A solidariedade percorre as estradas que as bombas ameaçam, onde levar caixas de alimento e pacotes de medicamentos pode ser uma viagem sem volta. É a solidariedade sustentada pelo coração de Francisco, que decidiu, numa área como a Ucrânia, onde o combustível começa a custar uma fortuna, contribuir com as despesas dos grandes veículos que vão, carregados de ajuda, até onde uma carreta corre o risco de encontrar um tanque. A notícia vem das áreas ao redor de Lviv onde o “braço” desta proximidade, o cardeal Konrad Krajewski, chegou depois de sua parada na Polônia, em meio ao oceano de refugiados que continua aumentando. O esmoleiro pontifício passou a fronteira ucraniana, viu e contou à mídia vaticana o enorme esforço feito pela relativa segurança de Lviv para alcançar aqueles que ainda estão sob as trajetórias de mísseis e estão lutando ou são impedidos de fugir pelos corredores humanitários que são ainda muito frágeis.
“Estou perto de Lviv e por razões de segurança não direi onde”, disse o cardeal. “Aqui chegam as grandes quantidades de ajuda da Comunidade Europeia através da Polônia. Tudo é descarregado em grandes depósitos e daqui as carretas partem para Kiev, para Odessa, em direção ao sul do país”. A boa notícia, disse o cardeal Krajewski com satisfação, é que “toda essa ajuda ainda chega ao seu destino, apesar dos bombardeios”. Isto foi confirmado pelos bispos de Kiev, de Odessa e de Karkhiv e pelo próprio núncio apostólico, com quem ele está em contato. Foi sobre este aspecto em particular, que o apoio do Papa interveio de maneira prática: “Aqui eles têm dificuldade em encontrar combustível e através da Esmolaria apostólica, o Santo Padre pagou muitas viagens das carretas, dos grandes caminhões que levam ajuda humanitária para a Ucrânia”.
Na terça-feira, em Lviv, o cardeal Krajewski também se encontrou com o arcebispo grego-católico ucraniano, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, e na quinta-feira partilhará um momento de oração com Shevchuk e os líderes das várias confissões que puderem participar. “Sabemos que a fé move montanhas, assim lemos no Evangelho, e temos certeza disso. Penso que conseguiremos deter esta guerra com nossa oração, com nossa fé”.
Solidariedade e oração que, juntas, dão alento à esperança. Esperar apesar de tudo é um impulso evidente em muitos ucranianos que saíram de casa e pretendem voltar. Uma observação que no epicentro do êxodo é tão imediata quanto tocar uma carne viva. “Aqui, a cada cinco minutos vejo refugiados chegando da parte oriental de Kiev. São principalmente mulheres com crianças. Alguns querem entrar na Polônia, querem ficar perto da fronteira, mas há aqueles que foram para Lviv – aqui ainda não há guerra, mesmo que seja muito perigosa, e estão à espera da libertação, esperam voltar”, disse o purpurado. “Lviv tem agora mais meio milhão de habitantes”, frisou o esmoleiro do Papa. Escolas, paróquias, cada metro quadrado disponível é sua casa provisória. “Onde tem um pouco de espaço, tudo é ocupado pelos refugiados que rezam, que têm esperança, que agradecem à Comunidade europeia que lhes envia ajuda, que está próxima a eles, que reza por eles”. “A tragédia produziu um broto”, observou o cardeal Krajewski: “Eles nunca se sentiram tão unidos: já se sentiam parte da Europa através desses gestos humanitários, agora se sentem parte integrante dela”.