O Papa Francisco recebeu, no Vaticano, nesta quinta-feira (21/04), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. No encontro que durou 40 minutos, o Santo Padre expressou seu apreço pelo trabalho de proteção e acolhimento que a Hungria está fazendo pelas pessoas que fogem da Ucrânia. O primeiro-ministro húngaro chegou ao Vaticano pouco antes das 11hlocais, acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas. Como estava em visita particular, ele não se encontrou com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que se encontra atualmente no México, nem com o secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher.
Esta é a primeira viagem de Orbán depois de sua nova vitória eleitoral em 3 de abril. O partido Fidesz obteve a quarta maioria parlamentar consecutiva de dois terços nas eleições. “Minha primeira viagem oficial após as eleições me levará ao Vaticano, ao Papa Francisco”, informou Orbán, na última quarta-feira (20/04), em sua conta no Facebook, onde postou uma foto de seu aperto de mão com o pontífice. Quatro anos atrás, após as eleições de 2018, a primeira viagem de Orbán foi a Varsóvia.
Os presentes
A audiência, na Biblioteca Apostólica, começou às 11h05. “Estou feliz com a sua presença aqui”, disse o Papa, fazendo sentar-se à mesa o primeiro-ministro da Hungria. A conversa, na presença de um intérprete, terminou às 11h45. Orbán deu ao Pontífice alguns presentes: dois livros, de e sobre Béla Bartók, compositor húngaro e especialista em música. Em seguida, entregou uma coleção de discos de música lírica e um volume de 1750 com a Liturgia das Horas para a Semana Santa em inglês e latim.
O Papa retribuiu com um painel de bronze representando São Martinho de Tours, natural da Panônia, atual Hungria, no ato de proteger o pobre, dando-lhe uma parte de seu manto. Ao apresentar este presente, o Papa expressou seu apreço pelo acolhimento dos refugiados ucranianos em solo húngaro: “Escolhi isso para você, São Martinho que é húngaro, e pensei que vocês húngaros estão recebendo atualmente todos esses refugiados”, disse Francisco. O Papa também doou os documentos do pontificado, a Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em 2019, em Abu Dhabi, e o livro publicado pela Livraria Editora Vaticana (LEV) sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020.
O encontro em Budapeste em setembro de 2021
Um primeiro encontro ‘privado’ entre Orbán e Francisco, no Vaticano, ocorreu 28 de agosto de 2016, quando o Papa recebeu o grupo de líderes e parlamentares cristãos europeus que participaram do encontro anual da Rede/ICln, em Frascati. A última vez que os dois se encontraram foi em 12 de setembro de 2021, quando o Papa foi a Budapeste para o encerramento do Congresso Eucarístico Internacional. Antes da Missa, o Papa, acompanhado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e pelo secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, encontrou Orbán, junto com o presidente da República, Janos Ader, e o vice-primeiro-ministro, Zsolt Semjén, na Sala Românica do Museu de Belas Artes.
O acolhimento dos refugiados ucranianos
O tema da imigração tornou-se urgente novamente com a eclosão da guerra na Ucrânia. A Hungria mostrou sua disponibilidade de acolher os refugiados. No início de abril, Orbán teve uma conversa com o presidente russo, Vladimir Putin, pedindo um “cessar-fogo” imediato na Ucrânia. “A sua resposta foi positiva, mas com condições”, explicou Orbán numa coletiva de imprensa, dizendo que convidou Putin a Budapeste junto com os líderes da França, Alemanha e Ucrânia. O primeiro-ministro húngaro assumiu posições consideradas mais ‘moderadas’ em relação à Rússia sobre as sanções e o apoio a Kiev, e expressou sua recusa em fornecer armas aos ucranianos.
Visita do cardeal Czerny à Hungria
Quanto aos refugiados, mais de 600 mil pessoas fugiram do país invadido e chegaram às fronteiras da Hungria, onde foram lançadas várias iniciativas de apoio ao acolhimento e permanência. Para muitos, a Hungria representa uma ‘ponte’ para chegar a outras áreas da Europa, em particular Alemanha e Itália, onde vivem e trabalham parentes e amigos. Cinco fronteiras que as realidades católicas e não católicas da Hungria – da Cáritas à Cruz Vermelha às igrejas protestantes – se dividiram para lidar de forma mais orgânica com a emergência. O governo húngaro diz que ofereceu todo o seu apoio, incluindo apoio econômico: o vice-primeiro-ministro Semjén também reiterou isso em sua conversa em Budapeste com o cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, enviado pelo Papa à Hungria e à Ucrânia nos primeiros dias de março para mostrar proximidade aos refugiados ucranianos. Czerny foi recebido em audiência no Palácio Presidencial no segundo dia de sua missão e o vice-primeiro-ministro reiterou a “ótima colaboração entre Estado e Igreja na assistência aos refugiados”. “A Hungria acolherá os refugiados sem nenhuma limitação”, disse Semjén. Uma atitude que Czerny desejou que se torne permanente, não se limitando apenas à emergência da guerra, e sobretudo estendida a todos os povos do mundo: “Que estes braços estejam cada vez mais abertos”. Semjén, no mesmo encontro, também defendeu a escolha de não enviar armas para a Ucrânia: “As armas não passam pelo território húngaro porque não queremos alargar o conflito. Esperamos uma solução diplomática”.
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