Será, como ele mesmo disse no último Angelus, uma “peregrinação penitencial”. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, ressaltou essa peculiaridade da viagem apostólica que o Papa Francisco fará ao Canadá, de 24 a 30 de julho, durante a coletiva de imprensa, realizada na última quarta-feira (20/07), de apresentação à mídia das etapas que Francisco fará no país norte-americano. Uma viagem muito esperada que nasce de cinco encontros que o Pontífice teve entre o final de março e o mês de abril com os povos indígenas canadenses Métis, Inuítes, Primeiras Nações e Métis Manitoba, e que visa “encontrar e abraçar” essas comunidades, conforme especificado pelo Papa Francisco no último domingo. A sua próxima viagem apostólica, com o lema “Caminhar juntos” e quer de fato “contribuir para o caminho de cura e reconciliação empreendido” com as comunidades nativas, gravemente prejudicadas, no passado e de diferentes formas, pelas políticas de assimilação cultural às quais muitos cristãos e também membros de institutos religiosos contribuíram. Por isso, não terá o padrão típico das viagens papais, mas estará toda focada no percurso de diálogo e escuta, proximidade e solidariedade com as populações indígenas canadenses que o Papa empreendeu há alguns meses. Um percurso iniciado por João Paulo II em setembro de 1984, quando encontrou os Ameríndios e Inuítes que pediram ao Pontífice para visitar suas terras durante a beatificação, em 22 de junho de 1980, em Roma, de Kateri Tekakwitha, canonizada em 21 de outubro de 2012 por Bento XVI, primeira santa originária da América do Norte.
A do Canadá é a segunda viagem apostólica que o Papa faz este ano, após a visita a Malta nos dias 2 e 3 de abril passado e a viagem não realizada ao Congo e ao Sudão do Sul, de 2 a 7 de julho, devido a problemas na perna direita, com uma nova data a ser definida. Francisco é o segundo Pontífice a ir ao território canadense. Antes dele houve três viagens apostólicas de João Paulo II: em 1984, em 1987 e em 2002. Convidado por comunidades civis, eclesiais e indígenas, o Papa Francisco decolará no domingo às 9h locais do Aeroporto de Fiumicino e chegará, após mais de 10 horas de voo, à cidade de Edmonton. Ele será oficialmente recebido no aeroporto da capital da província de Alberta, e depois irá para o Seminário São José.
O Papa fará em espanhol quatro discursos, quatro homilias e uma saudação a uma delegação de indígenas presentes em Quebec. No dia seguinte à sua chegada, ele se encontrará com os povos indígenas Das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, aos quais, em 1º de abril, no Vaticano, expressou sua tristeza e solidariedade pela tragédia da erradicação de tantas pessoas e famílias diferentes de suas terras e culturas, entre os séculos XIX e XX, e para dar reconhecimento e justiça às vítimas das “escolas residenciais” instituídas pelo governo e confiadas às Igrejas cristãs, incluindo a católica. “Sinto vergonha; dor e tristeza pelo papel que vários católicos, especialmente com responsabilidades educacionais, tiveram em tudo o que os feriu nos abusos e falta de respeito à sua identidade, à sua cultura e até mesmo aos seus valores espirituais. Tudo isso é contrário ao Evangelho de Jesus”, disse o Pontífice na audiência com as três delegações. Naquela ocasião, o Papa também se uniu aos pedidos de desculpas dos bispos canadenses, afirmando que “o conteúdo da fé não pode ser transmitido de uma forma estranha à própria fé”, dando assim um contra-testemunho, e acrescentando que “Jesus nos ensinou a acolher, amar, servir e não julgar”. Os dias de Francisco no Canadá se desenvolverão ao longo desse caminho, destacou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, mas no coração do Pontífice também estará o tema muito querido a ele do cuidado da criação, como é para os povos indígenas.
Na tarde dia 26 de julho, memória dos santos Joaquim e Ana, avós de Jesus, o Papa Francisco participará da tradicional peregrinação dedicada a Santa Ana que há séculos se realiza no lago de mesmo nome a cerca de 72 quilômetros de Edmonton. A mãe da Virgem Maria é uma figura à qual os canadenses são muito ligados, ela é venerada em muitas comunidades indígenas e a de Lac Ste Anne – declarada um local histórico nacional pelo governo canadense em 2004 – é um dos encontros espirituais mais importantes para os fiéis da América do Norte e particularmente para os povos das Primeiras Nações.
Haverá encontros com as autoridades civis. Por esta razão, em 27 de julho, Francisco irá a Quebec, enquanto em 28 de julho, celebrará as Vésperas com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes pastorais no Santuário Nacional de Santa Ana de Beaupré, onde deixará um rosa de ouro como presente. Matteo Bruni lembra que no Canadá há também a comunidade católica, indígena e não indígena, que se confronta com um mundo secularizado diante do qual se interroga como proclamar o Evangelho: o Papa também poderá dirigir-se a elas de diferentes maneiras, sem esquecer o cenário internacional destes dias e a guerra na Ucrânia. Em 29 de julho ele encontrará, em particular, alguns membros da Companhia de Jesus, depois o aguardam três outros encontros com o povo de Quebec, o último, antes de partir para Roma, será com os jovens e idosos.
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