Além de um exemplo de seguimento ao Cristo, os santos nos deixaram verdadeiros mapas para guiar-nos até a santidade plena.
O bom senso nos diz que a melhor maneira de aprender a cozinhar é com um grande cozinheiro. Quer saber trabalhar com madeira? Tenha como professor um bom marceneiro. Quer ser santo? Aprenda com aqueles que, “tendo ensinado a muitos o caminho da justiça, resplandecerão como as estrelas eternamente” (Dn 12,3).
Aqueles que desenvolveram a Ciência dos Santos têm, em primeiro lugar, o desejo de que nos santifiquemos e alcancemos a eterna glória, da qual eles mesmos já são participantes. Para isso, eles nos iluminam, intercedem por nós junto a Deus e deixaram, na Terra, vários testemunhos práticos que devemos conhecer e seguir.
Infelizmente, tendemos a olhar para os santos em seu estado último de santidade reconhecida, e por isso desanimamos. Assim, entre os milagres que realizaram, a conduta perfeita que tinham, o seguimento exato do Evangelho que praticavam e a nossa vida atual, abre-se um imenso abismo. Eles permanecem no altar e nós abaixo, muito abaixo deles.
Vale a pena conhecer mais de perto os relatos da vida deles, para ver como eles trilharam o caminho da perfeição espiritual, como venceram cada etapa e, para o propósito específico desta série de artigos, o que eles nos ensinam sobre o caminho de santidade.
É consolador saber que o padroeiro das missões, São Francisco Xavier, antes de ser santo, só queria levar uma vida de honra e prestígios humanos em Paris, e se incomodava profundamente toda vez que (São) Inácio de Loyola citava-lhe a Palavra do Senhor: “De que se aproveitará o homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a própria alma” (Mc 8,36). Ficava tão incomodado a ponto de reclamar da presença de Inácio, e procurar evitá-lo sempre que possível.
Santa Teresinha relata como teve que vencer sua sensibilidade excessiva e seu histórico de filha mimada. Santa Elisabeth da Trindade conta como foi obrigada a controlar seu temperamento explosivo, se queria realmente amar a Deus com todas as suas forças. Esforços humanos e ascéticos para desenvolver-se na santidade.
Se o conhecimento da vida dos santos nos permitem seguir suas pegadas (Ct 1, 8) rumo à santidade e escolher (ou ser escolhidos) por aqueles que nós nos assemelhamos em caráter e dificuldades, alguns de seus escritos construíram verdadeiras estradas pavimentadas para alcançar Deus. Sobre esses retornaremos inúmeras vezes nesta série “Caminho Espiritual e as Moradas“, e utilizaremos seus ensinamentos sistematicamente.
Santa Teresa de Jesus, no seu livro “Castelo Interior ou Moradas”, estabeleceu o caminho da conversão até a plena união com Deus em sete níveis ou moradas, e conseguiu dar toda a dimensão do caminho de santidade, comparando a nossa alma a um castelo. Assim, se a Teologia Ascético-Mística já havia definido que existiam duas grandes etapas: uma primeira etapa ascética e uma segunda etapa mística, com Santa Teresa ficou claro em quantas “moradas” se compõem nossa vida espiritual e as três primeiras moradas pertencem a etapa ascética, e a partir da quarta morada inicia-se a etapa mística.
Não podemos deixar de citar o importantíssimo trabalho dos padres e teólogos (majoritariamente dominicanos) do início do século XX, que conseguiram reunir e relacionar toda a tradição dos diversos caminhos de santidade com a teologia de Santo Tomás de Aquino e a obra dos místicos carmelitas. São eles: Reginald Garrigou-Lagrange, Antonio Royo-Marin, Juan Arintero, Adolphe Tanquerey etc.; várias de suas obras são publicadas ainda hoje, e também nos ajudam a construir esse mapa para a santidade.
Assim, utilizaremos o Castelo Interior como a base que nos dá a dimensão de cada morada, ou seja, de cada etapa da vida espiritual, mas várias outras experiências-metáforas serão utilizadas para o pleno entendimento de cada morada, e também para que possamos compreender o caminho que nos leva à plena união com Deus. Mais do que um convite a compreender, trata-se de um convite para viver em plena santidade.
Aos que já se decidiram por chegar ao cume da perfeição com o sustento da graça de Deus, convido para esperar ativamente o próximo artigo onde entraremos no “Castelo Interior da Alma ou Moradas”. Ativamente, pois ao dirigir-se Àquele que é três vezes Santo, só caminham verdadeiramente os que se decidiram a abandonar de vez o pecado e todas as suas manifestações. Assim, prepare-se fazendo um excelente e completo exame de consciência, frequente com eficácia o Sacramento da Penitência. Desse modo, quando menos esperarmos, já estaremos indo ao encontro do Senhor do Castelo.
Canção Nova
“O Evangelho é um só” foi o tema da terceira catequese do Papa dedicada à Carta aos Gálatas. Nas duas catequeses anteriores, o Papa inaugurou o novo ciclo comentando as dificuldades enfrentadas pelo discípulo na obra de evangelização na Galácia.
Paulo apresenta-se simplesmente como servo de Jesus Cristo, escolhido para ser apóstolo, reservado para anunciar o Evangelho de Deus e não pode fazer outra coisa senão dedicar-se com todas as suas forças a esta missão.
“Portanto – comenta Francisco – compreende-se a tristeza, a desilusão e até a amarga ironia do Apóstolo em relação aos Gálatas, que aos seus olhos tomam um caminho errado, que os levará a um ponto de não retorno”. “O eixo em torno do qual tudo gira é o Evangelho”. Para Paulo, o Evangelho é o que ele prega, o querigma, o anúncio da morte e ressurreição de Jesus como fonte de salvação. Um Evangelho que se exprime com quatro verbos: ‘Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu no terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas’.
Assim, diante de um dom tão grande que foi dado aos Gálatas, o Apóstolo não consegue explicar porque eles pensam em aceitar outro “evangelho”. “Contudo – continua Francisco – devemos notar que estes cristãos ainda não abandonaram o Evangelho anunciado por Paulo. O Apóstolo sabe que eles ainda estão a tempo de não dar um passo falso, mas admoesta-os com vigor”.
“Atenção! – esclarece o Pontífice – Paulo não diz que o verdadeiro Evangelho é o seu, porque foi ele que o anunciou, não! Isto seria presunçoso, seria vanglória. Aliás, afirma que o ‘seu’ Evangelho, o mesmo que os outros Apóstolos anunciavam noutros lugares, é o único autêntico, porque é o de Jesus Cristo”. Assim escreve:
Paulo usa termos duros, usa duas vezes a expressão “anátema” que indica a exigência de manter afastado da comunidade aquilo que ameaça os seus fundamentos. E conclui: “quando se fala do Evangelho e da sua possível deturpação, não se transige: a fé em Jesus não é uma mercadoria a negociar”.
Francisco explica que “esta situação descrita no início da Carta parece paradoxal, pois todos os sujeitos em questão parecem ser animados por bons sentimentos”. Os Gálatas que ouvem os novos missionários (…) pensam que assim serão ainda mais agradáveis a Paulo. Os inimigos de Paulo parecem ser animados pela fidelidade à tradição, (…) e justificam até as insinuações e suspeitas a respeito de Paulo, considerado pouco ortodoxo no que se refere à tradição. Porém:
Por fim Francisco recorda a todos a importância de saber discernir:
“Muitas vezes vimos na história, e também o vemos hoje, alguns movimentos que pregam o Evangelho à sua maneira, às vezes com seus verdadeiros carismas; mas depois exageram e reduzem todo o Evangelho ao ‘movimento’. E este não é o Evangelho de Cristo: este é o Evangelho do fundador, da fundadora, e isto, sim, pode ajudar no início, mas no final não dá frutos com raízes profundas“, adverte o Papa, e conclui:
“Em síntese, neste labirinto de boas intenções é necessário desenvencilhar-se para compreender a verdade suprema que se apresenta como a mais coerente com a Pessoa e a pregação de Jesus e com a sua revelação do amor do Pai. Por isso, a palavra clara e decisiva de Paulo foi saudável para os Gálatas e é salutar também para nós”.
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