Assim o Papa Francisco saudou os fiéis presentes na Praça São Pedro e todos os que acompanharam a missa de Páscoa conectados pelos meios de comunicação em todo o mundo.
Cerca de 100 mil fiéis participaram da cerimônia, que pôde finalmente ser celebrada na Praça, após dois anos de pandemia, com os tradicionais enfeites florais para acolher o anúncio da ressurreição de Cristo.
Após a Missa, o Papa se dirigiu à sacada central da Basílica Vaticana, de onde dirigiu a a mensagem Urbi et Orbi (à cidade de Roma e a todo o mundo) e concedeu a Bênção Apostólica. Ele estava acompanhado pelos cardeais Renato Raffaele Martino e Michael Czerny.
O Pontífice repetiu as palavras de Cristo contidas no Evangelho de João, diante dos olhos incrédulos dos discípulos: «A paz esteja convosco!».
“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra”, disse o Papa. Com todo o sangue e violência que vimos, temos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado. “Terá porventura sido uma ilusão?”, questionou Francisco, que imediatamente respondeu: “Não. Não é uma ilusão!”.
E hoje, mais do que nunca precisamos Dele, no final de uma Quaresma que parece não ter fim. Ao invés de sairmos juntos do túnel da pandemia, demonstramos que existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival.
Por isso temos necessidade do Ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Só Ele o pode fazer.
O Papa então dirigiu o seu olhar para todas as realidades que necessitam do anúncio pascal. Falando da “martirizada” Ucrânia, usou termos como crueldade e insensatez e pediu mais uma vez que não se habitue à guerra. De modo especial, citou o sofrimento das crianças não só ucranianas, mas também “as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer”.
Pediu paz no Médio Oriente, em particular entre israelenses e palestinos, no Líbano, na Síria e no Iraque. Paz também para a Líbia e para o Iêmen, para Mianmar e para o Afeganistão. Paz para todo o continente africano, particularmente na região do Sahel, na Etiópia, na República Democrática do Congo.
Olhando para o continente americano, a oração do Papa é para que “Cristo ressuscitado acompanhe e assista as populações da América Latina, que, em alguns casos, viram piorar as suas condições sociais nestes tempos difíceis de pandemia, agravadas também por casos de criminalidade, violência, corrupção e tráfico de drogas”.
Falou também do Canadá, para que o Senhor ressuscitado acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica no país está percorrendo com os povos autóctones.
Francisco concluiu recordando que cada guerra traz consigo consequências que envolvem toda a humanidade: do luto ao drama dos refugiados, até à crise econômica e alimentar de que já se veem os primeiros sintomas.
Cristo, todavia, nos exorta a não nos render ao mal e à violência.
As sombras e luzes que marcam a missa da vigília pascal, com a bênção do fogo e acensão do círio, se refletiram também na homilia pronunciada pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, que logo começou com uma referência aos conflitos em andamento.
“As noites de guerra são atravessadas por rastos luminosos de morte. Nesta noite, irmãos e irmãs, deixemo-nos guiar pelas mulheres do Evangelho, para descobrir com elas a aurora da luz de Deus que brilha nas trevas do mundo”, disse o Papa.
Francisco propôs três ações das mulheres que, por primeiro, testemunharam a Páscoa do Senhor: ver, escutar e anunciar.
No cemitério, as mulheres não veem o corpo de Jesus. Ou seja, a Páscoa começa invertendo os nossos esquemas, disse o Papa. Por isso, não é fácil acolhê-la. Chega com o dom duma esperança surpreendente, que às vezes não encontra espaço no nosso coração.
“E assim permanecemos imóveis diante do túmulo da resignação e do fatalismo; sepultamos a alegria de viver. Mas, nesta noite, o Senhor quer dar-nos olhos diferentes, iluminados pela esperança de que o medo, o sofrimento e a morte não terão a última palavra sobre nós.”
Em segundo lugar, as mulheres escutam de dois homens em trajes resplandecentes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (24, 5-6).
Para o Pontífice, faz bem ouvir e repetir estas palavras toda vez que O procurarmos nas emoções passageiras ou nos momentos de necessidade, quando O confinamos em fórmulas e tradições, mas não O procuramos em quem chora, luta, sofre e espera.
“Não podemos fazer Páscoa, se continuamos a morar na morte”, disse ainda o Papa.
Por fim as mulheres anunciam a alegria da Ressurreição.
“Como é bela uma Igreja que corre, assim, pelas estradas do mundo! Sem medo, sem táticas nem oportunismos; só com o desejo de levar a todos a alegria do Evangelho. A isto, somos chamados: a fazer experiência do Ressuscitado e partilhá-la com os outros.”
A missão dos fiéis é levar Jesus para a vida de todos os dias, a realizar gestos de paz neste tempo marcado pelos horrores da guerra; a realizar ações de justiça no meio das desigualdades e de verdade no meio das mentiras.
“Irmãos e irmãs, a nossa esperança chama-se Jesus. (…) Façamos Páscoa com Cristo! Ele está vivo e ainda hoje passa, transforma e liberta. Com Ele, o mal já não tem poder, o fracasso não pode impedir-nos de recomeçar, a morte torna-se passagem para o início duma nova vida. Porque com Jesus, o Ressuscitado, nenhuma noite é infinita; e mesmo na escuridão mais densa, brilha a estrela da manhã.”
Ao final da homilia, o Papa se dirigiu ao prefeito de Melitopol, Ivan Fedorov, presente na Basílica na companhia de parlamentares ucranianos, que já havia encontrado antes da celebração: “Nesta escuridão que vivem, senhor prefeito e senhores parlamentares, o breu obscuro da guerra e da crueldade, todos nós rezamos com vocês nesta noite, rezamos pelos muitos sofrimentos. Nós podemos só oferecer a nossa companhia, a nossa oração e dizer-lhes: coragem, os acompanhamos. Podemos também dizer-lhes a maior coisa que hoje se celebra: Христос воскрес! (Cristo ressuscitou).
A celebração prosseguiu com o rito do batismo de sete catecúmenos.
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