O Papa Francisco, no seu segundo pronunciamento oficial deste domingo (8), em Madagascar, se dirigiu aos cerca de 8 mil jovens, na maioria crianças, que vivem na Cidade da Amizade, conhecida como Akamasoa – que na língua local significa “bom amigo”.
No Auditório Manantenasoa, repleto de vozes infantis cheias de amor e alegria que receberam o Pontífice, num momento de festa e gratidão pela sua presença, o sinal de esperança que brota em meio às aldeias das famílias pobres e das pedreiras que dão o trabalho diário à comunidade formada por 25 mil famílias.
Na saudação, o Papa Francisco já iniciou agradecendo pelo encontro promovido “nesta grande obra”, que também é o coração da Cidade da Amizade.
O Papa então, como o próprio fundador de Akamosoa, Pe. Pedro Opeka, tinha antecipado, levou coragem à comunidade que luta contra a pobreza com o próprio trabalho:
“Vendo os rostos radiantes de vocês, dou graças ao Senhor que ouviu o clamor dos pobres e manifestou o seu amor através de sinais palpáveis como a criação desta aldeia. Os clamores de vocês nascidos do fato de não poderem mais viver sem um teto, de verem os filhos de vocês crescerem malnutridos, de não terem trabalho, nascidos do olhar indiferente – para não dizer desdenhoso – de muitos, transformaram-se em cânticos de esperança para vocês e quem os contempla.”
A longa história de “coragem e ajuda mútua” que caracteriza Akamasoa foi lembrada pelo Pontífice. “Anos de trabalho duro” para promover a “fé viva que se traduziu em ações concretas, capazes de «mover montanhas» (cf. Mc 11, 23)”, disse o Papa.
Francisco então falou da importância de realizar obras em benefício dos mais pobres e através do trabalho em comunidade, como aconteceu em Akamasoa. A aventura do Pe. Pedro em fazer das famílias pobres os verdadeiros “protagonistas e artífices desta história”, criou uma rede de “educação para os valores”, disse o Papa, com a transmissão do “enorme tesouro do compromisso, disciplina, honestidade, respeito por si mesmo e pelos outros”.
“E puderam compreender que faz parte do sonho de Deus não apenas o progresso pessoal, mas sobretudo o progresso comunitário, já que não há escravidão pior – como nos lembrou o Pe. Pedro – do que viver cada um só para si.”
A mensagem final do Papa aos jovens e ao futuro de Akamasoa foi pela luta contra a pobreza através do trabalho digno e da força da fé que geram esperança.
“Nunca desistam perante os efeitos nefastos da pobreza, nunca sucumbam às tentações da vida fácil ou do retraimento em vocês mesmos. […] Queridos jovens, cabe a vocês continuar o trabalho feito pelos mais velhos. A força para realizar tudo isso vão encontrar na fé e no testemunho vivo que foi plasmado na vida de vocês. Deixem se desenvolver em vocês os dons que o Senhor concedeu. Peçam para Ele lhes ajudar a servir generosamente os seus irmãos e irmãs. Assim, Akamasoa não será apenas um exemplo para as gerações futuras, mas sobretudo o ponto de partida de uma obra inspirada por Deus, que encontrará o seu pleno desenvolvimento continuando a testemunhar o seu amor às gerações presentes e futuras.”
O Papa Francisco também exortou atitudes concretas para além das fronteiras de Madagascar, através da promoção de modelos de desenvolvimento inspirados em Akamasoa , quando disse:
O encontro com os sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas encerrou a visita do Papa Francisco à capital malgaxe, Antananarivo.
No pátio do Colégio São Miguel, o discurso do Pontífice foi antecedido pela saudação da Ir. Suzanne Marianne Raharisoa, presidente da Conferência das Religiosas.
Em seu pronunciamento, Francisco recordou os missionários pioneiros na ilha, entre os quais lazaristas e jesuítas, mas também os inúmeros leigos que, em tempos difíceis de perseguição, mantiveram viva a chama da fé nesta terra.
Como os 72 discípulos de Jesus, os consagrados de Madagascar aceitaram o desafio de ser uma Igreja em saída, não obstante careçam dos serviços essenciais – água, eletricidade, estradas, meios de comunicação – ou dos recursos econômicos para gerir a vida e a atividade pastoral.
O Papa então agradeceu pelo testemunho de quem escolheu ficar, sem fazer da vocação um “trampolim para uma vida melhor”.
Francisco advertiu os religiosos e consagrados a não perderem a atitude de louvar ao Senhor, pois com frequência, pode-se sucumbir à tentação de passar horas a falar dos “sucessos” ou dos “fracassos”, da “utilidade” das ações, ou da “influência” que se pode ter. Muitas vezes, isto leva a sonhar programas apostólicos cada vez maiores, meticulosos e bem elaborados, mas típicos dos generais derrotados.
Os setenta e dois discípulos, prosseguiu o Papa, estavam conscientes de que o sucesso da missão dependeu do fato de a terem cumprido “em nome do Senhor Jesus”.
Não carregavam panfletos de propaganda com o retrato de Cristo. A alegria dos discípulos nascia da certeza de fazer as coisas em nome do Senhor, de viver o seu projeto, de partilhar a sua vida.
Em seu nome, acrescentou o Pontífice, “vocês são vencedores dando de comer a uma criança, salvando uma mãe do desespero de ficar sozinha a cuidar de tudo, dando trabalho a um pai de família”. É uma luta vitoriosa aquela que se combate contra a ignorância, garantindo uma educação. Grande sinal de vitória sobre o mal é recobrar a saúde a milhares de pessoas.
“Continuem com estas batalhas, mas sempre na oração e no louvor!”, encorajou o Papa.
Todavia, está sempre à espreita o risco de se tornar “profissionais do sagrado”, ao invés de ser homens e mulheres de louvor.
Jesus louva o Pai, disse por fim o Papa, porque revelou estas coisas aos “pequeninos”. Estes pequeninos são os consagrados, porque a sua alegria está precisamente nesta revelação que Ele fez: a pessoa simples “vê e escuta” aquilo que nem os sábios, nem os profetas, nem os reis podem ver e escutar.