O último compromisso público do Papa Francisco na sua visita histórica ao Iraque foi a celebração eucarística deste domingo (7) no Estádio Franso Hariri, em Erbil, capital da região autônoma do Curdistão iraquiano e a quarta maior cidade do país, com cerca de 2 milhões de habitantes. A missa presidida pelo Pontífice também foi o momento da viagem apostólica com o maior número de participantes.

Com capacidade para cerca de 28 mil pessoas, o estádio teve lotação limitada em 10 mil por causa da pandemia. Francisco, porém, conseguiu percorrer o espaço com o papamóvel para saudar os iraquianos que conseguiram marcar presença para rezar junto com o Papa em Erbil, uma das cidades mais antigas do mundo e que acolhe meio milhão de deslocados internos, que fugiram do autoproclamado Estado Islâmico, além dos refugiados sírios.

A tentação do poder e da sabedoria

Na homilia, o Papa Francisco refletiu sobre “o poder e a sabedoria de Deus” revelados por Jesus através da misericórdia e do perdão, e não por “demonstrações de força”, “longos discursos ou exibições de ciência incomparável” que são verdadeiras “armadilhas” para construir “imagens falsas de Deus” para dar segurança. “Na realidade, é o contrário”, disse o Pontífice: o poder e a sabedoria de Deus foram revelados por Cristo dando a sua vida na cruz, oferecendo “ao Pai as feridas pelas quais fomos curados”.

“Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis! A tentação é responder a estes e outros fatos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana. Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-Lo.”

A responsabilidade de purificar Igreja e corações

Ao tratar do Evangelho do dia (Jo 2, 13-25), Francisco lembrou da importância de purificar a Igreja, mas também o coração para que não seja um lugar de “turbulência, desordem e confusão”, livrando-o de “falsidades que o sujam, das simulações da hipocrisia”.

“Precisamos ser purificados das nossas seguranças falaciosas, que trocam a fé em Deus pelas coisas que passam, pelas conveniências do momento. Precisamos que sejam varridas do nosso coração e da Igreja as nefastas sugestões do poder e do dinheiro. Para limpar o coração, precisamos sujar as mãos: sentirmo-nos responsáveis e não ficarmos parados enquanto sofrem o irmão e a irmã.”

“Mas como purificar o coração?”, questionou o Papa: “sozinhos, não somos capazes; temos necessidade de Jesus”, que tem o poder de “purificar as obras do mal”, curar as doenças e restaurar o templo do nosso coração. Ele nunca  nos abandona e nos chama ao arrependimento e à purificação, “mesmo quando Lhe voltamos as costas”, para “podermos construir uma Igreja e uma sociedade abertas a todos e solícitas pelos irmãos mais necessitados”. Ao mesmo tempo, disse o Pontífice, “nos revigora para sabermos resistir à tentação de procurar vingança, que nos mergulha numa espiral de retaliações sem fim”.

A sabedoria da cruz da Igreja no Iraque

Com a força de Cristo e do Espírito Santo, então, reforçou Francisco, conseguimos nos tornar “instrumentos da paz de Deus e da sua misericórdia, artífices pacientes e corajosos de uma nova ordem social”. Comunidades cristãs formadas por pessoas humildes e simples, como acontece na Igreja no Iraque, testemunham que o Evangelho tem o poder de mudar a vida. E é com o poder da Ressureição e os olhos da fé, acrescentou ainda o Papa, que o Senhor promete nos fazer ressurgir “das ruínas causadas pela injustiça, a divisão e o ódio”, para encontrar “o bálsamo do seu amor misericordioso”.

“A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vocês oferecem generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Esse é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vocês, ou seja, para agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel.”

A saudação do Papa ao povo iraquiano, pelos bons frutos gerados com a viagem apostólica ao país, foi feita ao final da missa em Erbil. Entre “vozes de sofrimento e angústia”, mas também “de esperança e consolação”, Francisco se despediu pedindo um trabalho conjunto entre as várias comunidades religiosas por um futuro de paz e prosperidade que “não discrimine ninguém”: “Allah ma’akum”, finalizou o Papa, “fiquem com Deus”.

Nestes dias de viagem apostólica no Iraque, disse o Papa Francisco ao final da celebração eucarística no Estádio Franso Hariri, em Erbil, “ouvi vozes de sofrimento e angústia, mas ouvi também vozes de esperança e consolação”. Isso se deve, em grande parte, acrescentou o Pontífice, “àquela incansável obra de bem-fazer” realizada pelas instituições religiosas de várias confissões, Igrejas locais e organizações caritativas que assistem o povo “na obra de reconstrução e renascimento social”. E com a proximidade do final da visita histórica ao país, o Papa se despediu, afirmando:

“O Iraque ficará sempre comigo, no meu coração. Peço a todos vocês, queridos irmãos e irmãs, que trabalhem juntos e unidos por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás, nem discrimine ninguém. Asseguro a vocês as minhas orações por este amado país. De modo particular, rezo para que os membros das várias comunidades religiosas, juntamente com todos os homens e mulheres boa vontade, cooperem para forjar laços de fraternidade e solidariedade ao serviço do bem comum e da paz. Salam, salam, salam! Shukrán [obrigado]! Deus vos abençoe a todos! Deus abençoe o Iraque! Allah ma’akum [fiquem com Deus]!”

A coragem e a fraternidade do Papa

O Papa também agradeceu todos que se envolveram na organização da visita ao Iraque e que rezaram e o acolheram com afeto, entre eles, o arcebispo de Erbil dos Caldeus, dom Bashar Matti Warda. De fato, ao final da missa, ele se dirigiu ao Pontífice, agradecendo pela “coragem” de se deslocar até “este conturbado país, uma terra tão cheia de violência, de intermináveis disputas, de deslocamentos e sofrimento para o povo”. Além disso, acrescentou o arcebispo, uma coragem revelada bem neste tempo de pandemia e de crise global, o que tornam as palavras de Cristo, ‘não tenham medo’, concretas:. “a sua coragem flui em nós”.

O arcebispo também agradeceu pelas orações aos perseguidos e marginalizados do Iraque e do mundo, uma forma de continuar a exortar “um tempo de paz, de humildade e de prosperidade, de dignidade de vida e de perspectivas para todos”.

“Agradecemos a mensagem de paz que trouxe para Erbil e para todo o Iraque. A sua poderosa mensagem de fraternidade e perdão é agora um presente para todo o povo do Iraque, deixando-nos – cada um de nós neste país – com a responsabilidade permanente de dar vida continuamente à sua mensagem em nossa vida diária a partir de hoje.”

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