Jane Nogara – Vatican News
Na manhã desta segunda-feira (26) o Papa Francisco recebeu no Vaticano as Irmãs Terciárias Capuchinhas da Sagrada Família por ocasião do 23° Capítulo Geral da Congregação. Francisco iniciou demonstrando satisfação por constatar que as irmãs “são provenientes de diferentes cantos do mundo”, o que indica que vivem em um espírito de acolhida e fraternidade universal, concorde com a especial relação com a “Sagrada Família”. Esta atitude, continuou – “é expressa no lema do Capítulo Geral, que gira em torno de duas ideias: escuta humilde e sinodalidade. São palavras inspiradoras, que têm raízes profundas na vida religiosa.
“A escuta requer antes de tudo silêncio, silêncio profundo, silêncio interior e isso encontramos na oração”
“Muitas vezes nosso próprio modo de vida é ‘cheio de barulho’”, disse o Papa, continuando: “Para muitos, levantar a voz, física ou moralmente, é apresentado como a solução para que as massas surdas optem por sua ideia ou opinião, sempre procurando uma maneira de tornar seu sinal mais audível, mais atraente ou mais surpreendente”. Porém adverte Francisco, com consternação, muitas vezes se descobre que “aqueles que foram assim convocados quase imediatamente se afastam para responder ao chamado de um grito ainda mais alto”.
“A profecia que Jesus nos pede é precisamente ir contra esta corrente, buscar o silêncio, separar-nos do mundo, do barulho. Isto nos permite prestar atenção e com paciência artesanal identificar os diferentes sons, pesá-los e distingui-los”. E explicou que “desta forma, aquele barulho inicial começará a tomar forma, o que parecia discordante pode ser compreendido e localizado, terá um nome, um rosto”.
“Nenhuma nota será muito alta ou muito baixa, e nenhum som será estridente para nossos ouvidos se encontrar a harmonia que só nosso silêncio pode dar. E digo que somente nosso silêncio pode dar, porque a harmonia se encontra, não é imposta”
O Papa recorda que “a tentação é ter uma bela melodia na cabeça e rejeitar ou tentar silenciar quem não estiver de acordo. Mas isso é julgar o outro, colocar-se no lugar de Deus, decidir quem merece estar lá e quem não merece. É uma grande soberbia, que deve ser combatida com a humildade do nosso silêncio profético”. Ponderando ainda que quem for capaz de ouvir desta maneira, será capaz de ouvir todas as vozes claramente, compreender a sua ordem, o que respondem, o que querem dizer, e porque o dizem desta maneira, às vezes de modo tão desolador.
“Queridas irmãs, sejam profetas desta escuta, antes de mais nada, ouvindo a voz de Deus, que as chama a amar a todos sem distinção, a amar a criação como seu dom, a ver em toda sua grandeza, como nos ensina São Francisco em seu Cântico das Criaturas”.
“E é a partir desta escuta silenciosa de Deus e do homem – explicou o Pontífice – que podemos passar do cacofônico ao sinfônico. Ao “sem” (συν-) da sinodalidade, ou o que é o mesmo, de caminhar juntos (συν -ὁδος), de sermos um coro com um só coração e uma só alma, mesmo que estejamos em tempos e contextos diferentes”. E disse ainda:
“Não é uma utopia, se estamos realmente convencidos de que levantar a voz não é o caminho, e que o único caminho é Jesus. Não escondo de vocês que é o caminho da cruz, da humildade, da pobreza, do serviço”
Recordando por fim que este “é o caminho escolhido por São Francisco e por seu venerável fundador, Luis Amigó, que todos os dias meditava na Paixão, convidando-as a abraçar o estilo da pequenez e da mortificação como caminho para o céu”.
Por fim o Papa concluiu afirmando: “Se diante deste estrondoso silêncio da Paixão, o mundo é desafiado como Pilatos, e colocado diante da Verdade nua, peçamos, com as palavras de São Paulo VI, que o silêncio de Nazaré, cultivado pela Sagrada Família, possa ensinar-lhes, na sua vocação específica como religiosas, ‘o recolhimento e a interioridade, a estar sempre prontas para escutar as boas inspirações e a doutrina dos verdadeiros mestres, a necessidade e o valor de uma formação adequada, do estudo, da meditação, de uma vida interior intensa, de uma oração pessoal que só Deus vê” (cf. São Paulo VI, Alocução em Nazaré, 5.1.1964).
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