“Lutem contra a cultura do descarte, a segregação social, a desconfiança e o preconceito com base na raça, cultura ou fé, para que o sentimento de fraternidade prevaleça sobre toda diferença.”

Foi a exortação do Papa à comunidade do Pontifício Colégio Latino-Americano de Roma, dirigindo-se aos superiores, bispos e sacerdotes, alunos e ex-alunos (cerca de 50 ao todo), recebidos por Francisco pouco depois do meio-dia desta sexta-feira (20/11), na Sala Clementina, no Vaticano, por ocasião do começo de um novo ano acadêmico há pouco iniciado.

Ao agradecer ao reitor do Colégio, o padre jesuíta Gilberto Freire, pelas palavras de saudação que lhe foram dirigidas, o Santo Padre ressaltou que nelas se ilustra os desafios que este tempo impôs a esta comunidade educacional e a necessidade de manter-se fiéis à própria missão de formar e formar-se como sacerdotes a serviço do santo Povo de Deus que peregrina na América Latina.

Evangelização da América

Por quanto a história tenha separado nossos povos, não destruiu neles a raiz que os unem naquela grande obra que foi a evangelização da América. “Nesta base, o Colégio Pio Latino-Americano nasceu como um compromisso a unir todas as nossas Igrejas particulares e, ao mesmo tempo, as abrir à Igreja universal nesta cidade de Roma”, frisou o Papa.

Referindo-se à evangelização no continente americano, o Papa Bergoglio – também ele latino-americano – evidenciou que “o exemplo de mestiçagem que tornou a América grande, e que se vive na comunidade plural que vocês formam, pode contribuir para curar o mundo”.

“O Evangelho e sua mensagem chegaram a nossa terra por meios humanos, não isentos do pecado, mas a graça venceu nossa fraqueza e sua Palavra se espalhou por todos os cantos do continente. Povos e culturas o acolheram numa rica diversidade de formas que ainda hoje podemos contemplar.”

Atualmente, continuou o Papa em seu discurso, “há latino-americanos espalhados por todo o mundo e muitas comunidades cristãs têm se beneficiado desta realidade. Igrejas do norte e centro da Europa, mesmo no leste, encontraram neles uma nova vitalidade e um renovado impulso.”

Chamados a semear a Palavra

“Muitas cidades – ressaltou –, de Madri a Kobe, celebram com fervor o Cristo dos Milagres e o mesmo pode ser dito de Nossa Senhora de Guadalupe. A rica mestiçagem cultural que tornou possível a evangelização se produz hoje novamente.”

Francisco prosseguiu observando que os povos latinos se encontram entre si e com outros povos graças à mobilidade social e aos instrumentos da comunicação, e deste encontro também eles saem enriquecidos.

Neste campo, frisou, vocês são chamados a semear a Palavra, de modo generoso, sem preconceitos, como Deus semeia. “Sobre isso devem incidir a formação e o ministério de vocês, para abrir a porta de seus corações e dos corações daqueles que os escutam, para ajudar e convidar os outros a fazer o mesmo com vocês para o bem de todos, para curar este mundo do grande mal que o aflige e que a pandemia evidenciou.”

O Papa destacou três pontos concretos de ação que têm dois momentos: pessoal e comunitário, que se completam inevitavelmente.

Abrir a porta do coração e dos corações

Abrir o coração certamente ao Senhor que não cessa de bater à nossa porta, para habitar em nós. Mas abri-lo também ao irmão, porque não se esqueçam que nossa relação com Deus pode ser facilmente avaliada pelo modo como procedemos em relação ao próximo.

“Quando abrirem o coração a todos sem distinção, pelo amor de Deus, criem um espaço onde Deus e o próximo possam encontrar-se. Jamais deixem de manifestar esta disponibilidade, esta abertura: jamais fechem a porta para aqueles que no fundo de seus corações anseiam por poder entrar e se sentir acolhidos. Pensem que o Senhor os chama sob o manto daquele pobre, para sentar-se todos juntos em seu banquete.”

Ajudar e convidar os outros a fazer o mesmo

Deus os chamou à vocação sacerdotal, os enviou a esta cidade de Roma para completar a formação de vocês, porque tem um projeto de amor e de serviço para cada um. “Pastores segundo o seu coração que se dediquem ao cuidado das ovelhas, que as apascentem, as conduzam e busquem sempre o seu bem-estar”, ressaltou Francisco.

“Nosso esforço também deve ser um chamado, deve reunir o rebanho, fazê-lo sentir-se povo, chamado também ele a colocar-se em caminho para antecipar o reino, já aqui nesta terra. Isto implica que se sintam úteis, responsáveis, necessários, que haja um espaço onde eles também possam colaborar.”

Curar o mundo do grande mal que o aflige

A pandemia colocou-nos diante do grande mal que aflige a nossa sociedade. A globalização superou as fronteiras, mas não as mentes e os corações. “O vírus se difunde sem freios – continuou o Pontífice –, não somos capazes de dar uma resposta conjunta.

“O mundo continua fechando as portas, recusando o diálogo e a colaboração, se recusa a abrir-se sinceramente ao compromisso comum por um bem que alcance a todos sem distinção. A cura deste mal deve vir de baixo, dos corações e das almas que um dia lhes serão confiadas, com propostas concretas no âmbito da educação, a catequese, o compromisso social, capazes de mudar mentalidades e abrir espaços, para curar este mal e dar a Deus um povo unido.”

O Papa concluiu confiando-os à Virgem Mãe, Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina, convidando-os a serem testemunhas da fraternidade humana onde o Senhor os enviar.

Vatican News