Diante da revolução que afeta “os nós essenciais da existência humana”, é necessário fazer um “esforço criativo” e “repensar a presença do ser humano no mundo”. Na mensagem de vídeo para a Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, divulgada nesta terça-feira (23/11), dedicada ao humanismo necessário, o Papa indica a necessidade de responder às muitas questões colocadas pela pandemia, primeiramente aquelas “fundamentais da existência: a questão de Deus e do ser humano”:
De fato, neste momento da história, precisamos não apenas de novos programas econômicos ou novas receitas contra o vírus, mas sobretudo de uma nova perspectiva humanista, baseada na Revelação bíblica, enriquecida pela herança da tradição clássica, assim como pelas reflexões sobre a pessoa humana presentes em diferentes culturas.
O fim das ideologias e humanismo profano
Francisco cita Paulo VI. Era o final de 1965 e do Concílio Vaticano II, quando o Papa Montini convidou a humanidade, que com o seu humanismo secular profano desafiou a visão cristã e permaneceu fechada à transcendência, “a reconhecer o nosso novo humanismo”. Desde então, passaram-se cerca de 60 anos, e daquele humanismo secular permaneceu a lembrança:
Em nossa época marcada pelo fim das ideologias, ele parece ter sido esquecido, parece ter sido enterrado diante das novas mudanças trazidas pela revolução informática e o incrível desenvolvimento das ciências, que nos obrigam a repensar o que é o ser humano. A questão do humanismo decorre desta pergunta: o que é o homem, o ser humano?
As indicações da Gaudium et spes
Este momento, que Francisco define como “líquido ou gasoso” e animado pela “fluidez da visão cultural contemporânea”, a referência continua sendo a Constituição Conciliar ‘Gaudium et spes’, que indica quanto ainda a Igreja tem a dar ao mundo e que “impõe reconhecer e avaliar, com confiança e coragem, as conquistas intelectuais, espirituais e materiais que surgiram desde então em vários setores do conhecimento humano”:
Hoje, está em andamento uma revolução – sim, uma revolução – que toca os nós essenciais da existência humana e requer um esforço criativo de pensamento e ação. Ambos. Há uma mudança estrutural na forma de entender o gerar, o nascer e o morrer. A especificidade do ser humano em toda a criação, sua singularidade em relação aos outros animais, e até mesmo sua relação com as máquinas, estão sendo postas em questão.
O homem como servidor da vida
Sem ceder à crítica e à negação, ressalta ainda Francisco, é hora de pensar “na presença do ser humano no mundo à luz da tradição humanista: como servidor da vida e não como seu patrão, como construtor do bem comum com os valores da solidariedade e da compaixão”. Portanto, além da questão sobre Deus, há outra questão hoje, que diz respeito ao ser humano e sua identidade:
A Sagrada Escritura nos oferece as coordenadas essenciais para traçar uma antropologia do ser humano em sua relação com Deus, na complexidade das relações entre homem e mulher e na ligação com o tempo e o espaço em que vive.
A fusão “entre a sabedoria antiga e a bíblica continua sendo um paradigma ainda fecundo”. Entretanto, o humanismo bíblico e clássico, hoje, deve abrir-se ao que outras culturas e outras tradições humanistas podem dar. Tudo isso, conclui o Papa, torna-se “o melhor instrumento para abordar as inquietantes questões sobre o futuro da humanidade”, já que o mundo, hoje mais do que nunca, “precisa redescobrir o significado e o valor do humano em relação aos desafios que devem ser enfrentados”.