“Hoje, às portas do Natal, Maria nos convida a não adiar, a dizer ‘sim’. Cada ‘sim’ custa, mas é sempre menos que o custo para ela daquele corajoso e pronto ‘sim’, aquele ‘faça-se em mim segundo a tua palavra’ que nos trouxe a salvação.” Foi o que disse o Papa no Angelus ao meio-dia deste IV Domingo do Advento, em que o Evangelho nos repropõe a narração da Anunciação, que nos traz o “sim” de Maria a Deus.
“Alegra-te”, diz o anjo a Maria, “conceberás um filho, o darás à luz e o chamarás Jesus” (Lc 1,28.31). “Parece ser um anúncio de pura alegria, destinado a fazer a Virgem feliz: quem entre as mulheres da época não sonhava em se tornar a mãe do Messias?”, perguntou Francisco na alocução que precedeu a oração mariana.
“Mas, junto com a alegria, essas palavras predizem a Maria uma grande provação. Por quê? Porque naquele momento ela estava ‘prometida em casamento’ com José. Em tal situação explicou o Pontífice – a Lei de Moisés estabelecia que não deveriam haver relações e coabitação.
Maria disse “sim” a Deus, arriscando tudo
Tendo um filho, prosseguiu o Santo Padre, Maria teria transgredido a Lei, e as penalidades para as mulheres eram terríveis: era previsto o apedrejamento. Certamente a mensagem divina encheu o coração de Maria de luz e força; contudo, ela se viu diante de uma escolha crucial: dizer “sim” a Deus, arriscando tudo, inclusive sua vida, ou recusar o convite e seguir seu caminho comum.
“O que ela fez? Responde assim: ‘Faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1,38). Faça-se: é o famoso fiat de Maria. Mas na língua em que o Evangelho é escrito, há mais que isso. A expressão verbal indica um forte desejo, a vontade firme de que algo se torne realidade.”
Em outras palavras, Maria não diz: “Se deve acontecer, que aconteça…, se não pode ser feito de outra forma…”. Não, não expressa uma aceitação fraca e remissiva, mas um desejo forte e vivo. Não é passiva, mas ativa. Não é subjugada por Deus, adere a Deus.
“É uma enamorada disposta a servir a seu Senhor em tudo e imediatamente. Poderia ter pedido um pouco de tempo para pensar sobre isso, ou maiores explicações sobre o que aconteceria; talvez estabelecer alguma condição… Ao invés, não toma tempo, não faz Deus esperar, não adia.”
Os adiamentos em nossa vida
Quantas vezes nossa vida é feita de adiamentos, inclusive na vida espiritual! “Sei que é bom para mim rezar, mas hoje não tenho tempo; sei que ajudar alguém é importante, mas hoje não posso. Amanhã o farei, isto é, nunca”, observou Francisco.
Tendo ressaltado o “sim” incondicional de Maria que nos trouxe a salvação, o Santo Padre perguntou:
“E nós, quais ‘sim’ podemos dizer? Neste tempo difícil, em vez de nos lamentarmos do que a pandemia nos impede de fazer, façamos algo por aqueles que têm menos: não o enésimo presente para nós e para nossos amigos, mas para um necessitado em quem ninguém pensa!”
Não nos deixemos levar pelo consumismo
E antes da oração mariana o Papa deixou-nos outro conselho: “para que Jesus nasça em nós, preparemos o coração, rezemos, não nos deixamos levar pelo consumismo. ‘Ah, tenho que comprar presentes, tenho que fazer isto, isto…’ Aquele frenesi de fazer coisas, coisas, coisas… o importante é Jesus. Consumismo: o consumismo, irmãos e irmãs, nos sequestrou o Natal. O consumismo não está na manjedoura de Belém: ali está a realidade, a pobreza, o amor. Preparemos o coração como o de Maria: livre do mal, acolhedor, pronto para receber Deus”.
“Faça-se em mim segundo a tua palavra“. É a última frase da Virgem neste último domingo do Advento, e é o convite para dar um passo concreto em direção ao Natal. “Porque se o nascimento de Jesus não toca a vida, passa em vão.” No Angelus nós também diremos agora: “realize-se em mim a tua palavra”: que Nossa Senhora nos ajude a dizê-lo com a vida, disse o Papa, concluindo, antes da oração mariana.