O Papa Francisco publicou neste mês de junho a sua Mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres. “Sempre tereis pobres entre vós” é a frase do Evangelho de S. Marcos que se apresenta como tema para este evento que se celebra neste ano 2021 no domingo 14 de novembro.

O gesto da mulher

Francisco recorda o episódio contado pelo evangelista Marcos “por ocasião duma refeição em Betânia”. “Entrou lá uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume muito precioso e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Este gesto suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas” – recorda o Santo Padre.

A primeira das interpretações foi “a indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, que, ao considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários, equivalente ao salário anual dum trabalhador), pensam que teria sido melhor vendê-lo e dar o produto aos pobres”. Uma reação interpretada sobretudo por Judas como relata o evangelista João.

“A segunda interpretação é dada pelo próprio Jesus e permite individuar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. Diz Ele: «Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em Mim uma boa ação»” – escreve Francisco assinalando que “esta forte «empatia» entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho”.

Sublinha o facto de as mulheres serem “protagonistas na história da revelação”, mas lamenta que “no decurso dos séculos” as mulheres tenham sofrido “violências” e tenham sido “tantas vezes discriminadas e mantidas ao largo dos postos de responsabilidade”.

Os pobres ensinam

“Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver” – diz o Papa.

Francisco afirma que os pobres “evangelizam-nos porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles «têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor”.

“É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” – realça ainda o Papa.

As palavras de Jesus “sempre tereis pobres entre vós” – segundo o Santo Padre – indicam que “a sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida que não prevê delegações. Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social” – escreve o Papa.

Processos de desenvolvimento

Na sua Mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres, o Papa recorda a existência de novas formas de pobreza e alerta para o perigo de uma “conceção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema económico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas”.

“Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias. Deste modo assiste-se à criação incessante de armadilhas novas da miséria e da exclusão, produzidas por agentes económicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido humanitário e responsabilidade social” – declara o Santo Padre.

Francisco lembra que a pandemia de covid-19 foi “portadora de pobreza” num número que tem “aumentado desmesuradamente”. Assinala, contudo, que “a solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura”.

Mas, “permanece de pé uma questão” – interroga-se o Papa: “Como se pode dar uma resposta palpável aos milhões de pobres que tantas vezes, como resposta, só encontram a indiferença, quando não a aversão?”

Para Francisco “um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza” e esta torna-se numa “consequência do egoísmo”. Assim, para o Santo Padre, é importante “dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem as capacidades de todos, para que a complementaridade das competências e a diversidade das funções conduzam a um recurso comum de participação”.

Para o Papa, “há muitas pobrezas dos «ricos» que poderiam ser curadas pela riqueza dos «pobres»”, ou seja, “os pobres ensinam-nos frequentemente a solidariedade e a partilha.

Por tudo isto, o Papa Francisco considera que se impõe “uma abordagem diferente da pobreza”, considerando que este é “um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo”.

“A pobreza deveria incitar a uma projetação criativa, que permita fazer aumentar a liberdade efetiva de conseguir realizar a existência com as capacidades próprias de cada pessoa. Pensar que a posse de dinheiro consinta e aumente a liberdade é uma ilusão de que devemos afastar-nos. Servir eficazmente os pobres incita à ação e permite encontrar as formas mais adequadas para levantar e promover esta parte da humanidade, demasiadas vezes anónima e sem voz, mas que em si mesma traz impresso o rosto do Salvador que pede ajuda” – escreve o Papa.

No final da sua Mensagem, Francisco alerta para o facto de “nas áreas economicamente mais desenvolvidas do mundo, está-se menos predisposto hoje que no passado a confrontar-se com a pobreza”. O Santo Padre refere que “o estado de relativo bem-estar ao qual se habituaram” as pessoas “torna mais difícil aceitar sacrifícios e privações”.

“Devemos estar abertos a ler os sinais dos tempos que exprimem novas modalidades de ser evangelizadores no mundo contemporâneo. A assistência imediata para acorrer às necessidades dos pobres não deve impedir de ser clarividente para atuar novos sinais do amor e da caridade cristã como resposta às novas pobrezas que experimenta a humanidade de hoje” – escreve o Papa.

“Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento” – apela o Papa na sua Mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres exortando os cristãos à ação.

Laudetur Iesus Christus

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Na oração mariana do Angelus deste domingo (20), o Papa Francisco falou sobre o texto do Evangelho de Marcos no qual Jesus com os discípulos no barco, acalmou a tempestade. No texto, os discípulos são deixados levar pelo medo, assustados, olhando as violentas ondas e ficam perplexos ao ver Jesus, na popa, dormindo sobre um travesseiro. E gritam-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?”.

Partindo da atitude dos discípulos, o Papa Francisco nos recorda: “Muitas vezes nós também, assaltados pelas provações da vida, gritamos ao Senhor: ‘Por que ficas em silêncio e não fazes nada por mim?’”. Devemos lembrar, continua o Papa que “apesar de estar dormindo, Jesus está lá e compartilha com seus discípulos tudo o que está acontecendo. Seu sono, se por um lado nos surpreende, por outro nos põe à prova”. E explica:

“O Senhor, de fato, espera que o envolvamos, que o invoquemos, que o coloquemos no centro do que vivemos. Seu sono nos provoca a acordar. Porque, para ser discípulos de Jesus, não basta crer que Deus está presente, que existe, mas é preciso se envolver com Ele, é preciso também levantar nossa voz com Ele, gritar a Ele”

Chamar Deus através da oração

Francisco continua: “O Evangelho nos diz que os discípulos se aproximam de Jesus, acordam-no e falam com ele”. Este é o começo de nossa fé:

“Reconhecer que sozinhos não somos capazes de permanecer à tona. A fé começa com a crença de que não somos suficientes para nós mesmos, com o sentimento de necessidade de Deus”

“Quando superamos a tentação de nos fecharmos em nós mesmos – continua o Papa – quando superamos a falsa religiosidade que não quer perturbar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode fazer maravilhas em nós. É o poder suave e extraordinário da oração que faz milagres”.

Olhar na direção certa

Depois de Jesus perguntar aos discípulos: ‘Por que tendes medo? Ainda não tendes fé’? nos damos conta que devemos olhar para Jesus e não se deixar levar pelo medo.  E Francisco conclui:

“Quantas vezes ficamos olhando para os problemas em vez de irmos ao Senhor e lançarmos nossas preocupações n’Ele! Quantas vezes deixamos o Senhor em um canto, no fundo do barco da vida, para despertá-lo apenas no momento da necessidade!”

Por fim o Papa pede: “não cansemos de buscar o Senhor, de bater na porta de Seu Coração”, desejando ainda, “Que a Virgem Maria, que em sua vida nunca deixou de confiar em Deus, redescubra em nós a necessidade vital de nos confiarmos a Ele todos os dias”.

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