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Jesus sabe o que está dizendo. Quando Ele dá este conselho a você, certamente não está jogando “palavras ao vento”. Humildade! Quantos personagens da Bíblia puderam encontrar o verdadeiro sentido da vida apenas após abraçar este conselho!

O humilde é aquele que sabe quem é. Quem sabe quem é não consegue ser orgulhoso. O orgulho ou soberba é a matriz de todos os outros defeitos. O orgulhoso é uma pessoa cega em relação à sua própria verdade, à sua própria identidade. Porque todo aquele que consegue estar diante de si próprio, nu e cru, tal qual nos vê o Eterno, não consegue sentir-se “superior”, rejeita a presunção de ser o que não é! O conhecimento de si só pode brotar num coração humilde. Deus resiste ao soberbo (1Pd 5,5). A verdadeira maturidade espiritual brota de um coração humilde. A decisão de ser humilde ainda não é humildade até que a pessoa se coloque a caminho pela estrada do arrependimento sincero, levantando-se toda vez que cair e reconhecendo que só o Senhor pode realizar a obra nova com que tanto sonhamos.

A humildade é também uma virtude indispensável, pois protege da vaidade que fecha o acesso à verdade.

A humildade de alma gera também uma grande liberdade. Finalmente, nos desprendemos do maligno fardo que é a “opinião alheia” e nos agarramos às asas libertadoras da “opinião divina”. “Porque é sobre o humilde que Deus derrama a sua graça! É para o humilde de coração que Ele olha!”. Como disse também Nossa Senhora: “Olhou para a humildade de sua serva!” (Lc 1,48). É preciso trilhar o caminho da humildade através do caminho do arrependimento.

Igreja nos apresenta um momento muito especial para exercitar a humildade. Esse momento é um diálogo sincero com Jesus. É a oportunidade de permitir que o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, cumpra essa missão no “meu mundo pessoal”. Trata-se do Sacramento da Reconciliação, a confissão! Não vou prolongar o assunto tratando dos efeitos extraordinários da confissão como o alívio psicológico e cura interior. Quero dar ênfase ao fato de que o efeito libertador da confissão pressupõe que eu me confesse do jeito certo! Uma boa confissão exige um arrependimento sincero!

“Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.”

Não se aflija. A humildade não se trata apenas de uma necessidade pessoal. É também vontade de Jesus que sejamos assim. Em toda a sua vida, Ele não pediu que o imitássemos em outra coisa. Poderia ter pedido: “Aprendei de mim que sou bom pregador, taumaturgo e líder”. Não! A recomendação, única neste gênero em todo o Evangelho, afirma: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração!”. Se Jesus nos receitou a humildade, é porque Ele sabe que sem isso jamais seremos curados.

Padre Delton Alves de Oliveira Filho – Trecho retirado do livro: Sete conselhos do coração de Jesus

Canção Nova

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A palavra “Quaresma” vem do latim quadragésima. E Quaresma é o período de quarenta dias que antecede a maior festa do cristianismo: a Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo da Páscoa.

A duração da Quaresma é baseada no símbolo do número ‘quarenta’. Na Bíblia, esse número caracteriza as intervenções sucessivas de Deus. O dilúvio durou 40 dias; Moisés serviu a Deus no Monte Sinai durante 40 dias, e durante 40 anos Moisés conduziu o povo de Israel na peregrinação pelo deserto até chegar a Canaã; o profeta Elias, com a comida oferecida por um anjo, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horeb, o monte de Deus; Jesus passou 40 dias no deserto e, depois, apareceu ressuscitado durante 40 dias.

Como vivermos a Quaresma?

A partir disso, precisamos perguntar como nós, cristãos, vivemos os quarenta dias da Quaresma, nos preparando para a grande solenidade da Páscoa.

Veja-se, a seguir, as diretrizes que recebemos do primeiro documento publicado no Concílio Vaticano II, no ano de 1963. Trata-se do texto sobre a Liturgia, quer dizer, sobre a oração pública da Igreja, que, bem entendida, nos leva a renovar a nossa vida. Veja-se como se expressa:

“Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal. Por isso:

  1. a) utilizem-se com mais abundância os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal e retomem-se, se parecer oportuno, elementos da antiga tradição;
  2. b) o mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa de Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitencial, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores (n. 109).

A penitência quaresmal deve ser também externa e social, e não só interna e individual

Estimule-se à prática da penitência, adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição de cada um dos fiéis.

Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a parte na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao Sábado Santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito (n. 110)”.

Sucessivamente, no ano de 1992, o Papa S. João Paulo II, atendendo a uma solicitação apresentada pelos bispos, publicou o Catecismo da Igreja Católica, onde também se fala da Quaresma solicitando os cristãos a seguir o exemplo de Cristo que, tentado por quarenta dias no deserto, saiu vencedor sobre satanás. Eis o texto, a seguir.

“A tentação de Jesus manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser Messias, ao contrário da que Lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-Lhe. Foi por isso que Cristo venceu o Tentador, por nós: «Nós não temos um sumo-sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um, que possui a experiência de todas as provações, tal como nós, com exceção do pecado» (Heb 4, 15). Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto (n. 540)”.

Ao longo da sua história e, aos poucos, a Igreja organizou o tempo da Quaresma

Ressaltava-se, particularmente, a necessidade de preparar os catecúmenos para receber o batismo na noite da Páscoa e a reconciliação dos pecadores arrependidos que acontecia na Quinta-feira Santa, chamados, por isso, de ‘penitentes’. E estes penitentes, recebiam as cinzas no início deste ‘caminho espiritual’. Eis porque, o citado texto do Concílio Vaticano II fala da quaresma que “pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal”.

E a imposição das cinzas, na Quarta-Feira de Cinzas, é estendida para todos os fiéis.

A Quaresma nos chama a sermos mais próximos com os necessitados

Permito-me indicar duas importantes modalidades de viver a Quaresma. Antes de tudo, prestar atenção às orações das Santa Missa deste período, particularmente aos ‘prefácios”, que precedem o “Santo, Santo, Santo! Senhor Deus do Universo”.  A título de exemplo, cito o Prefácio I da Quaresma, que ressalta seu sentido espiritual.

“Vós concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. De coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos.”

Quanto à segunda indicação, lembro que todo ano no Brasil, durante a Quaresma, celebra-se a Campanha da Fraternidade. O tema deste ano de 2023 é ‘Fraternidade e Fome’, com o seguinte lema: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’. A Quaresma, pois, nos chama, de maneira significativa, a sermos mais próximos com os necessitados, a começar pelo ‘pão de cada dia’.

Canção Nova