Mais do que nos conscientizarmos da graça recebida, é necessário cultivarmos as motivações para mantê-las acesa qual chama capaz de inebriar o coração humano de excelentes propósitos e inspirar ações que testemunham em quem colocamos nossa esperança.
Sendo um dom de Deus, a esperança exige nossa disposição para acolhê-la e cultivá-la, pois não somos como vasos que, embora bem confeccionados pelo oleiro, armazenam água de boa qualidade, mas são incapazes de sentir sede. De fato, o vaso retém a água passivamente, cumprindo a destinada tarefa. Também a água ali retida permanece aguardando o momento de ser utilizada.
No ser humano, essa realidade é mais dinâmica e exigente. Bem mais que receber o dom, somos chamados a acolhê-lo. O ato de receber demonstra certa passividade, como se a esperança tomasse posse de nossa alma, quase que num gesto mágico. O ato de acolher, por sua vez, requer um envolvimento maior, uma disposição de abertura para reter o que lhe é oferecido.
Essa virtude cultivada no coração daqueles que guardam a preciosidade da fé em Jesus Cristo é fundamental na busca da santidade. Viver é manifestar a esperança n’Aquele que cremos, como afirmou São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim (Gl 2,20).
Considerando a esperança de que a vida matrimonial, a ser iniciada em breve, seria muito abençoada, conforme ele e sua noiva haviam pedido ao Senhor, São José foi surpreendido como um fato inaudito: Maria estava grávida por virtude do Espírito Santo, gerando a Esperança.
Naquele instante, sem se deixar abalar e impulsionado pelo desejo de compreender melhor a vontade de Deus, percebeu que estava em uma grande encruzilhada: de um lado, poderia percorrer a estrada que o levaria a outras possibilidades; de outro, responderia àquele impulso que anteriormente sentira algumas vezes, o de reclinar sua cabeça por terra para ouvir melhor o Senhor, mesmo que isso lhe fosse possível apenas em sonho.
A guinada que estava para se cumprir em nenhuma hipótese estava de acordo com o que São José havia planejado para o seu futuro familiar. Suas esperanças talvez estivessem diminuído se pensasse que, em algum momento de seu trajeto até aquele instante, houvesse se equivocado quanto à vontade divina ou tomado decisões precipitadas, embora inspiradas, graças à confiança em Deus e ao diálogo com sua noiva, Maria. Deixar tudo e recomeçar, seria a melhor saída? Deixar de esperar em si mesmo e esperar no Senhor (cf. Sl 39,2) foi sua escolha.
Quando o anjo apareceu em sonho a São José (cf. Mt 1,20-24), transmitindo-lhe uma mensagem, encontrou um coração cheio de esperança. Foi movido pela esperança de que seria necessário dar maior espaço à vontade de Deus para sua vida, no presente e no futuro, que São José assumiu uma postura de entrega de si mesmo, de suas forças e vontades, de seu coração e de sua razão. Dispôs-se em sono, deixando de lado suas capacidades físicas para que a vontade divina se manifestasse mais claramente.
Revelando o plano de Deus, as palavras do Anjo encontraram um homem inerte para sua vontade e aberto para o que lhe fosse revelado, mesmo que fosse assumir Maria, via sido acolhida como um dom para que permanece no caminho da justiça e da santidade, da fé e da companhia daquela que ele tanto amava. São José deixa vencer a esperança que cultivara até aquele instante da sua vida, ora sozinha, ora em companhia de sua noiva.
A virtude da esperança não nos leva à passividade, mas à intrepidez de ceder à vontade de Deus. Nossa esperança cresce somente quando livremente deitamos nosso corpo inerte para nossos instintos e tão atento à voz que clama incessantemente em nós e para nós.
Pe. Wilton Robson Arruda de Lima, sjc
Canção Nova
Mariangela Jaguraba – Vatican News
A viagem do Papa Francisco à Hungria foi o tema da catequese do Santo Padre, nesta quarta-feira (03/05), realizada na Praça São Pedro.
“Há três dias regressei da viagem à Hungria”, recordou Francisco, agradecendo, a seguir, “a todos aqueles que prepararam e acompanharam esta visita com a oração”. O Santo Padre agradeceu “às autoridades, à Igreja local e ao povo húngaro, um povo corajoso e rico de memória”.
“Durante a minha permanência em Budapeste pude sentir o afeto de todos os húngaros”, disse ainda o Papa, falando “desta visita através de duas imagens: as raízes e as pontes“.
Segundo São João Paulo II, a história do povo húngaro foi marcada por «muitos santos e heróis, circundados por multidões de pessoas humildes e diligentes».
“É realmente verdade: vi tantas pessoas humildes e diligentes conservar com orgulho o vínculo com as suas raízes. Entre estas raízes estão sobretudo os santos. Os santos nos recordam que Cristo é o nosso futuro. Contudo, as sólidas raízes cristãs do povo húngaro foram colocadas à prova”, disse ainda o Papa, recordando que “durante a perseguição ateia do século XX, os cristãos foram atingidos violentamente, com bispos, sacerdotes, religiosos e leigos assassinados ou privados da liberdade”.
Na Hungria, esta última perseguição, a opressão comunista foi precedida pela opressão nazista, com a trágica deportação de uma grande população judaica. Mas nesse genocídio atroz, muitos se distinguiram pela resistência e capacidade de proteger as vítimas, e isto foi possível porque as raízes da convivência eram firmes. Nós em Roma temos uma grande poetisa húngara que viveu todas essas provações e conta aos jovens a necessidade de lutar por um ideal para não ser vencidos pelas perseguições, pelo desânimo. Esta poetisa, hoje, completa 92 anos. Parabéns, Edith!
O Papa referiu-se a Edith Bruck escritora, poetisa, sobrevivente do campo de extermínio de Auschwitz, durante a perseguição nazista.
“Ainda hoje a liberdade está ameaçada, como sobressaiu nos encontros com os jovens e com o mundo da cultura. Como? Sobretudo com as luvas brancas, com um consumismo que anestesia, com as pessoas se contentam com um pouco de bem-estar material e, esquecendo o passado, “flutuam” num presente feito à medida do indivíduo”, disse o Papa. “Esta é a perseguição perigosa da mundanidade levada adiante pelo consumismo. Mas quando a única coisa que conta é pensar em si mesmo e fazer o que bem entender, as raízes sufocam”, sublinhou.
Segundo o Pontífice, este é “um problema que diz respeito à Europa inteira, onde estão em crise o dedicar-se ao próximo, o sentir-se comunidade, a beleza de sonhar em conjunto e de criar famílias numerosas. A Europa inteira está em crise. Então, reflitamos sobre a importância de preservar as raízes”.
Depois das raízes, o Papa refletiu sobre a segunda imagem: as pontes. “Nascida há 150 anos da união de três cidades, Budapeste é célebre pelas pontes que a atravessam e unem as suas partes. Isto evocou, especialmente nos encontros com as autoridades, a importância de construir pontes de paz entre diferentes povos”, disse ele.
Francisco recordou que a Hungria está comprometida “na construção de “pontes para o amanhã”: é grande a sua atenção ao cuidado ecológico, e isso é algo muito bonito na Hungria, o cuidado ecológico por um futuro sustentável, e trabalha-se para edificar pontes entre as gerações, entre os idosos e os jovens, desafio hoje irrenunciável para todos”.
“Depois há pontes que a Igreja, como emergiu do encontro específico, é chamada a lançar aos homens de hoje, pois o anúncio de Cristo não pode consistir apenas em repetir o passado, mas deve ser sempre atualizado, de modo a ajudar as mulheres e os homens do nosso tempo a redescobrir Jesus”, disse ainda Francisco, recordando “os belos momentos litúrgicos, a oração com a comunidade greco-católica e a solene Celebração eucarística, tão participada”. “Na missa dominical havia cristãos de vários ritos e países, e de diferentes confissões, que juntos trabalham bem na Hungria. Construir pontes! Pontes de harmonia e pontes de unidade”, ressaltou.
Por fim, o Papa recordou “que os húngaros são muito devotos da Santa Mãe de Deus” e confiou à Rainha da Hungria esse país, confiou “à Rainha da paz a construção de pontes no mundo, à Rainha do Céu confiemos o nosso coração para que se enraíze no amor de Deus”.
Vatican NEws