Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, neste sábado (08/10), no Vaticano, os participantes do encontro da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice sobre o tema “Crescimento Inclusivo para erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável para a paz”.
Parece-me que a expressão-chave seja a inicial: “crescimento inclusivo”. Isso nos faz pensar na Populorum Progressio de São Paulo VI, onde ele afirma: «Desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todo homem e o homem todo». Portanto, o desenvolvimento é inclusivo ou não é desenvolvimento. Aqui está a nossa tarefa, especialmente a de vocês como fiéis leigos: fazer “levedar” a realidade econômica num sentido ético, o crescimento no sentido de desenvolvimento. Vocês procuram fazê-lo, a partir da visão do Evangelho. Porque tudo nasce de como se olha a realidade. O olhar de Jesus começava com a misericórdia e compaixão pelos pobres e excluídos.
Segundo Francisco, “o crescimento inclusivo encontra seu ponto de partida num olhar não voltado para si mesmo, livre da busca pela maximização dos lucros. A pobreza não se combate com o assistencialismo, não! Ele a anestesia, mas não a combate. Como eu disse na Laudato si’, “ajudar os pobres com dinheiro deve ser sempre um remédio temporário para enfrentar as emergências. O objetivo verdadeiro deve ser permitir-lhes uma vida digna através do trabalho”, ou seja, a porta é o trabalho. A porta para a dignidade de um homem é o trabalho”.
“Sem o compromisso de todos em cultivar políticas trabalhistas para os mais frágeis, se favorece uma cultura mundial do descarte”, frisou ainda o Papa, reiterando que tentou “explicar essa convicção no primeiro capítulo da Encíclica Fratelli tutti”, onde se recorda que «a riqueza aumentou, mas sem equidade, e assim acontece que novas formas de pobreza nascem».
“É por isso que o futuro invoca um novo olhar, e cada um é chamado a ser o promotor dessa maneira diferente de olhar para o mundo, a partir das pessoas e situações que vive na vida cotidiana. Somos todos irmãos e irmãs, e se eu sou o dono de uma empresa, isso não me legitima a olhar para meus empregados com um ar de suficiência. Se eu administro um banco, não devo me esquecer que cada pessoa deve ser tratada com respeito e atenção”, frisou ainda o Papa.
A Fundação Centesimus Annus pode declinar as importantes reflexões realizadas nestes dias, através da conversão do olhar de cada um. O olhar humilde de quem vê em cada homem e mulher que encontra um irmão e uma irmã a serem respeitados em sua dignidade, e não apenas como um cliente com quem fazer negócios. Somente com esse olhar poderemos lutar contra os males da especulação atual que alimenta os ventos de guerra. Não olhar ninguém de cima para baixo é o estilo de todo agente de paz. Só é permitido fazê-lo para ajudar a se levantar.
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