“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa.” (Mateus 6,3-4)
Santo Agostinho, referindo-se a este trecho da Sagrada Escritura, explica que “fechar a porta para orar em segredo” não significa apenas fechar a porta material da própria casa, por exemplo, mas, principalmente, fechar a porta da vontade própria e de todas as coisas: negócios, preocupações, cuidados e desejos que nos separam de Deus para unir-se intimamente a Ele.
Isso é maravilhoso! Mas fico pensando como colocar isso em prática diante de uma vida tão corrida, como a maioria de nós temos? E quando, por exemplo, estamos sem vontade nem ânimo para rezar? A resposta é esta: reze como conseguir, mas reze!
Eu mesma, várias vezes, rezo o terço no metrô, indo para o trabalho, e vou tentando, durante o dia, alimentar minha intimidade com Deus em meio às atividades. É ótimo quando consigo me retirar para “fechar a porta e orar em segredo”, mas isso nem sempre é possível. Então, vou lutando para rezar como posso, porque vida de oração é uma conquista diária, e como nenhuma conquista é isenta de lutas, também é preciso lutar para ser orante.
Aliás, Santa Teresa de Jesus afirma, em sua autobiografia, que oração e vida cômoda não combinam em nada, e lembra ainda que uma das maiores vitórias do demônio é convencer alguém de que não precisa rezar. Ou seja, quando o assunto é vida de oração, é preciso ter consciência de que se trata de uma luta espiritual e, para vencê-la, o único caminho é rezar, com ou sem vontade, seja em um lugar reservado ou não. Deus, que conhece o nosso coração, anseia para estar em intimidade conosco, mas também nos acolhe enquanto estamos a caminho.
Senhor, eu Te agradeço, porque és um Deus bom e misericordioso, e peço que convertas meu coração para que nada me separe de Ti. Renova em minha alma, neste dia, e a sede por estar em Tua presença, e ajuda-me a priorizar a oração em minha vida. Sim, eu sei que posso e devo fazer escolhas que favoreçam meu encontro Contigo. Ajuda-me a colocar este propósito em prática. Amém!
Canção Nova
O Papa Francisco conduziu a oração do Angelus ao meio-dia deste domingo – o I Domingo do Advento – com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro. Na alocução que precedeu a oração mariana, comentando o Evangelho da liturgia do dia ressaltou-nos que o mesmo nos fala da vinda do Senhor no final dos tempos.
“Jesus anuncia eventos desoladores e tribulações, mas justamente neste ponto nos convida a não ter medo. Por quê? Porque tudo vai correr bem? Não, mas porque Ele virá, disse Francisco destacando uma passagem do Evangelho:
Ele diz: “Erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação” (Lc 21,28). É bom ouvir esta palavra de encorajamento: erguei-vos e levantai a cabeça porque é justamente nos momentos em que tudo parece estar acabado que o Senhor vem para nos salvar; esperá-lo com alegria mesmo em meio às tribulações, nas crises da vida e nos dramas da história.
Mas como levantar a cabeça, como não nos deixarmos absorver por dificuldades, pelos sofrimentos, pelas derrotas? – perguntou o Santo Padre.
Jesus nos mostra o caminho com um forte apelo: “Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados. Ficai acordados, portanto, orando em todo momento”. “Ficai acordados”: a vigilância. Detenhamo-nos sobre este importante aspecto da vida cristã, convidou o Pontífice.
Pelas palavras de Cristo, vemos que a vigilância está ligada à atenção: cuidado, não se distraiam, ou seja, fiquem acordados! Vigilar significa isto: não permitir que o coração se torne preguiçoso e que a vida espiritual se enfraqueça na mediocridade. Ter cuidado porque se pode ser “cristãos adormecidos”, sem impulso espiritual, sem ardor na oração, sem entusiasmo pela missão, sem paixão pelo Evangelho. E isto leva a “adormecer”: a continuar com as coisas por inércia, a cair na apatia, indiferentes a tudo, exceto ao que nos convém.
Precisamos estar vigilantes para não arrastar nossos dias para o hábito, para não nos fazer ficar pesados – diz Jesus – pelas preocupações da vida. Hoje, então – prosseguiu -, é uma boa oportunidade para nos perguntarmos: o que pesa no meu espírito? O que me faz acomodar na poltrona da preguiça? Quais são as mediocridades que me paralisam, os vícios que me esmagam até o chão e me impedem de levantar a cabeça? E com relação aos fardos que pesam sobre os ombros dos irmãos, estou atento ou indiferente?
Estas perguntas nos fazem bem, porque ajudam a proteger o coração da preguiça, que é um grande inimigo da vida espiritual. Ela é aquela preguiça que nos mergulha na tristeza, que nos tira o gosto de viver e o desejo de fazer. É um espírito negativo, maligno que aprisiona a alma no torpor, roubando-lhe a alegria. O Livro dos Provérbios diz: “Guarda teu coração, porque dele brota a vida” (Pr 4,23). Custodiar o coração: isso significa vigilar!
E acrescentemos um ingrediente essencial: o segredo para estar vigilante é a oração. Pois Jesus diz: “Vigiai em todo momento orando” (Lc 21,36). É a oração que mantém acesa a lâmpada do coração. Especialmente quando sentimos que nosso entusiasmo esfriou, a oração reacende-o, porque nos traz de volta a Deus, ao centro das coisas. Ela desperta a alma do sono e a concentra no que importa, sobre o fim da existência. Mesmo nos dias mais movimentados, não negligenciamos a oração.
A oração do coração pode nos ajudar, repetindo frequentemente pequenas invocações. No Advento, acostumemo-nos a dizer, por exemplo: “Vem, Senhor Jesus”. Repitamos esta oração ao longo do dia: a alma permanecerá vigilante!
Vatican News