Na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus rezada com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro, ao meio-dia deste I Domingo da Quaresma, o Santo Padre, ateve-se à página do Evangelho do dia, que traz as tentações sofridas por Jesus no deserto.
O Evangelho de hoje, disse o Santo Padre, “nos leva ao deserto, onde Jesus é conduzido pelo Espírito Santo, durante quarenta, dias para ser tentado pelo diabo (cf. Lc 4,1-13). O deserto simboliza a luta contra as seduções do mal, a fim de aprender a escolher a verdadeira liberdade”.
Jesus, de fato, vive a experiência do deserto pouco antes de começar sua missão pública. É precisamente através desta luta espiritual que Ele afirma de forma decisiva que tipo de Messias pretende ser, observou o Pontífice convidando a olhar então de perto as tentações contra as quais Jesus combate.
Duas vezes o diabo dirige-se a Ele e diz: “Se és o Filho de Deus…”. Ou seja, propõe-lhe a explorar sua posição: primeiro para satisfazer as necessidades materiais que sente; depois para aumentar seu poder; por fim, para obter um sinal prodigioso de Deus.
É como se estivesse dizendo: “Se és o Filho de Deus, aproveita”, ou seja, “pensa em teu proveito”. É uma proposta sedutora, mas leva à escravidão do coração: nos torna obcecados pelo desejo de ter, reduz tudo à posse de coisas, de poder, de fama. Este é o núcleo das tentações. É “o veneno das paixões” no qual o mal cria raízes.
Mas Jesus se opõe às atrações do mal de uma maneira vencedora. Como Ele faz isso? Respondendo às tentações com a Palavra de Deus, que diz para não tirar proveito, não usar Deus, os outros e as coisas para si mesmo, para não explorar a própria posição a fim de adquirir privilégios. Porque a felicidade e liberdade verdadeiras não estão em possuir, mas em compartilhar; não em aproveitar-se dos outros, mas em amá-los; não na obsessão com o poder, mas na alegria de servir.
Irmãos e irmãs, estas tentações também nos acompanham no caminho da vida. Devemos estar vigilantes, porque muitas vezes elas se apresentam sob uma forma aparente de bem. De fato, o diabo, que é astuto, usa sempre o engano. Ele queria que Jesus acreditasse que suas propostas eram úteis para demonstrar que era realmente o Filho de Deus. E assim também faz conosco: muitas vezes chega “com olhos dóceis”, “com um rosto angelical”; sabe até se disfarçar de motivos sagrados, aparentemente religiosos!
Se cedermos a suas lisonjas, prosseguiu Francisco, acabamos justificando nossa falsidade disfarçando-a com boas intenções: “Fiz negócios estranhos, mas ajudei os pobres”; “aproveitei meu papel, mas também para o bem”; “cedi aos meus instintos, mas no final não fiz mal a ninguém”, e assim por diante.
Por favor: com o mal, nada de compactuar com ele! Não se deve dialogar com a tentação, não se deve cair naquele sono de consciência que faz dizer: “afinal, não é grave, todos fazem assim”! Olhemos para Jesus, que não procura acomodamentos, não faz acordos com o mal. Ele se opõe ao diabo com a Palavra de Deus e assim vence as tentações.
“Que este tempo de Quaresma – concluiu o Papa – seja também um tempo de deserto para nós. Reservemos um tempo para o silêncio e a oração, durante o qual podemos parar e olhar o que está mexendo em nossos corações. Façamos clareza interior, colocando-nos diante da Palavra de Deus em oração, para que uma luta benéfica contra o mal que nos escraviza, uma luta pela liberdade, possa ter lugar dentro de nós. Peçamos a Nossa Senhora que nos acompanhe no deserto quaresmal e que nos ajude em nosso caminho de conversão.”
Vatican News