Existe um aspecto da viagem de Francisco a Moçambique, Madagascar e Maurício que o une a todas as outras viagens dos Papas, sem que isso minimize a sua importância. Porque, ao contrário, o reforça. É a união do povo de Deus à espera do Papa, um aspecto central do ministério petrino que, talvez, nem mesmo as imagens conseguem dar.
Uma quantidade incalculável de pessoas (retratadas nos rostos, nos olhares, nos gestos) que traduz a espera, a alegria, a força de um encontro. O milagre de um povo aglomerado ao longo de quilômetros de estrada, reunido nas esplanadas, acampado ao ar livre, em meio à poeira, só para ver o Papa passar, cruzar o seu olhar e concentrar num instante a sua história pessoal e coletiva, ser visto e abençoado: é o testemunho poderoso do que é a Igreja.
Centenas de milhares de pessoas inclinadas a ser uma coisa só para dizer com alegria a própria fé e ser confirmada pelo sucessor de Pedro. Centenas de milhares de pessoas que encarnam, cada uma, a presença visível de Deus, que espera de ser também Ele visto em cada um desses olhares. Centenas de milhares de pessoas que, por sua vez, restituem ao sucessor de Pedro e à Igreja toda a força do povo de Deus.
Nesse encontro de olhares, de fraquezas e de fé existe o mistério da Igreja que o Senhor confiou a Pedro e aos seus sucessores, e existe também o mistério do munus petrino que o mantém firme apesar das dificuldades que sempre atravessou e atravessa.
Papa Francisco falou sobre isso na coletiva de imprensa durante o voo quando, respondendo a uma pergunta sobre as tentações dos cismas, disse não ter medo e de confiar na oração. Quando falou da fé das populações de Moçambique, Madagascar e Maurício. Quando explicou o que fez o cristianismo se disseminar e crescer: não o proselitismo, mas o ser reconhecidos pelo amor, pelo ser uma coisa só.
Jesus falou sobre isso na última ceia, dirigindo-se a Pedro na dramática situação daquelas horas que precedem a sua morte e ressureição, e seguem com a festa da multidão em Jerusalém que o tinha acolhido como um rei. Ele fez isso explicando que a força de Pedro e dos seus sucessores, o que a preserva das portas do inferno, está na oração para Pedro que o próprio Jesus confiou a Deus Pai.
Como explicou São João Paulo II, as palavras de Jesus (Lc 22, 31-32) “se referem, sem dúvidas, à dimensão escatológica do Reino, quando os Apóstolos serão chamados a ‘julgar as doze tribos de Israel’ (Lc 22,30). Esse, porém, há valor também pela sua fase atual, pelo período da Igreja aqui sobre a terra. E essa é fase de teste” (…). Aquelas palavras servem “também a nós para nos induzir a ver na luz da graça a eleição, a missão e o próprio poder de Pedro. O que Jesus promete e confia vem do Céu e pertence – deve pertencer – ao Reino dos céus” (Audiência Geral de quarta-feira, 2 de dezembro de 1992).
Radio Vaticano