O Papa celebrou a Missa na Casa Santa Marta na manhã desta sexta-feira, 20, recordando o grande trabalho que os médicos e agentes de saúde estão fazendo, especialmente nas áreas mais atingidas pelo Covid-19.

Ontem recebi uma mensagem de um sacerdote bergamasco, pedindo para rezar pelos médicos de Bérgamo, Treviglio, Bréscia, Cremona, que estão trabalhando no limite de suas forças; eles estão dando suas próprias vidas para ajudar os doentes, para salvar a vida dos outros. E também peçamos pelas autoridades; não é fácil para eles gerir esse momento, e muitas vezes sofrem com incompreensões. Médicos, funcionários de hospitais, voluntários da saúde ou as autoridades, neste momento são colunas que nos ajudam a seguir em frente e nos defendem nesta crise. Rezemos por eles.

Ao comentar a primeira leitura, extraída do Livro do Profeta Oséias (Os 14: 2-10), Francisco nos exorta a nos dirigirmos a Deus não como se fosse a um juiz, mas como um Pai bom, que ama e perdoa sempre. Neste sentido, recordando o que diz o Catecismo, explica como é possível confessar, quando não a situação não permite encontrar um sacerdote.

Segue o texto da homilia na íntegra, segundo nossa transcrição:

Quando leio ou ouço essa passagem do Profeta Oséias que ouvimos na Primeira Leitura [que diz]: ” Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus”, quando a ouço, lembro-me de uma canção que há 75 anos Carlo Buti cantava e que nas famílias italianas em Buenos Aires as pessoas ouviam com grande prazer: “Volte para o teu pai. Ele ainda cantará para ti a canção de ninar.” Volta: mas é o teu pai que te diz para voltar. Deus é o teu pai; não é o juiz, é o teu pai: “Volta para casa, escuta venha”.

E essa recordação – eu era menino – me leva imediatamente ao pai do capítulo 15 de Lucas, aquele pai que diz: “Estava ainda longe, quando seu pai o viu”, aquele filho que tinha ido embora com todo o dinheiro e o desperdiçou. Mas, se o vê de longe, é porque esperava por ele. Subia ao terraço – quantas vezes por dia! – por dias e dias, meses, anos, quem sabe, esperando o filho. O vê de longe. Volta para o teu pai, volta para o teu pai. Ele te espera. É a ternura de Deus que nos fala, especialmente na Quaresma. É o momento de entrar em nós mesmos e recordar o Pai, ou voltar para ele.

“Não, pai, tenho vergonha de voltar porque … Você sabe pai, fiz muitas coisas, eu aprontei muito …”. O que o Senhor diz? “Volta, eu te curarei da tua infidelidade, te amarei profundamente, porque minha ira se afastou. Eu serei como orvalho; florescerás como um lírio e lançarás raízes como uma árvore do Líbano”. Volta para teu pai que te espera. O Deus da ternura nos curará; nos curará das tantas, tantas feridas na vida e das tantas coisas ruins que aprontamos. Cada um tem as suas!

Mas pensar isso: retornar a Deus é retornar ao abraço, ao abraço de pai. E pensar naquela outra promessa que Isaías faz: “Se vossos pecados forem escarlates, se tornarão brancos como a neve”. Ele é capaz de nos transformar, Ele é capaz de mudar o coração, mas precisamos dar o primeiro passo: voltar. Não é ir para Deus, não: é voltar para casa.

E a Quaresma sempre tem por objetivo essa conversão do coração que, no costume cristão, ganha forma no Sacramento da Confissão. É o momento para – eu não sei se [para] “acertar as contas”, não gosto disso – deixar Deus nos embranquecer, Deus nos purificar, Deus nos abraçar.

Sei que muitos de vocês, na Páscoa, vão se confessar para se encontrarem com Deus. Mas muitos me diriam hoje: “Mas padre, onde posso encontrar um sacerdote, um confessor, por que não podemos sair de casa? E eu quero fazer as pazes com o Senhor, eu quero que ele me abrace, que meu pai me abrace … Como posso fazer se não encontro sacerdotes?”. Faz o que o diz Catecismo. É muito claro: se não encontras um sacerdote para confessar, fale com Deus, Ele é teu pai, e diga a Ele a verdade: “Senhor, aprontei isso, isso, isso … Perdoa-me”, e peça perdão a Ele de todo coração, com o Ato de Contrição e prometa a Ele: “Depois vou me confessar, mas me perdoe agora”. E imediatamente voltarás à graça de Deus. Tu mesmo podes aproximar-te – como nos ensina o Catecismo – ao perdão de Deus, se não tem à mão um sacerdote. Mas pensem: é o momento! E este é o momento correto, o momento oportuno. Um Ato de Contrição bem feito, e assim nossa alma se tornará branca como a neve.

Seria belo se hoje ecoasse em nossos ouvidos esta frase:  “Volta para o teu pai, volta para o teu pai”. Ele te espera e fará festa para ti.

Também hoje, Francisco encerrou a celebração com a Adoração e Bênção Eucarística, convidando a fazer a comunhão espiritual:

Aos vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no vosso e na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do vosso amor, desejo receber-vos na pobre morada que meu coração vos oferece. À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em vós, espero em vós. Eu vos amo. Assim seja.

Radio Vaticano

O Papa Francisco volta a fazer sentir a sua proximidade para com aqueles que, na Itália, sofrem por causa da epidemia da Covid-19, porque estão doentes ou são familiares de pessoas infectadas ou porque, como médicos e enfermeiros, trabalham para ajudar aqueles que estão doentes. E Francisco fez isso na sua saudação aos fiéis de língua italiana na audiência geral de ontem, quarta-feira, fazendo depois seu o apelo dos bispos italianos “que nesta emergência sanitária promoveram um momento de oração em todo o país”. “Cada família – exortou Francisco -, cada fiel, cada comunidade religiosa: todos espiritualmente unidos às 21h na recitação do Terço, com os Mistérios da Luz”. Ele acrescentou: “Eu os acompanharei daqui”.

No mundo a iniciativa “24 horas para o Senhor”

O Papa Francisco recordou também a iniciativa “24 horas para o Senhor” promovida para os próximos 20-21 de março, “um importante encontro da Quaresma – disse – para rezar e aproximar-se do sacramento da reconciliação”.  Na Itália e em outros países não poderá ser vivido nas formas habituais, mas apenas “com a oração pessoal”, mas poderá ser feito em muitas outras partes do mundo. Encorajo os fiéis – continuou Francisco – a aproximarem-se de maneira sincera à misericórdia de Deus na confissão e a rezarem especialmente por aqueles que são provados por causa da pandemia”.

Os agradecimentos da CEI a Francisco

As palavras do Papa foram imediatamente seguidas de um comunicado no qual a Conferência Episcopal Italiana expressou a sua gratidão a Francisco. Ouvimos Vincenzo Corrado, diretor do escritório para as comunicações sociais da CEI:

R. – Antes de tudo, por parte da Conferência Episcopal Italiana há um sentimento de gratidão pelas palavras do Papa Francisco. São palavras que nos confortam neste momento e nos encorajam na iniciativa tomada. Acreditamos e estamos convencidos de que o poder da oração pode unir as nossas casas. Neste momento, o convite é para ficar em casa, mas nas casas há uma vitalidade que certamente a oração conseguirá animar ainda mais, e as palavras do Papa desta manhã, o seu pensamento a 360 graus, especialmente para os doentes, para todos aqueles que sofrem, mas também para aqueles que levam ajuda, são de grande conforto. Sentimos muito a proximidade do Santo Padre e a Igreja italiana, os seus bispos e todos os fiéis, só podemos agradecer-lhe por este gesto de atenção e partilha.

O Papa também falou de outra iniciativa “24 horas para o Senhor”, um importante encontro durante a Quaresma para oração e confissão. Uma confissão que, neste momento, não pode ser feita tradicionalmente. Há alguma ideia sobre isto?

R. – As igrejas na Itália continuam abertas, portanto, os sacerdotes estão disponíveis, obviamente com as precauções que foram fornecidas pelas autoridades, para encontrar o espaço necessário para a confissão das pessoas. Onde isso não é possível, a misericórdia do Pai, neste momento, está próxima de todos e, portanto, também aquela oração que pode ser feita de forma pessoal, na dificuldade do momento presente, é certamente um bálsamo de misericórdia e de amor que nos é dado.

Qual é o desafio, se se pode usar este termo, para a Igreja italiana de hoje?

R. – Neste momento, o nosso convite e o nosso apelo continua a ser sempre o de fazer nosso esse sentido de responsabilidade que nos une e que nos faz um país. Mais pessoas em vários níveis usam esta expressão: “estamos em guerra, estamos nas trincheiras”, dizemos que estamos unidos por um sentido de responsabilidade que é essa unidade de propósito representada pelo Presidente da República. A Igreja italiana retomou e relançou o convite a usar a responsabilidade no mais alto nível: somos todos cidadãos, fazemos todos parte de um país que sofre neste momento, somos todos chamados a fazer nosso o apelo à responsabilidade pessoal que tem uma implicação pública porque visa salvaguardar a saúde de todos, especialmente dos mais fracos, dos mais indefesos.

Radio Vaticano