No Novo Testamento, o ministério de intercessão é centrado em torno de dois advogados supremos – Jesus e o Espírito Santo. A intercessão é a oração ao Pai por meio de Jesus, conduzida e fortalecida pelo Espírito Santo. Aquilo que, normalmente, nós pensamos ser uma oração de intercessão é, na verdade, uma oração de petição. Sou eu dizendo a Deus o que eu gostaria que Ele fizesse. Mas quando intercedemos, nós deveríamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo quanto ao que rezar e como rezar.

Jesus prometeu aos Seus discípulos que Ele mandaria o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco” (Jo 14,16). Sendo esse “outro advogado” dado a nós, o Espírito Santo advoga por nós em nossa oração de intercessão. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. (Rm 8,26-27)

Muitas vezes, nós não sabemos como rezar, porque não temos compreensão plena da situação, as causas escondidas, a complexidade do problema etc. Não conseguimos prever o futuro. Não entendemos bem o que é melhor para nós ou qual o plano de Deus para nós. O Espírito Santo é o nosso parceiro orante interior, que vem em nosso auxílio na intercessão.

O Espírito nos ajuda a rezar

Precisamos ser abertos ao Espírito Santo em nossa intercessão, porque Ele nos ajuda a rezar estrategicamente. Existem muitas situações complexas na intercessão, que não temos como compreender na totalidade. Deveríamos permitir que o Espírito assuma o processo da intercessão.

Num sentido mais profundo, se nos questionarmos: “O que é a intercessão?”, a resposta seria: é a oração pelos outros conduzida e energizada pelo Espírito Santo. O Espírito é o ator principal da intercessão. “Orai em toda circunstância pelo Espírito” (Ef 6,18). Em nossa intercessão, nós precisamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo.

“Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou.” (1Jo 2,27) A nossa intercessão se torna eficiente por meio da força e da direção dada pelo Espírito Santo. Na intercessão, é importante saber para o que Deus quer que rezemos e, ao mesmo tempo, experimentar o poder do Espírito Santo, para que a oração seja efetiva.

A importância dos carismas

Os carismas vêm em nosso auxílio na intercessão. Os carismas, ou dons espirituais, existem para “o perfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo” (Ef 4,12). Uma boa maneira de explicar os dons espirituais é dizer que eles são como ferramentas ou recursos que transmitem poder para o nosso ministério. Tem hora que o Senhor revela ao intercessor situações de emergência, como uma tendência suicida de alguém, uma calamidade natural, um acidente, uma doença fatal etc. Essencialmente, a intercessão é um dom do Espírito Santo.

Existem outros carismas que podem ser usados durante o processo de intercessão, tais como: o dom de línguas, o dom de interpretação de línguas, palavra de ciência, palavra de sabedoria, discernimento dos espíritos, dom de profecia etc. Muitas vezes, não sabemos o que rezar nem como rezar. Outras vezes, quando estamos em um grupo, existem situações nas quais não podemos explicar em detalhes tudo a todos. Em todas essas ocasiões, o dom de oração em línguas vem como um poderoso meio de intercessão. O dom de línguas ajuda a pessoa a ficar focada na intenção e a não sair dos trilhos. A intercessão se torna muito mais eficaz quando ela é conduzida pelo poder do Espírito Santo.

Canção Nova

 

Na sua audiência, na manhã desta sexta-feira (15/11), no Vaticano, o Santo Padre recebeu, na Sala Régia, cerca de 600 participantes no Congresso Internacional de Direito Penal.

Em seu discurso, o Papa expressou seu apreço e reconhecimento pelo serviço que a Associação presta à sociedade e ao desenvolvimento de uma justiça, que respeita a dignidade e os direitos da pessoa humana.

A este propósito, Francisco fez uma reflexão sobre as questões que interpelam a Igreja na sua missão de evangelização e serviço à justiça e à paz.

Idolatria do mercado e riscos do idealismo penal

Por várias décadas, disse, o Direito Penal incorporou diversos conhecimentos sobre algumas problemáticas relacionadas ao exercício da função sancionadora.

No entanto, apesar da sua abertura epistemológica, o Direito Penal não conseguiu se livrar das ameaças que, em nossos dias, pairam sobre as democracias e a plena vigência do Estado de Direito. Por outro lado, o Direito Penal, muitas vezes, descuida dos dados da realidade, que assume a aparência de um conhecimento meramente especulativo.

O contexto atual, disse Francisco, destaca dois aspectos relevantes: a “idolatria do mercado” e os “riscos do idealismo penal”:

 

“ A pessoa frágil e vulnerável encontra-se indefesa diante dos interesses do mercado divinizado, que se tornaram regra absoluta. Hoje, alguns setores econômicos têm mais poder que os próprios Estados. Esta realidade torna-se mais evidente em tempos de globalização do capital especulativo ”

O princípio de maximização do lucro, isolado de qualquer outra consideração, disse o Papa, leva a um modelo de exclusão, que ataca, de modo violento, os que sofrem pelos seus custos sociais e econômicos, enquanto as gerações futuras são condenadas a pagar os custos ambientais. E ponderou:

“ A primeira coisa que os juristas deveriam fazer, hoje, é se preguntar, com seus conhecimentos, como combater esse fenômeno, que coloca em risco as instituições democráticas e o próprio desenvolvimento da humanidade ”

O desafio atual para os advogados criminais, afirmou Francisco, é conter a irracionalidade punitiva, que se manifesta: com a prisão de massa, a aglomeração e tortura nas prisões, arbitrariedade e abusos das forças de segurança, expansão no âmbito da pena, a criminalização dos protestos sociais, o abuso da prisão preventiva e o repúdio às garantias penais e processuais mais elementares.

Crime dos poderosos

A seguir, o Pontífice recordou que, uma das omissões mais frequentes do Direito Penal e uma das consequências da seletividade das sanções, são a escassa ou pouca atenção ao crime dos mais poderosos, sobretudo a macro delinquência das empresas. E acrescentou:

“ O capital financeiro global está na origem dos crimes graves contra as pessoas e o meio ambiente. Trata-se de uma criminalidade organizada pelo excesso de endividamento dos Estados e pela pilhagem dos recursos naturais do nosso planeta, que pode ser comparada a crimes contra a humanidade, quando levam à fome, pobreza, migração forçada e morte por doenças evitáveis, desastres ambientais e extermínio dos povos indígenas ”

Depois, o Santo Padre falou sobre a tutela jurídica e penal do ambiente. A resposta penal ocorre quando o crime foi cometido, mas, devido à sua seletividade estrutural, a sanção recai, geralmente, sobre os setores mais vulneráveis. E afirmou:

Um senso elementar de justiça imporia a não impunidade de alguns comportamentos, sobretudo os considerados “ecocídios”: contaminação do ar, dos recursos da terra e da água; destruição em grande escala da flora e fauna, e toda ação que produz desastres ecológicos ou destruição do ecossistema”.

Pecado ecológico

Aqui, Francisco recordou o que os Padres sinodais da Região Pan-Amazônica definiram o pecado ecológico como ação ou omissão contra Deus, contra os outros, contra a comunidade e o meio ambiente: um pecado contra as gerações futuras, que se manifesta com a poluição e a destruição do meio ambiente e contra a virtude da justiça. E o Papa exortou:

“ Nesta circunstância, através de vocês, gostaria de fazer um apelo a todos os líderes e representantes do setor para que contribuam, com seus esforços, para garantir uma tutela jurídica adequada da nossa Casa comum ”

Por fim, o Santo Padre recordou alguns problemas, que pioraram ao longo desses anos: o uso indevido de prisão preventiva; o incentivo involuntário à violência; a cultura do descarte e do ódio e o “lawfare” ou emprego da justiça penal.

Mediante os instrumentos próprios da lei, é explorada a necessária luta contra a corrupção, com o objetivo de combater governos indesejados, reduzir os direitos sociais e promover um sentimento anti-político, que beneficia os que aspiram a um poder autoritário.

Ao mesmo tempo, frisou o Papa, é estranho que o recurso a paraísos fiscais, que serve para ocultar todo tipo de crime, não seja visto como uma questão de corrupção e crime organizado. Da mesma forma, fenômenos maciços de apropriação de recursos públicos passam despercebidos ou até minimizados como meros conflitos de interesse.

O Papa Francisco concluiu seu denso discurso, chamando a atenção dos estudiosos de Direito Penal e a todos os que são chamados a desempenhar funções relacionadas à aplicação do Direito Penal, por uma maior responsabilidade na atuação da justiça:

“ Na visão cristã do mundo, o modelo de justiça encontra uma perfeita encarnação na vida de Jesus. Ao ser tratado com desprezo e até com violência, que o levou à morte, a sua ressurreição nos deixou uma mensagem de paz, perdão e reconciliação, valores difíceis de alcançar, mas necessários para a boa vivência de todos ”

Nossas sociedades, disse por fim o Papa, são chamadas a avançar em direção a um modelo de justiça fundado no diálogo e no encontro. Não se trata de uma utopia, mas, certamente, de um grande desafio! Um desafio que devemos enfrentar, se quisermos resolver os problemas da convivência civil, de modo racional, pacífico e democrático. Todos, cristãos e não cristãos, precisamos da ajuda de Deus, que é fonte de razão e de justiça.

Radio Vaticano