“O Evangelho é um só” foi o tema da terceira catequese do Papa dedicada à Carta aos Gálatas. Nas duas catequeses anteriores, o Papa inaugurou o novo ciclo comentando as dificuldades enfrentadas pelo discípulo na obra de evangelização na Galácia.
Paulo apresenta-se simplesmente como servo de Jesus Cristo, escolhido para ser apóstolo, reservado para anunciar o Evangelho de Deus e não pode fazer outra coisa senão dedicar-se com todas as suas forças a esta missão.
Jovem comunidade deixava-se enganar
“Portanto – comenta Francisco – compreende-se a tristeza, a desilusão e até a amarga ironia do Apóstolo em relação aos Gálatas, que aos seus olhos tomam um caminho errado, que os levará a um ponto de não retorno”. “O eixo em torno do qual tudo gira é o Evangelho”. Para Paulo, o Evangelho é o que ele prega, o querigma, o anúncio da morte e ressurreição de Jesus como fonte de salvação. Um Evangelho que se exprime com quatro verbos: ‘Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu no terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas’.
Assim, diante de um dom tão grande que foi dado aos Gálatas, o Apóstolo não consegue explicar porque eles pensam em aceitar outro “evangelho”. “Contudo – continua Francisco – devemos notar que estes cristãos ainda não abandonaram o Evangelho anunciado por Paulo. O Apóstolo sabe que eles ainda estão a tempo de não dar um passo falso, mas admoesta-os com vigor”.
“O Apóstolo não pode arriscar que se criem compromissos num terreno tão decisivo. O Evangelho é um só e é aquele que ele anunciou; não pode haver outro”
O Evangelho é o de Jesus Cristo
“Atenção! – esclarece o Pontífice – Paulo não diz que o verdadeiro Evangelho é o seu, porque foi ele que o anunciou, não! Isto seria presunçoso, seria vanglória. Aliás, afirma que o ‘seu’ Evangelho, o mesmo que os outros Apóstolos anunciavam noutros lugares, é o único autêntico, porque é o de Jesus Cristo”. Assim escreve:
“Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo (Gl 1, 11)”
Paulo usa termos duros, usa duas vezes a expressão “anátema” que indica a exigência de manter afastado da comunidade aquilo que ameaça os seus fundamentos. E conclui: “quando se fala do Evangelho e da sua possível deturpação, não se transige: a fé em Jesus não é uma mercadoria a negociar”.
Fiéis movidos por bons sentimentos
Francisco explica que “esta situação descrita no início da Carta parece paradoxal, pois todos os sujeitos em questão parecem ser animados por bons sentimentos”. Os Gálatas que ouvem os novos missionários (…) pensam que assim serão ainda mais agradáveis a Paulo. Os inimigos de Paulo parecem ser animados pela fidelidade à tradição, (…) e justificam até as insinuações e suspeitas a respeito de Paulo, considerado pouco ortodoxo no que se refere à tradição. Porém:
“O próprio Apóstolo está bem consciente de que a sua missão é de natureza divina e, por isso, é movido por um entusiasmo total pela novidade do Evangelho. A sua ansiedade pastoral leva-o a ser severo, porque vê o grande risco que os jovens cristãos enfrentam”
Por fim Francisco recorda a todos a importância de saber discernir:
“Muitas vezes vimos na história, e também o vemos hoje, alguns movimentos que pregam o Evangelho à sua maneira, às vezes com seus verdadeiros carismas; mas depois exageram e reduzem todo o Evangelho ao ‘movimento’. E este não é o Evangelho de Cristo: este é o Evangelho do fundador, da fundadora, e isto, sim, pode ajudar no início, mas no final não dá frutos com raízes profundas“, adverte o Papa, e conclui:
“Em síntese, neste labirinto de boas intenções é necessário desenvencilhar-se para compreender a verdade suprema que se apresenta como a mais coerente com a Pessoa e a pregação de Jesus e com a sua revelação do amor do Pai. Por isso, a palavra clara e decisiva de Paulo foi saudável para os Gálatas e é salutar também para nós”.
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