Um agradecimento pelos 50 anos de atividades culturais e caritativas, mas sobretudo pelo serviço presado na Basílica de São Pedro e durante as celebrações litúrgicas papais, e algumas indicações para o futuro. O Papa Francisco concentrou-se nestes dois pontos no seu discurso, na manhã deste sábado (08/01), aos membros da Associação Santos Pedro e Paulo, reunidos na Sala Paulo VI com as suas famílias, e que celebraram o seu 50º aniversário no ano passado.

“É belo ver que, neste meio século de vida, vocês passaram de ‘guardas de honra do palácio’ à honra de estar ‘ao serviço’ da humanidade peregrina, dando assim um testemunho especial de vida cristã, de apostolado e de fidelidade à Sé Apostólica”, disse o Papa, referindo-se ao passado da Associação, fundada em 1971 por vontade de Paulo VI para recolher o legado de ideais da Guarda Palatina de Honra, após a dissolução, no ano anterior, do corpo armado papal. Depois Francisco destacou os serviços diários prestados pelos membros do organismo constituído segundo as normas do Código de Direito Canônico:

Através dos seus serviços diários vocês se tornam artesãos do encontro, levando o calor da bondade de Jesus àqueles que entram na Basílica de São Pedro, àqueles que precisam de uma indicação, àqueles que precisam de um sorriso para se sentirem em casa.

A exortação a continuar no tempo da pandemia

Para que o “precioso serviço” dos membros da Associação Santos Pedro e Paulo “possa continuar a ser um testemunho” para aqueles que se relacionem com eles, “num contexto que ainda sentirá os efeitos da pandemia”, Francisco exorta a recomeçar “com mais humanidade, olhando para Jesus, com esperança no coração”. Desenvolvendo o seu convite, o Papa sugere “fazer tesouro do que se viveu neste período, levando em conta que todos nós mudamos um pouco. “E, espero, melhorados, acrescenta, “mas sempre prontos a servir de acordo com o lema de sua Associação, ‘Fide constamus avita’: ‘Vamos perseverar firmemente na fidelidade dos nossos pais'”. Francisco insiste então no fato de a pandemia nos ter conscientizado de que “o que realmente conta para a vida são as relações humanas”, que “todos sentimos a necessidade de nos amarmos uns aos outros, de vivermos mais unidos, de ouvirmos palavras boas e encorajadoras dirigidas a nós e, por sua vez, de doa-las com um estilo de vida cheio de esperança”, e por esta razão Francisco encoraja “a continuar a mostrar este rosto”. Então o Papa explica o que significa para a associação olhar para Jesus:

A sua Associação sempre propôs a vida de Jesus como o estilo de vida plenamente humano, o ponto de referência e o fundamento para o homem de todos os tempos e, portanto, também para o homem de hoje. Mas, ainda mais agora, queremos dar testemunho da nossa fé, proclamando que a nossa vida concreta encontra a sua raiz na humanidade de Jesus.

Para Francisco, é precisamente olhando para Jesus que “nos sentimos cada vez mais chamados a um serviço diário feito de acolhimento, partilha, escuta fraterna, proximidade humana”, mostrando assim, “com fatos, a beleza e a força do Evangelho”. Finalmente, o Papa recomenda que “nunca deve faltar esperança no caminho do crente” e continua:

Nós somos de Cristo, somos enxertados n’Ele através do Batismo; em nós há a Sua presença, há a Sua luz, há a Sua vida. Caminhemos, portanto, sustentados pela sua Palavra: é a Palavra de vida. Caminhemos com alegria e esperança, sabendo que o Senhor nunca deixará de apoiar o nosso compromisso para com o bem.

Convite aos jovens

E mais uma vez dirige-se aos jovens de uma forma especial:

Encorajo vocês a doarem as suas energias àqueles que precisam, e a tornarem-se homens capazes de verdadeiros e sinceros encontros.

Oração a Maria

Francisco termina o seu discurso confiando a Associação Santos Pedro e Paulo a Maria e recitando juntamente com os presentes a oração da Associação à Virgem Maria:

Virgem Santa e nossa terníssima Mãe, que sempre foste fiel a Deus no heroico cumprimento da tua sublime missão, obtém para nós, te pedimos, para que, seguindo o teu exemplo, também nós possamos permanecer fiéis em todos os acontecimentos da vida, à nossa vocação cristã e aos sinais da divina graça.

Assumimos compromissos sacrossantos com o nosso Deus: que a nossa fé, minada e combatida por todos os lados, nunca vacile.

Somos filhos da Igreja: concede que, firmes no nosso ardente amor pela própria Igreja e na devota obediência à sua Cabeça visível, seja nossa glória trabalhar arduamente e generosamente sofrer. Assim, com a tua ajuda, ó Virgem Maria, tendo cumprido o nosso dia terreno, mereceremos a coroa imortal no céu. Amém.

Virgo Fidelis, ora pro nobis.

Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, na manhã desta sexta-feira (07/01), no Vaticano, um grupo de empresários franceses que veio a Roma em peregrinação sobre o tema do bem comum.

“Acho muito bonito e corajoso que, no mundo de hoje, muitas vezes marcado pelo individualismo, pela indiferença e até mesmo pela marginalização das pessoas mais vulneráveis, alguns empresários e dirigentes empresariais tenham no coração o serviço de todos e não apenas de interesses privados ou de círculos restritos. Não tenho dúvidas de que isso seja um desafio para vocês”, sublinhou Francisco.

A seguir, Francisco compartilhou com os empresários alguns ensinamentos do Evangelho, para ajudá-los a cumprir o seu papel de líderes segundo o coração de Deus. Usou os binômios ideal e realidade, e autoridade e serviço, conceitos que parecem estar sempre em tensão, mas que o cristão, auxiliado pela graça, pode unificar em sua vida.

O cristão vive uma colisão entre o ideal e a realidade

Ideal e realidade. Muitas vezes o cristão vive uma colisão entre o ideal com o qual sonha e a realidade que encontra. O Papa recordou a passagem bíblica em que Maria dá à luz o Filho de Deus na pobreza de um estábulo. A gente sempre espera que tudo corra bem, mas depois chega um problema inesperado e cria-se um choque doloroso entre expectativas e realidade.

A busca do bem comum é um motivo de preocupação para vocês, um ideal, no contexto de suas responsabilidades profissionais. O bem comum é certamente um elemento decisivo em seu discernimento e em suas escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas econômicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade. Imagino que, às vezes, sua tarefa pesa sobre vocês, que sua consciência entra em conflito quando o ideal de justiça e de bem comum que vocês imaginavam alcançar não foi realizado, e que a dura realidade se apresenta a vocês como uma falta, um fracasso, um remorso, um choque.

“Diante do “escândalo da manjedoura” Maria não desanimou, não se rebelou, mas reagiu protegendo e meditando em seu coração, demonstrando uma fé adulta, que se fortalece na provação”, disse ainda o Papa.

A missão do empresário cristão se assemelha à do pastor

Com o segundo binômio, autoridade e serviço, o Pontífice recordou a passagem bíblica em que os Apóstolos discutem sobre quem é o maior entre eles. Jesus intervém, dizendo: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”.

Segundo Francisco, “a missão do empresário cristão se assemelha, em muitos aspectos, à do pastor, de quem Jesus é o modelo, e que sabe ir na frente do rebanho para indicar o caminho, sabe ficar no meio do rebanho para ver o que está acontecendo, e sabe ficar atrás, para garantir que ninguém perca o contato”.

Muitas vezes exortei padres e bispos a terem “o cheiro das ovelhas”, a mergulharem na realidade daqueles que lhes foram confiados, a conhece-los, a estar perto deles. Acredito que este conselho vale também para vocês! Portanto, os encorajo a estarem próximos daqueles que colaboram com vocês em todos os níveis: a se interessarem por suas vidas, a estarem conscientes de suas dificuldades, sofrimentos, angústias, mas também de suas alegrias, projetos e esperanças.

“Exercer a autoridade como um serviço requer compartilhá-la”, disse ainda o Papa. “Embora o exercício da autoridade exija a tomada de decisões corajosas e por vezes na primeira pessoa, a subsidiariedade permite a cada um dar o melhor de si, sentir-se envolvido, assumir a sua parte de responsabilidade e contribuir para o bem de todos. Sei que o Evangelho pode ser exigente e difícil de ser vivido num mundo profissional e competitivo. No entanto”, concluiu Francisco, “convido-os a manterem o olhar fixo em Jesus Cristo, com a sua vida de oração e oferta de seu trabalho quotidiano”.

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