A 34ª viagem internacional do Papa Francisco, que marca a etapa de 54 países visitados em todo o mundo, pretende ser “uma peregrinação ao coração da Europa, durante a qual o Papa abordará temas que interessam todo o continente”, mas, sobretudo, quer ser “uma viagem espiritual”, que começa com a adoração da Eucaristia e termina com a invocação orante a Nossa Senhora das Dores que, neste século, nunca deixou de zelar pelas terras eslavas feridas pelo totalitarismo. Nessas breves frases do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, se condensam os quatro dias que Francisco viverá de 12 a 15 deste mês, primeiro em Budapeste, para celebrar o encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, depois na Eslováquia com uma etapa na capital Bratislava e em outras três cidades: Prešov, Košice e Šaštin.
O encontro com as autoridades húngaras
Uma viagem com uma forte conotação espiritual. Por isso, é bom “evitar misturar leituras de outro tipo com as mais espirituais”, disse Bruni, em resposta a algumas perguntas de jornalistas reunidos na Sala de Imprensa da Santa Sé para a coletiva de apresentação da viagem. As perguntas se concentraram no encontro do Papa com o primeiro-ministro, Viktor Orbán, na manhã de domingo, antes da missa na Praça dos Heróis. “É um encontro com as mais altas autoridades do país e, obviamente, dentre elas está também Orban”, disse Bruni, explicando que a presença do primeiro-ministro com sua família na missa papal “será confirmada pelos húngaros”.
Uma peregrinação em honra da Eucaristia
“É uma peregrinação em honra do Santíssimo Sacramento”, frisou o porta-voz vaticano, lembrando que a gênese desta viagem remonta ao desejo do Papa de estar perto das centenas de homens e mulheres que, desde domingo passado, participam do Congresso Eucarístico. De presidir a missa final, chamada Statio Orbis, ou seja, a Missa que simbolicamente reúne e une toda a Igreja de Cristo e expressa a unidade cristã.
As viagens de João Paulo II
“A Hungria abriu suas portas à Eslováquia”, recordou Bruni. O Papa, na coletiva de imprensa do voo de retorno do Iraque, em março, revelando o processo interno que acompanha a escolha dos lugares a serem visitados, explicou que foi aconselhado por um de seus colaboradores a ir de Budapeste a Bratislava que fica a “duas horas de carro”. Uma curta etapa hipotética que se transformou numa viagem de setenta e duas horas nas principais cidades desta região da Europa Centro-Oriental, muitas das quais visitadas por João Paulo II em três viagens: em 1990, em 1995 e em 2003, dois anos antes de sua morte.
Depois, da parte de Wojtyla, teve o chamado à Igreja e às comunidades cristãs para participarem da reconstrução de uma sociedade que lentamente se erguia dos horrores do nazismo e dos “erros e sofrimentos” do regime comunista. Um cenário certamente diferente do que Francisco encontrará na próxima semana. Todavia, “os povos e as terras são os mesmos” e as feridas daqueles anos sombrios ainda pesam no coração de muitos homens e mulheres. “O Papa visita povos que sofreram um regime repressivo da fé e da liberdade religiosa”, com bispos, sacerdotes, religiosas, leigos encarcerados, torturados, martirizados, padres ordenados secretamente nas fábricas onde trabalhavam, mas também “cristãos orgulhosos de terem resistido, às vezes até ao sangue, ao mal e às perseguições”.
Histórias de martírio
No contexto dessas histórias de martírio, em que figuras como a do cardeal húngaro József Mindszenty ou do cardeal eslovaco Ján Chryzostom Korec brilham entre os pilares da Igreja clandestina eslovaca, o Papa quer voltar o olhar “ao futuro da evangelização e da missão”. E para fazer isso, ele quis sobretudo os jovens ao seu lado, depois os representantes de outras confissões cristãs e de outras religiões, que encontrará durante um intenso programa marcado por sete discursos, três homilias, uma saudação e um Angelus, todos pronunciados em italiano.
Ecumenismo e diálogo inter-religioso
“O sofrimento e o martírio uniram, mas também dividiram as diferentes confissões. Por isso os encontros ecumênicos são importantes”, observou Bruni. Ambos se realizarão no primeiro dia, domingo, 12 de setembro: o primeiro pela manhã com os representantes do Conselho Ecumênico de Igrejas, em Budapeste, no Museu de Belas Artes; o outro, à tarde, na Nunciatura de Bratislava. Tão importante nesta viagem papal, destacou o porta-voz, é o encontro com as comunidades judaicas, também herdeiras de uma longa história de sofrimentos agravados pelas deportações do regime nazista. Uma comunidade que foi reduzida a 20 mil membros depois da guerra, e antes contava 136 mil membros. Destes, 15 mil viviam em Bratislava até 1940, e apenas 3.500 sobreviveram, vendo seu patrimônio arquitetônico ser destruído após a Segunda Guerra Mundial e encontrando indiferença e hostilidade. Apenas as mudanças políticas após a queda do comunismo em 1989 levaram ao renascimento da vida judaica. O que o Papa encontrará em 13 de setembro na Praça Rybné námestie, onde se encontra um memorial da Shoah, será de fato uma comunidade muito ativa, promotora de atividades religiosas, culturais e educacionais.
Medidas de saúde após a operação
Além dos eventos e temas da viagem, Matteo Bruni também respondeu às perguntas dos jornalistas sobre as medidas especiais de saúde planejadas durante a viagem, após a recente cirurgia de cólon do Papa em 4 de julho: “Não há medidas particulares, mas a cautela de sempre. Como de costume, há um médico e algumas enfermeiras a bordo”, disse. E a bordo, na comitiva papal, estarão presentes os chefes da Secretaria de Estado: cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado; o substituto, Edgar Peña Parra, e o secretário das Relações com os Estados, mons. Paul Richard Gallagher. Presentes também os cardeais Leonardo Sandri, prefeito da Congregação das Igrejas Orientais, e Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Conforme a tradição, na comitiva papal estará também um funcionário do Vaticano, desta vez do Governatorato.
Restrições contra a Covid
Quanto às medidas contra a Covid durante a viagem (segundo dados não oficiais, há 200 casos de infecções por dia na Eslováquia), e a abolição da obrigação do certificado de vacina para participar nas celebrações do Pontífice, Bruni esclareceu: “São decisões das autoridades locais. Imagino que tenham tomado todas as medidas necessárias”.
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