Irmã Grazielle Rigotti, ascj – Vatican news
Os membros da Pontifícia Comissão Bíblica se reuniram com Papa Francisco ao final de sua Assembleia anual, que teve como tema: “A doença e o sofrimento na Bíblia”.
Por se tratar de um tema que diz respeito a cada ser humano, tanto àqueles que creem quanto aos que não creem, o Papa iniciou sua fala ressaltando que este tema vem de encontro a preocupações que também são suas, segundo o Pontífice, a doença e a finitude do pensamento moderno são frequentemente vistas como uma perda, um não-valor, um incômodo que deve ser minimizado, combatido e anulado a todo custo. Não se quer fazer a pergunta sobre seu significado, talvez porque se teme suas implicações morais e existenciais. No entanto, ninguém pode escapar da busca do tal “porquê”, afirma o Pontífice.
Ele ainda enfatizou que diante da experiência da dor, a fé pode ser abalada, e diante de tal situação, pode tomar diferentes rumos: “a pessoa é então colocada em uma encruzilhada: – afirma Francisco – ela pode permitir que o sofrimento a leve a se retirar em si mesma, ao ponto de desespero e rebeldia; ou pode acolhê-la como uma oportunidade de crescimento e discernimento quanto ao que realmente importa na vida, ao ponto de um encontro com Deus.”
Dando prosseguimento em seu discurso, Francisco relacionou também que enquanto o homem do Antigo Testamento vive sua doença com seus pensamentos constantemente voltados para Deus, no Novo Testamento, quando entra o acontecimento Jesus, o Filho que revela o amor do Pai, sua vida é marcada em grande parte precisamente pelo contato com os enfermos, sendo a compaixão de Cristo o sinal de que “Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16)
Ao falar, então, sobre a resposta que é oferecida pela Bíblia, e como a doença é enfrentada pelo homem bíblico, Francisco aprofundou o tema da identificação com Cristo, explicitando que “o homem bíblico sente-se convidado a enfrentar a condição universal da dor como um lugar de encontro com a proximidade e compaixão de Deus, o bom Pai, que com infinita misericórdia toma conta de suas criaturas feridas para curá-las, levantá-las e salvá-las. Assim, em Cristo também o sofrimento se transforma em amor e o fim das coisas deste mundo se torna esperança de ressurreição e salvação. Deste modo, o Papa ainda ressalta que “em essência, para o cristão, até mesmo a enfermidade é um grande dom de comunhão, pelo qual Deus o faz participar de sua plenitude de bondade precisamente através da experiência de sua fraqueza.”
Enfim, caminhando para o final de seu discurso, o Papa recordou suas palavras por ocasião do Jubileu dos doentes e deficientes, em 2016 quando afirmou que “a forma como experimentamos a dor nos fala de nossa capacidade de amar e de nos deixar amar”, e destacou um último aspecto da experiência da doença: a solidariedade, ilustrada pela parábola do Bom Samaritano: “gostaria de sublinhar é que ela nos ensina a viver a solidariedade humana e cristã, segundo o estilo de proximidade, compaixão e ternura de Deus. A parábola do Bom Samaritano nos lembra que se dobrar sobre a dor dos outros não é uma escolha opcional para o homem, mas sim uma condição inalienável, tanto para sua plena realização como pessoa, quanto para a construção de uma sociedade inclusiva verdadeiramente orientada para o bem comum”, concluiu o Papa.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O testemunho dos mártires foi o tema da catequese do Papa na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, com a participação de milhares de fiéis.
Francisco deu continuidade ao ciclo sobre o zelo apostólico, detendo-se desta vez não em uma pessoa singular como São Paulo, mas na multidão dos mártires: homens e mulheres das mais diversas idades, línguas e nações, que deram a vida por Cristo.
Depois da geração dos Apóstolos, foram eles as “testemunhas” por excelência do Evangelho. O primeiro foi Santo Estêvão, lapidado fora das muralhas de Jerusalém. Os mártires, porém, advertiu o Papa, não devem ser vistos como “heróis” que agiram individualmente, como flores despontadas num deserto, mas como frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor, que é a Igreja.
De fato, participando assiduamente na celebração da Eucaristia, os cristãos sentem-se impelidos pelo Espírito a organizar a sua vida sobre a base daquele mistério de amor, ou seja, como o Senhor Jesus deu a sua vida por eles, assim também eles podiam e deviam dar a vida por Ele e pelos irmãos. “Os mártires amam Cristo na sua vida e O imitam na sua morte.”
À imitação de Cristo e com a sua graça, os mártires fazem com que a violência recebida de quem recusa o anúncio do Evangelho se torne uma ocasião suprema de amor, que vai até ao perdão dos próprios algozes. “É interessante isto: os mártires perdoam sempre os algozes.”
Embora o martírio seja pedido a poucos, “todos, porém, devem estar dispostos – diz o Concílio Vaticano II – a confessar a Cristo diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão à Igreja”.
Assim os mártires mostram-nos que todo cristão é chamado a dar testemunho com a sua vida, embora não chegue ao derramamento do sangue, fazendo de si mesmo um dom a Deus e aos irmãos.
O Pontífice voltou a repetir que os mártires são mais numerosos no nosso tempo do que nos primeiros séculos e citou o Iêmen como terra de martírio, lembrando as religiosas, os religiosos e os leigos que ali perderam a vida recentemente.