Jesus recorria muito às parábolas, especialmente quando queria explicar o Reino dos Céus. Era uma forma de ajudar aquela gente simples que o seguia a compreender realidades elevadas. Em seus exemplos, ele sempre falava de assuntos que fizessem parte do dia a dia do povo. Uma das parábolas mais notáveis e ricas em significado a esse respeito é a da rede lançada ao mar1. Apesar de o foco ser o julgamento, a separação entre justos e injustos, um tema fundamental presente na história é a missionariedade: para que lá na frente o julgamento possa acontecer, é necessário que antes alguém se aventure em alto mar e lance as redes.
A missão de anunciar o Reino dos Céus sempre foi de suma importância para Nosso Senhor, que, no momento oportuno, “subiu ao monte e chamou os que ele quis […]. Designou doze dentre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios”2. Assim Jesus escolheu os apóstolos, cuja missão primária era anunciar que o Reino dos Céus estava próximo. Mas Cristo os orientou a também curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os demônios.
Do início da infância até o fim da adolescência, eu ajudava meu pai na lavoura, plantando, lavrando a terra, adubando, colhendo. Como nunca pesquei um peixe sequer, saio do tema da pescaria para refletir sobre o que é ser missionário a partir da parábola do semeador, que tem muito mais a ver com a minha história pessoal. “O semeador saiu a semear”, diz Jesus. O que ele semeia? O próprio Cristo explica que é a Palavra. Devemos anunciar a Palavra, o Evangelho, a Boa Nova do Reino dos Céus. Isso é ser missionário. Ouvimos uma notícia tão boa que não podemos guardá-la para nós. Precisamos levar adiante essa novidade que transforma completamente a nossa vida. A missão é
consequência, portanto, de um “coração ardente de amor”, como diz Santa Teresinha. Sem amor, nos ensina a padroeira das missões, “nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue”. Somos missionários porque amamos.
“Mas eu nem sei falar, não sei pregar, como posso ser missionário?”
Em primeiro lugar, precisamos lembrar que não se trata de saber fazer isso ou aquilo. Você não decide ser missionário. Jesus “chamou os que ele quis”. O que você faz é responder ao chamado de Nosso Senhor. Os doze apóstolos não fizeram um concurso nem venceram nenhuma prova de oratória, de virtudes ou de conhecimento das Sagradas Escrituras. Não foi pelos méritos deles que foram nomeados apóstolos, mas pela vontade do Senhor. O segundo ponto diz respeito ao significado da palavra missão. Há o chamado específico para a vida consagrada, assim como há vocações para pregadores, anunciadores da Palavra. Mas pensemos um pouco na parábola de Jesus sob o ponto de vista de um agricultor: “O semeador saiu a semear”. Qualquer pessoa que já cultivou um campo sabe que o semeador não pode simplesmente acordar num certo dia, pegar as sementes e jogá-las no solo. Vou aqui ficar com o exemplo da cultura do milho, que meu pai sempre plantou, mas os pontos que vou apresentar são aplicáveis, de maneira geral, a toda a agricultura. Antes de plantar, é necessário arar a terra, revolvê-la, eliminar as ervas daninhas e todo o resto que ficou da plantação do ano anterior. O milho precisa de terra revolvida, arejada e limpa para que as raízes penetrem o solo e a planta cresça vigorosa. O processo de cultivo, portanto, não começa nem termina com a semeadura. É necessário manter o controle das ervas daninhas, que se crescerem em demasia roubarão os nutrientes do milho. A adubação e a pulverização também são fundamentais para garantir que os grãos cresçam saudáveis e livres de pragas. Para que a colheita aconteça e seja satisfatória, muita gente além do semeador se envolveu no processo. Cada um tem seu papel na missão de cultivar o milho. Muitos permanecerão ocultos durante todo o processo, como aquela pessoa cujo serviço foi sempre cozinhar para os trabalhadores ou o responsável pelos registros de compra de sementes e manutenção dos equipamentos agrícolas.
Assim é a missão de anunciar o Evangelho de Nosso Senhor. Todos somos chamados a viver essa vocação. “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo”, nos ensina o Papa Francisco3. O que importa é que o nosso coração esteja abrasado de amor por Jesus. Se assim for, Ele mesmo nos levará ao nosso lugar de missão. Pode ser que sejamos como o semeador, que está na linha de frente da evangelização, e por isso anunciamos a palavra por meio da pregação, da música ou da escrita. Talvez sejamos convidados por Deus a viver a belíssima missão de rezar pelas almas, o que fez de Santa Teresinha do Menino Jesus padroeira das missões. Pode também acontecer que meu chamado missionário seja o primeiro anúncio, típico de quem “prepara o terreno”, como a catequese de crianças e adultos, a evangelização voltada para a restauração de pessoas em situação de rua, algum ministério voltado para famílias. Outros são chamados a trabalhar na “manutenção” da plantação, o que pode ocorrer por meio de divulgação de devoções, como a consagração a Nossa Senhora ou o terço dos homens. Há um sem número de missionários nesse mundo cujo terreno onde devem semear é a sua própria casa. Sua missão se traduz no cuidado com o cônjuge, no amor aos filhos, na catequese doméstica, no trabalho honesto e bem realizado. Por fim, há aqueles que “adubam” a evangelização com um trabalho formativo fundamentado nas Sagradas Escrituras, na Tradição e no Magistério da Igreja, preparando um povo com uma fé enraizada, disposto a lutar pelo Reino dos Céus.
Não importa onde você está. O que importa é que você esteja exatamente onde Deus quer. E onde Deus nos quer? De maneira ampla, ele quer que todos nós vivamos em função da missão. Não quer que vistamos a roupa da missionariedade quando convém, mas que a missão seja marcada a fogo em nosso ser4. E de maneira específica, onde Deus me quer? Pregando, cantando, nos bastidores? Aí é Deus que falará com você, mas para isso, é necessário rezar e rezar muito, pedindo ao Senhor a graça de a nossa miséria não ser obstáculo para que a sua santa vontade se realize. Onde você está hoje? Envolvido com o trabalho de cultivar o milho ou está solto no mundo, sem sequer pensar que Deus tem uma missão para você? Sempre é tempo de voltar-se para Deus e atender o seu chamado. Lembre-se dos operários da última hora, diga sim ao convite de Jesus, deixe seu coração incendiar-se de amor e transforme a sua vida numa missão permanente de evangelização.
Canção Nova