Reconheçamo-nos membros de uma única humanidade: foi o que reiteraram o Papa Francisco e o secretário-geral da ONU, António Guterres, que foi recebido em audiência esta sexta-feira, no Vaticano.

Juntos, os dois líderes gravaram uma mensagem às vésperas do Natal para agradecer por todo o bem que existe no mundo e a dizer “não” à indiferença.

“Vamos dar graças por todo o bem que existe no mundo, por tantas pessoas que se empenham gratuitamente, por quem vive a própria vida no serviço, por quem não se rende e constrói uma sociedade mais humana e mais justa. Nós o sabemos: não podemos nos salvar sozinhos.”

Não se pode virar as costas

O Pontífice e o secretário-geral da ONU mencionaram os dramas atuais: guerras, violências, miséria, injustiças, desigualdades, o escândalo da fome, a pobreza, crianças que morrem por falta de água, abusadas, migrações forçadas e desrespeito à vida, desde o ventre até a terceira idade.

A todas as situações, Francisco e Guterres afirmam com veemência que não se pode olhar para o outro lado:

“Não podemos, não devemos nos girar do outro lado quando os fiéis de várias religiões são perseguidos em várias partes do mundo.”

Aliás, “clama vingança diante de Deus” o uso da religião para incitar ao ódio, à violência, à opressão, ao extremismo e ao fanatismo, assim como clama vingança a Deus a corrida armamentista e o rearmamento nuclear.

“E é imoral não somente o uso, mas também a posse de armas nucleares.”

Cuidado com a Casa Comum

Mas a mensagem fala também de esperança e confiança no diálogo em todos os níveis – entre as pessoas e nações –e no multilateralismo para construir um mundo pacífico.

Eis então o apelo para nos reconhecer como membros da única família humana e para cuidar da nossa casa comum:

“O compromisso para reduzir as emissões poluentes e por uma ecologia integral é urgente e necessário: façamos algo antes que seja demasiado tarde!”

Neste desafio, os dois líderes falam da importância dos jovens, pois ajudam a conscientização sobre “o que está acontecendo hoje no mundo e nos pedem que sejamos semeadores de paz e construtores, juntos e não sozinhos, de uma civilização mais humana e mais justa”.

“O Natal, na sua genuína simplicidade, nos recorda que o que realmente conta na vida é o amor”, concluem o Papa Francisco e António Guterres.

Radio Vaticano

Na manhã desta quinta-feira (19) o Papa Francisco encontrou um grupo de refugiados que chegou recentemente da Ilha de Lesbos, na Grécia por meio dos corredores humanitários. Em Lesbos agrupam-se os migrantes vindos de vários países em guerra, principalmente do Oriente Médio. Na ocasião o Papa posicionou uma cruz no acesso do Palácio Apostólico do Pátio do Belvedere que recorda os migrantes e refugiados.

Migrantes: implacável compromisso da Igreja

Francisco iniciou seu discurso  mostrando um colete salva-vidas que lhe fora entregue por uma equipe de resgate: “Este colete – disse – pertencia a uma menina que morreu afogada no Mediterrâneo. Eu repassei aos dois subsecretários da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral dizendo-lhes: ‘Esta é a missão de vocês!’. Isso representa o implacável compromisso da Igreja em salvar as vidas dos migrantes, para poder acolhê-los, protegê-los, promovê-los e integrá-los”.

Depois de recordar das muitas vidas humanas perdidas na travessia do Mediterrâneo para tentar encontrar nova vida na Europa, Francisco disse que as mortes foram causadas pela injustiça.

“Sim, porque é a injustiça que obriga muitos migrantes a deixar suas terras. É a injustiça que os obriga a atravessar desertos e a sofrerem abusos e torturas em campos de detenção. É a injustiça que os leva e os faz morrer no mar”

A cruz com o colete

Ao apresentar a cruz, o Papa explicou que o colete está “vestindo” a cruz de resina para exprimir a experiência espiritual que ele percebeu nas equipes de resgate. E recordou que “na tradição cristã a cruz é símbolo de sofrimento e de sacrifício, mas também de redenção e de salvação”.

Depois explicou:

“Decidi expor este colete salva-vidas ‘crucificado’ nesta cruz para que nos recordemos que devemos ter os olhos abertos… o coração aberto, para recordar a todos o compromisso imprescindível de salvar toda a vida humana, um dever moral que une os que crêem e os que não crêem”

em seguida o Papa Francisco exorta:

“Como podemos ficar indiferente diante de tantos abusos e violências à vítimas inocentes, deixando-as à mercê de traficantes sem escrúpulos. Como podemos ‘seguir adiante, pelo outro lado’, como o sacerdote e o levita da parábola do Bom Samaritano, tornando-nos assim cúmplices de suas mortes. A nossa ignávia é pecado!”

Agradecimento aos não indiferentes

E o Papa fez um agradecimento: “Agradeço ao Senhor por todos os que decidiram não ficar indiferentes e se empenham em socorrer um desventurado no caminho para Jericó, sem fazer perguntas sobre como ou porque tenha acabado nesta situação”.

Por fim afirmou que para buscar soluções é preciso “denunciar e perseguir os traficantes que exploram e maltratam os migrantes, sem temor de revelar conivências e cumplicidades com as instituições. É preciso colocar de lado os interesses econômicos e pôr no centro a pessoa, cuja vida e dignidade são preciosas aos olhos de Deus”.

Concluindo o Papa disse:

“É preciso socorrer e salvar porque somos todos responsáveis pela vida no nosso próximo, e o Senhor nos cobrará no momento do juízo final”

Radio Vaticano