Em outubro de 1717, o Conde de Assumar, então Governador do Brasil, foi em visita a Guaratinguetá. Visto que aqueles eram dias de abstinência de carne, Felipe Pedroso, Domingos Martins Garcia e João Alves foram encarregados de procurar outro tipo de alimento para o ilustre visitante e sua comitiva.
Após algumas tentativas decepcionantes, os pescadores encontraram uma imagem de terracota, representando a figura da Imaculada Conceição. Ela foi pescada em duas vezes: na primeira, acharam o corpo e, na segunda, a cabeça. O fato ocorreu no Porto de Itaguaçu. Como nos relatos bíblicos, a pesca sucessiva foi extremamente abundante.
Os piedosos pescadores e seus familiares iam rezar, todas as noites, diante da imagem da Virgem Imaculada na casa de Felipe Pedroso. Mais tarde, este construiu um pequeno oratório onde colocou a imagem aparecida. Todos os sábados, os vizinhos e as pessoas que sabiam do fato, se reuniam para rezar o Terço. A partir disso, começaram a ocorrer milagres e o povo começou a chamar a imagem como Nossa Senhora Aparecida.
Em 1745 foi inaugurada a primeira capela; com o passar do tempo, em 1842, foi iniciada a construção de um templo, inaugurado em 8 de dezembro de 1888 e, em 1893, elevado a Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Em 1904, deu-se a coroação solene da imagem, a pedido do Papa São Pio X; em 1930, Pio XI a declarou e proclamou “Rainha e Padroeira do Brasil”.
Em 1967, o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida, por ocasião dos 250 anos do aparecimento da imagem.
A atual Basílica Nacional foi inaugurada, solenemente, em 1980, pelo Papa São João Paulo II.
No dia 12 de outubro de 2019, no âmbito dos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Amazônia o Papa Francisco gravou uma mensagem ao povo brasileiro, uma mensagem especial de grande atualidade:
No dia de Nossa Senhora Aparecida, trago no coração o povo brasileiro e envio uma saudação. Que Ela, pequenina e humilde, continue os cobrindo e acompanhando em seu caminho: caminho de paz, de alegria, de justiça. Que Ela os acompanhe em suas dores, quando não podem crescer por tantas limitações políticas ou sociais ou ecológicas, e de tantos lugares provêm. Que Ela os ajude a crescer e a se libertar continuamente. Que os abençoe.
Todos bem conhecem o amor e o carinho que os Missionários Redentoristas têm para com Nossa Senhora. Esse apreço foi herdado de Santo Afonso, o “cantor das glórias de Maria”.
Nas missões alfonsianas a expressão pública da devoção mariana tinha um lugar especial na programação da missão. Uma das cerimônias mais tocantes se realizava no interior da igreja com a imagem da Santíssima Virgem sendo conduzida em procissão, encerrando-se com um grande sermão alusivo sobre ela. Era esse o modo de se proceder: a imagem ficava exposta todas as noites; porém nesse dia ela saia de seu altar. Logo após o ato de contrição para o qual tudo já devia estar preparado, abria-se as portas da igreja e os sacerdotes vestidos com seus hábitos carregavam o andor com a imagem da Virgem, passando por entre os fiéis, indo colocá-la no lugar de costume, junto do púlpito. E ali realizava-se o grande sermão que tocava o coração de todos, movendo os últimos empedernidos.
Herança alfonsiana e conhecimento da “alma religiosa” do brasileiro
Quando os redentoristas alemães vieram para o Brasil, depois de alguns anos de prática missionária, as Santas Missões ao estilo pregado pelas equipes missionárias de São Paulo passaram a contar com um grande triunfo nacional que se chama Nossa Senhora Aparecida. É incontestável, que essa imagem tão pequenina, atraía multidões de brasileiros. Ela se tornou a grande missionária, rainha das missões, mãe das comunidades e, na esteira de sua benção, se encontram os missionários redentoristas.
Foi na missão pregada na cidade valeparaibana de Queluz que pela primeira vez se levou a imagem à missão. Isso no ano de 1902. Padre Lourenço Gahr, cronista daquela missão nos deixou um precioso relatório, que destaca o patrocínio da Mãe de Deus. Assim escreveu ele:
“Ninguém ali se lembrava de uma missão. Desta vez, foi como se a graça caísse como um raio sobre os corações, obrigando-os a ouvir a Palavra de Deus e a receber os sacramentos. Apesar da muita e continuada chuva, a procura do confessionário foi intensa desde a madrugada até noite adentro. A atração particular do povo foi uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que leváramos e expuséramos à veneração. Diante dela rezavam os fiéis sem cessar e montavam guarda”.
Redentoristas de São Paulo: as primeiras missões
A partir de então, seguindo a tradição alfonsiana, Maria, em sua imagem de Aparecida, passou a ser venerada nas Santas Missões, sempre deixando uma feliz lembrança nas mentes e corações aqueles que eram missionados.
Para fazer crescer o fervor e a devoção, alguns atos se tornaram comuns em cada missão pregada: toda pregação sempre é encerrada com o missionário falando de Nossa Senhora. Também o sábado, dedicado à Nossa Senhora, conta com atos especiais. Além do mais, em cada missão se fazia a recepção festiva da imagem missionária, e se organizava uma guarda de honra que se revezava junto da imagem.
Como atos de piedade ainda hoje são realizadas consagrações, procissões e promessas e em muitas paróquias missionadas dá-se a criação de irmandades e arquiconfrarias.
Além destas formas de expressão da religiosidade próprias da espiritualidade redentorista, nas missões também são aproveitadas outras formas e expressões já existentes no Brasil, mas que foram clarificadas. Inclusive algumas formas antes consideradas como “profanas” são aproveitadas como a queima de fogos na recepção da imagem missionária, nas procissões, no dia do cruzeiro, usando ainda o colorido das bandeiras, dos estandartes e fitas.
Algumas das expressões da religiosidade popular bem esclarecidas tornaram-se decisivas no sucesso de uma missão especialmente aquelas que se relacionavam com Nossa Senhora e o altar onde fica a imagem, conhecido como “Altar da Graça” é ainda hoje preparado com todo esmero e dedicação.
Escrito por padre Inácio de Medeiros, CSsR
Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida.
Fonte: A12
Após rezar o Angelus, o Papa Francisco recordou da beatificação no sábado, 10, em Assis, do jovem Carlo Acutis, que com seu testemunho indica aos jovens de hoje que “a verdadeira felicidade se encontra colocando Deus em primeiro lugar e servindo-o nos irmãos”:
Ontem, em Assis, foi beatificado Carlo Acutis, um jovem de quinze anos, enamorado pela Eucaristia. Ele não se acomodou em uma confortável imobilidade, mas acolheu as necessidades de seu tempo, porque nos mais fracos via o rosto de Cristo. Seu testemunho indica aos jovens de hoje que a verdadeira felicidade se encontra colocando Deus em primeiro lugar e servindo-o nos irmãos, especialmente os últimos. Uma salva de palmas ao novo jovem Beato!
No rito de beatificação durante a Missa celebrada na Basílica Superior de São Francisco em Assis, o cardeal Agostino Vallini leu a Carta Apostólica do Papa Francisco, que também estabelecia o 12 de outubro como sua memória litúrgica:
“Nós, acolhendo o desejo do nosso irmão Domenico Sorrentino, arcebispo-bispo de Assis-Nocera Umbra- Gualdo Tadino, de muitos outros Irmãos no Episcopado e de muitos fiéis, depois de ter tido o parecer da Congregação para as Causas dos Santos, com Nossa Autoridade Apostólica concedemos que o Venerável Servo de Deus Carlo Acutis, leigo, que, com o entusiasmo da juventude, cultivou amizade com o Senhor Jesus, colocando a Eucaristia e o testemunho da caridade no centro da própria vida, a partir de agora seja chamado Beato e que seja celebrado todos os anos nos locais e de acordo com as regras estabelecidas pelo direito, em 12 de outubro, dia de seu nascimento ao céu.”
Carlo Acutis nasceu em Londres em 3 de maio de 1991 de pais italianos – Andrea e Antonia Salzano – que estavam na cidade por motivos de trabalho. Ele foi batizado em 18 de maio na Igreja de Nossa Senhora das Dores em Londres. Em setembro de 1991, a família retornou a Milão.
Aos quatro anos, seus pais o matricularam no jardim de infância, que frequentou com grande entusiasmo. Quando chegou a hora da escolaridade obrigatória, foi matriculado no Instituto San Carlo de Milão, uma conhecida escola particular. Após três meses, foi transferido para o ensino fundamental no Instituto Tommaso das Irmãs Marcelinas, por ser mais próximo de sua casa. Em 16 de junho de 1998, ele recebeu sua Primeira Comunhão, mais cedo do que de costume, graças à permissão especial do diretor espiritual, padre Ilio Carrai e do arcebispo Pasquale Macchi. A celebração teve lugar no mosteiro das irmãs de clausura das Romitas da Ordem de Santo Ambrósio ad Nemus em Bernaga di Perego (Lecco). Ele recebeu o Sacramento da Confirmação, em 24 de maio de 2003, na igreja de Santa Maria Segreta, pelas mãos de Dom Luigi Testore, ex-secretário do Cardeal Carlo Maria Martini e o pároco de São Marcos em Milão.
Aos quatorze anos, passou para o colégio clássico do Instituto Leão XIII de Milão, dirigido pelos padres jesuítas, onde desenvolveu plenamente sua personalidade. Com um estudante de engenharia da computação passou a cuidar do site da Paróquia milanesa de Santa Maria Segreta. Não obstante seus estudos fossem particularmente exigentes, decidiu espontaneamente dedicar parte do seu tempo também à preparação das crianças para a Confirmação, ensinando o Catecismo na Paróquia de Santa Maria Segreta.
Nesse mesmo ano projetou o novo site para o voluntariado do Instituto Leão XIII, promoveu e coordenou a realização dos spots, sempre para o voluntariado de diversas turmas no âmbito de um concurso nacional. Ele passou todo o verão de 2006 projetando o site para este projeto. Ele também organizou o site da Pontifícia Academia Cultorum Martyrum.
Pela sua afabilidade e cordial hilaridade, Carlo sempre esteve no centro das atenções dos amigos, também porque os ajudava no uso do computador e de seus programas. São muitos os atestados de reconhecimento de seus dotes informáticos e de sua total disponibilidade a serem colocadas à disposição de seus colegas de escola e qualquer pessoa que tivesse necessidade, incluindo familiares.
Uma das particularidades de Carlo é que ele amava passar a maior parte das férias em Assis, na casa da família. Ali, além de se divertir com os amigos, aprendeu a conhecer São Francisco. Com ele aprendeu o respeito pela criação e a dedicação aos mais pobres.
De fato, o exemplo do Seráfico e de Santo Antônio de Pádua na realização de atos de caridade para com os pobres era um convite ao Beato a fazer o mesmo. Envolveu-se em um concurso de caridade em favor dos necessitados, dos sem-teto, dos imigrantes, que ajudava também com o dinheiro economizado de sua mesada semanal.
O fulcro da espiritualidade de Carlos era o encontro diário com o Senhor na Eucaristia. Dizia muitas vezes: “A Eucaristia é a minha estrada para o céu!” É essa a síntese de sua espiritualidade e o centro de toda a sua existência vivida na amizade com Deus. Depois da Primeira Comunhão, Carlo começou a ir à Missa todos os dias com a permissão de seu diretor espiritual, padre Ilio Carrai. Imitando os pastorinhos de Fátima, oferecia pequenos sacrifícios por aqueles que não amam o Senhor Jesus presente na Eucaristia.
Quando, devido a compromissos escolares, não podia ir à Missa, fazia a comunhão espiritual. Realizou assim um precioso trabalho de apostolado entre os seus colegas e amigos, explicando-lhes o mistério eucarístico com o uso das histórias dos mais importantes milagres eucarísticos ocorridos ao longo dos séculos.
Como apóstolo da Eucaristia, o Beato escolheu usar seu talento de informática para projetar e criar uma exposição internacional sobre “Milagres Eucarísticos”. Trata-se de uma resenha fotográfica com descrições históricas, que apresenta alguns dos principais milagres eucarísticos (cerca de 136) ocorridos ao longo dos séculos em vários países do mundo e reconhecidos pela Igreja.
Dada a grande devoção que Carlo tinha por Nossa Senhora, ele recitava o Rosário diariamente. Ele se consagrou várias vezes a Maria para renovar seu afeto por ela e implorar seu sustento. Ele também desenhou um esquema do Rosário que depois reproduziu com o seu próprio computador. Deve ser reconhecido que os Novissimos sempre estiveram presentes na vida espiritual do Servo de Deus. Essa forte consciência da realidade da vida eterna foi causa de obstáculos por parte de alguns de seus amigos.
Em outubro de 2016 ele adoeceu com leucemia do tipo M3, considerada a forma mais agressiva, inicialmente confundida com gripe. Em um primeiro momento foi internado na Clínica De Marchi de Milão, mas com o agravar-se da situação, foi transferido para o hospital São Geraldo de Monza, onde há um centro especializado para o tipo de leucemia que o acometeu. Poucos dias antes de ser hospitalizado, ele ofereceu sua vida ao Senhor pelo Papa, pela Igreja e para ir direto para o céu.
Nesse hospital, um sacerdote administrou-lhe o Sacramento da Unção dos Enfermos. Algumas das enfermeiras e médicos que acompanharam Carlo naqueles momentos recordam-se dele com muito carinho. A morte cerebral ocorreu em 11 de outubro de 2006, seu coração parou de bater às 6h45 de 12 de outubro.
A notícia de sua morte se espalhou rapidamente graças a seus colegas de classe. Quando o corpo foi levado para casa, foi um fluxo contínuo de pessoas que foram para dar-lhe o último adeus. O funeral foi celebrado na Igreja de Santa Maria Segreta, em 14 de outubro de 2006. O corpo do Beato foi sepultado no túmulo da família em Ternengo (Biella). Mais tarde, em fevereiro de 2007, seus restos mortais foram transferidos para o cemitério municipal de Assis para satisfazer seu desejo de permanecer na cidade de São Francisco. Desde sua morte, sua fama de santidade e sinais só aumentou em todos os continentes.
Testemunha autêntica de Cristo em todos os ambientes em que viveu, a sua existência se destaca como farol luminoso para os jovens de hoje. Foi exemplo de valores evangélicos, anunciador de Cristo com a palavra, mas sobretudo com o testemunho de vida.
O Servo de Deus viveu inteiramente voltado para o Absoluto, para Jesus que sentia próximo e presente. Em sua breve vida, internalizou os princípios da fé e os tornou evidentes em suas ações. Em particular, foi uma testemunha no meio escolar, ou seja, um modelo para muitos alunos das escolas.
A mensagem que Carlo transmite às novas gerações que frequentam os cursos é essencial: existe uma dimensão sobrenatural, existe outra vida além da atual, onde encontraremos nosso Salvador, aquele que nos redimiu por amor.
Para os jovens de hoje, Carlo diz que existem valores que vão além do momento presente e se projetam no futuro. Com seu testemunho, ele afirma que as modas passageiras e a mentalidade dominante no momento não são valores absolutos, mas miragens e espelhos que degradam a dignidade humana. Com seu exemplo, Carlos indica a seus colegas que não pode haver concessões ou meias medidas em relação aos princípios morais. Ele pede para estarem atentos, vigiarem, para que os interesses comerciais, sociais e políticos não reduzam o homem a um fantoche ou a um simples executor de filosofias estéreis e condenados a morrer.
Aos males do mundo, violência, guerras, conflitos até dentro das famílias, Carlo propõe abraçar a Cristo e seu Evangelho. Ele convida a olhar para Jesus, para sua misericórdia, para seu amor, para seu perdão para construir um mundo melhor. É esta a mensagem que dirige aos jovens de hoje: um mundo novo é possível se confiarmos em Cristo, se confiarmos a Ele toda a nossa existência, se nos lançarmos nos seus braços como um filho faz com o pai.
Para os desanimados, para os desiludidos pela vida, aos que sofrem, para aqueles que estão perturbados, sozinhos e abandonados, o Servo de Deus indica a Eucaristia, o Emmanuel, Deus conosco. A presença real de Jesus Cristo na Hóstia consagrada foi para Carlos uma verdade alicerçada na rocha. Era a garantia de que o homem nunca fica sozinho, mesmo quando tudo parece desabar sobre ele.
Para crianças e jovens contemporâneos Carlos diz que a Eucaristia é o remédio infalível para resolver os problemas da humanidade, porque no Tabernáculo encontramos Cristo, Aquele que se encarnou por amor e sofreu para nos salvar. O Beato ficou maravilhado com tanto amor divino pelo homem e não se acalmou antes de dar a conhecer aos outros a extrema riqueza deste amor infinito. Os dias de Carlos, portanto, se centraram em torno da Missa e, quando ele podia também fazia a Adoração Eucarística.
Justamente por essa sua capacidade de compartilhar os mistérios da fé com os outros, Carlo pode ser definido como um verdadeiro apóstolo em todos os ambientes em que viveu, que são aqueles típicos de um adolescente: família, escola, esporte, lazer, viagens jogos.
Como leigo, o Beato soube reavivar o fervor e a prática cristã também em muitas pessoas consagradas e sacerdotes. Ele foi uma testemunha autêntica da veracidade da parábola da videira e dos ramos. Na verdade, ele sempre procurou permanecer apegado à linfa vital do tronco da videira, Cristo Senhor, para dar frutos abundantes em tudo o que fazia e planejava.
Em 5 de julho de 2018, o Papa Francisco o declarou Venerável. Em 5-6 de abril de 2019, seus restos mortais foram transferidos para o Santuário do Despojamento, Igreja de Santa Maria Maior, de Assis.
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