Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (23/02), no Vaticano, uma delegação de jovens sacerdotes e monges das Igrejas ortodoxas orientais em visita a Roma pela terceira vez.
Por causa de um forte resfriado, Francisco não proferiu o seu discurso e o entregou aos monges. “Este ano, vocês vieram no início da Quaresma, caminho que os cristãos percorrem em preparação para a Páscoa de Cristo, coração da nossa fé”, sublinha o Papa no texto.
A seguir, Francisco recorda o itinerário que os dois discípulos fizeram para Emaús “que pode simbolizar o caminho ecumênico dos cristãos rumo à plena comunhão”. O Papa vê “pontos em comum entre os dois trajetos, três elementos” compartilhados com a delegação.
“O primeiro é que, se os cristãos caminham juntos, como fizeram os dois discípulos de Emaús, serão acompanhados por Cristo, que os apoiará, motivará e completará o seu percurso. Jesus se une aos dois discípulos chocados e desorientados ao longo da estrada. Ele se aproxima deles incógnito, tornando-se um viajante com eles. Então a viagem se torna uma peregrinação”, frisa o Papa, ressaltando que “a tristeza e o fechamento impediram que seus olhos o reconhecessem”.
“Do mesmo modo, o desânimo e a autorreferencialidade impedem os cristãos de diferentes confissões de ver o que os une, de reconhecer Aquele que os une. Portanto, como fiéis, devemos crer que quanto mais caminharmos juntos, mais seremos misteriosamente acompanhados por Cristo, porque a unidade é uma peregrinação comum“, sublinha Francisco.
O segundo elemento é o diálogo, “diálogo da caridade, diálogo da verdade, e diálogo da vida. O diálogo dos peregrinos de Emaús leva ao diálogo com Jesus, que se torna seu exegeta. Com base nas suas conversas, Cristo fala aos seus corações, os desperta”, faz arder seus corações “explicando em todas as Escrituras o que se refere a Ele. Isso nos mostra que o diálogo entre os cristãos se baseia na Palavra de Deus, que o Senhor Jesus nos faz compreender com a luz do seu Espírito”.
O terceiro elemento é que “é preciso desejar a unidade com a oração, com todo o coração e com todas as forças, com insistência, sem se cansar. Porque, se o desejo de unidade se extingue, não basta caminhar e dialogar: tudo se torna algo devido e formal. Se, pelo contrário, o desejo nos impele a abrir as portas a Cristo junto ao irmão, tudo muda. A Escritura lembra que Jesus não parte o pão com os discípulos renunciantes e desunidos”. “Cabe a eles convidá-lo, acolhê-lo, desejá-lo juntos. Isto é talvez o que mais falta hoje aos cristãos de várias confissões: um desejo ardente de unidade, que vem antes dos interesses de parte”, ressalta Francisco.
O Papa sublinha que “a unidade é peregrinação, a unidade é diálogo, a unidade é desejo. Se vivermos estas três dimensões no caminho ecumênico, então, como aqueles discípulos, chegaremos a reconhecer Cristo juntos na fração do pão e nos beneficiaremos da comunhão com Ele na mesma mesa eucarística”. “Que em sua peregrinação a Roma, espero que vocês possam sentir a presença viva do Ressuscitado, que a nossa comunhão cresça no diálogo fraterno, e que se renove em cada um o ardente desejo de unidade”, conclui.
Vatican News
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
“Queridos irmãos e irmãs, inclinemos a cabeça, recebamos as cinzas, tornemos leve o coração”: palavras do Papa Francisco na homilia da missa celebrada na Basílica de Santa Sabina, nesta Quarta-feira de Cinzas.
Como é tradição, a cerimônia teve início com a procissão penitencial que partiu da Igreja de Santo Anselmo, com a participação de cardeais, bispos, monges beneditinos, padres dominicanos e fiéis.
Ao final da procissão, teve lugar a Celebração Eucarística com o rito da bênção e imposição das cinzas.
Em sua homilia, o Pontífice recordou que a Quaresma é o tempo favorável para regressar ao essencial e neste caminho de regresso, fez um convite aos fiéis: regressar à verdade de nós mesmos e regressar a Deus e aos irmãos.
Antes de mais nada, as cinzas nos recordam quem somos e de onde viemos: só o Senhor é Deus e nós somos obra das suas mãos. Mas muitas vezes nos esquecemos que viemos da terra e precisamos do Céu e que sem Ele, somos só pó:
Quantas desatenções e superficialidades nos distraem daquilo que conta, acrescentou Francisco, lembrando que a Quaresma é “um tempo de verdade”, para fazer cair as máscaras que pomos todos os dias a fim de aparecer perfeitos aos olhos do mundo; para lutar – como nos disse Jesus no Evangelho – contra as falsidades e a hipocrisia: não as dos outros, mas as nossas.
Voltando à verdade de nós mesmos, podemos dar o segundo passo, que é regressar a Deus e aos irmãos.
“Existimos apenas graças às relações: a relação primordial com o Senhor e as relações da vida com os outros. Assim, a cinza que recebemos sobre a cabeça, nesta tarde, diz-nos que toda a presunção de autossuficiência é falsa e que idolatrar o eu é opção destrutiva, fecha-nos na jaula da solidão.”
Para Francisco, a Quaresma é o tempo propício para reavivar as nossas relações com Deus e com os outros e isso pode ser feito através da esmola, da oração e do jejum. Todavia, Jesus adverte que não se trata de ritos exteriores, mas de comportamentos que devem expressar uma renovação do coração.
Aos gestos exteriores, disse ainda o Papa, deve corresponder sempre a sinceridade da alma e a coerência das obras. Na vida pessoal, como aliás na vida da Igreja, não contam a exterioridade, os juízos humanos e a aprovação do mundo; conta apenas o olhar de Deus. Assim, a esmola, a oração e o jejum nos permitem expressar quem realmente somos: filhos de Deus e irmãos entre nós.
“Queridos irmãos e irmãs, inclinemos a cabeça, recebamos as cinzas, tornemos leve o coração”, concluiu o Pontífice.