O futebol é uma das paixões na minha família. Até hoje, eu, meu pai, minha irmã, meus irmãos e dois sobrinhos batemos uma bolinha (ou jogamos aquele baba, como dizemos por aqui). Algo interessante sobre o futebol é que é bastante difícil dominar os fundamentos, mesmo após anos de prática. Sempre que, num lance simples, um de nós comete aquela famosa pixotada, seja não conseguindo dominar uma bola simples, errando um passe curto ou chutando a bola por cima do muro, surgem comentários do tipo: o sujeito joga bola a vida toda e não aprende nunca!
Se o passe, o domínio e o chute são fundamentos básicos do futebol, a oração pessoal é o fundamento mais básico da vida de fé. Quanta gente cresce os dentes dentro da Igreja, participa da missa todos os domingos, reza o Rosário todos os dias, reza ao acordar, antes de dormir, antes das refeições, mas sequer sabe o que é oração pessoal.
Por muitos e muitos anos, minha vida de oração se resumiu à repetição mecânica de uma sequência bem estabelecida de orações antes de dormir e ao acordar: Em nome do Pai… Pai-Nosso…; 3 x Ave-Marias…; Santo Anjo do Senhor…; Ó minha Senhora e também minha mãe…; São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate…; A Cruz sagrada seja a minha luz…
Por repetição mecânica, eu quero dizer recitar tudo na velocidade da luz, dependendo do cansaço e do sono, sem refletir sobre uma só frase do que eu rezava. Não faz muitos anos que descobri que eu não sabia rezar. É como se pela, primeira vez na vida, eu tivesse jogado futebol com um profissional e ele me dissesse:
“Cara, a vida toda você tentou dominar a bola do jeito errado. Não é assim que se faz. Você tem que reaprender tudo do zero.”
Eu comecei do zero mesmo, aprendendo o que é oração pessoal, como é que se conversa com Deus, como se medita Sua Palavra, como contemplar as verdades da fé. Sem oração pessoal, não é possível crescer “de fé em fé” e se tornar um bom imitador de Cristo; assim como sem dominar os fundamentos do futebol você passa a vida jogando bola e continua um grande perna de pau.
Nós rezamos porque queremos conversar com Deus. Queremos louvá-Lo, render-Lhe graças, exaltar Seu nome, fazer alguma súplica, pedir forças, saúde, libertação, cura, o pão de cada dia. A oração é, portanto, diálogo, e não cabe numa fórmula. As fórmulas – as orações que recitamos todos os dias – são auxílio, um guia para nos dirigirmos a Deus. Se apenas recito um Pai-Nosso ou uma Ave-Maria sem piedade, sem atenção, sem meditar o que estou dizendo, em nada aquela oração aproximará meu coração de Deus.
A primeira coisa que não podemos esquecer é que a oração é um ato de humildade, porque, ao nos dirigirmos a Deus, devemos reconhecer a Sua grandeza e a nossa indignidade, exatamente como o publicano que sequer levantou os olhos para o céu, e apenas repetia: “Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!”.
Na oração verdadeira, que vem do coração, é como se estivéssemos assinando um contrato com Deus, firmando um compromisso com Ele: antes de pedir qualquer coisa, estamos dizendo que queremos nos endireitar, corrigir nossa conduta, abandonar o mal que praticamos. Perceba que não há espaço para ser arrogante ao se dirigir a Deus. Antes de tudo, é necessário assumir-se pecador, reconhecer-se mau, infiel, afinal, como posso querer consertar algo que não está com defeito?
Por isso mesmo, uma censura recorrente que Deus faz ao Seu povo é a apresentação de sacrifícios vazios, que não acompanham a mudança de atitude:
“Não preciso dos novilhos de tua casa
Nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos […]
Imola a Deus um sacrifício de louvor
E cumpre os votos que fizeste ao Altíssimo.
Invoca-me no dia da angústia
E então te livrarei e hás de louvar-me.”
Quer fazer sua oração pessoal? Comece acusando-se diante de Deus. Ponha em revista seus pecados, apresentando-os ao Senhor. Você pode começar com a fórmula usada pelo publicano – “Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!” –, mas não pare nisso. Peça o auxílio do Espírito Santo para reconhecer cada um dos seus pecados e confessá-los ao Senhor.
O próximo passo, ainda como uma espécie de preparação para a oração, é reconhecer a quem estou me dirigindo: ao Deus misericordioso que é o “meu escudo protetor, a minha glória que levanta minha cabeça”. De nada adianta reconhecer a própria miséria se não acredito na misericórdia de Deus, por isso preciso proclamá-la, invocá-la, pois, como diz o salmista, “quando eu chamei em alta voz pelo Senhor, do Monte santo ele me ouviu e respondeu”. Por isso “eu me deito e adormeço bem tranquilo, acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento”. Como você deve ter percebido, recorro, com frequência, à Palavra de Deus ao falar de oração. Seja para reconhecer-se pecador, para suplicar a misericórdia de Deus ou para reconhecer a sua grandeza e soberania, os Salmos são especialmente oportunos, porque nos ajudam a encontrar as palavras certas para nos dirigirmos ao nosso Criador.
“Espere aí!”, você pode dizer. “Como é oração pessoal, se vou continuar lendo um texto pronto?”
É que neste ponto entra uma palavra fundamental na vida de oração: a meditação. Comece a sua oração pessoal com a leitura de um Salmo. Pode ser um Salmo de súplica ou de louvor. Há 150 para você escolher. Como exemplo, eis um trecho do Salmo 77:
“Deus meu, teu caminho é santo
Qual Deus é grande como o nosso Deus?
Tu és o Deus que realiza maravilhas,
E mostraste aos povos teu poder.”
Leia o Salmo todo, mas identifique um trecho como esse, que exalta Deus, e repita quantas vezes forem necessárias, pensando no que isso significa, no caminho santo de Deus, na grandeza de Deus, nas maravilhas que Ele realiza, no poder que Ele mostra. Não tenha pressa. Deixe a Palavra ir convencendo seu coração de todas essas coisas sobre Deus. Transforme as palavras de Davi em suas palavras, transforme o louvor de Davi em seu louvor.
Pronto. Você acabou de dar seus primeiros passos na meditação da Palavra.
Antes de avançar no tema, é necessário compreender que a oração não é um diálogo entre iguais. Na minha insignificância, ouso dirigir-me ao Todo-poderoso porque confio que Ele me ama. Acontece que essa confiança ainda é pequena, assim como a minha fé. Rezo, mas, no fundo, custa-me crer naquilo que leio ou proclamo a respeito de Deus.
Se a minha fé fosse maior, eu não andaria angustiado, preocupado, não perderia a minha paz tão frequentemente, porque confiaria no que o próprio Jesus disse, que não nos afligíssemos, preocupados com o que comer ou beber, porque deveríamos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas as outras coisas viriam em acréscimo.
Exatamente porque nossa fé é pequena, que a oração pessoal é – como disse São Josemaria Escrivá – o alicerce da vida espiritual. Ao rezar, mergulhamos no infinito mistério do amor de Deus, que vai nos dando, à medida que O buscamos, uma fé mais robusta. Porque precisamos crescer na fé, precisamos rezar mais e mais.
Para nós, iniciantes na oração, há um caminho bastante simples e tremendamente eficiente para rezar: a meditação a partir da Palavra de Deus. Após iniciar a oração com os passos que apresentei aqui – confessar-se pecador, implorar a misericórdia de Deus e exaltar a Sua infinita bondade –, escolha algum livro da Bíblia – se você está começando agora, recomendo começar com algum dos Evangelhos. Fixe-se em algum trecho que exprima alguma verdade de fé, como:
“Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto. Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto.”
Vá repetindo esse trecho devagar, pedindo que o Espírito Santo ilumine sua mente e o ajude a compreender e viver essa verdade. Passe dez, quinze, vinte minutos meditando, pensando, deixando-o ressoar em seu coração. Rezar é como garimpar: você vai batendo na rocha sem obter nada além de terra, mas insiste na esperança de encontrar ouro. Quando Deus quer, Ele ilumina sua inteligência e você compreende algo a respeito d’Ele ou de você mesmo: “Meu Deus! Meus frutos têm sido maus! Só agora percebi que os frutos que tenho produzido são o egoísmo, o orgulho e a vaidade. Perdão, Senhor! Faz meu coração ser humilde como o seu!”
Meu irmão, você cresceu na fé e viveu uma experiência de conversão. Isso é ter oração pessoal.
Vatican News
Na manhã desta sexta-feira (18), no encontro com os participantes do Congresso da Fundação Pontifícia Gravissimum Educationis, antes de iniciar seu discurso oficial, o Papa Francisco fez uma reflexão oficiosa de alguns minutos sobre a guerra na Ucrânia, respondendo a uma carta que havia sido lida pouco antes e foi escrita por Yurii Pidlisnyi, chefe da Comissão para a família e os leigos da Igreja Greco-Católica Ucraniana, chefe da Cátedra de Ciência Política da Universidade Católica Ucraniana e chefe de nosso projeto “Educação em um mundo fragmentado”.
“Estamos acostumados a ouvir notícias de guerras, certo, mas muito longe. Síria, Iêmen … habituais. Agora que a guerra está perto, ela está na nossa casa, praticamente, e isto nos faz pensar na selvageria da natureza humana, até onde somos capazes. Assassinos de nossos irmãos. Obrigado, Dom Thiviet, por esta carta que o senhor trouxe, que é um chamado, ela chama a atenção para o que está acontecendo. Falamos de educação, e quando pensamos em educação pensamos em crianças, jovens… Pensamos em tantos soldados que são enviados para o front, muito jovens, soldados russos, pobrezinhos. Pensamos em tantos jovens soldados ucranianos, pensamos nos habitantes, nos jovens, nos meninos, nas meninas … Isto acontece perto de nós. Somente o Evangelho nos pede para não olhar para o outro lado, que é precisamente a atitude mais pagã dos cristãos: quando um cristão se acostuma a olhar para o outro lado, ele lentamente se torna um pagão disfarçado de cristão. É por isso que eu quis começar ente encontro com esta reflexão. A guerra não está longe: ela está perto da nossa casa. O que eu estou fazendo? Aqui em Roma, no Hospital Bambin Gesù, há crianças feridas pelos bombardeios. Levá-los para casa. Devo? Faço jejum? Faço penitência? Ou eu vivo despreocupado, como normalmente vivemos em guerras distantes? Uma guerra sempre – sempre! – é a derrota da humanidade: sempre. Nós – os instruídos, que trabalhamos na educação – somos derrotados por esta guerra, porque por um lado somos responsáveis. Não existem guerras justas: não existem!”.