A viagem do Papa Francisco a Lesbos, na Grécia, foi marcada pela tristeza, não pela alegria do encontro. O Papa, mesmo antes de tocar o solo grego, antecipou aos jornalistas a bordo do avião que faria sua visita aos refugiados e migrantes do campo de Morìa afirmando: “são os protagonistas da maior catástrofe humanitária desde a Segunda Guerra Mundial, eles fogem de guerras e violências”. Francisco, Patriarca Bartolomeu e Arcebispo Ieronymus, três líderes religiosos, um ao lado do outro, caminharam entre as tendas do inferno daquele acampamento, abraçaram aquela humanidade ferida para tranquilizá-la de sua proximidade e para pedir ao mundo que não feche os olhos para o sofrimento dos que foram forçados a “fugir de situações de conflito e perseguição”, dos que “não são um número, mas um rosto e um nome e uma história”.
Naquela viagem de abril de 2016 o Papa não esqueceu de mencionar o horror das mortes no mar, de crianças que nunca chegaram, de “vítimas de viagens desumanas e sujeitas à opressão de torturadores vis”. Nem esqueceu da generosidade do povo grego, com sua capacidade de responder ao sofrimento dos outros “apesar das graves dificuldades a serem enfrentadas”, mantendo “os corações e as portas abertas”. Francisco exortou a comunidade internacional a fazer o mesmo: a Europa, pátria dos direitos humanos, deveria ter seguido o exemplo do Bom Samaritano, ao “mostrar misericórdia para com os necessitados”, deveria ter trabalhado para remover as causas desta dramática realidade. “Não basta limitar-se a perseguir a emergência do momento”, foram as palavras do Papa, “mas é necessário desenvolver políticas abrangentes, não unilaterais”, bloqueando, além disso, “a proliferação e o tráfico de armas e os que seguem projetos de ódio e de violência”. Não percam a esperança, foi a mensagem que o Papa deixou aos refugiados de Moría, porque diante “das tragédias que ferem a humanidade, Deus não é indiferente, ele não está distante”:
Os três líderes religiosos deixaram Lesbos confiando uma declaração conjunta à humanidade, solicitando, para a tragédia humanitária vivida pelos imigrantes, “uma resposta de solidariedade, compaixão, generosidade e um compromisso imediato e efetivo de recursos”, pois a “proteção das vidas humanas é uma prioridade”. Eles apelaram para a comunidade internacional, pedindo a eliminação de rotas de viagem perigosas que atravessam o Mar Egeu e todo o Mediterrâneo, para providenciar “procedimentos de reassentamento seguro”, para tornar “a proteção de vidas humanas uma prioridade e para apoiar, em todos os níveis, políticas inclusivas que se estendam a todas as comunidades religiosas”. As últimas palavras de Francisco foram as de uma oração pelos migrantes, quando os confiou à misericórdia de Deus, enquanto seu último gesto foi profético: trouxe a bordo do seu avião três famílias do acampamento de Karatepe, um total de 12 pessoas, incluindo seis menores. Nour, uma síria como como os outros componentes, estava a bordo junto com seu marido Hasan e seu filho de dois anos.
Aos 31 anos de idade, ela fugiu com sua família da periferia de Damasco. Depois de chegar à Turquia, embarcou em um barco inflável que os levou até Lesbos, na Grécia. Hoje Nour e sua família vivem em Roma, onde ela é bióloga no hospital pediátrico Bambino Gesù. “Agradeço ao Papa Francisco – ela conta hoje ao Vaticano News – por tudo o que ele fez por nós, por ter mudado nossas vidas e nosso destino”. Nour ainda tem muito claras em sua memória as imagens daquela partida para Roma, decidida apenas 24 horas antes. Ela lembra das etapas do voo, o Papa sempre “sorrindo”, mostrando aos jornalistas a bordo “um desenho feito por um garoto que estava em Moría”. Todo o pouco que ela conhecia do Vaticano, ela, uma muçulmana como todos os outros, tinha aprendido com a televisão.
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