O Papa presidiu também este sábado (21/03) a Missa matutina transmitida em streaming da Casa Santa Marta, como está fazendo neste período de emergência em decorrência da pandemia de coronavírus. Introduzindo a celebração eucarística dirigiu seu pensamento às famílias.
Hoje gostaria de recordar as famílias que não podem sair de casa. Talvez o único horizonte que tenham é o balcão. E ali dentro, a família, com as crianças, os jovens, os pais: para que saibam encontrar o modo de comunicar bem, de construir relações de amor na família, e saibam vencer as angústias deste tempo juntos, em família. Peçamos a paz das famílias hoje, nesta crise, e pela criatividade.
Comentando as leituras do dia, extraídas do Livro do profeta Oseias (Os 6,1-6) e do Evangelho em que Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14), Francisco exortou a voltar à oração, uma oração humilde, sem a presunção de quem se considera mais justo do que os outros. A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
Esta Palavra do Senhor que ouvimos ontem: “Volta. Volta para casa”. Também no mesmo livro do profeta Oseias encontramos a resposta: “Vinde, voltemos para o Senhor”. É… a resposta, quando toca o coração, aquele “volta para casa”, “voltemos ao Senhor”. “Ele nos feriu e há de tratar-nos. ”Ele nos machucou e há de curar-nos. Apressemo-nos a conhecer o Senhor: a sua vinda é certa como a aurora”. A confiança no Senhor é segura: “Virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. E com essa esperança o povo começa o caminho para retornar ao Senhor. E uma das maneiras, dos modos de encontrar o Senhor é a oração. Rezemos ao Senhor, voltemos a Ele.
No Evangelho Jesus nos ensina como rezar. Há dois homens, um é um presuntuoso que vai rezar, mas para dizer que ele é bom, como se dissesse a Deus: “Olhe, sou tão bom: se precisar de alguma coisa, me diga, eu resolvo o Seu problema”. Assim se dirige a Deus: presunção. Talvez ele fizesse todas as coisas que a Lei determina, ele diz isso: “Eu jejuo duas vezes por semana, dou dízimo de toda a minha renda… sou bom”. Isso nos recorda também outros dois homens. Recorda-nos o filho mais velho da parábola do filho pródigo, quando vai até o pai e diz: “Mas, eu que sou tão bom não tenho festa, e este, que é um desgraçado, Tu lhe fazes festa…”: presuntuoso. O outro, que ouvimos estes dias, é a história daquele homem rico, um sem-nome, mas era rico, incapaz de ter um nome, mas era rico… não lhe importava nada da miséria dos outros. São esses que têm segurança em si mesmos ou no dinheiro ou no poder…
Depois tem o outro, o publicano. Que não se coloca diante do altar, não: permanece à distância. “Tendo se detido à distância, não ousava nem mesmo elevar os olhos para o céu. Batia a mão no peito dizendo: “Deus, tende piedade de mim pecador”. Também este nos leva à recordação do filho pródigo: deu-se conta dos pecados cometidos, das coisas feias que tinha feito; também ele batia no peito: “Voltarei até meu pai e (lhe direi): pai, pequei”. A humilhação. Recorda-nos aquele outro, o mendicante, Lázaro, na porta do rico, que vivia a sua miséria diante da presunção daquele senhor. (Temos) sempre essa correspondência de pessoas no Evangelho.
Neste caso, o Senhor nos ensina como rezar, como aproximar-nos, como devemos aproximar-nos do Senhor: com humildade. Há uma bonita imagem no hino litúrgico da festa de São João Batista. Diz que o povo se aproximava do Jordão para receber o batismo, “com a alma e os pés desnudos”: rezar com a alma despida, sem maquiagem, sem travestir-se das próprias virtudes. Ele, lemos isso no início da Missa, perdoa todos os pecados, mas é preciso que eu lhe mostre os pecados, com a minha nudez. Rezar assim, nus, com o coração despido, sem cobrir, sem confiar nem mesmo naquilo que aprendi sobre o modo de rezar… Rezar, tu e eu, face a face, a alma nua. Isso é aquilo que o Senhor nos ensina. Ao invés, quando formos até o Senhor um pouco por demais seguros de nós mesmos, cairemos na presunção deste ou do filho mais velho ou do rico ao qual nada faltava. Teremos a nossa segurança em outro lugar. “Eu vou até o Senhor para… mas quero ir, para ser educado… e Lhe falo num tu a tu, praticamente…”: esse não é o caminho. O caminho é abaixar-se. O abaixamento. O caminho é a realidade. E o único homem aí, nesta parábola, que tinha entendido a realidade, era o publicano: “Tu és Deus e eu sou pecador”. Essa é a realidade. Mas digo que sou pecador, não com a boca: com coração. Sentir-se pecador.
Não esqueçamos isso que o Senhor nos ensina: justificar a si mesmo é soberba, é orgulho, é exaltar a si próprio. É travestir-se daquilo que não sou. E as misérias permanecem dentro. O fariseu justificava a si mesmo. Confessar os próprios pecados, sem justificá-los, sem dizer: “Mas, não, fiz isso, mas não era minha culpa…”. A alma despida. A alma despida.
O Senhor nos ensina a entender isso, essa atitude para começar a oração. Quando começamos a oração com nossas justificações, com nossas seguranças, não vai ser oração: será falar com o espelho. Ao invés, quando começo a oração com a verdadeira realidade – “sou pecador, sou pecador” – é um bom passo avante para deixar-se olhar pelo Senhor. Que Jesus nos ensine isto, a nós.
Também este sábado, Francisco concluiu a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Radio Vaticano