No livro de Tobias, vemos a presença e ação do Arcanjo Rafael. Tobit, pai de Tobias, passou por uma grande prova ao
ficar cego. Já Sara era atormentada por um demônio chamado Asmodeu, que matava os seus maridos. A palavra narra essas duas situações que causavam grande tristeza, tanto no coração de Tobit, como no de Sara. Os dois oravam continuamente a Deus em suas aflições: “Essas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante a glória do Deus Altíssimo; e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor” (Tb 3,24- 25).

O Arcanjo Rafael tomou a forma humana, dizendo que o seu nome era Azarias e acompanhou Tobias em sua viagem. A viagem toda foi uma profunda manifestação do poder de Deus quando Tobias recebeu a dívida que o seu pai havia pedido que fosse buscar. Providencialmente, no caminho da viagem, conheceu Sara e, por vontade de Deus, casou-se com ela.

A intercessão do anjo Rafael

Quero me deter na cura de Sara, portanto, que era atormentada por um demônio que matava os seus maridos. Tobias, em sua humanidade, conhecendo a fama de Sara, replicou ao Anjo Rafael e disse sobre o seu medo de casar com Sara, pois poderia acontecer o mesmo ocorrido com os outros maridos, ou seja, a morte. E com muita propriedade o Anjo respondeu, “Ouve-me e eu te mostrarei sobre quem o demônio tem poder: são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento e se entregam à sua paixão como cavalo e o burro, que não têm entendimento, sobre estes o demônio tem poder” (Tb 6,16-17).

Vemos, atualmente, um forte ataque contra as famílias, seja pelos meios de comunicação, pelas leis ou escolas, que estão ensinando as crianças conteúdos contrários aos ensinos do Senhor. E fora uma enxurrada de outros ataques muito presentes na atualidade como a pornografia, materialismo, ateísmo, consumismo, ideologias contrárias aos valores cristãos, aborto, eutanásia etc. E, assim, sucessivamente, estamos imersos numa mentalidade bem clara contra a família e sacramento do matrimônio. Por traz disso tudo está o demônio, atuando de modo sorrateiro e silencioso. O demônio é o grande mentor da destruição das famílias. Ele bem sabe que, acabando com as famílias, ferindo-as, deformando o projeto de Deus, enfraquece toda a sociedade. E se quisermos uma família estruturada e feliz, precisamos de ser amigo de Deus.

A Palavra de Deus é clara. O que São Rafael disse para Tobias é a chave para vencermos o demônio e suas investidas. Precisamos ter Deus no centro das nossas casas, do nosso coração. Condição para isso é não vivermos como o mundo vive, ou seja, ter uma vida como meros pagãos, com a mentalidade mundana.

O significado do casamento

Milhares de casais iniciam a vida a dois da maneira errada. Casam-se sem Deus, sem conhecer a verdade, sem conhecer a Palavra de Deus. A maioria casa para ser feliz. Outros casam-se para preencher um vazio, por causa da solidão, por interesses, por causa do sexo ou mesmo para cumprir um costume tradicional de família.

São Rafael ensinou a Tobias a necessidade da oração, pois não há família santa sem vida de oração. Sem buscarmos através da oração a vontade de Deus para as nossas vidas, será muito difícil educar os nossos filhos. Sem ela não haverá fidelidade, perdão, reconciliação.

Os anjos e sua proteção

Estamos em uma verdadeira batalha espiritual. E, com isso, precisamos da proteção, da iluminação que vem dos anjos, como nos ensina São Dionísio, que dizia que as revelações das coisas divinas chegam aos homens mediante os anjos. São verdadeiras iluminações. Muitas vezes, uma boa inspiração tem como porta-voz um anjo. Há situações, por exemplo, em que diante de um perigo próximo, somos protegidos e escapamos sem nenhum dano. Ou uma decisão que precisamos tomar e acontece o bom êxito pode ser sinal da presença de um anjo.

Os anjos de Deus estão presentes em nossas vidas, mas não como nos ensinamentos esotéricos, conforme a Nova Era aponta. Entretanto, é como nos ensina a doutrina no Catecismo da Igreja Católica (CIC): Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos. Em sua liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adorar o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua assistência. Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida. Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus. (CIC 334-336)

Não é algo supersticioso e não acontece de forma mágica. Assim, precisamos optar para termos com os anjos uma vida de relacionamento próximo, podendo contar com eles para tudo. Isso ocorreu na vida de Tobias, que precisava chegar até uma pessoa para receber uma dívida.

Arcanjo Rafael

Com o auxílio de Deus, este envia o Arcanjo Rafael para auxiliá-lo em sua viagem. Lembre-se: estamos também em “viagem”, estamos de passagem nesse mundo, estamos a caminho da nossa pátria definitiva, a nossa morada eterna, o céu. A nossa família inteira precisa chegar à casa de Deus, porém, a viagem exigirá de nós esforços e lutas. Claro que surgirão inúmeros desafios, mas podemos contar com os anjos em todas as ocasiões. Vocês, casais já casados, casais de noivos ou namorados, peçam sempre a intercessão de São Rafael. Se vocês precisam de cura e libertação, conte com a intervenção dos anjos em suas vidas.

Vimos o quanto Sara era atormentada por um demônio. Ela foi liberta, pela súplica que fez ao Senhor. Assim, relatam as Escrituras: Depois do jantar, introduziram o jovem no aposento de Sara. E Tobias fiel às indicações do anjo, tirou do seu alforje uma parte do fígado e o pôs sobre brasas acesas. Nesse momento, o anjo Rafael tomou o demônio e prendeu-o no deserto do Alto Egito. Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras, “Levanta-te, Sara, e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite, consumaremos a nossa união; porque somos filhos dos santos e não devemos casar como os pagãos que não conhecem a Deus”. Levantaram-se, pois, ambos e oraram juntos fervorosamente para que lhes fosse conservada a vida. Tobias disse, Senhor, Deus de nossos pais, bendigam-vos o céu, a terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles existem. Vós fizestes Adão do limo da terra e destes-lhe Eva por companheira. Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão que recebo minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente bendito. E Sara acrescentou, tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice. Ora, a cantar do galo, Raguel chamou os seus criados e foram juntos cavar uma sepultura. Quem sabe dizia ele se não aconteceu a esse o mesmo que aos outros sete homens que se aproximaram dela? Cavada a fossa, voltou para junto de sua mulher e disse, manda uma de tuas escravas ver se ele morreu, a fim de que eu possa enterrá-lo antes de clarear o dia. Ela o fez. E a serva, tendo entrado no aposento, encontrou-os bem vivos, dormindo juntos, Ela voltou e deu essa boa notícia e Raguel com sua mulher louvaram o Senhor, dizendo, nós vos bendizemos, Senhor, Deus de Israel, porque não se realizou o que temíamos. Usastes de misericórdia,
expulsando para longe de nós o inimigo que nos perseguia. (Tb 8,1-18)

Declaro ainda que, se seu casamento está passando por dificuldades, a sua família correndo perigo iminente de morte, clame ao Senhor e se proponha a viver uma vida de santidade, deixando as coisas do mundo, arrancando hoje de sua casa tudo que é pornografia. Não queira e não teime em viver como o mundo ensina em relação a uma sexualidade depravada, sem compromisso com a vida plena. Nós, casais cristãos, temos que conservar o leito conjugal puro, como relata a Palavra de Deus: “Vós todos considerai o matrimônio com respeito e conservai o
leito conjugal imaculado, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros” (Hb 13,4).

Castidade no namoro

Gostaria de enfocar em algo que ficou tão banalizado na vida dos casais de namorados cristãos por viverem o sexo fora do plano de Deus. Existe uma finalidade para o ato sexual do casal. A doutrina católica nos ensina que a finalidade do ato conjugal é unitiva e procriativa. E, por isso, o casal cristão é chamado a não fazer uso de meios artificiais para interromperem a possibilidade da geração de uma vida, ou seja, utilizar preservativos, laqueaduras, vasectomias ou de anticoncepcionais.

É verdade que Deus criou a sensibilidade dos corpos, sendo lícito ao casal cristão sentir prazer. Os casais são chamados também, de modo consciente, a fazerem o espaçamento da geração dos filhos, por motivos que considerem justos e adotando os métodos naturais. Por intermédio destes, o casal é chamado a viver a abstinência periódica, no que se refere ao período fértil do ciclo menstrual da mulher, dentro da perspectiva do planejamento familiar. Assim, o casal é convidado a viver também a castidade de seus corpos por um breve período, sendo
companheiros e íntimos de tal modo, que já não será possível a busca do prazer somente pelo ato conjugal em si.

E, assim, enfatizo: não queiram banir Deus do seu casamento, da sua família. Como lemos no trecho de Tobias, “são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu pensamento e se entregam à sua paixão como cavalo e o burro, que não têm entendimento, sobre estes o demônio tem poder”. Somos filhos de Deus, não pertencemos à linhagem dos animais irracionais. Casais, filhos e todos os membros da família, vocês não pertencem a esse mundo, mas são chamados a viver como cidadãos do céu. Famílias, não deem mais oportunidade ao demônio. E, com isso, sanaremos as feridas familiares e não teremos mais famílias desestruturadas e filhos revoltados por causa dos erros dos pais ou pecado do adultério.

Se quisermos atrair a presença dos anjos à nossa casa, precisamos orar e romper com a vida carnal, reconciliando-nos com Deus, vivendo Sua Palavra e o que a Doutrina da Igreja Católica nos ensina.

Oração

São Rafael, tu te colocaste sob aparência humana e protegeu Tobias em sua viagem. Pedimos que estejais conosco em nossa caminhada rumo à eternidade. Livrai-nos do maligno, expulsando de nossas casas os males físicos e espirituais, socorrendo-nos em todos os momentos de tentações e perigos em que as nossas almas possam
se encontrar.

Pedimos a libertação do espírito de adultério, a cura da cegueira espiritual que nos impede de visualizar o lindo projeto de Deus para as nossas famílias. Liberta-nos das mentiras do diabo e de todos os enganos que tem destruído as relações familiares.

Vai ao encontro daqueles que estão enfermos e levai a cura de Deus. Socorre os casais que se encontram em dificuldades de relacionamentos, que estão em crise e com pensamentos de separação.

Senhor Jesus, pela intercessão do Arcanjo Rafael, peço que liberte todos os padrões de infelicidade matrimonial inseridos nas famílias.

Clamamos, Senhor, o teu precioso Sangue a todas as expressões de desamor conjugal. Faz cessar todo o ódio, desejo de morte, maus desejos e más intenções nos relacionamentos conjugais.

Coloca fim, Jesus, a toda transmissão de violência, infidelidade, engano, relacionamentos não duráveis, tensões familiares, divórcio, endurecimento de corações e sentimento de fracasso e vazio. Amém!

Trecho extraído do livro “A cura dos relacionamento familiares”, de Ricardo Ida e Luciane Descio Kishi, missionários da Comunidade Canção Nova.

“A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos depois da pandemia.” Este é o título do documento publicado, nesta terça-feira (09/02), com o qual a Pontifícia Academia para a Vida (PAV), de acordo com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, propõe uma reflexão sobre os ensinamentos a serem extraídos da tragédia causada pela difusão da Covid-19, sobre suas consequências para hoje e para o futuro próximo de nossas sociedades.

Repensar o modelo de desenvolvimento

Ensinamentos que evidenciaram uma dupla consciência: “Por um lado, a interdependência entre todos e, por outro, a presença de fortes desigualdades. Estamos todos à mercê da mesma tempestade, mas num certo sentido, também se pode dizer que estamos remando em barcos diferentes: os mais frágeis estão afundando todos os dias. É indispensável repensar o modelo de desenvolvimento de todo o planeta”, afirma o documento, que retoma a reflexão já iniciada com a Nota de 30 de março de 2020 (Pandemia e Fraternidade Universal), prosseguida da Nota de 22 de julho de 2020 (A Humana Communitas na Era da Pandemia). Reflexões desatualizadas sobre o renascimento da vida) e com o documento conjunto com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Vacina para todos. Vinte itens para um mundo mais justo e saudável) de 28 de dezembro de 2020. A intenção é “propor o caminho da Igreja, mestra de humanidade, a um mundo transformado pela Covid-19, a mulheres e homens em busca de sentido e esperança para suas vidas”.

A Covid-19 e os idosos

Durante a primeira onda da pandemia, uma proporção considerável de mortes pela Covid-19 ocorreu nas instituições para idosos, lugares que deveriam proteger a “parte mais frágil da sociedade” e onde a morte atingiu desproporcionalmente mais em relação à casa e ao ambiente familiar. “O que aconteceu durante a Covid-19 impede de descartar a questão com uma busca por bodes expiatórios, por culpados individuais. Por outro lado, é necessário que se levante um coro em defesa dos excelentes resultados daqueles que evitaram o contágio nos asilos. Precisamos de uma nova visão, de um novo paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”.

Em 2050, dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos

O documento da PAV evidencia que “do ponto de vista estatístico e sociológico, homens e mulheres têm geralmente hoje uma expectativa de vida mais longa. Esta grande transformação demográfica representa, de fato, um desafio cultural, antropológico e econômico”. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2050, haverá dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo: uma a cada cinco pessoas será idosa. “Portanto, é essencial tornar nossas cidades lugares inclusivos e acolhedores para os idosos e, em geral, para todas as formas de fragilidade”.

Ser idoso é um presente de Deus

Em nossa sociedade, prevalece muitas vezes a ideia da velhice como uma idade infeliz, sempre entendida apenas como a idade da assistência, da necessidade e das despesas para o tratamento médico. “Ser idoso é um presente de Deus e um enorme recurso, uma conquista a ser salvaguardada com cuidado, mesmo quando a doença se torna incapacitante e surge a necessidade de cuidados integrados e de alta qualidade. É inegável que a pandemia reforçou em todos nós a consciência de que a riqueza dos anos é um tesouro a ser valorizado e protegido”, ressalta o documento.

Um novo modelo para os vulneráveis

Quanto à assistência, a PAV indica um novo modelo especialmente para os mais frágeis inspirado na pessoa “A implementação deste princípio implica uma intervenção articulada em diferentes níveis, que realiza um cuidado contínuo entre a própria casa e alguns serviços externos, sem cesuras traumáticas, não adequadas à fragilidade do envelhecimento”, especifica o documento, observando que “as casas de repouso devem se requalificar num contínuo sócio-sanitário, ou seja, oferecer alguns de seus serviços diretamente nos domicílios dos idosos: hospitalização em casa, cuidando da pessoa individual com respostas de assistenciais moduladas nas necessidades pessoais em baixa ou alta intensidade, onde a assistência social e sanitária integrada e o cuidado domiciliar continuam sendo o pivô de um novo e moderno paradigma”. Em substância, espera-se reinventar uma rede mais ampla de solidariedade “não necessariamente e exclusivamente baseada em vínculos de sangue, mas articulada de acordo com as pertenças, amizades, sentimentos comuns, generosidade recíproca na resposta às necessidades dos outros”.

O encontro entre gerações

Quanto ao confronto com os jovens, o documento evoca um “encontro” que possa levar para o tecido social “aquela nova seiva de humanismo que tornaria a sociedade mais solidaria”. Muitas vezes o Papa Francisco exortou os jovens a ficarem perto de seus avós”, acrescentando que “o homem que envelhece não se aproxima do fim, mas do mistério da eternidade. Para entender isto ele precisa se aproximar de Deus e viver na relação com Ele. Cuidar da espiritualidade dos idosos, de sua necessidade de intimidade com Cristo e de partilha da fé é uma tarefa de caridade na Igreja”. O documento deixa claro que “é somente graças aos idosos que os jovens podem redescobrir suas raízes, e é somente graças aos jovens que os idosos recuperam a capacidade de sonhar”.

A fragilidade como magistério

O testemunho que os idosos podem dar através de sua fragilidade também é precioso. “Ele pode ser lido como um magistério, um ensinamento de vida”, observa a reflexão, esclarecendo que “a velhice também deve ser entendida neste horizonte espiritual: é a idade propícia do abandono a Deus. À medida que o corpo enfraquece, a vitalidade psíquica, a memória e a mente diminuem, a dependência da pessoa humana de Deus parece cada vez mais evidente.”

A mudança cultural

Por fim, um apelo: “Toda a sociedade civil, a Igreja e as diversas tradições religiosas, o mundo da cultura, da escola, do voluntariado, do espetáculo, da economia e das comunicações sociais devem sentir a responsabilidade de sugerir e apoiar medidas novas e incisivas, para que seja possível acompanhar e cuidar dos idosos em contextos familiares, em suas próprias casas e, em todo caso, em ambientes domésticos que mais se assemelham a uma casa do que a um hospital. Esta é uma mudança cultural a ser implementada.”

Vatican News