Quais são as verdades de fé que definem um cristão e como ele deve viver para ser um cristão verdadeiro? São as perguntas às quais o Papa Francisco responde, dialogando com o padre Marco Pozza, capelão do cárcere de Pádua, no livro “Eu creio, nós cremos” que prossegue as reflexões iniciadas com a análise de outras duas orações, o Pai Nosso e a Ave Maria.
A nossa fé não é uma ideologia
A profissão de fé conhecida como Símbolo dos Apóstolos confessa Deus Criador do Céu e da Terra, a sua encarnação em Jesus pela salvação dos homens, o Espírito Santo que dá a vida, a Igreja e a comunhão dos Santos, o perdão dos pecados, a ressurreição, a vida eterna. Mas o Credo não é apenas um conjunto de fórmulas, escreve o Papa no prefácio do livro, “é também a expressão da vida e da experiência que distinguia os cristãos”. A coerência entre fé e vida, é fundamental para o Papa, a fé cristã não é uma fé abstrata, ideológica, afastada da concretitude da realidade. “Não cremos – afirma o Papa – em um Deus abstrato ou imaginário, fruto das nossas ideias ou teorias. Cremos no Deus Pai que Jesus nos fez encontrar e que é amor”. “Os santos – observa – são os verdadeiros protagonistas do cristianismo: homens e mulheres que entenderam o que quer dizer crer em um Deus que é Pai”.
Devemos aprender a sujar as mãos
“O nosso principal mandamento é o amor” diz o Papa Francisco e afirma: “Quando vejo cristãos muito ‘limpos’, que pensam saber todas as verdades, a ortodoxia, a verdadeira doutrina – e dizem: precisa fazer assim e assim -, mas são incapazes de sujar suas mãos para ajudar alguém se levantar; quando vejo estes cristãos eu digo: vocês não são cristãos; vocês são teístas com a água benta cristã, mas ainda não chegaram ao cristianismo”. Portanto o amor ao próximo é condição essencial para ser cristão e não poderia ser de outro modo se o Deus ao qual se crê é Pai, é Amor, é um Deus “doente de misericórdia” ao qual devemos nos entregar.
A Tradição não é um museu
A rigidez não faz parte do modo de pensar do Papa Francisco que neste livro fala também sobre a relação entre a Tradição da Igreja e o Espírito que é sempre novo e leva continuamente a Igreja a se renovar: “Às vezes – lê-se no livro – pensamos que manter a Tradição signifique construir um museu de coisas; e a Igreja torna-se um museu. Não, a Tradição é viva, não uma coleção de coisas, ritos… é viva. E cresce, deve crescer, como a raiz faz com que a árvore cresça, dê flores e frutos. Devemos sempre voltar à Tradição para extrair dali o suco, a linfa que faz crescer”.
Satanás, o juízo universal, a ressurreição
Um tema que o Papa Francisco fala com frequência é a existência do demônio. Nas páginas deste livro o Papa destaca a diferença entre crer em alguém e crer na existência de alguém. Escreve: “Eu creio no Satanás, creio na sua existência, mas não o amo. Não digo ‘creio em’, porque sei que existe, mas devo me defender das suas seduções”.
São belas e confortantes as palavras do Papa sobre o juízo universal. “Imagino o momento em que, no crepúsculo da vida – confidencia Francisco – me aproximarei de Deus, seduzido por aquela beleza, com o ânimo humilhado, a cabeça inclinada; imagino o seu abraço e o meu olhar que se elevará ao seu. Não ousaria olhá-lo sem antes ter recebido o seu abraço”. Nos vários capítulos Papa Francisco esclarece seu pensamento sobre temas como a ressurreição, o diálogo com os mortos, o paraíso, o purgatório e o inferno, a pluralidade das expressões de fé em Jesus porque “Deus é sempre maior do que nós e nenhuma palavra, nenhuma expressão, pode esgotar a grandeza do seu amor”.
Filhos de Deus
No capítulo dedicado à remissão dos pecados, o Papa volta a falar do populismo, que reapareceu no cenário mundial, que “oprime o pobre e instrumentaliza a fé”. Constrói um culto ao redor do seu ‘porta-voz’, homens e mulheres “que pensam apenas em si mesmos” e “alimentam o culto de si, acreditando-se Deus”. Todavia o texto não analisa o conteúdo da fé cristã ponto por ponto. Como escreve ele mesmo, ainda no prefácio: “Preferi compartilhar o significado diário, existencial, simples mas profundo, da nossa condição de sermos filhos de Deus – convidados à mesa do amor com a própria Trindade – e da amizade com os irmãos na fé e com a humanidade inteira”.
Radio Vaticano