O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre São José na Audiência Geral desta quarta-feira (12/01).
Os evangelistas Mateus e Marcos definem José como “carpinteiro” ou “marceneiro”. Os Padres latinos da Igreja traduziram-no como “carpinteiro”. “Carpinteiro” ou “marceneiro” era uma qualificação genérica, que indicava “tanto os artesãos da madeira como os trabalhadores que se ocupavam de atividades relacionadas com a construção. Um trabalho bastante duro, tendo que trabalhar com materiais pesados como a madeira, a pedra e o ferro. Sob o ponto de vista econômico, não garantia grandes ganhos, como se pode deduzir do fato de Maria e José, quando apresentaram Jesus no Templo, oferecerem apenas um casal de rolas ou de pombas, como a Lei prescrevia para os pobres”.
Jesus adolescente “aprendeu esta profissão com o pai”. Quando se tornou adulto, começou a pregar, e as pessoas se perguntavam «De onde vinham esta sabedoria e estes prodígios?» e se escandalizavam com ele, “porque era filho de um carpinteiro, mas falava como um doutor da lei”. A seguir, o Papa acrescentou:
Este dado biográfico sobre José e Jesus faz-me pensar em todos os trabalhadores do mundo, especialmente naqueles que trabalham arduamente em minas e em certas fábricas; pensemos neles, naqueles que são explorados através do trabalho não declarado; que recebem salário de contrabando, escondido, sem aposentadoria, sem nada, sem segurança, trabalho não declarado que é muito hoje, pensemos nas vítimas do trabalho; que ultimamente foram muitas na Itália, nas crianças que são obrigadas a trabalhar; é terrível que uma criança na idade de brincar seja obrigada a trabalhar como um adulto, pensemos naqueles que vasculham os lixos em busca de algo útil para baratear. Todas essas pessoas são nossos irmãos e irmãs que ganham a vida assim. Não lhes dão dignidade! Pensemos nisso. Isso acontece hoje no mundo.
O Papa recordou também aqueles que “estão desempregados”; que “vão bater às portas das fabricas, das empresas. Mas, falta trabalho”. Pessoas que se sentem feridas “na sua dignidade porque não conseguem encontrar um emprego” e ao voltarem para casa, sem encontrar trabalho, passam na Caritas para pegarem um pouco de pão.
O que lhe dá dignidade não é levar o pão para casa. Você pode pegar o pão na Caritas, isso não lhe da dignidade, mas o que dá dignidade é ganhar o pão. Se não damos ao nosso povo, aos nossos homens e mulheres a capacidade de ganhar o pão, isso é uma injustiça social naquele local, naquela nação, naquele continente. Os governantes devem dar a todos a possibilidade de ganhar o pão, pois ganhar o pão dá dignidade. O trabalho é uma unção de dignidade. Isso é importante.
A seguir, Francisco ressaltou que “muitos jovens, muitos pais e mães vivem o drama de não ter um emprego que lhes permita viver serenamente. Vivem o dia”.
Muitas vezes a procura de um trabalho torna-se tão dramática que são levados ao ponto de perderem toda a esperança e desejo de vida. Nestes tempos de pandemia, muitas pessoas perderam os empregos e algumas, esmagadas por um fardo insuportável, chegaram ao ponto de cometer suicídio. Gostaria hoje de lembrar cada uma delas e suas famílias.
A seguir, o Papa pediu aos fiéis para fazerem um minuto de silêncio a fim de recordar as pessoas desesperadas porque não encontram trabalho.
Segundo o Pontífice, “não se leva suficientemente em conta o fato de o trabalho ser uma componente essencial da vida humana, e também do caminho da santificação. O trabalho não é apenas um meio de ganhar a vida: é também um lugar onde nos expressamos, nos sentimos úteis e aprendemos a grande lição da realidade, o que ajuda a vida espiritual a não se tornar espiritualismo. Infelizmente, porém, o trabalho com frequência é refém da injustiça social e, em vez de ser um meio de humanização, torna-se uma periferia existencial. Muitas vezes me pergunto: com que espírito fazemos o nosso trabalho diário? Como lidamos com a fadiga? Vemos a nossa atividade ligada apenas ao nosso destino ou também ao destino dos outros? Com efeito, o trabalho é um modo de expressar a nossa personalidade, que é relacional por natureza. E o trabalho também é uma forma de expressar nossa criatividade: cada um trabalha à sua maneira, com seu próprio estilo; o mesmo trabalho, mas com um estilo diferente”.
“É bom pensar que o próprio Jesus trabalhou e aprendeu esta arte com São José. Hoje devemos perguntar-nos o que podemos fazer para recuperar o valor do trabalho; e que contribuição podemos, como Igreja, oferecer para que ele possa ser resgatado da lógica do mero lucro e possa ser vivido como direito e dever fundamental da pessoa, que exprime e incrementa a sua dignidade”, concluiu o Papa.