A devoção a Nossa Senhora se manifesta, na Igreja Católica, sob os mais diversos títulos. É praticamente incontável o número de títulos atribuídos a Santíssima Virgem Maria. Em cada país, Ela é invocada das mais diversas formas, com nomes diferentes, conforme a fé e a devoção do povo. Em muitos países, houve aparições de Nossa Senhora e, a partir destas, surgiram muitos outros títulos marianos. Para completar a lista, há também os títulos que derivam de um dos dogmas relativos a Virgem Maria.
A grande maioria dos títulos atribuídos a Virgem Maria tem sua origem na devoção popular. Na maioria das vezes, a devoção surge a partir de uma imagem de Nossa Senhora. A veneração de ícones de Maria remonta a era apostólica. Alguns ícones da Virgem são até mesmo atribuídos a São Lucas, considerado o pintor de Nossa Senhora. Dentre eles, alguns são muito conhecidos, como “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, a “Theotokos de Vladimir” e “Nossa Senhora de Czenstochowa”. Casa um desses ícones ressalta uma particularidade da Santíssima Virgem, que nos ajuda a conhecer melhor sua presença materna na Igreja e em nossa vida.
Para exemplificar como nasce a devoção popular, trazemos um caso mais recente: a devoção a Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Essa devoção surgiu, em 1700, na cidade de Ausburgo, na Alemanha. Um artista desconhecido pintou uma imagem da Virgem Maria, inspirado na célebre frase de Santo Irineu de Lião: “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé”1. Esse quadro foi, então, exposto para veneração na pequena igreja de Saint Peter am Perlach, em Ausburgo, onde permanece até hoje. Nessa igreja, começou a devoção a Nossa Senhora Desatadora dos Nós, que se espalhou pelo mundo todo, por causa de devoção popular.
Há muitos títulos que nasceram de aparições ou manifestações da Santíssima Virgem. Alguns desses nomes são muito conhecidos, outros menos, mas, de qualquer forma, expressam a fé e a devoção dos fiéis a Nossa Senhora, que se manifestou a eles de modo particular. Como exemplo, é significativo recordar dois títulos muito caros à devoção popular: Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora Aparecida.
Em 1917, aconteceram as aparições de Nossa Senhora, em Fátima, Portugal, aos três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. Estamos no ano jubilar, em comemoração dos 100 anos. Nelas, a Virgem Maria apresentou-se com o nome de Senhora do Rosário, de Senhora do Carmo e de Imaculado Coração. A partir das aparições, espalhou-se pelo mundo inteiro a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima, e fortaleceram-se as devoções a Nossa Senhora do Carmo e ao Imaculado Coração de Maria.
Em 1717, três pescadores encontraram uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição nas suas redes; primeiro, o corpo, depois a cabeça. Como todos sabem, depois seguiu-se a pesca milagrosa, de belos e grandes peixes, após horas a fio sem pegar nada. Aqueles simples pescadores perceberam que, naquele fato, havia uma ação sobrenatural. A partir de então, passaram a venerar a pequena imagem. A devoção daqueles pescadores se espalhou rapidamente, e cada vez mais pessoas passavam a visitar aquela pequena imagem, chamada, carinhosamente, de Nossa Senhora Aparecida.
Os títulos de Nossa Senhora, que tem sua origem nos dogmas marianos, são os menos numerosos. São apenas quatro. No entanto, não são menos importantes. Ao contrário, são particularmente importantes para a nossa fé. Esses dogmas foram proclamados justamente para firmar as bases da nossa fé.
O primeiro dos dogmas marianos é o da maternidade divina, proclamado solenemente pelo Terceiro Concílio Ecumênico, realizado em Éfeso, em 431, no qual a Virgem Maria é proclamada de Mãe de Deus. Num momento no qual muitos hereges negavam a divindade de Jesus, era necessário que a Igreja confirmasse a doutrina de que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe do Verbo de Deus encarnado, da segunda pessoa da Santíssima Trindade, e não apenas da humanidade de Jesus Cristo.
O segundo dogma é o da Virgindade Perpétua de Maria, que afirma a sua virgindade antes, durante e depois do parto. Essa doutrina, que já era dogma de fé, foi reafirmada solenemente no Concílio de Trento, no ano de 1555. No entanto, esses ensinamentos já faziam parte da doutrina dos Padres da Igreja, como São Justino, o Mártir e Orígenes.
O terceiro é o dogma da Imaculada Conceição de Maria, que define como fé da Igreja Católica a concepção de Nossa Senhora sem a mancha do pecado original. O dogma da Imaculada Conceição foi definido pelo Beato Papa Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, no dia 8 de dezembro de 1854.
Finalmente, o quarto é o dogma da Assunção de Maria. Este significa que devemos crer com fé católica que a Virgem Maria, ao fim de sua vida terrena, foi elevada de corpo e alma à glória dos Céus. Essa doutrina foi definida dogmaticamente pelo Papa Pio XII, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, no dia 1º de novembro de 1950.
Assim, vimos que os vários títulos marianos têm origens diferentes. Podem ter sua origem na devoção popular, nas aparições e manifestações de Nossa Senhora e nos dogmas marianos. Mas todos esses títulos têm algo em comum. Todos esses nomes dizem respeito a uma pessoa, que é a Santíssima Virgem Maria, a Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo. Desde os primórdios da Igreja Católica, a devoção a Virgem Maria, sob seus diversos títulos, ajuda-nos a perseverar na fé e combater as heresias.
Mais do que em outros tempos, precisamos invocar a Santíssima Virgem sob seus mais diversos títulos, para que a nossa fé não desfaleça. Sobre a importância da devoção a Nossa Senhora, o então Cardeal Joseph Ratzinger já dizia: “Hoje, neste confuso período, em que todo tipo de desvio herético parece se amontoar às portas da fé católica, compreendo que não se trata de exageros de almas devotas, mas de uma verdade mais forte do que nunca”2.
Nossa Senhora, vencedora de todas as heresias, rogai por nós!
1.PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 494. Cf. Santo Irineu de Lião, Adversus haereses, 3, 22, 4: SC 211, 442-444 (PG 7, 959-960).
Canção Nova