annus, que está celebrando seus 30 anos com um Congresso Internacional em andamento em Roma.
A Fundação nasceu inspirada na Encíclica de São João Paulo II, que, por sua vez, foi escrita para comemorar o centenário da histórica Rerum novarum. Publicada em 1891, este documento pontifício marcou o nascimento da Doutrina Social da Igreja, pois, com ele, Leão XIII buscou dar soluções para os problemas dos operários europeus da Segunda Revolução Industrial, à luz do Evangelho.
Os temas, portanto, que unem as duas Encíclicas e a Fundação são a centralidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade e a subsidiariedade. Temas contidos nos documentos de Francisco, como a Evangelii gaudium, a Laudato si’ e a Fratelli tutti.
Foi justamente uma frase da última Encíclica do Papa a inspirar o tema do Congresso Internacional da Fundação “A memória para construir o futuro: pensar e agir em termos de comunidade”.
Para isso, afirmou Francisco, é preciso lutar contra as causas estruturais da pobreza, da desigualdade, da falta de trabalho, terra e casa e da negação dos direitos sociais e profissionais. É fazer frente aos efeitos destruidores do império do dinheiro:
Mas para que a comunidade se torne realmente um lugar para os excluídos, o Papa indicou a prática do “fazer espaço”. Isto é, cada um retrai um pouco o próprio “eu” para permitir ao outro de existir. Para isso, acrescentou, é preciso que o fundamento da comunidade seja a ética do dom e não a da troca.
“Queridos irmãos e irmãs, pensar e agir em termos de comunidade é, portanto, fazer espaço aos outros, é imaginar e trabalhar por um futuro onde cada um possa encontrar o seu lugar e ter o seu espaço no mundo. Uma comunidade que saiba dar voz a quem não tem voz é o que todos nós precisamos.”
Francisco concluiu fazendo votos de que o trabalho da Fundação Centesimus Annus seja também este: contribuir para um pensamento e uma ação que favoreçam o crescimento de uma comunidade na qual caminhar juntos na estrada da paz.
Vatican News
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O Papa rezou o Angelus com milhares de fiéis na Praça São Pedro neste Domingo em que a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade.
O Evangelho é extraído do diálogo de Jesus com Nicodemos, membro do Sinédrio. Apaixonado pelo mistério de Deus, Nicodemos reconhece em Jesus um mestre divino e, sem que o vejam, vai falar com Ele. Jesus o ouve e lhe revela o coração do mistério, dizendo que Deus amou tão profundamente a humanidade a ponto de enviar o seu Filho ao mundo. Jesus, portanto, o Filho, nos fala do Pai e do seu amor imenso.
Francisco ressaltou a relação familiar de Pai e Filho. “É uma imagem familiar que, se pensarmos, desequilibra o nosso imaginário sobre Deus. A própria palavra ‘Deus’, com efeito, nos sugere uma realidade singular, majestosa e distante, enquanto ouvir falar de um Pai e de um Filho nos leva de volta para casa.”
Para o Pontífice, podemos pensar Deus através da imagem de uma família reunida à mesa, onde se compartilha a vida, já que a mesa é ao mesmo tempo um altar, símbolo com o qual alguns ícones representam a Trindade.
O convite, portanto, explicou o Papa, é estar à mesa com Deus para compartilhar o seu amor. Isto é o que acontece em cada Missa, no altar do banquete eucarístico, onde Jesus se oferece ao Pai e se oferece por nós.
“Sim, irmãos e irmãs, o nosso Deus é comunhão de amor: assim Jesus nos revelou. E sabem como podemos fazer para recordá-lo? Com o gesto mais simples que aprendemos desde crianças: o sinal da cruz. Traçando a cruz sobre o nosso corpo nos recordamos quanto Deus nos amou, a ponto de dar a vida por nós; e repetimos a nós mesmos que o seu amor nos envolve completamente, de cima a baixo, da esquerda à direita, como um abraço que jamais nos abandona. E, ao mesmo tempo, nos comprometemos a testemunhar Deus-amor, criando comunhão em seu nome.”
Antes de concluir, Francisco propôs algumas perguntas aos fiéis: Testemunhamos Deus-amor? Ou Deus-amor se tornou, por sua vez, um conceito, algo já conhecido, que não estimula e não provoca mais a vida? Se Deus é amor, as nossas comunidades o testemunham? Sabem amar? São famílias? Mantemos a porta sempre aberta, sabemos acolher a todos, ressalto todos, como irmãos e irmãs? Oferecemos a todos o alimento do perdão de Deus e o vinho da alegria evangélica? Respira-se uma atmosfera doméstica ou parecemos mais um escritório ou um lugar reservado onde entram somente os eleitos?
“Que Maria nos ajude a viver a Igreja como aquela casa em que se ama de modo familiar, a glória de Deus Pai e Filho e Espírito Santo”, foi a exortação final do Pontífice.
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