Jane Nogara – Vatican News

O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira (30) os membros da “Fraternidad de Agrupaciones Santo Tomás de Aquino” por ocasião do 60° aniversário de fundação. A “Fraternidad” é uma comunidade de leigos e sacerdotes que através da formação e do compromisso procura evangelizar e construir a pátria. Francisco entregou aos presentes o discurso preparado e falou de improviso. Eis o resumo do texto entregue:

Missão dos leigos

Francisco iniciou seu discurso refletindo que uma das novidades do Concílio Vaticano II foi tomar consciência dos direitos e deveres dos leigos com relação à missão evangelizadora. “É sempre surpreendente – escreveu o Papa – ver como o Espírito Santo entra em cada realidade do ser humano através dos talentos que inspira nos discípulos de Jesus. E hoje vemos como sua ‘Fraternidad’ abraçou a mensagem conciliar e iniciou vários projetos para a evangelização da cultura, da juventude e da família, criando uma grande variedade de instituições educacionais, tais como escolas, universidades e residências universitárias em várias partes do mundo”. Além disso, continuou “a Fraternidad Santo Tomás de Aquino para sacerdotes e a Fraternidad Apostólica Santa Catarina de Sena para as consagradas são um serviço valioso para amadurecer os carismas do ensino em todos os fiéis, inclusive naqueles que se consagraram ao Senhor”.

Harmonia entre fé e razão

Citando o contexto histórico em que viveu o santo padroeiro, Tomás de Aquino, Francisco recordou que “ele também teve seus desafios”. “Naquela época, no século XIII, os escritos do filósofo grego Aristóteles estavam sendo redescobertos no Ocidente. Alguns estavam relutantes em estudar suas obras, pois temiam que seu pensamento pagão estivesse em desacordo com a fé cristã. No entanto, Santo Tomás descobriu que a maioria das obras de Aristóteles estavam em sintonia com a Revelação Cristã. Ou seja”:

“Santo Tomás conseguiu mostrar que existe uma harmonia natural entre fé e razão. Quando nos damos conta desta riqueza, essencial para superar o fundamentalismo, o fanatismo e as ideologias, abre-se um amplo caminho para levar a mensagem da Boa Nova a diferentes culturas, sempre com propostas compatíveis com a inteligência humana e respeitosas da identidade de cada povo”

Santo Tomás e sua profunda relação com Deus

Prosseguindo sobre os testemunhos deixados pelo Santo continuou: “Santo Tomás nos deixou sua profunda relação com Deus, que se manifesta, por exemplo, em sua adoração a Jesus em sua presença real na Eucaristia”. “Sua espiritualidade o ajudou a descobrir o mistério de Deus, enquanto seus talentos lhe possibilitaram moldá-los por escrito. Este é um fato importante: para descobrir a presença do Senhor no mundo, nos acontecimentos, é necessário rezar, ter o coração unido com o de Jesus no sacrário”. Concluindo seu pensamento disse: “É precisamente a fé e a razão, quando andam de mãos dadas, que são capazes de valorizar a cultura do ser humano, impregnar o mundo de sentido e construir sociedades mais humanas, mais fraternas e, consequentemente, mais cheias de Deus”. Dirigindo-se aos presentes disse ainda:

“Ao viver o seu carisma, realizado concretamente através da educação, é importante lembrar que o ensino é precisamente uma das obras de misericórdia espiritual”

Concluindo o Santo Padre sugeriu:

“A educação oferece um sentido, uma narrativa para cada elemento da vida humana. Não termina com o compartilhamento de conhecimentos ou o desenvolvimento de habilidades, mas, como mostra sua etimologia, ajuda a realçar o melhor de cada pessoa, para polir o diamante que o Senhor colocou em cada um. A educação ajuda a garantir que este diamante deixe passar a Luz, que é Cristo (cf. Jo 8,12) e assim brilha no meio do mundo”. “Recordemos ainda – disse – que o Senhor nos faz participantes da sua luz, da sua própria natureza e, por isso, cada um dos seus discípulos e das suas discípulas, ilumina o mundo, afastando as trevas e transformando a realidade”.

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Jane Nogara – Vatican News

O Papa Francisco enviou nesta quinta-feira (29) uma mensagem ao Diretor-Geral da FAO, Sr. Qu Dongyu por ocasião do Dia Internacional de Conscientização sobre Perdas e Desperdícios de Alimentos 2022.

À mercê da cultura descartável

O Papa agradeceu o destaque dado à gravidade de um problema “que não podemos nos dar ao luxo de ignorar neste momento difícil em que vivemos”, esclarecendo que quando os alimentos não são utilizados adequadamente […], estamos à mercê da “cultura descartável”, que é uma manifestação de desinteresse pelo que é de valor fundamental ou de apego àquilo que não é importante”.

Chegar aos necessitados

“Saber que multidões de seres humanos não têm acesso a alimentação adequada ou aos meios para obtê-la, e ver alimentos estragados ou jogados no lixo pela falta dos recursos necessários para serem levados até seus destinatários é verdadeiramente vergonhoso e preocupante”, acrescentou o Papa.

“O grito dos famintos, privados de um modo ou de outro de seu pão diário, deve ressoar nos centros onde são tomadas as decisões. E não pode ser silenciado ou sufocado por outros interesses.”

Insistindo neste ponto Francisco recordou que o Relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI 2022) revelou que o número de pessoas famintas em nosso planeta aumentou significativamente no ano passado, devido às múltiplas crises que a humanidade enfrenta. Afirmando em seguida:

“Já disse isso no passado, e não me cansarei de insistir, jogar comida fora é jogar pessoas fora!”

Paradoxo da abundância

Toda a comunidade internacional deve se mobilizar – escreveu o Papa – “para pôr um fim ao lamentável ‘paradoxo da abundância’, que meu predecessor São João Paulo II denunciou trinta anos atrás”. “No mundo existe alimentos necessários para que ninguém vá dormir com fome. São produzidos alimentos mais do que suficientes para 8 bilhões de pessoas. A questão – adverte o Papa – sem dúvida, é de justiça social, ou seja, como é regulada a gestão dos recursos e a distribuição da riqueza”.

“A especulação alimentar deve ser detida! Devemos parar de tratar os alimentos, que é um bem fundamental para todos, como moeda de troca para poucos”

Desperdício e o meio ambiente

“Além disso, o desperdício ou a perda de alimentos contribui significativamente para o aumento das emissões de gases de efeito estufa e, portanto, para a mudança climática e suas consequências nocivas. Os jovens, acima de tudo, nos pedem para pensar neles, para olharmos longe e ampliar o coração, dando o melhor de nós mesmos para cuidar da casa comum que veio das mãos de Deus e que devemos salvaguardar, respondendo com boas ações ao mal que lhe causamos”.

“É hora de agir com urgência e para o bem comum. É urgente tanto para os Estados como para as grandes empresas multinacionais, para as associações, como para os indivíduos – para todos, sem excluir ninguém – responder de forma eficaz e honesta ao grito de dor no coração dos famintos que pedem justiça”.

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