Derrotar o monstro invisível que lentamente extingue seu fôlego em um quarto de hospital – ou quem sabe na rua, porque simplesmente não há um hospital para ir – e procura fazê-lo ficando de joelhos.
Poderia parecer uma solução adequada mais em tempos em que antigas superstições coletivas competiam pelo campo contra as palavras jovens do Evangelho, do que em uma era como a nossa em que um individualismo exacerbado e reivindicado em quase todos os lugares tende a rebaixar o sentido de uma ação de comunidade, especialmente se intangível como a espiritual.
A promessa
Na realidade, Mateus 18, versículo 19, bastaria para dissipar dúvidas e hesitações sobre a eficácia da oração compartilhada, que relata uma garantia de Jesus: “Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, o conseguirão de meu Pai que está nos céus”. Uma promessa concreta, capaz de suscitar uma grande esperança se aqueles dois se tornam um grande povo unido por uma única intenção. É uma expectativa ainda mais forte se o pedido chega a Deus por intercessão da “Advogada nossa”, a Mãe daquele que fez aquela promessa.
O ritmo da devoção
Os primeiros cristãos, talvez por serem filhos de um Evangelho ainda sine glossa, compreenderam isso imediatamente. As catacumbas estão cheias de inscrições que confiavam alguém ou alguma coisa a Maria. Antes ainda que o Concílio de Éfeso a reconhecesse como Mãe de Deus, certas orações, às vezes pouco mais do que sussurros grafitados na rocha, subiam aos lábios daqueles que se sentiam em perigo e consideravam Nossa Senhora a fortaleza contra qualquer mal.
Sub tuum praesidium, “Sob a tua proteção buscamos refúgio, Santa Mãe de Deus …” é uma invocação que a Igreja recita há pelo menos 1.800 anos e a história cristã é também a história desta devoção a Maria, ilimitada e convicta. É a história de incontáveis graças de “curas” e quem sabe quantos milagres particulares. E é a devoção que então encontrou no Rosário um ritmo universal, o espaço da esperança de uma ou mais almas juntas, o tempo de um conforto talvez granulado na solidão sob um tubo de oxigênio, com a energia de um penúltimo suspiro.
O ponto de luz
Esta história chega aos dias atuais por meio de gestos e palavras de santas e santos, de nome ou de fato, quando o nome é desconhecido. De Papas “marianos” que não hesitaram em confiar à Mãe de Deus a humanidade que estava à beira ou no abismo das guerras e catástrofes. Vem com as palavras de Francisco, o pároco do mundo quando o mundo e estava sem paróquias, com suas intenções cotidianas na Santa Marta, uma a cada dia a violar com a consolação de uma oração “dedicada” as solidões do lockdown. E antes ainda chega de seus gestos e da oração solitária daquele 27 de março, o Papa, um simbólico ponto de luz na escuridão, que, em pé diante de um antigo ícone, implora a salus não somente para o povo romano, mas para o mundo inteiro.
Uma oração uníssona
Nada mais é do que uma história de fé. Que agora é enriquecida pelo coro dos Santuários Marianos, imaginados como as contas de um terço recitado alternadamente. Recitado como os anciãos recordados pelo Papa na última quarta-feira na Audiência Geral, com o canto constante e nada constrangido de um filho que sabe que terá mais chances de obter do pai o que espera se sua mãe o pedir.
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