Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (24/10), na Sala Clementina, no Vaticano, a Comunidade acadêmica do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.

Em seu discurso, o Papa ressaltou que cinco anos se passaram desde que, com o Motu proprio Summa familiae cura, ele “quis investir nessa herança deixada por São João Paulo II, que fundou o Instituto em 1981”, e “dar-lhe um novo vigor e desenvolvimento mais amplo, a fim de responder aos desafios enfrentados no início do Terceiro Milênio”.

“Sinto que esse desenvolvimento desejado, garantido pela qualidade acadêmica nas disciplinas teológicas e nas ciências humanas e sociais, é particularmente importante, pois integra as competências necessárias para discernir os valores relacionais próprios da constelação familiar”, frisou o Papa, ressaltando que “a Teologia é chamada a elaborar uma visão cristã de genitor, filial e fraterna, e não apenas do vínculo conjugal”. Nesse contexto, “a cultura dos avós é também muito importante”. De acordo com o Papa, “a cultura da fé é chamada a medir-se com as transformações que marcam a atual consciência das relações entre homem e mulher, entre amor e geração, entre família e comunidade”.

A missão da Igreja hoje exige urgentemente a integração da teologia do vínculo conjugal com uma teologia mais concreta da condição familiar. As turbulências sem precedentes, que neste tempo colocaram todos os laços familiares à prova, exigem um discernimento atencioso para compreender os sinais da sabedoria e misericórdia de Deus. Não somos profetas de desgraça, mas de esperança. Portanto, ao considerar os motivos de crise, nunca perderemos de vista os sinais consoladores, às vezes comoventes, da capacidade que os laços familiares continuam mostrando: em favor da comunidade de fé, da sociedade civil e da convivência humana.

Segundo o Papa, “a família permanece uma “gramática antropológica” insubstituível dos afetos humanos fundamentais. A força de todos os laços de solidariedade e amor aprende seus segredos ali, na família. Quando esta gramática é negligenciada ou perturbada, toda a ordem das relações humanas e sociais sofre suas feridas”.

Francisco disse ainda que “é responsabilidade do Estado e da Igreja escutar as famílias, em vista de uma proximidade afetuosa, solidária e eficaz: que as sustente no trabalho que já fazem por todos, incentivando sua vocação para um mundo mais humano, ou seja, um mundo mais solidário e fraterno”.

Devemos proteger a família, mas não aprisioná-la, fazê-la crescer como deve crescer. Cuidado com as ideologias que se intrometem para explicar a família do ponto de vista ideológico. A família não é uma ideologia, mas uma realidade, e uma família cresce com a vitalidade da realidade. Quando as ideologias vêm para explicar ou pintar a família, acontece o que acontece e se destrói tudo. Há uma família que tem essa graça de homem e mulher que se amam e criam. Para entender a família devemos sempre ir ao concreto, não às ideologias. As ideologias arruínam, as ideologias se intrometem para fazer um caminho de destruição. Tomem cuidado com as ideologias!

Segundo o Papa, “não devemos esperar que a família seja perfeita, para cuidar de sua vocação e incentivar sua missão. O matrimônio e a família serão sempre imperfeitos e incompletos até que estejamos no céu”. “Eu sempre digo aos recém-casados: se vocês querem brigar, até briguem, mas façam as pazes, antes do dia terminar. Essa capacidade de se reconstruir que mantém a família diante das dificuldades é uma graça, porque se não se reconstrói, a guerra fria do dia seguinte é perigosa”, frisou ele.

Por fim, o Papa contou uma experiência vivida na Praça São Pedro, quando fazia as saudações antes da pandemia. Um casal, que parecia jovem, tinha 60 anos de matrimônio. “Eu lhe disse: “Mas vocês não se enjoaram depois de tantos anos? Vocês estão bem? Os dois se olharam e eu fiquei parado. Depois, se olharam outra vez e disseram: “Nós nos amamos”. Foi a resposta depois de 60 anos”. “Esta foi a melhor e mais bonita teologia sobre a família que eu já vi”, concluiu Francisco.

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